Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Betado por Dhessy e luanaracos.

Nota da autora: peço desculpas a todos que acompanham a fic pelo longo período de hiatos em que ela foi deixada. Pretendo continuar essa fic, conforme planejei. Não somente esse fic quanto outros que se encontram na mesma situação. Obrigada a todos que tem acompanhado e peço novamente desculpas.



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Na propriedade dos Chanttél, precisamente nos estábulos.

–Casarmos?- Annely parecia não ter assimilado ainda o que acabara de ouvir.

–É o mínimo nessa situação!- dizia o médico ainda nervoso com a situação, mas um pouco mais aliviado em ouvir aquelas palavras de Kamus.-Não precisamos falar do que houve aqui, para não alimentar comentários maldosos.

–Certamente. -dizia a Viscondessa se abanando com um leque.-Eu não esperava isso de você, Kamus! Eu o criei para ser um cavalheiro!

–Vovó...- calou-se, como explicar que nem mesmo a melhor educadora do mundo seria capaz de refrear o turbilhão de emoções que a simples presença de Annely lhe despertara, e o furacão que os beijos causavam, destruindo sua razão. -Sinto muito.

–Mas vamos voltar e conversar após o final do baile. -disse a Viscondessa de modo severo.-Assim que os hóspedes forem embora, iremos falar dos detalhes. Temos que ver quando marcaremos a data, o local. Acha que devemos realizar a cerimônia aqui ou em Londres, reverendo?

–Eu não vou me casar assim!

Olhares surpresos repousaram sobre Annely que estava tremendo. Não era pelo frio, mas pelo fato de todos estarem decidindo por ela sem consultá-la. Coisa que sempre odiou em toda a sua vida.

–Annely, deixe que eu resolva isso. -pedia o pai.

–Não tem o que resolver. Eu não vou me casar assim!-cruzou os braços, com aquele olhar que Kamus conhecia muito bem. Ela não cederia facilmente.

–Por que não quer se casar comigo, Annely? Eu achei que...

–Achou o que, milorde?-ela o fitou. -Que bastasse me beijar e esqueceria tudo? E eu não quero me casar assim. Sobre coação, impondo tudo até mesmo onde devo me casar!

–Isso é... inaceitável, mocinha!-dizia a Viscondessa. -Não vê que queremos o seu bem?

–Querem evitar um escândalo com os “nobres nomes” de família.

–Annely...-o pai começou a suar frio, colocando a mão sobre o estômago sentindo-o queimar. -Ele...a estava ... de modo indecente.

–Garanto ao senhor papai, que minha inocência mantem-se intacta!

–Annely.-Kamus falou em tom pausado. -A honra exige que nessa condições...

–Ao inferno com a honra!-as palavras dela chocaram a todos. -Não pensou na honra quando deduziu que eu tivesse algo com meu primo e me abandonou depois de me prometer casamento. Agora, pensa na honra? Eu não vou em casar com você e nem com ninguém assim. Para reparar a honra de ninguém!

Ela bufou e pegou as longas saias e as ergueu para proteger a barra da lama e voltou a passos apressados e duros na direção da casa. Kamus ficou parado, estático com as palavras dela. Como assim, depois daqueles beijos, do modo apaixonado como correspondeu às suas carícias, dizer que não queria se casar com ele?

–Creio que deveria ter dito, milorde....-falava Malloren até o momento quieto e observador.- Que queria casar-se com a dama por unicamente amá-la, e não por sua obrigação.

Kamus fechou os olhos e sentiu vontade de se socar.

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Na pequena cidade de Southampton.

Dois homens ocultos pelas sombras observavam a movimentação na única e modesta pousada da cidade. O local pertencia a uma viúva, que para criar o único filho transformou a casa que herdou do falecido marido em uma pousada familiar, onde viajantes pernoitavam após alguma refeição caseira e quente e partiam pela manhã continuando suas viagens.

Souberam por Walter Chade, o bêbado da cidade, que além dos três moradores fixos –uma solteirona de cinquenta anos e prima da proprietária, um caixeiro viajante que sempre volta para Southampton após uma viagem de trabalho e o professor da escola local. Agora recebia novos hóspedes. Ignoraram a jovem estrangeira trancada em seu quarto e se concentraram no homem que saía, conversando com outros dois.

–Sutclif... –murmurou Ikki a Dohko.-Ele estava acompanhando o gaijin amigo do imperador. Eu me lembro de tê-lo visto ao longe.

–Certamente o ladrão que procura.

–Sim.-estreitou o olhar. -Mestre Dohko, eu preciso ver se este homem roubou a espada de meu imperador e reavê-la. Não é apenas uma questão de honra. A vida de meu irmão mais novo depende disso.

