Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 62
Capítulo 62. Silêncio


Notas iniciais do capítulo

Musica de hoje é "I know it is over" do The Smiths. Pessoalmente, eu gosto muito da versão do Jeff Buckley. Aliás, eu escrevi metade do capítulo acreditando firmemente que a música ia ser "Who wants to live forever", do Queen, então se acharem que essa música ia ficar melhor... bom, eu aceito isso. Na verdade, até pensei em dividir o capítulo, mas eu nunca tive tanto trabalho pra escrever alguma coisa que nem esse cap, e olha que eu acabei de corrigir a minha dissertação. Bom, boa leitura!



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Oh Mother, I can feel
The soil falling over my head
And as I climb into an empty bed
Oh well... Enough said
I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
Oh...

Oh Mother, I can feel
The soil falling over my head
See, the sea wants to take me
The knife wants to slit me
Do you think you can help me ?
Sad veiled bride, please be happy
Handsome groom, give her room
Loud, loutish lover, treat her kindly
(although she needs you
More than she loves you)

And I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
(Over and over and over and over
Over and over...)
I know it's over

And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me, and said:
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight?
If you're so very good-looking
Why do you sleep alone tonight?
I know...
Because tonight is
Just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they're in each other's arms..."

– Eu achei que nós tivéssemos tempo. Todo o tempo. Mas isso não é verdade, não é? - Mihaella perguntou de sua cama, vendo Vlad abotoar sua camisa enquanto olhava pela janela por entre as cortinas.

– Nós temos a eternidade Iepuroaică. - Vlad respondeu, com seus olhos vermelhos buscando alguma coisa na claridade do dia.

– Não meu senhor. O senhor tem a eternidade. Eu tenho muito tempo, mas não o suficiente.

Com aquela fala Vlad finalmente desviou seus olhos da janela e fitou a moça na cama.

– Vlad eu...

– Eu não tenho alma Mihaella. Eu não me importo. Eu não quero me importar. Eu não me importo em querer. Você entende isso?

Miahella assentiu com a cabeça. Tristemente concordando com Vlad. Ela sabia que não era uma questão de tempo quando começou aquela conversa, afinal. Não importava quantos séculos, Vlad jamais a amaria. Mas Mihaella? Ela se importava. Ela o amava. Ela sofria por causa dele. Ela sofria no lugar dele. Ela sabia que devia partir e sabia que ele não se importava.

Na manhã seguinte Mihaella partiu. Vlad a viu ir embora pela janela. Vlad não sentiu nada.

.

.

.

Naquela manhã fria já no fim de outono, antes de ir para o trabalho, Mihaella foi até o apartamento de Vlad e o encontrou à mesa, olhando para sua xícara de chá. A moça sentou-se ao lado dele e pegou sua mão, acariciando-a por alguns segundos antes avisá-lo que o levaria até o escritório da Hellsing. E se ela conseguiu passar ou não a mensagem para o rapaz de que ele não tinha que encarar isso sozinho, não dessa vez, Mihaella não sabia e por isso, como uma mãe que leva seu filho para o primeiro dia de aula, acompanhou Vlad até sua mesa na sala de Integra, despedindo-se dele lá.

E foi preocupada com Vlad que a moça passou o resto do dia, explicando uma, duas, infinitas vezes para as crianças que elas não podiam ir ver os pôneis porque o conde (como as crianças se acostumaram a chamar Vlad) estava ocupado e não podia recebê-las. E não Valentine, não podemos ir até lá de fim de semana porque não temos autorização para sair da escola fora do período de aulas. E não Edward, não podemos pedir autorização porque o governo já quer diminuir o dia de aulas por conta da epidemia de gripe... Olívia, eu sei que você quer mas... Bom, na verdade se seus pais quiserem te levar até o haras tudo bem, é só uma questão de combinar com o conde. E Valentine, para ir junto seus pais tem que autorizar e os pais da Olívia precisam concordar... Eu não vou ligar para o pai de ninguém agora!

