Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 25
Capítulo 25. Dor


Notas iniciais do capítulo

Os capítulos estão ficando exaustivamente compridos... não sei o que aconteceu! Vai ver é a posição dos planetas, sei lá...
A culpa dessa fic ainda existir é da Carol, então briguem com ela caso sintam-se incomodados (eu já estava escrevendo os últimos capítulos quando ela apareceu com "Back to december"... a música não serviu pra fic, mas a ideia grudou que nem chiclete...')

Bom, para aqueles que sobreviveram ao gigantesco capítulo 24 e ainda tem coragem de acompanhar, boa leitura!
A música de hoje é "Cuide bem do seu amor" dos paralamas do sucesso.



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E cada segundo, cada momento, cada instante
É quase eterno, passa devagar
Se o seu mundo for o mundo inteiro
Sua vida, seu amor, seu lar
Cuide tudo que for verdadeiro
Deixe tudo que não for passar
Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
Há um segundo tudo estava em paz

Cuide bem do seu amor
Seja quem for,
Cuide bem do seu amor
Seja quem for...

Vlad estava um pouco tonto. Não conseguia focar direito os objetos, e nem ajeitar a postura na parte de trás da van em que estava. Não tinha certeza, por estar de olhos fechados, mas acreditava que os cantos de sua visão periférica estavam escurecendo. Acima de tudo, e o que mais lhe preocupava, é que estava com frio. Estava com um tipo de frio que aprendeu a temer muito cedo.

Não só sua pressão devia estar baixa, como devia ter perdido uma quantidade significativa de sangue. Não estava com medo de desmaiar, não estava com medo do tipo de ferimento. Estava com medo de que, depois de tratar a ferida, não ter forças suficientes para se recuperar.

Ele já tinha visto aquilo milhões de vezes. Felizmente, ele não estava indo para um acampamento, ou se refugiaria na mata. A chuva ou a noite não seriam fatais para ele. Estava indo para o conforto de sua cama. Um bom banho deveria ser o suficiente para esterilizar o corte. Comida e descanso deveriam bastar para que seu corpo se regenerasse por si só.

Ponderou sobre ir até o hospital, mas chegou à conclusão de que eles não poderiam fazer nada além do que ele seria capaz de fazer na mansão. Iriam lhe tomar um tempo precioso, o entupiriam de remédios que só o fariam ter náuseas e ele provavelmente seria dopado para poder “descansar” em uma daquelas camas horrorosas. Fora que Vlad não tinha boas lembranças de hospitais. Não depois de Adams St. John. E depois... Integra não estava lá. Ele sabia que a Hellsing teria voltado para a mansão, e não errava.

Foi desperto de seus devaneios por uma freada brusca do veículo, que quase o atirou para frente. Alguém lhe disse que haviam chegado, e um soldado ofereceu uma mão para ajudá-lo. Ele recusou, educadamente fazendo um sinal com a mão que dizia claramente que ele podia fazer isso sozinho. Na verdade tudo o que mais queria era capotar e acordar no dia seguinte em sua cama, mas ele sabia que tinha muito o que fazer: e se não reunisse todas as suas forças agora não conseguiria cumprir sua árdua tarefa. Também não tinha certeza se trocar o apoio (pernas por mãos) ou se permitir ser carregado faria algum bem para seu ferimento.

Reunindo as forças que ainda tinha, desceu da vã parada na entrada da mansão. Observou Integra adormecida no sofá, e se aproximou para olhá-la. Estava com os cabelos ainda um pouco úmidos do banho, mas agasalhada o suficiente. Alguns curativos sobre pequenos cortes em sua mão lhe disseram que ela já havia se cuidado o necessário, e que ficaria bem. Não ficou muito contente com a posição em que ela adormecera, meio sentada, meio deitada no sofá, mas estava tendo um sono tão pacífico que Vlad resolveu deixar suas preocupações sobre resfriados e torcicolos de lado. Descansar seria o melhor. Pegou uma garrafa de vodca na mesinha de bebidas e subiu as escadas devagar, evitando utilizar o corrimão como apoio.