–Mestre Dohko? -Dohko faz uma careta .-Não sei se esse título cabe a mim. Mas eu vou ajuda-lo. Esse homem representa um perigo às pessoas que jurei proteger.

–É um homem honrado. Domo arigato.-Ikki afastou-se. -Mas terei que matar esse ladrão. Não ouse me atrapalhar.

–Não precisará chegar a isso.

–A honra exige. -disse friamente.

–Mas...-parou de falar quando avistaram uma carruagem aproximar-se, não queriam ser vistos. -Melhor voltarmos. O que iremos fazer não poderá ser essa noite. Amanhã iremos nos revezar em vigiar Sutclif até termos certeza de que ele tem sua espada. E se ele a tiver iremos avisar as autoridades do roubo. Tenho certeza que o lorde Francis, er...Shaka, nos ajudaria nisso.

–Faremos de acordo com seu plano, por enquanto.- saíram das sombras na direção da carruagem na qual vieram.-O que faremos em relação a senhorita Inis?

–Como assim?

–Ela é espirituosa. É atraída pela aventura e por isso imprudente. -foi dizendo. -Está interessada no que estamos fazendo e a curiosidade dela pode ser um problema.

–Eu cuidarei dela. Não se preocupe. Eu a manterei longe do perigo e dos problemas.

–Todas são sinônimo de problemas. -suspirou, subindo na carruagem e incitando os cavalos a trotarem.

–Fala sobre a senhorita Inis ou sobre a senhorita Carla?-Perguntou com um sorriso jocoso. O olhar de Ikki deu a resposta que Dohko queria. -Estamos com problemas, não é mesmo?

–Estamos?-Ikki notou o semblante preocupado de Dohko.-Sente algo além do sentimento de proteção pela senhorita Inis?

–Sim... Estamos com sérios problemas.

–Se acaso refere-se ao fato de que ... –olhou para o próprios pés.- De que jamais aceitariam que eu fizesse a...qual é a palavra mesmo, em inglês?

–A corte?

–Sim. -endireitou-se no banco, incitando os cavalos a irem mais depressa.- Eu poderia ser o imperador do Japão, mas aos olhos dos brancos desse país, sou apenas um japonês indigno de uma dama inglesa. E em meu país, ela não seria aceita por ser estrangeira.

–E eu apenas um chinês. -suspirou.

–Estamos com sérios problemas...

–Certamente. Sabe o que devemos fazer?

–Infelizmente sim. -a expressão tensa no rosto de Ikki revelava seus sentimentos.

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Dentro da hospedaria...

Um jovem cavalariço entrava apressado no estabelecimento, passando por Sutclif pedindo desculpas por quase esbarrar nele e sobe correndo pelas escadas acima. Ele só para diante de um dos quartos e bate nele, retirando o gorro em sua cabeça em seguida.

–Fräulein Heinstein?-chamava com um forte sotaque alemão.

–Entre.-uma voz maviosa pede e o rapaz entra rapidamente. -Então?

–Eu fui até a mansão como me pediu. Olhei a movimentação, Fräulein. Está havendo um baile em homenagem ao aniversário da velha Viscondessa. -dizia rapidamente, observando a dama que se olhava no espelho e escovava os longos cabelos negros.

–A avó dele.-ela sorriu.- Ele ficaria surpreso ao me ver, mein junge Chesire?

–Certamente. Mas... Fräulein Pandora... e se seu pai e aquela pessoa aparecerem? Digo, seu ex-pretendente?

–Quando ele aparecer estarei noiva de um Visconde. -ela sorriu. - E meu pai não me obrigará a casar com quem eu não quero.

–A Fräulein nem deu chance pra conhecê-lo. -resmungou o cavalariço e depois ficou pálido. Se o general, seu ex-patrão e pai de Pandora o encontrasse, o enforcaria por ter ajudado sua filha a fugir na calada da noite de Berlim para aquele fim de mundo na Inglaterra. - Ichwerdesterben!!!

–Não diga besteiras. –ela se levanta e acaricia os cabelos do menino. - Jamais permitiria que machucassem a pessoa mais fiel a mim. Agora vá para seus aposentos e durma. Amanhã pela manhã irei visitar o Visconde de Chanttél.

–Mas... Fräulein. Ele se casará com você?

–Claro que se casará. -ela sorri de modo sedutor.- Afinal, ninguém consegue resistir a mim.

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Amanda Dawes caminhava pelos belos jardins da propriedade, apreciando as rosas e lírios que a ornavam. Parou diante de uma fonte e sentou na beirada, observando as águas dela. A imagem de Kanon refletida nas águas a fizeram sorrir e virar-se.

–Senhor Kanon...-corada.

–Não pude deixar de notar que saiu da casa durante o baile. Algo a incomodou?-perguntou ficando a sua frente, em pé.