Ao fim do dia, Mihaella foi até o apartamento de Vlad ver como ele estava e acabou sendo convidada para o jantar. Por quase uma hora, ficou vendo Vlad comer, sem vontade, o que havia preparado e tentando contar a ele como as crianças sentiam falta do haras. Mas tudo que recebeu foi acenos de cabeça e respostas monossilábicas. Se despediu dele com um singelo beijo na testa, uma demonstração de carinho que Vlad III jamais aceitaria, mas que Vlad aceitou de olhos fechados, desatento ao tom quase que maternal do toque.

No dia seguinte, e nos que se seguiram após aquele, Mihaella levou Vlad até o escritório de Integra, mas não entrou mais no prédio nenhuma vez. E se Vlad quase não conversava com ela de manhã, durante a noite ele só parecia cansado. Mihaella começou a comprar tortas e bolos para sobremesa e os doces pareciam confortá-lo de alguma forma.

No quinto dia de trabalho de Vlad ele disse que havia resolvido um caso. No outro dia, quando ele chegou em casa, estava sorrindo.

.

.

.

Naquela manhã fria já no fim de outono, antes de ir para o trabalho, Integra ficou encarando seu reflexo em sua xícara de chá por muitos minutos, lembrando-se do que aconteceu no dia anterior. Integra recebeu uma visita da moça Basarab no final da tarde, com Celas a tiracolo. A Basarab trouxe consigo também uma lista absurdamente lógica de motivos pelos quais Integra deveria trabalhar com Vlad e a Hellsing não teve como recusá-los. Afinal, ela já tinha pedido para Vlad se envolver no treinamento dos soldados. Como poderia ela, Sir Integra Fairbrook Wingates Hellsing Dracul, condessa de Dracul, assumir publicamente que tinha medo da reação de seu marido? Vergonha? De forma alguma. Como poderia ela dizer que não precisava dele quando já o tinha feito? Qual o argumento que usaria para explicar porque ficar afastada dele era mais importante que a vida de milhares de ingleses? Não poderia. Afinal, a Basarab nem estava pedindo para que ela pedisse isso para Vlad. Aparentemente ele já tinha concordado. Era só acenar com a cabeça. E um sim de Integra a moça Basarab arrancou.

Na manhã seguinte, Vlad chegou acompanhado de Ella. Apenas duas batidas na porta anunciaram a presença de ambos e enquanto a Basarab aproximou-se para cumprimentar a Hellsing, Vlad apenas a reconheceu com um tenso aceno com a cabeça. A moça se despediu dele com um beijo em sua bochecha e palavras sussurradas em seus ouvidos e depois se foi.

Vlad organizou suas coisas em silêncio em sua mesa para depois pegar um dos documentos a serem analisados na mesa do centro e começou seus rabiscos. Quando Integra tentou explicar para ele o que ele tinha que fazer ele apenas acenou com a cabeça, aceitando as direções de que não precisava. Ele passou o dia em silêncio. Saiu com os demais funcionários ao final do expediente com um "adeus" sussurrado mais para a porta que para Integra.

A Hellsing ficou mais algumas horas sozinha no escritório, quando decidiu voltar para sua mansão. Sozinha. Em silêncio.

Sentou-se a mesa sozinha e sozinha jantou. Tomou banho e deitou-se em sua cama, com a intenção de gastar alguns minutos para ler alguns documentos antes de dormir. Mas seus pensamentos a distraíram.

Nunca antes de ter Vlad praticamente o dia todo sem falar com ela, Integra havia percebido quanta falta a voz dele lhe faria. E dessa vez ela sabia que não era só porque ele o vampiro compartilhavam a mesma voz grave e aveludada. Porque Integra não sentia a voz de Vlad quando ele não estava lá, como era o caso de Alucard. Alucard que nunca mais estaria em lugar nenhum. A falta da voz de Alucard era prova para Integra de que o vampiro não existia mais. Porque até com o corpo destroçado e sem língua, sem olhos, sem cérebro, a voz de Alucard era algo constante em sua cabeça, até o momento em que ele absorveu o gato e se desfez no ar. Desde então a voz cessou e restou silêncio e seus próprios pensamentos. E a falta da voz de Alucard era prova de que ela teria que aceitar o fim de algo que ela sabia jamais ter começado. Algo que ela jamais teria a chance de começar.

