OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS (??)

_ Primeiro vamos situar no tempo... Os recém cavaleirinhos de ouro tinham 11 anos, eu e Misty já tínhamos 13, Saga era um pedaço de mau caminho de 19 anos... Nem eu nem Misty éramos santos e já tínhamos escolhido nosso caminho na vida...

_ O que ele ta tentando dizer é que eles já tinham decidido assumir que eram veados... – resmungou Saga, na fronteira entre o sono e a vigília.

_ Obrigada pela sua ajuda, querido. –riu Afrodite, acompanhado dos outros... – Bem, era o ano de 77 e a música de discoteca corria solta...

_ Imaginem esse garoto, esguio, com os cabelos já abaixo dos ombros, sempre com uma calça que parecia costurada no corpo, cantando e rebolando o dia todo... – comentou Camus... – O mestre dele ainda incentivava, porque o treinamento de Afrodite era mesmo confundir e seduzir o inimigo pra depois destruí-lo...

_ E no dia em que chegou o LP da Glória Gaynor, o nível de viadagem explícita atingiu o vermelho... – Saga até se sentou pra contar. – Não há palavras pra descrever a cena: Afrodite ouvindo o bolachão no último lá no Coliseum, pra onde ele levou uma vitrolinha portátil, só pra aproveitar uma sala com espelhos que tem lá, Misty pedindo licença pra entrar, os dois cantando e dançando “I am what I am”...

_ Acho que até eu decorei “I will survive” – gemeu Camus, vizinho do templo de Peixes.

_ Me lembro das coreografias que criamos até hoje... – Afrodite ficou com os olhos fitando um tempo ao longe, depois sacudiu a cabeça. – Vocês estão me fazendo fugir do assunto, seus tontos! Saga, deita aqui de novo e fica quieto. Camus, você também. Bom, então as duas bichinhas do Santuário eram capazes de ter os mesmos ídolos, fossem na música ou fossem ao seu redor... Um dia estávamos comentando sobre uns bofes lindos, dando nota de um a dez pra eles...

_ Pra mim vocês deram onze, certo? – Saga abriu um olho.

_ Pra você demos cem, meu caro. Ta, eu sei, as meninas dessa idade fazem isso, daí a conversa passou a ser sobre a possibilidade de ficar com esses mesmos caras... Alguns eram mais fáceis, porque eram chegados, outros ia ser preciso um certo trabalho de persuasão, mas havia os inatingíveis. Saga era um deles...

_ Eu nunca fui um cara fácil...

_ Aí as duas bibas resolvem apostar que conseguiriam pelo menos dar um beijo no Saga-não-sou-fácil aqui...

_ Ai, minha deusa! – gemeu Shiryu. – E o que tem a ver o cabelo roxo do Milo com tudo isso?

_ Que com uma certa pesquisa de campo, descobrimos que o cavaleiro de Gêmeos tem uma fraqueza especial por mulheres ruivas...

_ Ainda bem que o Aioira ta dormindo... – riu Shaka. – Imagine se ele escuta uma revelação dessas?

_ Ah, mas ruivas com cabelos longos e olhos verdes, tipo a Jean Grey dos X-men, sabe? – se defendeu Saga.

_ Daí eu entrei em completo pânico. Olhos verdes o Misty já tinha, como o cabelo dele é loiro, tingir de ruivo seria a coisa mais fácil do mundo. E o meu? Que jeito eu conseguiria atingir a tonalidade certa?

_ Mas e o Milo? – insistiu Shun

_ Pra não ter que testar no MEU cabelo eu o convenci a deixar testar uma coloração no cabelo DELE, dizendo que ele poderia ficar com um cabelo igual aos ídolos de punk rock que ele ouvia...

_ Ah, sim. Aos onze anos o Milo já se inclinava ao rock, como todo pré-adolescente... e começou ouvindo tudo o que havia de mais pesado... – riu Saga. – Em 1977, esse Santuário era uma cacofonia... O Camus ouvia jazz e blues... O Shaka descobriu os clássicos, Mú e Aioros ouviam Bee Gees, Carpenters e outros grupos que cantavam em falsete, o Aldebaran escutava somente samba e chorinho, Afrodite só ouvia música pra dançar, Aioria, Milo, Carlo ouviam rock, Shura e eu ouvíamos baladas românticas...

_ Meu mestre gosta de Janis Joplin... – informou Hyoga.

_ Então eu escolhi uma tonalidade vermelha e pintei o cabelo do Milo. Depois do tempo de espera, descobri com horror que o cabelo dele tinha ficado ROXO!! Mas não esse tom violetinha do Mú, roxo mesmo, o moleque amou, o mestre dele reclamou com o meu, foi a maior briga porque o Escorpião queria cortar o cabelo estilo moicano, pra ficar mais punk ainda... Misty nem tinha cogitado tingir o dele, porque ele considerou o Saga muito inatingível e seduziu um mestre lá dos cavaleiros de prata...

_ Outro escândalo, porque ele era menor de idade e o mestre já era um homem... – lembrou Mú.

_ E você então nunca ficou ruivo nem beijou o Saga, Afrodite? – perguntou Shiryu, malicioso.

_ Bem, ruivo eu fiquei, porque depois conversando com minhas irmãs, alguns anos mais tarde, elas me ensinaram como combinar as cores e eu percebi que a tonalidade do cabelo do Milo era duas acima da minha, nunca ia dar certo mesmo... E quanto a beijar o Saga... Foi a aposta mais bem ganha da minha vida, mesmo que tenha sido por engano...

_ Por engano?

_ Eu beijei esse veado numa noite de pouca lua, achando que era uma serva que eu tava cevando, simplesmente porque eu o vi parado de costas, com uma túnica curta e de trança com fio dourado, exatamente como elas usam. Só puxei pelo braço e beijei. Até o batom com sabor de morango era igual. Percebi que não era a menina, quando apertei e o corpo era esguio demais...

_ Ah, vai, Saga, que esse daí tem um perfume característico de longe... – provocou Camus. – Ou você vai dizer que estava resfriado também?

_ O pior é que estava mesmo. – riu Afrodite. As gargalhadas aumentaram, o cavaleiro de Gêmeos ficou vermelho, beijou Peixes de leve, depois se deitou de novo... Eles sabiam que nunca houve nada entre eles, cada um tinha o seu amor, aquilo era apenas uma recordação do passado...

_ Mestre Camus, conta pra nós alguma coisa sua...

_ É sim, Camyu... A impressão que passa é que todo mundo aprontava e você era um santinho... – reclamou Saga.

_ Eu conto se o outro “santinho” me ajudar... – sorriu Camus, olhando para o cavaleiro de Virgem, que só franziu o nariz.

_ Vocês vão acabar com a minha reputação... – gemeu Shaka, de brincadeira. – To dentro. O que vamos contar primeiro? O dia em que você ficou nervoso e congelou a cola da prova de matemática nas costas da carteira do Milo ou o dia em que você trancou o Moses de Kaisto no armário do vestiário?

_ CAMUS!? – gritaram os cavaleiros de bronze.

O francês deu de ombros, depois começou a rir, se lembrando:

_ Coitado do Milucho. Ele deu um grito porque a cadeira ficou gelada, levou a maior bronca porque a cola estava com a letra dele, mas quem tirou zero fui eu porque a prova estava à minha frente além claro, do meu poder congelante me denunciando... E o Moses me chamou de baixinho inútil... Agora, o Shaka de Virgem era capaz de coisas piores, n’est pás, mon ami?

_ Oba, lá vem coisas quentes... – riu Afrodite, esfregando as mãos.