The Butterfly escrita por Lonely Looney


Capítulo 6
Capítulo 6- Visões




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Capítulo 06 – Visões

Le Jour D'Amour... Keira ria, pois de certa forma, esse era um festival muito semelhante ao Beltane. Ela olhava para os casais apaixonados com uma certa nostalgia...

Keira caminhava pelas ruas de Paris sob um céu estranhamente cinzento. Sabia que, num dia como esse, isso só poderia ser mau presságio. Ainda assim, os casais de namorados corriam felizes, passando por ela, completamente alheios à tudo.

'Que dia lindo!', uma mulher falou.

"Então, talvez seja só impressão minha..."

Pelo menos era nisso que ela gostaria de acreditar naquele momento...


Éadaoin corria esbaforida pelo Pátio dos Milagres. Rezava a qualquer deus que a ouvisse para que não esbarrasse em Zephyr.

Ao chegar à Catedral, completamente sem fôlego, foi direto encontrar Quasímodo.

'Quasi...! Quasi...'

'Éadaoin...? Nossa, o que houve? Calma, respire, descanse! Você está bem?'

'Quasi...' ela disse, começando a chorar.

'Éadaoin... O que foi que você já aprontou agora?'

A garota não respondia. Abraçada nele, só chorava.

'Vamos, não chore assim! Estou realmente preocupado! Mas seja lá o que for, tenho certeza de que vai se resolver!'

'Quasi...' ela soluçava.

'Vamos, vamos... O que foi...?' ele falava ternamente, alisando os cabelos negros da garota.

'Você acha que... acha que nunca poderia ter dado certo entre nós...?'

'Ai, Éadaoin... De novo...'

'Preciso saber a resposta!' ela o empurrou.

'Éadaoin...'

'Nada disso, nada disso precisaria estar acontecendo, você poderia ter evitado! Não, nós poderíamos...! Oh, Quasi...'

'Do que você está falando? Vamos, respire fundo, sente-se aqui e vamos conversar...'

'Eu não quero conversar!' ela gritou.

'Então, o que você quer?'

'Pare de me tratar como louca!'

'Eu não a estou tratando como louca, Éadaoin. Mas devo admitir que estou realmente muito preocupado. O que posso fazer? Diga-me o que está acontecendo...'

'EU AMO VOCÊ!'

Quasímodo fechou os olhos e respirou fundo.

'Eu também amo você, Éadaoin.'

'Você entendeu!'

'Olha, Éadaoin... Nós já conversamos sobre isso... Você é especial para mim, é como uma irmãzinha—'

'Eu NÃO quero ser sua irmãzinha! Você não entende? Não entende? Por que eu nunca vou ser nada mais que isso para você?'

'Éadaoin, eu jamais sonharia em magoá-la. Mas eu sinto muito... Não posso corresponder aos seus sentimentos da maneira que você espera.'

A garota olhava para ele, muda, com os olhos vermelhos. Finalmente, disse:

'Eu nunca serei boa o suficiente para você...'

'Eu não disse isso, Éadaoin. Não, não faça isso, espere... Não, Éadaoin, não se esquive, vamos... Espere, não vá... Vamos conversar...'

'Não temos mais nada a conversar!'

Ao sair, desnorteada, Éadaoin esbarrou em Juan que estava chegando cheio de compras. O encontrão que a garota deu nele fez com que ele derrubasse todos os pacotes.

'Ainda bem que ela não me viu, parece estar brava! O que aconteceu?'

Quasímodo estava sentado num banquinho, parecendo estar em outro mundo.

'Quasi...?'

'Ahn...? Oh, Juan. É você.'

'Você está bem?'

'Juan... O que aconteceu com Madellaine?'

Sem dúvida, Quasímodo pegara Juan de surpresa. E até o próprio sineiro estava surpreso com a pergunta. Ele mesmo já achava que tivesse superado tudo isso... E perguntar algo assim logo após um acontecimento singular como a declaração desesperada de Éadaoin parecia insensível... Mas naquele maldito "Jour D'Amour" a impressão que dava era que todos enlouqueciam!

Hesitante, Juan respondeu:

'Foi embora, com outro circo. Deve estar feliz andando em cordas e saltitando por aí. Quem sabe ela não apareça aqui esse ano?'

'O que realmente aconteceu, Juan?'

'O que você acha? Fugiu com outro!'

Pela cara do cigano, isso bem podia ser verdade. Mas conhecendo Madellaine como conhecia, Quasímodo achava improvável. Uma garota viva como aquela, fazendo tantas bobagens... Arruinando a vida daquela maneira...?

'E ela parecia feliz...?' perguntou Quasímodo.

'Bem... Espero que esteja... Depois de tanto tempo...'

Nenhum dos dois falou mais nada. Para Quasímodo, o passado nunca fora muito agradável de se recordar...


"O caldeirão de Ceridwen. Deve-se tomar apenas três gotas e o que resta da poção é veneno mortal..."

Éadaoin sentia-se incomodada enquanto olhava a mistura borbulhar. Essa não era a melhor hora para se lembrar de histórias que sua mãe contava.

Não era um trabalho tão difícil quanto exigiu Taliesin, disso Éadaoin tinha certeza. Uma poção abortiva qualquer cigana sabia preparar e não era necessário recolher ervas raras nos quatro cantos do mundo.

Zephyr jamais deveria saber. Éadaoin nunca teve a intenção de fazê-lo sofrer. E sabia que não o amava. Um filho na hora errada só complicaria tudo ainda mais. Como sempre, ela sabia o que estava fazendo.

