Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 17
Capítulo 17.Resignação


Notas iniciais do capítulo

Gente, esse capítulo foi por inércia... Então espero que aprovem. Desta vez não é uma música, e sim um poema, mas transformaram em música e está no início de Moulin Rouge. Eu sempre que ouço essa música penso em como esse rapaz seria especial, e sinceramente, de repente eu percebi que ele era o Vlad sem tirar nem por! Espero que gostem... e que concordem.



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 Capítulo 17.  Resignação

There was a boy
A very strange, enchanted boy
They say he wandered very far
Very far, over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he


Já fazia uma semana desde a noite do baile, e Celas estava começando a ficar realmente preocupada com a situação daquela casa. Que Integra não saísse do escritório nem para comer era natural, mas que Vlad ficasse trancado no quarto era algo totalmente inédito.

Quanto a Integra ela não podia fazer muita coisa, mas por Vlad, bom, ela tinha que se arriscar.

Era o fim da tarde, bem cedo para Celas, e uma período ainda confortável para Vlad, que pra variar tinha acordado às quatro da manhã e não conseguido mais dormir. A vampira tinha convencido o rapaz a sair para dar uma volta, o que na verdade foi muito mais fácil do que ela esperava.

Caminharam por uns quarenta minutos, dentro dos limites da mansão, falando sobre qualquer coisa banal, quando resolveram descansar na grama. Vlad permaneceu sentado com as pernas cruzadas, enquanto Celas se deitou ao seu lado para ver as estrelas. Estava uma noite muito bonita.

– Vlad-san. – A vampira chamou. – Você vai dormir bem tarde e acorda bem cedo, não é?

– Sim. – Virou o rosto para ela.

– E não fica cansado?

– Às vezes. Não tenho tido muito o que fazer.

Celas levantou o tronco, ficando também sentada.

– Mas então, por que não dorme por mais tempo? O corpo precisa descansar...

– Eu não consigo dormir muito. – Vlad virou o rosto novamente, focando os olhos em uma sombra mais à frente.

Celas ficou encarando a nuca de Vlad por longos segundos, até resolver continuar com o assunto, apenas para quebrar o silêncio:

– Mas se não dorme o suficiente... bom, talvez fosse o caso de ir ao médico e...

­– Eu não durmo porque tenho pesadelos Celas. – O tom mais alto de Vlad interrompeu a fala da vampira, e ela entendeu que o rapaz não queria falar sobre aquilo.

            Pesados minutos de silêncio se seguiram. A vampira não sabia bem como continuar aquela conversa, sentindo que tudo o que tinha feito para tentar animar o rapaz tinha ocasionado exatamente o efeito contrário. Tipo, atrapalhar só pra poder participar sempre fez o estilo dela, mesmo ela não querendo. Provavelmente, se já não estivesse morta, gostaria de estar naquele momento. Nossa, que confusão!

            – Talvez, eu pudesse fazer alguma coisa. Distrair-me talvez. Trabalhar, ser útil.

            Vlad quebrou o silêncio, ainda observando uma sombra qualquer no jardim. Celas sorriu forçadamente, respondendo um “é” desanimado. O clima tinha ficado pesado demais pra seguir com uma conversa tão banal. Levantou-se, pronta para sair dali sem sequer se despedir do rapaz. Vlad não permitiu:

            – Celas-san?

            – Perdoe-me, Vlad-san. Eu já devia ter aprendido a não me intrometer...

            – Celas-san. Sente-se, por favor.

            Mesmo contrariada, não conseguiu negar o pedido dele. Pedido que aliás, soou mais autoritário que muitas ordens que já recebeu na vida. Sentou-se ao lado do rapaz, que ao perceber estar novamente acompanhado, deitou-se na grama, apoiando a cabeça nas mãos.

            – Quando você suga sangue, o que sente?

            Celas congelou, se era responder na mesma medida o que ele pretendia, não podia ter feito uma pergunta pior.

            – Digo, o quanto de mim ficou em você?

            Celas precisou pensar um pouco, mas Vlad não parecia com pressa, a olhando do chão.

            – Foi tudo um pouco confuso, mas acho que algumas lembranças suas ficaram comigo...

            – Gostou delas?

            A vampira se sentiu intimidada com a pergunta, como se ele estivesse cobrando-a, ou insinuando que ela tinha se metido na privacidade dele por querer. Antes de responder, porém, ela reparou na expressão de Vlad, curiosa e apreensiva, quase que como alguém que espera uma resposta após se declarar. Não pode deixar de rir da constatação:

            – Acho que não fiquei com as melhores...

            Vlad voltou os olhos para o céu. Agora era Celas quem o observava atentamente.

            – É provável que sim. A senhorita teria comentado algo se tivesse visto as piores...

            Os olhos vermelhos se espantaram com a naturalidade da frase. Agora sua personalidade estava sendo friamente analisada? Ela era tão linguaruda assim?

            Vlad percebeu que acabou sendo ofensivo e se corrigiu:

            – És sincera. Isso não é um defeito.

            Vários minutos de silêncio se fizeram presentes outra vez. A vampira se permitiu observar Vlad aproveitar de olhos fechados uma brisa. Ele realmente parecia apreciar aqueles pequenos momentos... de paz?

            – A senhorita realmente se importa comigo, não é? – A surpreendeu, falando sem abrir os olhos.