Mas a falta da voz de Vlad? Vlad era razoavelmente quieto por natureza. Quando estava bem, ou não propriamente bem, mas quando ele parecia mais feliz, Vlad não falava pelos cotovelos como Celas. Vlad também não aparecia para falar bobagens e fazer Integra perder seu tempo. Vlad falava coisas que precisavam ser ditas, conversava quando a situação se apresentava. Integra até se lembrava de duas ou três piadas que ouviu da boca dele. Mas no geral, Vlad estava confortável em ficar em silêncio. O problema da falta da voz dele, nessa situação em específico, era o óbvio desconforto dos dois na presença um do outro. Do desconforto de Vlad na presença de Integra, como se ela fosse algo repugnante, sem valor.

E foi isso. Na escuridão da noite, sem conseguir dormir, Integra, que toda sua vida foi tida como uma mulher difícil de conviver, a dama de aço da Inglaterra, um troféu a ser conquistado, sentiu-se absolutamente sem valor. Porque se seu título, riqueza e aparência lhe tornavam objeto de cobiça, ninguém cobiçava a ela. Ninguém conhecia a ela. Não o coronel, que foi embora tão cedo. Não Celas, com a qual Integra quase não conversava. Não Walter, que no final a via apenas como a líder de uma organização a ser traída. Não seu pai, que morreu tão cedo. Não sua mãe, que não conheceu. Não Vlad, que Integra jamais permitiu que chegasse tão perto. Nem mesmo Integra conhecia a si mesmo. Talvez Alucard a conhecesse, porque o monstro enxergava além das ilusões de Integra para dentro de seu ser. E talvez Integra tivesse algum valor, porque Alucard a reconheceu como mestre afinal, e até desaparecer com a brisa, Alucard ficou a seu lado. E então, era isso, não era? Aqueles que conheciam Integra viam nela valor.

Mas, Integra, se você é tão especial, por que está sozinha esta noite? Por que esteve sozinha toda sua vida?

Aceitando que aquela era uma noite como todas as outras de sua vida, Integra ainda desejou que tivesse conhecido sua mãe. Porque talvez, só talvez, a lembrança dela traria consigo também uma lembrança de amor verdadeiro.

Na manhã seguinte, Integra observou Vlad chegando no escritório novamente acompanhado da moça Basarab, que dessa vez se despediu dele na entrada, novamente com um beijo na bochecha. Vlad tinha alguém. Alguém tão improvável quanto o próprio Vlad, mas alguém que após meses convivendo com ele, não o abandonou. Do que está falando Integra? Vlad tem alguma coisa que atrai as pessoas, ele nunca vai ficar sozinho se não quiser.

Aquilo fez Integra parar sua linha de pensamento e começar a pensar naquilo em específico. O que Vlad tinha? Quando isso surgiu? Afinal, não foi como "vazio" que Integra definiu Vlad para o coronel?

Ao entrar, Vlad acenou com a cabeça, dirigiu-se à sua mesa e voltou a trabalhar em silêncio.

A mesma cena se repetiu no dia seguinte. E no dia depois daquele. Integra estava começando a acreditar que aquela havia sido uma péssima ideia, já que nenhum dos dois estava conseguindo resultados naquele caos e ainda por cima o clima estava totalmente desconfortável. E como Integra era obrigada a admitir que daria tudo para ouvir a voz de Vlad de novo.