Ao chegar ao seu quarto, rasgou a camisa que usava, sem coordenação ou tempo para abrir os botões, e a deixou jogada em um canto qualquer. Seguiu para o banheiro, pousou a garrafa sobre a pia e abriu as torneiras da banheira. Em pouco tempo os espelhos ficaram embaçados. Mergulhou uma toalha na água quente que já começava a se acumular, e sem muito cuidado a passou sobre o ombro esquerdo, permitindo que a água em excesso escorresse por sua cintura e limpasse ambos os cortes, quando ele capturou o fio de água com o tecido e garantiu uma visão melhor do segundo, respingando sangue pelo piso claro.

Passando a mão ligeiramente ensanguentada no espelho, pôde ter uma visão melhor da extensão dos ferimentos. O corte em seu ombro esquerdo ia da junção do ombro com o pescoço até um pouco acima do externo. O corte do lado de sua cintura ia da costela até próximo ao umbigo. Se a intenção era parti-lo ao meio aquele maldito tinha falhado miseravelmente em termos de profundidade, mas se era fazer parecer que Vlad era a junção de duas metades de pessoas distintas ele certamente teria sucesso, tivesse conseguido completar os ataques.

Decidindo que o do ombro era o que necessitava de mais cuidados e, principalmente, daria mais trabalho, abriu a garrafa e jogou uma quantidade generosa da bebida sobre o ferimento, tomando um gole modesto em seguida, decidindo que mesmo que doesse como ferro em brasa em sua carne, vodcas com teores alcoólicos altos como aquele tinham suas vantagens.

Um pouco desajeitado pela dor, abriu a gaveta da pia e retirou uma agulha torta, parecida com um anzol, com uma linha forte e escura presa. Ainda bem que ele tinha deixado daquele jeito, seus instintos raramente o traiam nesse tipo de situação.

Entortou a pequena toalha que ficava pendurada perto da pia e a colocou entre os dentes. Sem jamais olhar novamente para o espelho, com pontos doloridos mas precisos, foi aos poucos costurando sua carne, tendo seus gritos de dor abafados pelos dentes cerrados sobre o tecido.

            Despertou achando que tinha ouvido alguma coisa, ajeitou-se melhor no sofá, pretendendo voltar a dormir, quando reparou que estava com fome. Com muita fome na verdade. Onde estava aquele inútil do Scott? Aliás, onde estava aquele não-tão-inútil-assim do Vlad? Ele já tinha voltado, já devia ter. Integra chegou na mansão às sete da noite, já devia ser quase meia noite. E se ninguém a acordou para o jantar, sinal de que ninguém jantou.

            Subiu as escadas devagar, pensando se era melhor mesmo perguntar se Vlad queria alguma coisa. E se ele já estivesse dormindo? Ele dormia tão pouco que não parecia a melhor ideia acordar o rapaz. Ah! Que se dane! Se ele estivesse dormindo ela desceria e descobriria o que comer, se não estivesse, ela perguntaria e ai que fosse o que Deus quisesse. Nossa, que complicação!

            Deu três batidas suaves na porta, mas quando se lembrou de um dia em que Alucard lhe disse que três batidas significava a morte em algumas culturas bateu mais uma vez, e bateu a quinta porque se lembrou que quatro era o número da morte na China. Entre pensamentos sobre a morte e o batuque que estava fazendo, decidiu que se Vlad estivesse acordado, ou tivesse que acordar ele já a teria ouvido. Mas alguma coisa estava estranha. Foi quando se lembrou do comentário de Vlad mais cedo, sobre o sangue na camisa ser dele. Na hora aquilo foi um alívio, saber que era humano, mas agora... Ele estava ferido? O que poderia tê-lo feito perder tanto sangue?

            Abriu a porta com cautela, assustando-se ao perceber que ele não estava na cama. Aproximou-se da porta do banheiro, atraída pela luz que escapava por debaixo da porta. Já ia sair do quarto quando um cheiro forte de ferro e cobre invadiu suas narinas. Sangue. Virou-se, abrindo a porta com vagar e medo. Demorou um pouco para ajustar o foco dos olhos acostumados com o escuro à claridade do lugar, sendo capaz de distinguir algumas coisas: uma toalha encharcada de sangue no chão, filetes vermelhos que levavam até a banheira, marcas escorridas de água e sangue pelas paredes brancas do objeto, Vlad.

