Untitled escrita por bih_portela


Capítulo 6
Onde está meu amor?


Notas iniciais do capítulo

Essa fic está partipando do Tributo a Renato Russo no forúm Need For Fic =)
Outra fic May e Hermes por que eu surtei geral com eles...



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Onde está meu amor?

(Ela passou do meu lado)


A primeira vez em que a vi, tinha acabado de fazer uma entrega a Poseidon.
Caminhava pela praia tranquilamente, não ligando para o telefone que tocava insistente. Meus pés em contato com a textura da areia, e dei um sorriso involuntário.
O fato de ser muito atarefado não me deixava muito tempo para admirar a natureza. Mas hoje... Hoje eu acordei com algum tipo de pressentimento. Eu sabia que devia estar ali, apenas não sabia o motivo.
Eu olhei ao redor, para as ondas que batiam de leve nas pedras da praia, para o céu azul anil que estava pontilhado de branco.
E meu sorriso se alargou.
Eu nunca havia parado para pensar no quanto o mundo é maravilhoso. Quero dizer, não é maravilhoso estar em um mundo vivo? Não era maravilhoso viver? E não era triste o fato das pessoas só perceberem como a vida é maravilhosa quando estavam perto de morrer?
E então ela passou.
("Oi, amor." - eu lhe falei)
Assim que ela passou, o papo filosófico que se passava na minha cabeça virou fumaça.
"Não é maravilhoso ela viver? Não é maravilhoso eu encontrá-la?" – Eu pensei. E não pensei isso só por que ela era bonita - e bonita ainda é pouco, ela era um nocaute.
Você acredita em amor a primeira vista?
Se não, saiba que eu também não acreditava. E minha visão mudou completamente quando ela passou. E lá estava eu – deus que não acreditava em amor a primeira vista, para total desespero de Afrodite – apaixonado pela mortal.
Ela era especial, eu pude ver.
Tinha longos cabelos loiros que mudavam de acordo com a luz. Ora dourados, ora cor de mel. Seu vestido ondulava com o vento. Sua pele parecia porcelana.
Uma visão estarrecedora.
Eu corri para acompanhá-la.
Ela parecia concentrada em seus pensamentos, chutava a areia da praia distraidamente e seus olhos estavam nublados.
-Oi, amor. – eu cumprimentei, assustando-a.
("Você está tão sozinha")
-Argh! – ela deu um pulo de susto – Que susto! Você sempre é assim? Abordando as pessoas desse jeito? – a moça falou ríspida.
-Minhas sinceras desculpas, jovem dama. – falei, fazendo uma mesura exagerada. Ela riu. Seu riso era melodioso, gostoso de ouvir. Senti que faria qualquer coisa para vê-la sempre sorrir, e prometi a mim mesmo que nunca a deixaria ficar triste. – Não tinha intenção de assustá-la.
-Quem é você?Algum tipo de tarado por moças? – ela deu instintivamente um passo para o lado.
Eu tive que rir.
-Quem sou eu... – fingi pensar por um momento – Essa é uma questão difícil de responder. Mas garanto que não sou nenhum tipo de tarado.
-Posso saber seu nome, pelo menos? – perguntou, mal-humorada. Parecia que não saber de algo a deixava insatisfeita.
-Hermes. – respondi, dando um sorriso cortês.
-Posso saber, então, senhor Hermes, o motivo para vir me acompanhar?
-Sei lá. – falei dando pouco caso – Você me pareceu tão sozinha... Tive que vir acompanhá-la.
(Ela então sorriu para mim)
E ela sorriu e eu sorri com ela.
Ver seu sorriso me alegrava, caminhar ao seu lado me fazia sentir mais leve.
-Fico feliz que você se preocupe tanto comigo. - ela me disse, sorrindo divertida.
-Tenho que me preocupar. Imagina o que esses mau-intencionados podem tentar fazer com uma jovem tão bela como você?
-Devo me preocupar com a chance de você ser um desses mal-intencionados?
-Eu? – arregalei meus olhos fingindo surpresa – 'Magina! Por que eu faria isso? – ela se limitou a rir. Já disse o quanto adorava sua risada?
-Nunca se sabe, não é?
(Foi assim que a conheci)
Eu me perguntava quanto tempo iria levar até ela tocar no assunto de eu não ser humano.
Sabia que May era especial, ela podia ver através da névoa. Podia ver minha real forma. Todavia, a conversa fluía e ela não parecia interessada em saber se eu era humano ou não.
Fiquei grato por isso, seria um grande problema explicar tudo para ela. E ainda estragaria a conversa agradável que estávamos tendo.