A poção era tão amarga que ela quase vomitou. Confusa, chorava. Mas agora era muito tarde para se arrepender.

Mas a poção não a livrara da dor do parto. "Ou será pior que isso?", pensava Éadaoin, rangendo os dentes em agonia. Foi só a garota pensar que não faria efeito e agora lá estava ela, se contorcendo de dor.

Mas ela não podia gritar por ajuda. Ninguém deveria descobrir. Mas era tanta dor...! Ao ver a poça que seu sangue formava, ela se esqueceu de qualquer sensação.

"Mamaí..."

Foi só no que ela conseguiu pensar antes de perder os sentidos.


Correndo aflita, Keira procurava por Éadaoin. Para seu desespero, a garota não estava com Zephyr e ele também não tinha idéia de onde encontrá-la.

'Mas como, Zephyr? Vocês... Vocês deveriam estar juntos hoje!'

Keira ouvia sua filha chamando por ela.

'Meu Deus! Eu sei que ela está bem!', disse o garoto. 'A senhora sabe como Éadaoin é. Daqui a pouco ela aparece. Não se preocupe tanto, faz mal ao bebê.'

'Zephyr, ouça-me!' ela segurou firme o garoto pelo braço 'Éadaoin não está bem! Eu sei disso! E se você realmente a ama, deve me ajudar!'

A urgência na voz da mulher realmente preocupou Zephyr.

'Mas onde ela está, então?'

'Eu não sei, Zephyr, eu não sei! Acho que é aqui perto, não sei!' Keira via imagens confusas em sua cabeça. Um lugar conhecido... Um... cemitério?

'Les Inocents!'

Os dois correram para o sombrio cemitério. A idéia não agradava a Zephyr nem um pouco, mas ele não discutiria com Keira, ainda mais com ela naquele estado. Por quê Éadaoin estaria num cemitério?

O lugar era sombrio mesmo àquela hora do dia. Não foi fácil encontrar Éadaoin. Mas ela, de fato, estava lá. Escolhera uma tumba abandonada, e no estado em que a garota se encontrava, parecia estar no lugar perfeito.

Keira entrou gritando o nome da filha. Zephyr viu o sangue e ficou apavorado. Éadaoin estava deitada, imóvel e pálida. A mulher, então, se lembrou dapior cena que já vira ao tocar violino, no aniversário da filha. A mesma cena. Éadaoin caída, ensangüentada... E desta vez, era real...

'Ah, Deusa... Não...'


"Que insuportável..." pensava Quasímodo, tendo que observar todos aqueles casais jurando amor e se declarando. E ele concluiu que seria melhor não ter saído para "dar uma volta e esfriar a cabeça".

'Parece que não há uma pessoa especial para cada um de nós, afinal.' Quasímodo disse a si mesmo. 'Ou talvez, não haja para ninguém. No fim, todos só tentem viver uma mentira.'

Ao voltar para a Catedral, Quasímodo não encontrou Juan em lugar nenhum.

'Juan? Juan?'

'Estou aqui.'

Quasímodo foi ao encontro dele e encontrou Juan sentado na sacada, admirando Paris à tarde.

'É uma vista digna de um rei...' disse Juan.

'Não é? Mas desça daí, vamos. Pode ser perigoso.'

'Quasi...'

'Sim?'

'Você me odeia?'

'Mas que história é essa, agora? Não sei, creio que não. Se o odiasse, acho que nem o deixaria ficar aqui. Não suportaria sua presença. Você é até divertido.'

Juan derramou algumas lágrimas.

'Mas você deveria... Eu digo, deveria me odiar. Eu menti... E destruí sua vida...'

'Pare com isso, você não destruiu minha vida. Aqui estou eu, veja só.'

'Sim, mas eu menti...'

'Do que está falando?'

'Menti... menti sobre ela... É tão difícil dizer esse nome...'

'Sobre quem? Sobre Madellaine?'

'Sim. Sobre... Madellaine.'

'Ora, eu já sabia disso. Tenho certeza de que ela não fugiu com outro, como você me falou. Eu a conheço. Ela não faria isso... de novo...Faria? Em todo caso, onde ela está?'

'Você nunca mais vai vê-la, Quasi, tire isso da cabeça. Mas sabe... Sabe... Quando ela fugiu comigo, estava grávida de você e não sabia...'

'O quê?'

'E o bebezinho nasceu morto... Sabe, ela nunca me amou, eu sei disso. Mas as pessoas fazem coisas estúpidas, sabe... Não fique com raiva dela. Na verdade, a culpa foi mais minha. Ela era tão bobinha... E só não voltou pra você porque pensou que jamais fosse ser perdoada. Ela mesma falou que já havia errado tanto com você...'

'Onde ela está, Juan? ONDE ela está?'

'Ela está morta, Quasi. Ela se matou depois que o filhinho nasceu... Me desculpe por contar isso assim... Mas você precisava saber. Ela não queria ser odiada logo por você... Agora eu entendo...'

'Mas... eu nunca a odiei... Eu a amava...! Por que, por quê ela fugiu...?'

'Você não quer saber isso, Quasi... Mas acho que merece a verdade, enfim... Ciúmes, Quasi... Ela foi uma idiota, eu fui um idiota... Perdão Quasi... Você é um grande amigo...'

E Juan se atirou lá embaixo, sem sequer ouvir Quasímodo gritar desesperado "Não!", chocado com a confissão e a cena.



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