Verdade ou Conseqüência?
Acampamento Meio-Sangue. Também chamado de: "Único lugar seguro para meio-sangues". Ou ainda: "Melhor lugar da face da Terra".
Silena Beauregard geralmente concordava com a segunda afirmação, mas não hoje. Hoje parecia que tudo estava dando errado.
Sentada em uma pedra qualquer em frente ao lago, ela refletia como seu dia estava ruim. A começar logo pela manhã: Ela não dormira direito. Estava com olheiras horríveis! E acordou com um mau-humor dos diabos. Depois, indo para o banho, descobriu que seu xampu tinha acabado. Como ela ficaria se seu cabelo não tivesse aquele delicioso cheiro de morango? E as unhas,então?Quebradas!
Ela estava de mau-humor e estressada e não ligava o quão ruim isso seria para sua pele!
Acompanhou com os olhos seus irmãos passarem por ela dando risadinhas e comentando, felizes, como é bom destruir corações. Os filhos de Afrodite lançaram-lhe olhares de zombaria, como se a desafiassem a contradizê-los.
Silena ficou calada, afundando em sua ira. Era a turminha de Drew, aquele serzinho desprezível que ousava dizer que era uma filha de Afrodite. E ela definitivamente não lhes daria o gostinho de vê-la explodir.
Quando eles passaram, ela revirou os olhos e bufou, com sua irritação aumentando um grau.
Provavelmente eles estavam dando congratulações a algum filho de Afrodite novato por ter passado no ritual de passagem. O ritual de passagem, caso você não saiba, é um evento muito idiota – segundo a opinião de Silena – que consistia em um filho de Afrodite fazendo algum campista se apaixonar perdidamente por ele, só para depois quebrar-lhe o coração da pior maneira possível.
"É uma sensação maravilhosa" – diziam seus irmãos – "Além do mais, mamãe gosta, devia fazer isso também."
Desde que Silena foi determinada que insistiam dizendo que ela devia fazer isso. Mas ela batia o pé e se recusava. Não, obrigada. Achava isso errado. Quem eles pensavam que eram para poderem brincar com os sentimentos dos outros assim? E ainda colocavam o nome da mãe deles no meio. Não era a toa que todos achavam Afrodite tão fútil, os filhos mesmos faziam a fama.
Mas ela não devia se preocupar com isso, pelo menos não agora.
Tinha problemas maiores e que exigiam maior atenção: ele. Charles Beckendorf.
Tinha que fazê-lo perceber que eram um casal perfeito. Mas como? Ela não queria parecer uma atirada, tinha que se aproximar sutilmente. Mas como? Esse era o problema.
E enquanto sua mãe não a agraciava com uma idéia brilhante, Silena estava lá: mau-humorada, emburrada, odiando não saber o que fazer.
Interrompendo seus pensamentos venenosos contra os deuses e o mundo, Shane, uma filha de Hefesto se aproximou, com uma garrafa na mão, perguntado alguma coisa. No entanto, Silena não escutou, um sorriso maroto começando a se formar em seus lábios. Agradeceu mentalmente a sua mãe por ter tido uma idéia tão simples e genial.
Silena Beauregard tinha um plano.

Silena estava sentada em uma roda onde se reuniam alguns campistas variados (escolhidos a dedo por ela, para que tudo fosse conforme o plano). A sua frente estava alguém que não se espera ver em uma roda dessas: Charles Beckendorf.
A filha de Afodite não sabia como Shane havia conseguido convencer Charles a participar de uma brincadeira tão estúpida quanto aquela, mas não importava, o importante é que ele estava ali.
Ela deu um sorriso amistoso a Beckendorf antes do início da partida e recebeu de volta uma carranca inconformada.
Após várias rodadas de muita humilhação (afinal, quase ninguém escolhe "verdade" em um jogo de Verdade ou Consequência) finalmente o fundo da garrafa apontou para Charles. E adivinha para quem apontava o gargalo? Shane! Tudo iria sair perfeito!
Foi difícil para Silena esconder o sorriso de antecipação que teimava em surgir, enquanto a alegria borbulhava dentro dela.
"Verdade ou consequência, Beckendorf?"
A pergunta era desnecessária, para dizer a verdade, antes do início do jogo, para deixar as coisas mais interessantes, foi estabelecido que cada pessoa só poderia escolher verdade três vezes e Charles já havia escolhido o número máximo. Só havia uma opção.
"Conseqüência." – ele disse a contragosto.
Shane fingiu pensar. Os outros davam palpites como: Se vestir de mulher, rebolar até o chão... coisas bobas assim.
"Já sei!" – exclamou Shane – "Você terá que beijar a Silena!"
Ouve um coro de "Ooooh!".
"Beijar?" – Silena jurou que quase pode vê-lo corar, talvez fosse só truque da luz, de qualquer forma ele ficou muito bonito.
"É. Beijar." – A menina confirmou dando de ombros – "Vamos lá! É só uma brincadeira, certo? Só um selinho. Bem rápido. Além do mais, você não vai amarelar agora, vai?"
A última frase teve o efeito desejado. O peito de Beckendorf estufou, o rosto expressando a mais pura indignação.
"Eu posso fazer isso." – ele disse.
Ouve mais um coro de "Ooooh!" acompanhado por risadinhas safadas por parte dos filhos de Afrodite. Aquilo seria fofoca fortíssima no dia seguinte.
Os dois foram para o centro do circulo, Silena não pode deixar de notar que ele não parecia mais tão confiante.
Eles aproximaram os rostos lentamente e a filha de Afrodite fechou os olhos. Ela ainda podia ouvir as risadinhas maliciosas, mas para ela só existia Charlie.
E antes que tivesse tempo de desfrutar o beijo apropriadamente ele já havia acabado.
Beckendorf se afastou meio constrangido e um pouco vermelho, mas um sorriso brincava em seus lábios. Silena, que não agüentava mais esconder a felicidade, ria amplamente.
Eles voltaram para seus devidos lugares e o jogo continuou como se nada tivesse acontecido, mas de vez em quando Silena olhava para Charles e eles compartilhavam meio sorrisos.
Afinal foi apenas um selinho numa brincadeira infantil e, provavelmente, sem muito significado. No entanto era um passo, pequeno, mas sem dúvida um passo em direção a ele.
E agora que Silena sentiu o leve gosto de café dos lábios de Beckendorf suas forças se renovaram.
Próximo passo na Operação para Conquistar o Coração de Charles Beckendorf (popularmente chamada de OCCCB): fazê-lo convidá-la para os fogos de fim de verão.