            Pensou se era apropriado de aproximar dele, que obviamente tinha dormido na banheira e estava completamente alheio a toda aquela movimentação no banheiro. Mas tão rápido quanto esse pensamento veio foi embora. Ele estava tão quieto, tão imóvel dentro da água completamente vinho

de sangue dissolvido que ela temeu pelo pior. Ele parecia morto.

            Em passos mais apressados chegou mais perto dele, chacoalhando-o a princípio suavemente, e depois com mais força, tentando acordá-lo. Parou o movimento subitamente ao perceber que a cabeça dele pendeu para um lado. Observou uma mancha negra no pescoço dele, levando os dedos até o local. Era linha. Um ponto. Não, seis pontos. Um muito largo, que deveria ser também muito profundo, um menor, dentro daquele e três bem pequenos, feitos especialmente para segurar a pele perfeitamente unida. Seguiu o machucado que aquele ponto segurava, encontrando outro ponto feito exatamente da mesma forma, e depois mais um. Nesse ponto a água escura já camuflava bem o que tinha a seguir, e a profundidade minava qualquer possibilidade de ver alguma coisa. Podendo ver somente das clavículas para cima de Vlad, pousou os dedos sobre sua jugular, procurando pelo pulso. Encontrou-o fraco, mas constante. Estava vivo pelo menos. Mas outra coisa lhe chamou a atenção imediatamente: estava gelado.

            Tentou acordá-lo mais uma vez, dessa vez esbarrando a mão na água fria da banheira. Um pensamento lhe foi claro: precisava aquecê-lo. Virando o rosto (o que além de inútil só dificultou mais as coisas) procurou pelo pino que esvaziava a banheira. Seus olhos instintivamente acompanhavam o nível da água, enquanto ela percebia a extensão do ferimento. Aos poucos ela foi capaz de ver o segundo corte, na cintura dele. Céus.

            Uma vez a água escoada, Integra abriu as torneiras, deixando a água o mais quente possível enquanto ainda fosse tolerável. Sem tempo para deixar a banheira encher, e principalmente, achando que manter aqueles cortes na água não era a melhor opção, pegou uma esponja, colocou embaixo do fio de água e em seguida a espremeu sobre o rosto de Vlad, enxaguando os resquícios de sangue que ainda permaneciam na parte superior de seu corpo.

            Quente. Tudo o que Vlad sabia ao recobrar a consciência era que estava um calor muito confortável. Confortável até demais para ele quase morrer de susto quando água começou a cair em torrente em cima do seu nariz, quase fazendo-o se afogar. O movimento rápido com a cabeça para se livrar daquilo fez seu pescoço latejar, e ele subitamente se lembrou dos ferimentos e, mais importante, de onde estava. Abriu os olhos devagar (não era a intenção, mas não tinha forças para fazer isso mais rápido) aos poucos focando em pequenos objetos. A torneira aberta, isso explicava o calor. Uma esponja amarela sendo colocada embaixo d’água, a mão alva e delicada que segurava a esponja e Integra olhando-o preocupadamente. Integra?

            Só não deu um pulo na banheira porque a mão de Integra que estava sobre seu ombro saudável o segurou prensado contra a parede desta. Frio. Foi quando a lembrança de que estava nu o assolou. Ele sabia disso, mas saber disso com Integra praticamente em cima dele foi demais.

            Abriu a boca para balbuciar qualquer coisa, mas apenas palavras incoerentes foram ditas. Integra, que agora que já tinha cumprido sua missão de salvar Vlad de uma morte muito lenta por hipotermia, estava mais preocupada em tirá-lo da banheira, já que aquelas feridas já tinham ficado a tempo demais embaixo d’água. Fechou a torneira. Saiu por alguns segundos e voltou com uma toalha, que pressionou sobre o corte do peito dele, analisando a quantidade de sangue que ainda saia dali.

