Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 6
Capítulo 6.Saudade


Notas iniciais do capítulo

Nossa, fiquei muito feliz com a repercussão do último capítulo!

Na verdade, creio que o foco da história mude um pouco agora, então espero sinceramente que seja do agrado de vocês!

ps: desculpem pelo capítulo minúsculo... tentarei compensar com o tempo de atualização!



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Celas não raciocinava bem. Sentia vertigens, estava tonta. Pensou em deitar-se em seu caixão, mas lhe pareceu tão longe, tão solitário.

Chegou às masmorras, andando em passos lentos, e parou em frente ao caixão negro de seu mestre. Passou os dedos pela inscrição, lendo as palavras com saudosismo. “ The bird of Hermes is my name, eating my wings to make me tame”. Levantou a tampa, e se deitou dentro dele. Sentindo o cheiro de seu mestre, adormeceu.

Pela primeira vez desde a partida de seu mestre, sonhou. Um sonho muito confuso. Via flashes de batalhas, e cenas cruéis. Algumas ela reconheceu como sendo de guerras, em campos de batalhas. As mais definidas, regadas a tiros e bombas, ela identificou como sendo as vividas por Bernadotte. Em outras, ela estava sob o ponto de vista de um soldado, bradando uma espada ao vento e atacando.

As cenas que vieram depois a fizeram se contorcer dentro do caixão. Viu vários corpos estraçalhados no chão, e uma mulher abaixo de si lutando para se libertar. Dentro da cabeça de que monstro ela estaria? Aquela mulher estava claramente desesperada com a situação. Estava sendo estuprada?

Celas tentou tomar o controle do corpo, mas não podia. Era apenas telespectadora da cena. Fechou os olhos com força, tentando não presenciar a dor da mulher, da menina, três anos mais jovem que ela, e a cena mudou.

Uma moça jovem, de costas para ela. Integra? Ela se virou, mostrando a tristeza profunda em seus grandes olhos azuis. Não, não era Integra, mas os cabelos platinados eram muito semelhantes. Por que ela estava tão triste mesmo? Por que ela se ajoelhava diante de Celas, tocava sua mão e suplicava por piedade com aqueles olhos tão tristes?

Antes que descobrisse mudou de lugar outra vez, se via em frente a uma guilhotina, pronta para ser decapitada. O medo que sentia, parecia completamente alheio ao corpo. Imóvel, resignado, e pôs a cabeça sem nenhuma objeção abaixo da lâmina. Será que estava cansada de viver? Sentiu uma lágrima aquecer-lhe o rosto, mas sabia que não era sua. Quando sentiu a lâmina cortar a pele de seu pescoço, se viu em outra cena, lambendo o sangue que escorria pelo chão, se espalhando pela terra.

Em seguida, vagava pela rua, com a visão desfocada e ameaçando cair a qualquer instante. Parou e ficou a admirar a lua, cheia naquela noite, enquanto um dirigível soltando bombas cruzava os céus.

Deu um grito mudo para si mesma, e quando deu por si, estava em uma sala completamente branca. Sem nenhum móvel. Tentou tocar as paredes, mas aos poucos percebeu que todas elas, incluindo o teto e até mesmo o chão, pareciam longe demais para que ela as alcançasse. Sentiu uma presença conhecida, e ao virar-se percebeu que estava novamente nas masmorras, atrás da poltrona de espaldar alto. A voz grave de rouca de seu mestre chamou sua atenção:

– Sangue fresco, não é, policial?

– Mestre?

– Tem um sabor diferente não tem?

Celas se aproximou da cadeira, e viu Alucard apreciando uma taça de sangue. Seu primeiro impulso foi tocá-lo, mas se deteve. Alguma coisa lhe chamou a atenção, então seus olhos se voltaram para o caixão aberto poucos metros à frente, onde via a si mesma, em um sono muito agitado.

– Não é real. – Ela disse, em meio a um sussurro.

– Não.

Quando Celas olhou para seu mestre, viu que grossas lágrimas de sangue escorriam de seus olhos, trilhando um caminho já bem definido de sangue seco, embora mantivesse aquele sorriso cínico inalterado no rosto.

– O que aconteceu? – Foi a única coisa que ela conseguiu pronunciar.

– Sangue, policial. Sangue fresco carrega consigo as memórias e parte da vida de seu verdadeiro dono.

– Mas o que eu vi... não combina em nada com Bernadotte ou Vlad.

– Bebeu o sangue do vampiro também, não foi? Estava no sangue de Vlad...

Celas baixou os olhos. Era verdade. Por mais que fosse pouco, mas isso ainda não explicava todas as suas visões.

– Por que está aqui? – Ela perguntou, cerrando os pulsos.

– Não estou.

Celas levantou os olhos, claramente sem entender, com um olhar inquisidor para seu mestre. Alucard continuou:

– Sou uma parte de você, assim como Bernadotte, Vlad e o vampiro. A parte que ficou de mim quando misturei meu sangue ao seu naquela noite.

– Onde você está então, mestre?

– Não sei. Não tenho consciência do meu eu verdadeiro, da mesma forma que você não tem da parte sua que ficou em mim.

Celas encolheu os ombros. Desejava que aquela angústia e receio característicos de quem está tendo um pesadelo acabasse, mas tinha medo de acordar e perder seu mestre novamente.

– Celas Victoria. – A voz de seu mestre a chamou outra vez.

– Yes, my master.

– Se ele sobreviver, cuide bem do rapaz. Não deixe que seja transformado.