No quinto dia, duas horas e meia depois que Vlad chegou mais uma vez em silêncio, o rapaz finalmente abriu a boca, apenas para pedir para Integra o jornal do dia, ainda na mesa dela para ser lido. Integra achou estranho, mas passou o jornal. Ela esperava que ele estivesse dando uma pausa no trabalho, mas ao invés de ler o tal jornal ele passou os olhos rapidamente pelos artigos, até parar em um parágrafo, fazer mais algumas anotações e finalmente, olhar para frente e parecer pensar por alguns minutos.

Integra acompanhou toda a cena por cima dos óculos, escondida atrás de seus próprios papéis que mal conseguiu analisar, quando percebeu que Vlad estava se levantando e se aproximando vagarosamente da mesa dela. Sem firmar contato visual, o rapaz disse:

– Eu acredito ter encontrado um padrão.

E entregou um mapa com um ponto marcado, um círculo ao redor do ponto e uma anotação que dizia apenas:

"Quatro a sete vampiros, jovens, recém transformados. Provavelmente dormem de manhã. Recomendação: eliminação."

Respirando fundo e tentando achar coragem para fazer o que precisava ser feito, Integra disse:

– Vlad, espere. Enquanto essas são as informações necessárias para coordenar a missão, você precisa me explicar como chegou a essas conclusões. Não... Não podemos mandar um ataque sem ter certeza.

Vlad concordou com a cabeça, mas Integra percebeu o absurdo daquela frase. No último mês, a equipe de análise mandou a equipe de Vlad para oito missões, das quais seis estavam mal analisadas, e se o próprio Vlad não estivesse acompanhando remotamente as missões e Celas não estivesse liderando em campo, provavelmente a equipe dele não teria sobrevivido a duas delas. Mas Vlad, feito tão humilde e humilhado Vlad, apenas acenou com a cabeça e começou a explicar suas conclusões.

– Eu acredito que uma parcela dos ataques reportados no começo do mês não seja devido a vampiros antigos, mas sim a alguns vampiros mais novos tentando se passar por antigos, na esperança de enganar a Hellsing. Um blefe, digamos assim.

Vlad mostrou para Integra seu mapa rabiscado, no qual a Hellsing observou que Vlad havia também destacado as saídas do metrô e os locais onde ocorreram as mortes, incluindo uma morte datada da noite anterior que ainda não constava nos arquivos (Integra já tinha olhado os arquivos antes e ela nunca, nunca perde um nome). Ah sim, provavelmente era para isso que ele queria o jornal. Apesar de o fato de que Vlad conseguiu identificar os detalhes confidenciais do assassinato da jovem num texto de jornal, em que não era permitido divulgar detalhes de ataques relacionados a vampiros, era no mínimo perturbador para a Hellsing. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Vlad a interrompeu:

– Que eu saiba, vampiros antigos não andam de metrô. E apesar de alguns terem predileção por determinados tipos físicos ou idade, não acredito que eles tenham algum tipo de preferência relacionada às posses de suas vítimas. A maioria desses assassinatos estão sendo investigados pela polícia local como roubo seguido de morte, porque eles estão levando acessórios das vítimas, como tênis, celulares, roupas e outras bobagens.

– Sua teoria? - Integra perguntou, disfarçadamente conferindo que alguns dos nomes listados por ele estavam também no diagrama que a equipe dela havia feito.

– Esses vampiros são jovens, tanto como vampiros quanto em idade. São ingênuos, um tipo de ingenuidade que se adquire quando se teve o mundo a seus pés por muito tempo. Ou foram transformados ao mesmo tempo ou um deles transformou os outros. De qualquer forma, eles se sentem poderosos e mais espertos do que realmente são. Aproveitaram a onda de ataques dos mais antigos para poderem atacar livremente, acreditando que o que quer que estivesse caçando os vampiros - não acredito que saibam o que é a Hellsing - não se atreveria a atacar um vampiro antigo.

