Somos tão grandes e tão pequenos quando amamos alguém!

Sem Thaiana, a vida de Severus Snape era como um livro branco, entediante e vazio. Vazio de amor, amizade, carinho, ou qualquer outro tipo de sentimento positivo. Em seu coração só havia espaço para a tristeza causada pela ausência de Lílian Evans. Ele pensou que a amava. Como estava enganado! O que ele sentia pela Lady Evans nunca passou de uma paixonite adolescente, e só agora, após conhecer o seu verdadeiro amor, foi que tomou conhecimento deste fato.

O amor é uma prisão voluntária. 
Faz-nos escravos.
Dá-nos limites e nos torna ilimitados.

E Thaiana era a dona de seu amor. Só de lembrar da amada, um sorriso surgia nos lábios do Conde de Ferrin.

Às vezes experimentamos situações em que as palavras parecem desaparecer. Seu último encontro com Lady Melo foi uma dessas situações.

Era uma tarde de outono quando Severus foi se despedir de Thaiana. A noite estava caindo, tingindo o céu de um cinza-arroxeado, anunciando que uma forte tempestade estava por vir. O cenário combinava perfeitamente com seus sentimentos. Partia-lhe o coração ter que se separar da sua amada, mas era um mal necessário. Os ingleses o intimaram a participar da tripulação que atacaria por mar. Seriam longos anos de batalhas, e precisavam de seu comando para vencer. Era hora de dizer adeus. Esperava que fosse apenas por um pequeno espaço de tempo, não aguentaria viver sem sua outra metade.

Lá estava Thaiana. Com o vestido verde que ele tanto gostava. Sentada sozinha no balanço, admirando a imensidão verde da floresta vizinha ao parque.

-Você demorou Sev.

-Desculpe-me mon petit estava procurando algo muito importante.

-Posso saber o que tanto procuravas?

-Uma jóia. Quando eu era criança encontrei-a por acaso, e fiquei impressionado com tal peça. Além de sua beleza incomum, ela possui algo de mágico, não sei bem explicar. Haviam boatos na minha cidade natal sobre sua origem, mas nunca consegui distinguir os verdadeiros dos falsos. Gostaria que aceitasse como presente de despedida.

Severus entregou a caixinha de veludo e abaixou os olhos, sem coragem de fitar Thaiana. Ele sabia que sua partida a machucaria. Ambos sofreriam com essa perda, mas era inevitável.

-Despedida? O que você quer dizer com isso? Você vai me deixar?

O sofrimento em sua voz era de cortar a alma. As palavras já não mais saiam com fluência, lágrimas impediam que ela continuasse, os soluços vieram...

O maior desafio é expressar palavras de conforto quando temos o coração marcado pela dor ao ver o sofrimento dos outros e percebemos que não podemos fazer nada.

- Guarde-o como se fosse um pedaço de mim. 

- Não vá Sev. Por favor.

- O país precisa de...

- Eu também preciso de você! 

-E eu de você. Espero que um dia você possa perdoar-me pelo que irei fazer.

- Por favor...

O Conde de Ferrin afastou-se lentamente, sussurrando um breve "Eu te amo" antes de desaparecer completamente.

A tempestade escolhera o pior momento para começar. As lágrimas salgadas do homem que vagava solitário misturavam-se à chuva.