Hermione entrou em pânico, não sabia o que aconteceria a partir de agora, e o pior era que não sabia de quem se tratava.

 “Silêncio Granger, nem mais uma palavra. Não queremos ser descobertos não é mesmo?” A voz sussurrava em seu ouvido.

 Aquela voz era ironicamente conhecida, seu tom sarcástico era impossível não ser reconhecido. Draco Malfoy, só não sabia se isso era bom ou ruim, apesar de conhecer Draco o suficiente para saber que ele não a mataria, não sabia se ele estava junto ao estranho.

 “Agora preste atenção, eu vou tirar minha mão da sua boca, mas você não pode gritar, estamos entendidos? Faça o maior silêncio que puder.” Por um momento ela sentiu-se tentada a gritar por ajuda assim que possível, mas por fim decidiu ver até onde tudo isso iria. 

Hermione sinalizou um sim com a cabeça.

 “Tudo bem, faça o que eu disse ou podemos nos dar muito mal.” Ele lentamente foi retirando a mão de sua boca. Ela então se virou para ele e disse sussurrando: 

“O que faz aqui Malfoy?”

 “Faço-lhe essa mesma pergunta, mas parece que você tem o dom para arranjar encrenca, não é mesmo?”

 Os dois ficaram ali se encarando no escuro sem dizer nada até que a porta se abriu abruptamente de uma só vez. Hermione estava de costas para a porta, a figura lançou a maldição Cruciatos na direção da garota, Draco por instinto a empurrou para o lado sem tempo para defender-se. Tomou a maldição para si e caiu no chão se contorcendo em agonia.

A figura estava encapuzada com uma capa negra, era alta e rápida, lançou outra maldição na direção de Hermione, mas desta vez ela foi mais rápida e com a varinha em punho agiu: 

“Protego!” E em seguida tentou estuporar o adversário que se defendeu.

Ele saiu correndo e saltou através de uma janela do vagão desaparecendo na paisagem que corria a fora. Hermione correu até lá tentando ver quem era, mas a figura já havia desaparecido não deixando nenhuma pista para ser identificada.

 “Por qual motivo alguém invadiria o bagageiro, reviraria malões, lutaria com alunos e se atiraria da janela com o trem em movimento?” Perguntava a si mesma.

 Foi tirada de seus devaneios quando Malfoy resmungou algo do chão onde ainda estava caído.

 “O que você disse Malfoy?”

 “Perguntei como você está Granger?” 

Hermione estranhou a pergunta justamente por vir de ninguém menos que Draco Malfoy. “Estou bem e você?”

 “Estou ótimo. Afinal não são todos os dias que podemos nos deliciar com a dor de uma maldição imperdoável, não é mesmo?”

 “Parece ótimo mesmo, já está fazendo suas típicas piadas novamente.”

 “Não estou ouvindo Granger, onde está a sua educação, seus pais não lhe ensinaram que deve agradecer quando alguém lhe salva de uma maldição.”

 “Não pedi a ninguém para que me salvasse. Foi você quem se atirou na frente daquela varinha”.

“Quanta ingratidão, mas tem razão ainda estou me perguntando por que fiz isso, mas ainda assim está sendo uma mimada ingrata. Está querendo me fazer sentir culpado por quando minha tia a torturou?”

 Hermione podia sentir um arrepio lhe subir pela espinha somente de se lembrar daquele dia em que esteve presa com seus amigos na mansão Malfoy, e que foi torturada por Belatriz Lestrange. Por sorte Dobby e seus amigos a salvaram.

 “Seria impossível, pessoas como você não tem consciência para sentirem-se culpadas, muito menos cérebro para se perguntar o porquê de algo”

 Draco finalmente levantou-se do chão e caminhou até Hermione, ficando assim cara a cara com a garota. 

“Se continuar pensando assim Granger vai cair da vassoura e quebrar a cara, porque há muito mais em mim do que você possa imaginar. Se continuar com esses pensamentos pode acabar sozinha um dia.” Ela não se intimidou pela aproximação inesperada.

 “Creio que esteja errado, pessoas como você e sua tia é que acabam sozinhas, ficam loucas ou são confinadas até a morte em Azkaban, assim como seu pai não é mesmo?” 

“Não meta meu pai nessa conversa, sua Sangue-Ruim. Precisa saber o que é respeito” Irritou-se Draco aumentando o tom da voz. 

“Sua doninha albina, aprenda você sobre o que é respeito, pois seu pai não tem o respeito nem mesmo de um rato de esgoto, e é melhor baixar o tom, pois aí sim você vai sentir dor, e acredite é muito pior que uma maldição imperdoável.” Dizendo isso ela virou-se para ir embora, mas o rapaz a segurou firmemente pelo braço a impedindo. 

“Não pense que isso acaba aqui Granger, mas antes quero saber uma coisa. Quem era o estranho, e por que estava o espiando?” Ela ignorou a primeira frase, e rispidamente respondeu-lhe a segunda.

 “Sinceramente não faço idéia, estava no corredor quando vi Cho Chang passar e resolvi falar com ela, mas ela sumiu e acabei aqui neste vagão, quando dei por mim estava espionando um estranho. Mas e você o que fazia aqui?” 

“Estava passando quando vi você entrar, resolvi esperar para ver o que iria fazer, como demorou resolvi ir ver o que estava fazendo, ao me aproximar de você não quis assustá-la e nem chamar a atenção de alguém.”

 “Estava me espionando.”  A garota ficou indignada.

“Você também estava espionando o estranho. Qual a diferença?”

 “A diferença é que aquilo estava mexendo nos malões de outras pessoas, e eu sou Hermione Granger e você Draco Malfoy, não somos íntimos para que você fique me espionando. Se eu pegar você me espionando novamente eu juro que vou fazer você se arrepender mortalmente.” Com este último aviso ela saiu do vagão deixando-o ali sozinho. 

Mentalmente ele tentava encontrar a resposta para tudo o que acabou de acontecer, quase havia revelado a verdade a ela, como que por um impulso saiu logo dali, precisava tomar coragem, colocar tudo pra fora, ao sair do vagão correu atrás dela e gritou antes que pudesse desaparecer para outro vagão:

 “HERMIONE! HERMIONE!”

 Ela já estava quase fora de vista quando voltou para ver o que acontecia, por qual razão ele gritava por ela. As pessoas que estavam próximas estranharam a cena.  Por sinal uma cena que se não estivessem vendo com seus próprios olhos e ouvindo com seus próprios ouvidos jamais acreditariam. Quem imaginaria que Draco Malfoy, o todo poderoso ex-comensal de Você-Sabe-Quem, estava gritando por ninguém menos que Hermione Granger a metida a sabe tudo, com a qual sempre andara em pé de guerra por durante todos os anos escolares. 

“O que você quer agora?”