Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 18
Capítulo 18.Ansiedade


Notas iniciais do capítulo

Oooooooo... olá! Música de hoje "quase um segundo" de Herbert Vianna, sugestão da Carol_XP. Espero que gostem!
(adooooooooro quando a música é nacional)



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Capítulo 18. Ansiedade

Eu queria ver no escuro do mundo
Aonde está o que você quer
Pra me transformar no que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores e as coisas pra te prender
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei

Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?

            Integra e Vlad não se falavam há quase duas semanas. Depois daquele incidente, de fato eles estavam se evitando. Mas agora nem era mais isso.

Vlad acabou se acalmando e estava sinceramente disposto a tentar entender melhor os sentimentos de Integra. Claro, se ela desse a ele essa chance, também não se sentia na obrigação de forçar nada.

Integra, ela sabia que estava errada, mas seu orgulho não a permitiria desculpar-se de qualquer forma. Mas ela estava aberta a qualquer tipo de aproximação, se ele fizesse alguma.

Conclusão: não se falavam há quase duas semanas. Não era necessariamente teimosia, mas estavam desconfortáveis um na presença do outro.

Mas naquele dia alguma coisa estava irritantemente diferente. Acontece que Celas tinha dado com a língua nos dentes, e revelado para Integra uma ou outra coisa que Vlad havia lhe contado. Bom, falou sobre o fato do rapaz ter pesadelos, sobre ele estar entediado sem ter o que fazer na mansão e superficialmente sobre ele ter tido uma infância difícil. Foi quando ia começar esse assunto que percebeu estar indo longe demais e engoliu a fala a seco.

No final, Integra nem ficou curiosa para saber do que se tratava o final do assunto, já que o fato de “Vlad estar entediado” lhe parecia a única coisa palpável.

Quanto aos pesadelos, ela até queria fazer alguma coisa para ajudar, mas a não ser mandá-lo consultar um terapeuta, não tinha muito o que ela pudesse fazer.

Mas a Hellsing achou mesmo que Vlad podia trabalhar em alguma coisa, ter seu próprio dinheiro quem sabe, para se saísse da mansão ter como se sustentar ou para onde ir, ou qualquer outro pensamento imbecil que passasse pela cabeça dele, ou dela, dependendo do ponto de vista. Já estava pretensiosamente pensando em o que o rapaz poderia fazer quando se lembrou de que grande parte da fortuna de sua família tinha sido construída em cima dos bens de um certo conde, capturado séculos atrás.

Contratou dezenas de advogados, economistas, historiadores e outros profissionais dos mais variados setores para avaliar o quanto da Hellsing era propriamente de Vlad e o quanto era dela, pelas melhorias e formas de fazer o dinheiro render, além das propriedades que de fato eram da família, que foram vendidas para manter certas obras dos castelos e outros itens considerados importantes.

Depois de muito estudo e muita discussão, chegaram a uma conclusão: pelo menos metade de tudo pertencia a Vlad.

Eram necessários mais estudos para definir o valor exato, mas Integra já tinha se cansado daquilo tudo. Ia propor se Vlad aceitava receber metade de suas propriedades e dinheiro, descontando o setor de armamento e a Hellsing em si, com a possibilidade de continuar morando na mansão por tempo indeterminado. As jóias que eram de propriedade dele também seriam devolvidas. Eram muitas, além de valer dez vezes mais hoje do que valiam na época. Não sabia se era lá muito justo, mas pelo menos seria rápido e eficiente, fora que para ela, que não gastava muito com nada além da organização, seria mais que o suficiente, já o rapaz ficaria podre de rico. Não tanto quanto era como príncipe da Valáquia, nem como conde Dráculea, mas levando-se em conta a sociedade em que viviam hoje, ele teria uma vida extremamente confortável, mesmo que resolvesse torrar todo o dinheiro de uma vez.

Respirou fundo repassando o pensamento pela quinta vez em meio minuto, quando pediu a Scott que chamasse Vlad até o escritório.

           

            O rapaz recebeu Scott com calma, mas levou um susto ao saber que foi chamado. Não que ele estivesse esperando alguma coisa... e era exatamente por isso que estava apreensivo.

            Ficou cerca de dois minutos parado feito uma estátua na porta fechada de Integra, tomando coragem para entrar. Respirou fundo e deu duas batidas tímidas na madeira fria. Integra mandou que entrasse, ele obedeceu.

            A loira, sem olhar para Vlad em momento algum, desatou a falar:

            – Visto os acontecimentos das últimas semanas cheguei à conclusão que alguns ajustes devem ser feitos.

            Vlad estava estático em frente à mesa, certo de que se tentasse se mexer suas pernas fraquejariam e ele se espatifaria no chão frio do escritório.

            – De fato, muitos dos bens de que atualmente disponho são fruto da usurpação de algumas propriedades da sua família.

            – Minha família? – Vlad interrompeu, tomando coragem. Como alguém poderia usurpar bens da família real?

            – Bem, seus na verdade. Os que você conquistou ao longo dos quatrocentos anos até ser capturado.

            Integra não viu, mas a cara que ele fez foi épica. Definitivamente ele não estava entendendo nada. Foi quando se lembrou de algo sobre um tal Alucard que supostamente era ele, ou foi ele, ou seria ele, uma coisa qualquer que ele achou melhor não entender ou entraria em parafuso. Afinal, não é fácil entender o fato de ter ao mesmo tempo vinte e cinco e mais de quinhentos anos, ou de estar vivo cinco séculos depois de seu nascimento. Era infinitas vezes mais fácil aceitar e seguir em frente.