–Não. Apenas queria dar uma volta.- disfarçando o constrangimento. Não diria que estava procurando-o.- Está muito cheio e barulhento na casa.

–Me permite?-pediu sentando ao seu lado, pegando sua mão pequena entre as suas e sentindo-a estremecer. Céus, como podia ser tão inocente? –Também não estava gostando desse barulho todo. Já fui à bailes, mas nunca gostei muito de barulhos.

–Foi o meu segundo baile, praticamente. - respondeu com sinceridade.

–Ainda não consigo imaginar por que moças de uma boa família, e tão lindas, não frequentassem a sociedade?

–Bem, devido aos rumores e fofocas sobre a Julie.- suspirou.

–Também não entendo isso. Ela é uma dama, cuida dos negócios da sua família, de vocês. Nunca a vi comportar-se de modo reprovador. E não é incomum casamentos entre homens mais velhos e mulheres mais jovens.

–É uma longa história. - disse Amanda.- É por que todos acham que Julie casou-se com meu pai por dinheiro. Minha mãe havia morrido há muito pouco tempo, e houve comentários maldosos de que ela e meu pai já se encontravam antes. Tudo são inverdades!

–Acredito que seja. - estendeu a mão, tocando o rosto dela, fazendo-a corar mais ainda. - Um dia gostaria de saber mais sobre sua família. Afinal, desejo fazer parte dela.

–Senhor Kanon... -baixando o olhar.

Ele ergue o rosto dela, segurando seu queixo com a ponta dos dedos e aproxima seu rosto do dela. Amanda sente o coração acelerar, os lábios ficaram subitamente secos. Ele ia mesmo beija-la finalmente?

Cerrou os olhos ao sentir o toque quente dos lábios dele sobre os seus, devagar, pressionando levemente seus lábios sobre os dela. Ele afasta um pouco e a fita seu rosto, ainda de olhos fechados ela ainda mantinha os lábios entreabertos, esperando por mais beijos.

Kanon sorri e resolve satisfazê-la voltando a beija-la. Desta vez, pressionou os lábios e forçou que a jovem os entreabrisse e intensificou o beijo, introduzindo a língua em sua boca. Amanda abriu os olhos, espantada, mas se sentindo incapaz de repeli-lo. O rapaz a segura pelos ombros agora, trazendo-a para mais perto de si.

Ele encerrou o beijo, fitando o rosto corado e adorável de Amanda Dawes. Percebeu que realmente estava apaixonado pela jovem. E sentiu-se mal por ter mentido a ela sobre quem é realmente.

–É muito linda, Amanda!

–Kanon...

–Amanhã pela manhã falarei com seu primo. Pedirei permissão para cortejá-la.

–Sério?-animada.

–Sim. Meu irmão aprova e incentiva que fiquemos juntos.

–Seu irmão e você são bem unidos. - ela sorriu, sentindo o aperto de sua mão.

–Tivemos muitos desentendimentos. Ainda temos. Mas, acho que somos capazes de fazer qualquer coisa para ajudar um ao outro.

–Isso é muito bonito! Sobre seu irmão. - ela parecia pensativa.- Notei que ele tem certo interesse em Julie.

–Está bem nítido isso?

–Sim, todas nós notamos. - ela deu uma risadinha.

–Acredito que este relacionamento não vá dar frutos. - comentou um pouco desanimado. - É uma pena, pois meu irmão nunca se interessou por uma dama antes. E vem a ser sua madrasta. Acho que jamais poderiam ficar juntos por causa disso.

–Por quê?-perguntou ingênua.

–Ora, por quê?-Kanon ficou sem graça. - Senhorita Amanda, eu pretendo pedir sua mão ao seu guardião. E não creio que a lei permita que sua madrasta case com o cunhado do futuro genro. Entendeu?

–Oh... Mas acho que isso não será um problema.

–Como assim?-parecia não entender.

–É que...bem, como direi...-parecia sem graça.- Lady Julie não é...

Nesse momento Igor aparece do nada, assustando a ambos.

–Espero estar interrompendo.

–Igor!-Amanda fica em pé rapidamente.

–Melhor voltarmos para o baile, senhorita Dawes.-disse o mordomo lançando um olhar mortal a Kanon e ele retribui o mesmo olhar.

–Melhor voltar com seu mordomo, senhorita Amanda. -Kanon fica em pé e pegando a mão de Amada a beija. - Nos veremos em outra oportunidade.

Amanda concorda com um aceno de cabeça, encantada demais por seu primeiro beijo que ignorou o discurso de reprovação que Igor lhe ditava por estar sozinha nos jardins com um homem. Kanon a observava afastar-se e sua mente começou a lhe questionar. O que Amanda queria lhe dizer sobre a Baronesa de Blackmoore? E o quanto essa informação poderia lhe ser útil? E onde estava Saga?