(Naquele dia junto ao mar
As ondas vinham beijar a praia)
Nos sentamos na areia e May ficou observando o mar, e eu – como um perfeito bobo apaixonado – a olhava admirado com sua beleza.
-É lindo. – ela comentou, suspirando satisfeita.
-Sim, você é.
May me olhou sorrindo. Quando percebi o que havia falado senti meu rosto ficar um pouco vermelho.
-Estou falando do mar, seu bobo. – May disse rindo – Mas estou lisonjeada pelo elogio.
-Só estou constatando um fato. – lhe respondi dando um meio sorriso.
-Assim você me deixa sem graça. – e de fato ela parecia, suas bochechas adquiriram um leve rubor e ela estampava um sorriso envergonhado.
-Você não precisa ficar. – ela riu novamente, como se eu tivesse dito alguma coisa engraçada, em vez da verdade.
-Você é diferente. – ela começou cautelosa, já não sorria mais. Eu gelei, ela ia perguntar – Sei que não é humano. – May me olhou preocupada, quase angustiada – Você não vai desaparecer como os outros, não é? Não quero que desapareça. Não quero que me abandone. – ela me implorava com os olhos. Como eu podia dizer outra resposta além de "Não, eu não vou te abandonar" ?
- Não, claro que não. – eu disse, mesmo sabendo que era mentira – Não vou te abandonar.
-Que bom. – a jovem disse aliviada.
(O sol brilhava de tanta emoção)
-E para você saber que estarei sempre contigo... – fiz um movimento complexo com a mão e da areia surgiu uma rosa branca – Eu não sei fazer rosas tão bem quanto minha tia, mas... – me desculpei passando a mão no cabelo, nervoso. Ela pegou a rosa e seu sorriso voltou.
-Well... Isso prova que, definitivamente, você não é humano. E eu devia estar preocupada com isso, talvez até com medo. Mas quer saber? Eu não ligo a mínima.
-Essa rosa não vai murchar. Vai estar sempre viva, com você.
-Uma rosa que não murcha. Uau. – ela me olhou admirada – Que tipo de deus você é?
-Apenas o dos mensageiros. - acho que ela estava brincando ao perguntar que tipo de deus eu era por que May me fitou assombrada.
-O deus Hermes?O grego?
-Yep.
-Como...?
-Longa história. – disse cansado – Depois lhe explico.
Ela olhou da rosa para mim. May parecia acreditar nas minhas palavras. Ela levou a rosa ao nariz e inspirou, sentindo o cheiro.
-Obrigada. – ela agradeceu feliz, e pela primeira vez desde que a vi, o seu sorriso alcançou os olhos.
Eu já havia percebido isso antes. Quer dizer, ela parecia feliz e seu riso era alegre e contagiante, mas seus olhos eram tristes. Aos poucos – no decorrer da nossa conversa – a tristeza foi sendo substituída pela alegria.
(Um rosto lindo como o verão)
May me abraçou e eu a abracei de volta, meio (lê-se: totalmente) sem jeito. Meu estômago deu alguns saltos olímpicos. Eu não achei que isso fosse muito saudável para ele.
Ela se afastou, seu rosto muito corado.
-Ah... Eu gostei muito do presente. – ela disse numa mistura de nervosismo e vergonha, olhando para baixo.
-Não há de quê. – respondi, erguendo seu rosto para que pudesse ver seus olhos.
Eu já disse que ela era linda? Ah, cara, sim. Muitas vezes, eu sei. Mas é só para reforçar.
Suas bochechas estavam levemente rosadas, um último resquício do rubor. Seus cabelos loiros emolduravam seus olhos nublados, que eram brilhantes. Carregava um sorriso tímido.
Seus lábios eram vermelhos como morangos e estavam tentadoramente perto dos meus.
Não resisti. Eu a beijei.
(E um beijo aconteceu)
Naquela noite eu voltei à praia, na esperança de encontrá-la.
E lá estava ela, sentada na areia admirando a Lua. Ela estava ainda mais bonita, se isso era possível.
Quando os raios da Lua tocavam em seus cabelos eles pareciam ficar prateados. Ostentava um sorriso feliz, como se estivesse emersa em lembranças felizes.
(Nos encontramos à noite
Passeamos por aí)
Eu me aproximei silenciosamente e sussurrei uma saudação em seu ouvido:
-Olá. – saudei, ela arregalou os olhos assustada e se virou imediatamente para trás. Ao me ver, fechou a cara, indignada.
-Por acaso tem algum fascínio em assustar as pessoas? – May indagou, mau-humorada.
-Não. – lhe respondi travesso – Só você!