            – Enfim? – Ele pediu a conclusão, já cansado daquele assunto.

            – O fato é que definir o valor exato que lhe pertence é uma tarefa muito ingrata, então pensei se não aceitaria receber metade dos bens, ações e dinheiro corrente pertencentes à família Hellsing.

            – Não. Não aceitaria Milady. – Vlad respondeu secamente.

            Integra respirou profundamente, vendo que aquilo tudo continuaria por muito tempo.

            – A organização em si e o setor de armamentos continuariam em minhas mãos, mas todas as jóias que lhe pertenciam seriam devolvidas. – Continuou, retirando uma caixa de veludo negro da gaveta da mesa.

            Quando finalmente ergueu os olhos para focar o rapaz, o viu perdido e nostálgico, observando o objeto. A Hellsing empurrou a caixa para a extremidade da mesa, observando Vlad pousar as duas mãos sobre ela, de forma tão suave que chegava a ser dolorosa.

            O rapaz fechou os olhos, respirou fundo mais uma vez, os abriu e disse, num tom de voz extremamente baixo e falho:

            – Todas as jóias ficaram com a senhorita?

            – As demais estão no banco.

            – Entendo. – Vlad abriu a caixa com cuidado, pousando os dedos finos sobre as pedras.

            Agora Integra estava realmente confusa. O conjunto parecia infinitas vezes mais importante e significativo do que o vampiro deu a entender quando disse à ela que poderia levá-las.

            Vlad baixou os olhos, Integra ficou observando o comportamento dele com curiosidade, mas em silêncio.

            – Por um momento, eu tive a vã esperança de que estivesse novamente completo. Que tudo tivesse sido um sonho muito ruim.

            A Hellsing se perguntou o que diabos faltava no conjunto, e principalmente o que diabos ele quis dizer com aquilo.

            – Por que guardaste estas? – A voz dele se fez presente novamente.

            Integra pensou em muitas respostas nos quinze segundos de silêncio que se sucederam, não chegando a uma resposta digna o suficiente. Não na opinião dela, pelo menos.

            Vlad tentou desviar os olhos para um ponto qualquer na sala, sem conseguir se sentir menos desconfortável com isso.

            – Ele... bom, eu te dei? Foi isso? – Ele continuou, um pouco encabulado com a própria frase.

            Integra consentiu de leve com a cabeça. Vlad percebeu, empurrou de leve a caixa novamente para o lado dela da mesa, começando a falar outra vez:

            – Eu não desejo metade de nada que esteja sobre o poder dos Hellsing. Seja lá o que tenha sido conquistado sobre o meu nome nos últimos séculos não é de minha propriedade, e mesmo os bens de que dispunha são de domínio do povo, não da família real. – Ergueu os olhos, continuando. – Apesar disso, gostaria de reaver as jóias da família, bem como o que puder das obras do castelo. e, se não for pedir demais, que verificasse se meus diários ainda existem. Peço também que me dê o prazo uma semana para encontrar outro lugar para me mudar.

            – Não precisa sair da mansão Vlad. Não foi o que eu quis dizer. – Integra continuou, empurrando novamente a caixa para ele. – Deseja levá-las então, não?

            Vlad sacudiu os cabelos suavemente, permitindo que o perfume do shampoo preenchesse o escritório. Quantos banhos aquele maldito tomava por dia? Ou seria possível que ele simplesmente ficasse perfumado o dia todo?

            – Se a ti foi dado, Milady, a ti pertence.

            – Vlad, afinal, o que são essas jóias?

            Vlad sorriu tristemente. Não queria falar sobre isso, mas ela merecia uma resposta. Respirou fundo, e decidiu falar de uma vez:

            – O presente de casamento de Doamnei. Vê este anel? Está quebrado. – Vlad apontou com o dedo uma das pequenas argolas de ouro do colar. Realmente, agora, prestando muita atenção, parecia estar faltando alguma coisa.

            – Havia um crucifixo aqui. Gêmeo ao meu. – Vlad levou a mão ao peito, provavelmente indicando o lugar onde o crucifixo ficava pendurado. Ficava, porque ele não usava mais.

            – O que aconteceu com ele? – Integra não sabia ao certo se devia ou não se intrometer naquilo, mas também não sabia quando teria outra oportunidade de perguntar.

            – Eu... eu joguei... – Respirou fundo para continuar. – Eu joguei no lago.

            Ao fechar os olhos, Vlad se lembrou da imagem de Doamnei submergindo nas águas escuras do castelo. O medo em seus olhos azuis, os cabelos quase brancos espalhados pela água e, finalmente, apenas o reflexo da lua na superfície negra do lago. O sacrifício da noiva pelo bem do povo. Para assegurar a sobrevivência dele, na verdade. O corpo nunca foi encontrado.

            – Era tudo que eu podia fazer...

            Vlad se virou para sair do escritório, Integra continuou:

            – Tem certeza que devo ficar com elas?

            – Claro, deve haver um motivo. – Respondeu sem virar-se, deixando a sala.

Ás vezes te odeio por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo
Tudo que não me deixa em paz

Quais são as cores e as coisas pra te prender?
Eu tive um sonho ruim e acordei chorando
Por isso eu te liguei

Será que você ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?


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Notas finais do capítulo

Bom, para aqueles que estão acompanhando "contos da noite", o capítulo 3 narra a chegada das tais coisas de Vlad.

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