            – Acho que é uma questão de tempo até que seque o suficiente para parar de sangrar. – Ela disse, agora ocupada em afastar alguns fios de cabelo molhados que insistiam em cair sobre o rosto dele. Molhados como estavam, provavelmente machucariam se chegassem aos olhos. É, Integra estava começando a se preocupar com os detalhes.

            – Estou em... Uma situação um pouco constrangedora... Milady. – Vlad afirmou, de olhos fechados, permitindo que a cabeça descansasse uma vez mais na borda da banheira.

            –Não seja bobo Vlad. Não é hora para isso. Acha que consegue sair daí sozinho ou é melhor eu chamar a policial?

            Vlad pensou por alguns segundos, analisando suas opções. Por ele, simplesmente apagaria outra vez dentro da banheira mesmo. Mas sabia que não podia fazer isso. Tinha que cuidar daquelas porcarias de cortes, e rápido. Já devia ter feito isso horas atrás. E apesar da situação nada agradável em que se encontrava, sabia que devia ser pecado ser tão sortudo por ter alguém ajudando-o naquele momento. Procurando forças nos braços e nas pernas pra avaliar se podia se levantar ou não, decidiu finalmente que TERIA que se levantar de qualquer forma. A última coisa que ele queria era Celas no meio daquela bagunça.

            Quando estava com metade do corpo já erguido, Integra deu um jeito de se enfiar por debaixo do braço direito dele, apoiando a mão o mais longe que pode do ferimento de sua cintura, ajudando-o a ficar sobre os próprios pés. Uma vez em pé, ajudou-o a enrolar a toalha na cintura, e seguiram até o quarto.

            Uma vez dentro das calças de seu pijama (que assustadoramente Vlad deu um jeito de vestir sozinho), o rapaz se encontrava sentado na cama, com milhões, bom, dezenas de travesseiros lhe servindo de apoio enquanto Integra fixava uma bandagem em torno dos cortes já relativamente secos.

            – Vlad? Foi você quem deu esses pontos?

            –Sim. – Ele respondeu, quase dormindo.

            Integra ficou pensativa por alguns instantes. Aquilo deve ter doído muito. Como ele foi capaz de dar os pontos em si mesmo? Foi quando ela se lembrou da conversa que tiveram mais cedo naquele dia. Se ele sabia ser capaz de tratar os ferimentos mesmo nele, provavelmente aquilo significava que não era a primeira vez que algo do tipo acontecia.

            –Por que não foi ao hospital? Eles poderiam ter dado menos pontos. Não ia deixar cicatriz...

            –Milady, não estou preocupado com as cicatrizes.

            – Eu pensei que você tivesse dado esses pontos maiores para aproximar a pele, para ai sim poder dar os menores...

            – Eu dei os maiores para juntar o que foi separado. Os do centro são um reforço, e os menores para juntar a camada superficial de pele, para evitar que alguma coisa entrasse ai, como poeira.

            – Vlad? – Integra quase riu. Não era como se ele fosse se aventurar na mata com o ombro daquele jeito.

            – Velhos hábitos são difíceis de perder. – Ele disse simplesmente.

            – Era assim que vocês faziam?

            – Apesar da dor, podíamos continuar lutando. Esses pontos de hoje, soltam por qualquer motivo.

            Integra foi obrigada a concordar. Terminou de prender a gaze, e puxou Vlad gentilmente para frente, criando espaço para passar a parte de cima do pijama pelo braço esquerdo dele.

            Uma vez vestido o ombro ferido, que Integra sabia ser o mais difícil, Vlad vestiu o resto da peça, fazendo menção de abotoar. Mas seus dedos trêmulos o traíram, e ele acabou desistindo. Integra começou a fechar os botões, quando em um estalo se lembrou do porquê de estar ali, em primeiro lugar:

            – Vlad. Você está com fome?

            – Sinceramente Milady? Não, mas a verdade é que eu preciso comer alguma coisa.

            – Não está com fome? Como você pode não estar com fome?

