Naquele dia ela observava o entardecer, Margaret havia se casado no dia anterior, e partido em lua de mel, e agora estava ali sozinha sem sua mais próxima e única amiga, seu maior motivo de estar ali e ter deixado aquele lugar, claro ela estava certa em querer ter sua própria vida, mas porque deixá-la para trás? Será que não sabia o quão importante era?

Seus pensamentos eram de indignação, não esperava realmente que um dia fosse se separar de Margaret, ou que fosse demorar um pouco mais, queria bater em Harry naquela hora, afastou-se da janela balançando a cabeça constantemente em sinal de negação repreendendo-se desses pensamentos egoístas e infantis.

—Pobre Harry! Por que raios estou pensando isso? Ela também tem direito de querer ter uma vida própria, não tem que ser como eu, nem tem a obrigação de ficar me bajulando...estou sendo egoísta.—Falava brava consigo mesma, já era quase noite quando ainda estava ali e ouviu lhe chamarem, então saiu indo atender.

O tempo passou depois daquela noite, precisamente dois anos sem que houvesse nenhuma mudança naquela nova vida depois de ter saído do hospital psiquiátrico, e estava vivendo bem, aquela vida na casa dos tios, mas as coisas eram quase sempre iguais, dia após dia, o que fez com que ela se tornasse rotineira e que a fazia desanimar mais daqueles dias monótonos. Afinal foram longos dez anos vivendo em outro lugar e mesmo já fazendo um tempo considerável que estava vivendo ali não tinha comparação com o que ficara lá e pensava às vezes se ela não tinha saído de lá apenas para escapar de seu verdadeiro lugar ansiando encontrar alguma coisa que nem mesmo sabia o que era, talvez sonhasse em encontrar um pouco da realidade da qual tanto fugiu a vida inteira.

—O que vale isso afinal? A “realidade”?—Dizia com certo desgosto na voz ao pronunciar a ultima palavra, porque procurou ir atrás disso se era apenas realidade?  Nada além disso, então se lembrou do que o pai havia dito muitos anos atrás, agora concordava, ele tinha a maior das razões a realidade não valia a pena, nunca valeu e para ela jamais iria valer alguma coisa. Nesse tempo ela teve algumas recaídas e insistia que tinha de voltar para o Asilo Rutledge, e quando conseguia que a levassem até lá acabava nunca ficando mais do que dois ou três dias, sempre a traziam de volta, e agora já fazia um ano desde seu ultimo “surto”, tinha se cansado de tentar convencê-los que era lá seu lugar, que até mesmo queria ficar lá, então desistiu ao menos foi assim até aqueles sonhos.