– Transformado? – Celas se surpreendeu um pouco, estranhando a preocupação de seu mestre.

– Ele é importante para mim.

Alucard sorveu outro gole do sangue em sua taça, e pôs-se a observar a serva, que dormia em seu caixão.

– Mestre? – A voz de Celas saiu trêmula, mas ela tinha que perguntar. – Quem é aquele rapaz?

Alucard deu outro gole na taça, e fechou os olhos:

– É o que sobrou de humano em mim.

Celas sentiu sua respiração se alterar, de susto e ansiedade.

– Celas. – Alucard continuou, com pesar na voz, mas calmamente, como se estivesse explicando para uma criança. – Ele sou eu, antes de morrer aos vinte e poucos anos durante a Guerra Santa.

Alucard continuou a apreciar seu drinque, enquanto Celas tremia em sua frente, aos poucos se sentindo mais fraca e vendo sua consciência se esvair a cada instante. Sem forças para se manter ali, olhou novamente para seu mestre, tentando alcançá-lo, mas ele não se moveu.

– Tem um sabor diferente, não tem? Sangue virgem?

Após as palavras de Alucard, a imagem perdeu completamente seu foco, e Celas sentiu-se invadida pelo sono.

Acordou no caixão negro de seu mestre. Saltou de dentro dele, e ficou a contemplar a cadeira de espaldar alto, se decepcionando ao ver que estava vazia.

Aos poucos a dor e a solidão cederam lugar a um forte sentimento de preocupação. Lembrou-se de Vlad, caído no chão. Sentiu urgência em saber como as coisas estavam. Correu para o quarto onde Vlad ficaria hospedado, e encontrou a cama vazia, perfeitamente arrumada e intocada.

Virou-se, e em alguns passos estava parada em frente ao escritório de Integra, pensando no que dizer. Sem sucesso, deu duas batidas secas na porta, e entrou quando Integra lhe ordenou que o fizesse.

– Celas? Acordou finalmente?

A vampira não sabia bem como responder àquilo. Se não estivesse acordada não estaria ali, postada diante dela oras! Se bem que depois dos últimos acontecimentos, ela não sabia bem se isso era tão óbvio assim.

– Sim, Sir Hellsing.

– Você já está dormindo por dois dias, policial.

Celas levantou os olhos. Dois dias?

– Sir Hellsing. Vlad foi levado até o hospital?

– Não. – Integra mexeu em alguns papéis, procurando algum documento necessário.

Celas baixou os olhos. Acabara de descobrir quem era o rapaz e já o perdera? Tão rápido assim? Não teria mesmo como manter o que sobrara de seu mestre perto de si?

– Ele está no meu quarto. – Integra informou, sem desviar os olhos dos papeis. – Lá é maior e mais confortável. Vai ficar lá até que esteja recuperado o suficiente.

Celas ergueu os olhos, em uma surpresa boa, não conseguindo conter o sorriso que nascia em seus lábios. Nem fez muita questão de tentar.

Integra viu, mas fingiu não dar importância, continuando o que fazia.

– Sir Hellsing?

Integra olhou para Celas, que ainda sorria parada em frente à mesa. Será que ela tinha pegado a mania de Vlad de só falar depois de chamar sua atenção? Ou sempre foi assim?

– Eu descobri quem ele é.

Integra deu um sorriso fraco, e voltou a vasculhar os papéis.

– É, eu sei. De alguma forma, ele é Alucard.

Celas não tentou explicar para Integra de que forma ele era Alucard. Apenas pediu licença, se virou e deixou a sala, caminhando em seguida até o quarto da Hellsing.

Esperou uma enfermeira sair do quarto, e entrou com cuidado, para não fazer barulho. Vlad estava na cama, dormindo pacificamente. O pescoço, o peito e os braços enfaixados a mostra sobre o cobertor que cobria suas pernas e abdômen. Os arranhões no rosto já secos. Em uma semana já não estariam mais ali, maculando a pele clara dele. Com certeza.

Aproximou-se vagarosamente, e se ajoelhou ao lado da cama. Pousou a mão direita sobre a esquerda dele. Vendo o contraste que sua luva cinza dava sobre as faixas brancas, recém trocadas, a recolheu. Tirou a luva e pousou sua mão desnuda sobre a dele, observando o quão pálido era a pele de ambos, mesmo sendo iluminada pelos últimos raios alaranjados do sol.

Sentiu a mão abaixo da sua se mover, e ouviu a voz grave e suave de Vlad inundar seus sentidos, mesmo estando muito baixa e falha:

– Sempre adorei noites de lua cheia.

Celas fitou o rosto do rapaz, ao perceber que este olhava para ela.

– Já estamos na lua minguante. – Celas disse, com um sorriso fraco e triste no rosto.

– É verdade. Daqui a poucos dias não teremos mais a lua. – Ele respondeu, tentando tomar fôlego.

– Volte a dormir. Precisa descansar.

– A senhorita não gostaria de apreciar a noite comigo? – Ele disse, antes de fechar os olhos e ficar em silêncio outra vez, provavelmente caindo no sono.

Celas sorriu. Levantou um pouco o tronco e afastou alguns fios de cabelos que insistentemente caíram sobre o nariz do rapaz, atrapalhando a visão que ela tinha do rosto dele. Ela queria sim. Ah, como ela queria!


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Notas finais do capítulo

Genteim, reviews garantem sua boa ação do dia, deixam uma criança feliz, te dão dinheirinho, compram a entrada pro céu e ainda garantem que a história fique o agrado de vcs! Pois aceito sugestões

Mto origada por acompanharem!



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