            – Estou enjoado. – Ele disse, simplesmente, e Integra entendeu. Dependendo do nível da dor era extremamente comum causar náuseas, e já que ela não lhe deu nenhum remédio, era óbvio que Vlad não tinha tomado nada.

            – Uma vez que coma alguma coisa, pode tomar analgésicos e descansar.

            – Analgésicos me deixam burro. E enjoado.

            – Primeiro, o que te deixa burro, nas suas palavras, porque eu não concordo, são remédios para gripe. E segundo, ficar enjoado por enjoado, antes sem dor do que com dor.

            Vlad suspirou fundo, aceitando que aquela discussão ele tinha perdido.

            – Então. O que quer comer? – Ela perguntou, imediatamente se arrependendo da pergunta. Se ele pedisse qualquer coisa que não um sanduiche, uma vitamina ou até, arriscando muito, uma omelete ou um mingau, Integra enfrentaria numerosos minutos para se entender na cozinha. Ela até sabia cozinhar, mas poucas coisas que não ficavam nem tão boas e nem prontas em pouco tempo. Falta de hábito e oportunidade sempre arruínam a vontade de fazer as coisas.

            – Um copo de leite.

            Integra quase brilhou quando ouviu aquilo. Um copo de leite ela conseguiria trazer.

            – Com chocolate? – Ela perguntou, sorrindo, aliviada com a simplicidade da tarefa.

            – Puro. – Vlad respondeu, franzindo as sobrancelhas ao perceber a alegria dela. Por que ela estava tão feliz?

            – Morno ou frio? – Integra já estava quase na porta do quarto, despreocupadamente quase dançando sobre os próprios pés.

            – Tanto faz. – Foi a resposta dele, ainda tentando entender o comportamento dela.

            Agora, vestido e confortavelmente “sentado” em sua cama, com os ferimentos tratados e cobertos, só lhe restava ponderar sobre os acontecimentos do dia. A primeira coisa que lhe surpreendeu foi a menção sobre aceitar o pedido de casamento. Pedido aliás que ele nem tinha feito ainda. E que não podia fazer enquanto não explicasse tudo para Integra. Mas ai não ia ter mais coragem de pedir, porque sabia que ela não ia aceitar! Bom, ele podia não contar nada? Impossível, ela já sabia alguma coisa que ouviu daquele imundo, então seria pior se ele evitasse o assunto ou mentisse. Como se ele fosse ficar quieto caso ela não tivesse ouvido nada, provavelmente morreria de ansiedade em duas semanas. Bom, então já que ele ia contar mesmo, melhor ponderar as possibilidades. Ela podia recusar, e ai ele ficava na mesma. Então valia a pena pedir de qualquer forma, vai que ela aceita? Bom, mas se ele pedir agora e ela não aceitar ele não vai arruinar a chance de pedir depois e ela aceitar? Afinal ele tinha um argumento válido. NÃO ERA ALUCARD! Bom, até era, mas não era mais o mesmo Alucard. ELE IA ME MATAR! E principalmente: ELE IA DESTRUIR O MUNDO! Mas o que realmente estava martelando na cabeça de Vlad é que apesar desses três motivos derradeiros, ele não sabia se tinha sido exatamente por isso que fez o que fez. Muito bem, muito justo salvar o mundo. Parabéns Vlad, você é um herói.  Ele ia te matar e você só se defendeu, defendendo a mulher que diz amar no processo. Muito bem Vlad, você ainda é humano e acima de tudo, um sobrevivente. O que ia voltar de lá não era aquele que a mulher com a qual você deseja se casar realmente ama, então você a privou de ter seu coração despedaçado ao ver que seu amado não voltaria do inferno. É Vlad, você é um covarde! Um tremendo covarde se escondendo atrás dessas desculpas todas. Porque você não está nem ai pro mundo, não tem certeza se Alucard não daria um jeito de mudar a situação e, principalmente, se amasse Integra como diz que ama não se importaria de dar sua vida pra trazer a alegria dela de volta! Tá, isso já tá virando alguma compulsão auto-destrutiva, não que ele merecesse estar vivo seiscentos anos após seu nascimento e...Ooooooow! Estava entrando em depressão? Sério mesmo? Foco Vlad! Não é hora para isso.