Integra olhava para Vlad, pensando quando foi que ele aprendeu tanto. Se bem que a reação dele, do momento em que viu o primeiro ataque e transformou os vampiros em purpurina, ou do tiro que levou sem nem ao menos saber o que era uma arma de fogo, aquela reação mostrava um potencial absurdo para fazer exatamente o que ele estava fazendo. Caçando vampiros. E graças a ele, e sua curiosidade quase ingênua de conhecer o inimigo, a organização Hellsing finalmente tinha informações sobre o comportamento dos vampiros que nada tinham a ver com Alucard. Integra agradeceu silenciosamente pela contribuição quase que inconsciente que Vlad havia feito. Nunca antes alguém teve coragem (se referia aos soldados), nervos (Celas) ou paciência (Alucard) para entrevistar os vampiros antes da execução (ou em alguns casos, acordos - Integra ainda estava tentando aceitar essa faceta de Vlad).

Agora eles podiam afirmar que era claro que os vampiros das ruas sabiam que estavam sendo caçados, só não por quem ou pelo que. E que também havia o boato entre eles que um vampiro antigo era indestrutível e que seja lá o que fosse o caçador não os atacava por medo.

– De qualquer forma. - Continuou ele. - Esse grupo, de cinco ou seis, não deve ser muito maior que isso, está caçando homens e mulheres entre 22 e 30 anos de idade. Velhos demais para serem virgens.

Vlad parou por alguns segundos, não querendo entrar nesse mérito ao observar o olhar de Integra. Apesar de ele não querer saber, ela havia contado para ele que nada acontecera naquela noite na mansão entre ela e o coronel e Vlad estava partindo do princípio que sua esposa (Ha, esposa...) era virgem e ele sabia que era, mesmo já sendo um ótimo representante da faixa etária que estava descrevendo, então melhor deixar para lá.

Integra, por sua vez, estava imaginando o que havia acontecido entre Vlad e a moça Basarab para poder afirmar com tanta convicção de que naquela idade ninguém mais devia ser virgem e se ele estava tentando insinuar alguma coisa.

Quase um minuto de um silêncio tenso e constrangedor depois, Vlad, quase que em um único fôlego, disse:

– Enfim, eles estão caçando pela aparência e pelos pertences. Tiveram uma ideia razoavelmente boa, que é a de caçar longe de casa, mas como são inexperientes acabam não conseguindo se controlar e encontrando suas vítimas perto o suficiente da saída do metrô para que o padrão seja reconhecido. Eles moram nessa região. - E apontou com o dedo para o ponto no centro do círculo, onde não havia vítimas marcadas.

– Sim, parece-me uma teoria bem fundamentada.

Vlad respirou fundo, ergueu os olhos e mirou profundamente nos olhos de Integra.

– O que eu devo fazer agora?

Foi quando Integra percebeu que Vlad não sabia qual era seu lugar na organização. Ele estava lá para ajudar a desvendar padrões, mas a própria Integra não esperava que ele encontrasse um dessa magnitude tão depressa. E mais importante, Integra percebeu o que Vlad tinha que atraia as pessoas, o que ela qualificou como "vazio", mas na verdade era Vlad em sua essência.

Vlad, que por toda sua vida sabia que se o amor era real e natural para as outras pessoas, para ele era algo que lhe foi negado quase que no berço. Vlad que foi verdadeiramente amado por sua irmã, tão frágil, que morreu tão cedo. Vlad que perdeu sua noiva na noite de seu casamento, traído por seu irmão. Vlad que nesse ponto era tão parecido com Integra.

Mas Vlad, que perdeu tudo depois disso. Perdeu seu tempo, sua realidade, a si mesmo. Vlad que ganhou uma segunda chance. Vlad que nessa segunda chance estava abrindo seu peito para o mundo, aceitando o passado como ele é, abraçando o futuro com tudo o que tem. Vlad que se fez vazio para poder ser o que quisesse. Vlad que aceitou as críticas, aceitou a companhia de Integra que tanto lhe incomodava, que apesar de seu passado aceitaria de bom grado as ordens dela. Vlad, que atraia as pessoas porque estava finalmente aberto a elas.