            Celas apenas baixou a cabeça, um pouco envergonhada com a afirmação. Bom, ela já havia dito aquilo para o rapaz, mas a situação era bem diferente.

            – Obrigado.

            Sentiu o toque da mão dele sobre a sua, recolhendo-a em seguida.

            Percebeu Vlad se sentar ao seu lado e observá-la confuso, tentando entender a situação.

            – Integra-sama. – Ela se explicou. – Não seria certo.

            Vlad não buscou a pele fria das mãos da vampira com nenhuma intenção específica. Mas acabou entendendo o sentimento com que Celas disse aquilo. O que não era necessariamente relevante, ou pelo menos ele se esforçava para acreditar que não fosse:

            – Integra-sama... – Ele suspirou, enfiando a cabeça por entre os próprios joelhos dobrados. – Tenho motivos para acreditar que ela deveras não se importa.

            – Não seja cruel, Vlad-san.

            O rapaz virou um pouco a cabeça, observando o rosto de Celas pelo vão de sua perna, com uma das sobrancelhas visivelmente arqueada, apesar da posição contorcida em que estava.

            – A culpa não é dela. Acho que ela só não sabe como se expressar de... bom, de outro jeito... – Celas falava com a mão no queixo, lembrando-se de quantas vezes já teve a arma apontada para si, ou quantas vezes ficou morrendo de medo ao vê-la disparando contra seu mestre sem nenhuma razão específica.

            Vlad começou a ponderar a afirmação. Celas já havia lhe contado sobre a morte prematura de Arthur, do ataque do tio, a força com que Integra conduzia a organização desde os treze anos. Bom, ele tinha visto aquilo tudo como uma perfeita justificativa para a força da mulher, talvez até para sua falta de elegância e delicadeza, que ele estava pouco acostumado. Mas nunca tinha ponderado acerca de servir como desculpa para que ela pudesse agir da forma como quisesse para com ele.

            Se aquilo servia como perdão absoluto para toda e qualquer atitude da mulher, serviria também como desculpa para as dele? O conde sabia que algumas atitudes que tinha incomodava e estava sinceramente tentando se adaptar àquela nova realidade. Integra não deveria fazer o mesmo?

            – O passado serve como justificativa para nossas ações? – Ele perguntou, focando a grama sob seus pés, com a cabeça ainda enfiada entre os joelhos.

            – Acho que às vezes. Mas nem sempre. Nesse caso, tem mais a ver com entender do que propriamente aceitar...

            – Celas. Eu tenho pesadelos desde o onze anos. – Vlad começou a explicar, numa tentativa infantil de se abrir e quem sabe, se justificar. Não que fosse fácil, ou que ele tivesse consciência disso. Na verdade, era tudo muito difícil. Tanto que nem bêbado ele tinha conseguido completar a frase. Ah sim, ele se lembrou de tudo depois que a dor de cabeça cessou.

            Percebeu a mão de Celas sobre seu ombro, incentivando-o a continuar. Respirou fundo, tomando coragem para formular as palavras que explicassem alguns sentimentos presos em seu peito por longos anos.

            – Aos dez, eu fui seqüestrado. Eu não me lembro bem do que aconteceu. Mas algumas imagens vêm durante a noite. – Fechou os olhos com força, lembrando-se com dor de, ainda criança, levar um tapa forte de seu pai, sob o pretexto de que “homens não choram”, ao acordar de um dos primeiros pesadelos que teve após voltar para casa.

            Celas se aproximou um pouco mais, sentindo sob a pele um leve tremor que se apossou do rapaz.

            – Com o tempo, explicaram-me que fui torturado, humilhado e traumatizado de várias maneiras. Mas eu não lembro. Eu não consigo lembrar, eu não quero lembrar.

            – Vlad-san. Está tudo bem...

            – Eu rezei muito, muito. Eu sei que pedi todas as noites antes de dormir para que Deus tirasse aquelas coisas da minha cabeça. Pedia a cada segundo acordado para que não vivesse com medo. Mas eu duvidei. Durante o seqüestro, eu duvidei Dele.

            –Vlad-san?

            – Foi por isso. Por isso Ele me deixou.

            – Vlad... isso não faz sentido...

            – Então por que Celas? Por que Ele deixou Doamnei morrer? – Vlad virou o rosto para encarar o da vampira, deixando-a ver seus olhos agora verdes, com umas poucas lágrimas que ameaçavam cair.

            Ela não soube responder àquilo. Na verdade, uma pergunta muito parecida tinha assolado sua mente por anos: Por que seus pais morreram tão cedo? Certamente, era algo que se passava sem resposta também nos pensamentos da Hellsing, trancada no escritório. Não deve haver resposta para isso. Não uma boa o suficiente.

            Limitou-se a envolver o rapaz nos braços frios, numa tentativa vã de consolá-lo enquanto este permitia que as lágrimas e os soluços guardados por tantos anos saíssem de seu peito. Ela também acabou chorando uma única lágrima de sangue, que tão logo brotou, foi brutalmente retirada de seu rosto com a parte de trás da luva.

           

And then one day,
One magic day he passed my way
While we spoke of many things
Fools and Kings
This he said to me

The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return.

Eden Ahbez


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Notas finais do capítulo

Reviews fazem o mundo girar, nunca se esqueçam disso!

Ps: Obrigada a todos que me apoiaram na minha impossível semana de trabalhos.'



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