            E também, de que adianta saber o motivo agora que já tinha feito? Agora que não tinha mais volta?

Manter a própria sanidade talvez...

            O barulho da porta se abrindo o fez despertar de sua linha de raciocínio, ou melhor, o fez voltar à realidade e sair do caos de seus pensamentos. Contra a luz fraca do corredor, pode ver a silhueta de Integra carregando uma bandeja com dois copos e o que parecia ser um prato. Conforme se aproximou, ele pode ver melhor do que se tratava, dois copos de leite e um prato de bolachas. Ela se sentou na cama, colocando a bandeja entre eles. Olhou para Vlad, reconhecendo uma expressão totalmente nova em seus olhos âmbares. Impaciência? Por quê? Pegou uma bolacha e levou aos lábios, sem dizer nada até entender do que se tratava. Vlad ficou encarando-a por alguns segundos, quando finalmente resolveu pegar um dos copos de leite, também em silêncio.

            – O outro. Esse é meu. – Ela disse, quase que temendo uma explosão dele. Não sabia bem porque temia isso, mas também não sabia porque tinha visto impaciência nos olhos dele.

            – Desculpe. – Ele disse, mudando de copo.

            – É que no meu tem açúcar. – Ela se justificou, cada vez mais confusa com a reação dele.

            – Está morno. – Ele constatou. – O seu estava frio.

            Integra apenas ergueu os olhos. Bom, e daí? Ele queria frio? Então por que diabos não pediu quando ela perguntou?

            E pra variar, ele viu. Ele percebeu que estava confundindo Integra, e que ela estava esperando uma explicação e o pior...

            – Esquentou só um copo de leite. Queria tomar o seu frio, então por que esquentou o meu? – Ele perguntou.

            – Eu achei que você ia... bom, você estava com frio antes.. achei que...

            Era isso. Ela se importava. Ele já tinha percebido, afinal, céus, foi ELA quem o pôs na cama. Mas não estava com forças para racionalizar aquilo no momento. Mas agora... A magnitude daquilo estava começando a assustá-lo. Principalmente porque, naquele exato instante, ele não tinha certeza se merecia. E se ele tivesse escolhido o que tinha escolhido por... Medo, insegurança, ciúme? E se ela quisesse o vampiro de volta? E se ela o odiasse a partir de então? Uma coisa era saber que ela amava outro, que nunca a teria, outra coisa completamente diferente era perdê-la.

            Levou o copo aos lábios, mas o leite lhe pareceu amargo, então o depositou novamente na bandeja. Integra o olhou confusa mais uma vez e antes que pudesse formular a pergunta “náuseas?” Vlad já lhe respondia:

            – Pode me deixar sozinho, Milady?

            – Vlad, eu acho melhor eu ficar aqui e...

            – Saia por favor.

            – Vlad... – Integra não estava entendendo. E sinceramente não estava gostando daquilo. Durante anos ela tinha construído paredes tão sólidas em torno do seu coração que não se sentia capaz de sentir o que fosse. E agora, quando ela finalmente estava deixando que algumas poucas ruíssem, que ela estava se permitindo não apenas apreciar a companhia de alguém, mas se preocupar e estimar alguém, ela era obrigada a se lembrar do porquê de ter construído as paredes em primeiro lugar: gostar machuca. Prezar alguma coisa fere porque se sente falta desse algo quando ele vai embora. Ou ameaça ir, ou ameaça mudar, ou simplesmente não se importa com você.

            – Por que está sendo cruel? – Foi a única coisa que passou pela cabeça dela. Ela não se importava em parecer frágil, não se importava em parecer piegas, não se importava em admitir como a recusa a feria. Ela estava ferida, era isso que importava.

            Vlad não respondeu. E como poderia? O que ele diria? A única coisa que ele sabia era que não podia simplesmente engolir tudo o que estava em seu peito e aceitar a presença dela ali, como fez naquela noite em que eles quase... na noite em que jurou lutar ao lado dela.