-Gostaria de ver se você continuará sorrindo quando o meu punho estiver quebrando a sua cara! - exclamou a jovem, no mesmo tom mau-humorado e resmungão. Eu parei de rir, alguma coisa dentro de mim dizia que aquela não era uma promessa falsa.
-Vamos para por aqui. Sem necessidade de quebrar a cara de ninguém. – disse em tom apaziguador – Vamos dar um passeio?
Ela me analisou considerando as opções. Podia ver em sua mente: "Bato ou acompanho-o?"
Por fim ela decidiu:
-Eu topo. – ela disse se levantando – Vamos?
Conversamos sobre os mais variados assuntos. Descobri que ela era uma fanática por U2 e música no geral. Contamos várias piadas – ela era uma humorista nata – e rimos ainda mais delas no final.
May era uma companhia agradável e eu gostava de estar ao seu lado. Ver seu sorriso me fazia feliz e eu continuava me esforçando para mantê-lo o máximo que pudesse em seu rosto.
Às vezes me peguei fitando-a como um bobo apaixonado, quando ela simplesmente olhava para cima, admirando as estrelas, a mente longe, só o corpo na terra.
(E num lugar escondido
Outro beijo lhe pedi)
Agora, você pode achar muita cara de pau de minha parte fazer isso, mas eu queria seus lábios nos meus.
Então, eu lhe pedi um beijo.
Ela sorriu divertida, os olhos brilhando sapecas.
-É muita cara de pau de sua parte me pedir isso, sabia?
-Você me concederia essa honra? – Perguntei um tanto impaciente.
May sorriu misteriosa e ela se balançou para frente e para trás, aumentando minha expectativa.
-Sim. – ela respondeu finalmente – Vá em frente.
(Lua de prata no céu
O brilho das estrelas no chão)
E pela segunda vez naquele dia, eu a beijei.
A Lua brilhava mais forte, as estrelas eram refletidas pela água do mar. A brisa da noite bagunçava nossos cabelos.
Eu já me apaixonei e desapaixonei diversas vezes nesses milhares de anos, mas já fazia um tempo que eu não me relacionava com alguém e não me lembrava dos sentimentos serem fortes assim.
A expectativa do novo, a alegria de estar em sua companhia, a euforia, o coração batendo forte e todas outras características da paixão.
Eu achava aquilo tããão horrivelmente clichê.
E era exatamente isso que eu estava sentindo.
Meu estômago, que já dava saltos olímpicos, revirou mais e meu coração ainda se juntou a ele. E apesar de estar muito concentrado beijando-a, eu não pude evitar pensar que depois dessa noite talvez eu devesse consultar Apolo. Só para ver se meus órgãos continuavam nos lugares corretos, sabe?
Eu me sentia no céu, capaz de fazer todas as entregas no mundo. E no melhor estilo garota apaixonada (Lê-se: Afrodite): era como se mil fogos de artifícios estivessem estourando no meu peito.
Deuses... Isso ficou tão gay.
(Tenho certeza que não sonhava
A noite linda continuava)
Nosso beijo começou calmo e foi ficando mais rápido e urgente conforme a euforia e adrenalina aumentavam.
Por um momento me questionei se tudo aquilo não era um sonho. Não estava perfeito demais? Logo descartei a ideia, não era um sonho, não podia ser. E se fosse, não importava. Eu só queria ficar ao lado dela o máximo que pudesse. Além do mais, não há aqueles filósofos que acreditam que a vida não passa de um sonho?
(E a voz tão doce que me falava )
Nós só nos separamos quando precisamos de ar.
May recostou a cabeça em meu peito.
-Sabe, Hermes, acho que gosto de você. Mas não fique se gabando disso. Eu posso voltar atrás e ver que dar um murro em sua cara e em outras partes sensíveis não é uma ideia tãoruim assim, afinal.
Eu não sabia se ela estava brincando ou falando sério, então optei por não dizer nada muito ofensivo:
-Certo. – eu ri suavemente – Como a senhorita quiser. – eu lhe dei um beijo em seus cabelos.
Ela ergueu os olhos e sorrindo disse:
- O mundo pertence a nós!
Naquele momento eu soube que não estava apenas apaixonado por ela. Eu a amava.
(E hoje a noite não tem luar)
Eu dei um suspiro cansado.
Hoje era noite sem Lua. A carruagem de Artemis não passava pelo céu.
Eu estava arrasado. Não por causa da Lua, claro, mas sim pelo o que acontecera.
As estrelas davam um brilho fantasmagórico ao quarto onde eu estava, deixando tudo triste.
(E eu estou sem ela)