Integra perdeu o ar com sua compreensão súbita da realidade, mas não havia espaço para isso agora. Agora havia um ataque para coordenar, e uma ordem a ser dada. Ah sim, e uma explicação.

– Em casos mais simples, você pode direcionar parte das tropas para o local e me comunicar verbalmente o ocorrido. Depois de encerrado o caso eu quero o relatório da análise e da missão. Em casos mais sérios, nós decidiremos juntos o que fazer. Está bem? - A última frase foi dita em voz baixa, quase que com medo da resposta dele.

Vlad acenou com a cabeça e se virou para voltar para sua mesa. E em seguida se voltou novamente para Integra:

– E que tipo de caso é esse? - Ele perguntou, também em voz baixa.

Apesar da situação desconfortável, aquela pergunta de Vlad era a síntese de tudo o que ela havia percebido e ela sorriu. Um sorriso pequeno e triste, mas um dos primeiros sorrisos dela desde o dia em que havia recebido a ordem de entregar o comando de suas tropas para os militares. Vlad não viu o sorriso, que já havia desaparecido do rosto da Hellsing quando ele se virou para ouvir a resposta dela:

– Se você sabe o que deve ser feito, o faça.

Vlad acenou com a cabeça, voltou para sua mesa e pegou seu telefone. A ordem que ele deu para seus soldados (e Celas que estava no comando da missão) foi simples, clara e com todos os detalhes importantes, incluindo o que esperar, como agir, quais homens levar (que ele listou pelos nomes) e com que tipo de armamento.

Uma hora após desligar o telefone o estava atendendo, com Celas reportando os resultados da missão. Em um apartamento a três quadras da saída de metrô que Vlad apontara, encontraram seis vampiros, quatro machos e duas fêmeas, adolescentes entre 23 e 26 anos de idade, transformados há pouco tempo, e uma vampira recém transformada, ainda lutando contra as transformações e com sinais de abuso físico, mas já ingerindo sangue fresco. Como eram agressivos, os seis vampiros foram eliminados na entrada. A sétima vampira seria transportada para a Hellsing para completar sua transformação, mas ela havia recobrado a "consciência" durante o transporte e atacado um dos soldados, então também havia sido executada. No apartamento encontraram pertences pessoais de várias vítimas, que estavam levando para análise para que pudessem fechar aqueles casos. Nenhuma baixa do lado deles, mas o soldado que tinha sido atacado estava no hospital levando pontos no braço e Celas suspeitava que ele não ia trabalhar amanhã.

Quando Vlad desligou o telefone e relatou os fatos para Integra, a Hellsing apenas concordou com a cabeça e murmurou um "bom", mas por dentro Integra estava ao mesmo tempo fascinada e apavorada com o desempenho de Vlad. Uma águia devia voar, sem dúvidas.

Na manhã seguinte o relatório sobre o caso estava em sua mesa e Integra notou com um pouco de pesar mas grande alívio que com os pertences encontrados, quase um terço dos casos que estavam sendo analisados estavam resolvidos. Naquela manhã, quando Vlad entrou na sala, além do aceno ele balbuciou um "bom dia" tenso que Integra respondeu com um "bom dia" que claramente queria dizer "bom trabalho". Na tarde daquele dia, por coincidência ou não, acabaram almoçando os dois no escritório e Integra aceitou quando Vlad ofereceu a ela uma garfada de seu cheesecake.

It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes strength to be gentle and kind
(Over, over, over, over)
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes guts to be gentle and kind
(Over, over)

Love is Natural and Real
But not for you, my love
Not tonight, my love
Love is Natural and Real
But not for such as you and I,
My love

Oh Mother, I can feel
The soil falling over my head
Oh Mother, I can feel
The soil falling over my head
Oh Mother, I can feel
The soil falling over my head
Oh Mother, I can feel
The soil falling over my ...


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Notas finais do capítulo

see ya. R&R, please!