            Para ele não era novidade nenhuma reprimir seus sentimentos, e era por isso que ele não agüentava mais. Quantos anos ele demorou para chorar a morte de seu pai? Quantos anos para chorar a de Doamnei? A pergunta certa ainda nem era essa, já que ele ainda não tinha feito isso.

Na noite em questão ele engoliu sua raiva, sua decepção, mas não agüentou. Explodiu no final. Alguma coisa tinha aberto uma rachadura em suas muralhas e de repente todos os seus demônios foram libertados de uma vez. E ele fingiu que estava tudo bem, de novo.

            Mas naquele exato momento ele não conseguia mais fingir, não sabendo o que sabia. E também não conseguia lidar com aquilo tudo, não tão rápido. E ele sabia que também não conseguiria fazer isso sozinho, mas Integra... Integra o lembrava do porquê de seus demônios terem sido soltos. Ele sabia que não era culpa dela, mas ela era o objeto de culpa.

            –VLAD! O QUE ISSO TUDO SIGNIFICA? – Integra finalmente explodiu. A raiva aos poucos superando a dor, ou sendo alimentada pela dor, querendo entender o motivo de estar sendo ferida.

            E Vlad novamente não soube responder. Não queria o ódio dela, mas o que ele ia fazer? Pedir desculpas? “Desculpe-me Milady, mas nesse exato momento sua presença me faz mal. Sua companhia deixa minha boca com um gosto ruim e me faz perder a fome. Pode sumir de perto de mim e voltar daqui uma semana? Até lá vou amá-la de novo e pedir sua mão em casamento propriamente.” Seria épico.

            – Seu... imbecil. – Foi a única coisa que Integra disse, em um tom baixo, levantando-se da cama e quase derrubando os itens da bandeja. Apesar da única palavra seu olhar lhe dizia muito mais. Chamava-o de “bastardo”, “hipócrita”, “escória”, todas as palavras que denigrem um ser humano e que não se consegue listar nesses momentos. Saiu com fúria pela porta, deixando Vlad finalmente sozinho. Emocionalmente arrasado, mas sozinho, como ele queria. E agora havia outro demônio para Vlad enfrentar, mas esse ia ter que ser paciente e entrar na fila. Cada coisa a seu tempo.

A vida sem freio me leva, me arrasta, me cega
No momento em que eu queria ver
O segundo que antecede o beijo
A palavra que destrói o amor
Quando tudo ainda estava inteiro
No instante em que desmoronou
Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
Há um segundo tudo estava em paz


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Notas finais do capítulo

Essa eu vou ter que compartilhar. Enquanto eu escrevia esse capítulo, meus pais resolveram que iam comprar pizza. Bom, minha mãe ia PAGAR a pizza, porque ela se recusa a pedir, e ai meu pai cismou que quem tinha que pedir era EU! Euzinha...porque de acordo com ele, ele não sabe falar “Margarida”.... a pizza que eu queria era de Marguerita...¬¬
Então, enquanto eu chorava, literalmente de rir, os dois entraram em uma discussão acerca de uma reportagem em que tinha um chafariz dentro de uma banheira...’
Conversa vai conversa vem, minha mãe comentou sobre a inutilidade de terem tirado o acento de “ideia”, que agora ela lê “Idêia”... e meu pai começou a discorrer sobre como o certo é “da dé di do du” e não “da dê di do du”...
Então mamis mandou ele falar “dedo”... e ai saiu a maior discussão sobre acentos agudos e circunflexos... e sobre Grécia ainda ter acento... Cristo...meu pai disse que Grécia tinha acento pq era grego! E que México nunca vai perder o acento pq lá não houve reforma ortográfica! Céus, eu chorei de rir. E a melhor de todas... “Pessoa” vai começar a ser acentuado pela mesma regra que acentua “pêssego”. O.o’ Só pra constar, meu pai tava brincando... mas não é todo dia que a reforma ortográfica dá tanto pano pra manga (no final, ele disse que a gente deveria acentuar só o que quisesse...e a pizza chegou).
Reviews? Eles são a única razão dessa história não ter acabado no capítulo 5...



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