Eu olhei para May. Aquela não era a May. Não a May que eu conhecera.
A May decidida, um tanto arrogante e com um sorriso contagiante.
Aquela May sorria alegremente e falava com o nada, se gabando de seu filhinho, Luke.
Mas era falso, por que ela estava louca. A alegria dela era falsa, o sorriso dela era falso. Apenas um fantasma de seu antigo sorriso.
-May... – eu sussurrei, minha voz era cheia de dor e eu me sentia quebrado – Desculpe, eu não consegui manter minha promessa... Eu não posso te fazer sorrir.
Mas ela não ouviu.
(Já não sei onde procurar
Não sei onde ela está)
Eu a olhei, tentando – inutilmente - encontrar a minha May que eu perdera lá.
Ela não estava.
Fiquei com raiva de Hades, por ter feito aquela estúpida maldição. Fiquei com raiva da Grande Profecia, que, para começo de conversa, era a causa de tudo isso.
Fiquei com raiva de Quíron, por não ter feito nada para impedi-la de arruinar sua vida.
E, principalmente, fiquei com raiva de mim mesmo por ter contado aquela história para ela.
(Hoje a noite não tem luar)
Cerrei os punhos. Não adiantaria nada ficar com raiva.
-May... – eu murmurei desolado, acariciando sua bochecha – Minha May... Por quê... Você não podia... – ela sorriu e, por um momento, pensei ter visto o antigo brilho que havia em seu sorriso, mas logo ele sumiu e eu pensei que fosse apenas minha imaginação.
"Ela não vai ser a mesma de antes. Contenha-se." – Me repreendi.
Seus olhos já não brilhavam. Meus olhos não brilhariam mais como antigamente.
(E eu estou sem ela)
Os seus gritos de dor ainda ecoavam em minha mente, como fantasmas que me perseguiam. Cada grito de dor foi uma facada em meu coração.
Foi naquele momento em que eu a perdi. Foi naquele momento que a vi escorrendo por minhas mãos como areia.
Agora ela estava louca e, nos poucos momentos que viria a si, estaria gritando coisas sem sentido sobre o futuro de seu filho.
Olhei para a pequena criança que May carregava nos braços.
Ele não tinha a menor idéia sobre o seu futuro, e provavelmente ficaria assustado quando sua mãe ficasse com olhos verdes brilhantes e lhe falasse coisas sobre um futuro trágico e atrocidades que alguém iria cometer. O menino provavelmente não se daria conta que May estaria falando sobre ele.
Luke provavelmente cresceria ressentido comigo, por não ajudá-los.
Fiquei entristecido só de pensar nisso.
Eu gostaria de poder ficar sempre com eles, gostaria de poder curar May e evitar o destino terrível de meu filho.
Mas eu não podia. Não podia interferir no destino dos dois. Apenas observaria de longe, impotente.
-Eu não vou te abandonar, você sabe. – lhe disse, tirando uma mecha de cabelo loiro que estava no meio de seu rosto– Sempre estarei aqui. Mesmo que você pense que não. Mesmo que todos pensem que não.
-Sei que sim. – ela respondeu sorrindo, eu lhe devolvi um meio sorriso triste.
-Você tentou ver demais... Foi muito longe. E agora eu te perdi...
-Era minha chance. Eu precisava tentar. - ela sorriu de modo consolador e eu pude ver que naquele sorriso tinha um pouco do brilho de outrora. Mas, novamente, ele sumiu tão rápido quanto aparecera.
Esperei que ela dissesse mais alguma coisa, no entanto ela já se distraíra com o bebê.
Eu estava quebrado e tentava desesperadamente colar os cacos que sobraram, era inútil.
Carregaria para sempre a culpa de ter feito isso a ela.
Estava tão ocupado me sentindo magoado por ela me deixar que nem pensei em impedi-la. Como pude ser tão egoísta?
Eu dizia que a amava, mas quando ela mais precisou de mim eu não fiz nada.
Eu olhei para os olhos nebulosos de May. Aquela não era minha May. E nunca mais seria.
(Onde está meu amor?)


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Notas finais do capítulo

Reviews?
Muuuito obrigado a todas a pessoas que deixaram reviews no cap. passado! (Estou realmente sem tempo para citar vcs aqui :/ ...)
Edit: Minha surpresa ao passar por aqui é ver todo o texto em itálico??? Tive que concertar tudo. Argh, as vezes tenho raiva do Nyah e o que ele faz...
Para quem interessa saber (acho que ninguém T.T) essa fic ganhou bronze no Tributo, para minha total felicidade.