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Luna estava procurando pelo pai pela casa. Não para ficar ao seu lado, mas para ter certeza de que estava tudo bem com Annely e se não iriam embora mais cedo por causa dela. Ainda não havia conversado com o belo amigo do Visconde e sentia o coração saltar ao lembrar do sorriso do grego chamado Milo.

Foi como se seu pensamento o chamasse. Virou-se e o belo cavalheiro diante dela, com o seu melhor sorriso.

–Senhorita. Pensei que não teria essa oportunidade de lhe falar. Soube que a senhorita deixou uma dança reservada a mim.

Luna deu uma risadinha.

–Não precisa usar esse tipo de artífice para dançar comigo, milorde.

–Ficou evidente?-ele sorriu e ficou ao lado de jovem. - Notei que sua irmã não gosta da minha pessoa.

–Não é pessoal, milorde. Annely acredita que os homens não são de confiança, e sempre tenta me proteger.

–Devo mostrar a ela que sou de confiança, então. - Milo pega na mão de Luna e a beija. - Será que seu pai permitiria que eu a visite em sua casa mais vezes?

–Acredito que não. - o semblante entristecido de Luna chamou a atenção de Milo. - Enquanto Annely não se casar, papai não permitiria que algum rapaz me visite.

–Como?

–Foi uma promessa tola de meu pai. - suspirou. - Que Annely tem que se casar primeiro por ser a mais velha e depois a mais nova. Mas...

–Ela não quer se casar. - Milo riu.

–Não ria! É desesperador!-Luna parecia indignada. - Ver minhas amigas se casando e eu não por causa da recusa da minha irmã! E da teimosia de meu pai com essa promessa!

–E por que ele mantem essa promessa?

–Foi no leito de morte de mamãe. Ele não ousa quebrar.

–Ah, compreendo. - Milo ficou pensativo.-Annely...a jovem por quem meu amigo é apaixonado, mas se recusa a dar o braço a torcer.

–Conhece a história?

–Sim. Cada linha dela. - ele piscou e sorriu para a loira. - Então basta ajudarmos os dois que se amam a ficarem juntos.

–Como se fosse fácil.

–Senhorita Luna. Normalmente eu não ligaria para esse assunto, mas agora tenho um motivo importante para me envolver. - ele a segura pelo queixo, aproximando seus lábios da face dela e a beijando. - Apenas seja paciente.

–T-tentarei. -coração disparado, depois observa certa movimentação vinda dos estábulos. - É minha irmã vindo dos estábulos?

–É Kamus correndo atrás dela?

Ambos se olharam. Talvez não fosse assim tão impossível unir os dois.

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Agatha nunca antes participara de um baile, e mesmo usando um vestido emprestado por uma das jovens irmãs Dawes, estava deslumbrante. O vestido de cor amarelo destacava ainda mais seus olhos, e não a deixava passar despercebida dos outros convidados, que se acotovelavam para pedir-lhe uma dança.

Mas desistiram imediatamente desse intento ao repararem o enorme cavalheiro que se aproximou da jovem, que prontamente aceitou seu convite para a valsa. Ela se sentia muito pequena perto dele, mas ao mesmo tempo, protegida. Aldebaran, no entanto se sentia muito feliz em estar dançando com sua pequena fada. Agatha era tudo o que sempre sonhou em encontrar em uma dama.

Shura caminhava por entre os convidados, se desculpando inúmeras vezes enquanto tentava se esquivar dos encontrões de ombros e cotovelos, mas ele não conseguia encontrar a pessoa que procurava. Será que ela havia se recolhido?

O espanhol estava criando coragem para conversar com os amigos sobre seu segredo e pedir conselhos sobre o que fazer. De inicio, tudo o que queria era encontrar Ludmila e pedir a anulação daquele casamento falso e em seguida voltar para os braços da sua bela amante na capital. Mas agora, estava confuso desde que a reencontrara. Ela era mais bela que o quadro que guardava em sua casa reproduzia, e parecia tão desprotegida. Tão sozinha.

Seria culpa?

–Olha como é bonita!-ouviu um rapaz comentar.

–Ouvi dizer que é apenas uma criada. - outro falou em tom maldoso. - Talvez esteja entediada como nós.

–Vá até ela, Benedict. Convide-a para dançar e se juntar a nós. - um terceiro dizia.

–Teremos problemas. -ria Benedict. - Meu pai avisou que seu acaso lhe trouxesse novos problemas, me mandaria para a casa de meus tios na Escócia!

–Teria problemas se fosse alguma dama de família!

–Seu pai não ligaria se fosse apenas uma criada a nos divertir.

Os amigos riram. Shura virou-se e notou a intenção daquelas palavras. Certamente um grupo de jovens de “boa família” querendo se divertir com alguma criada que não possui ninguém que cuide dela e de seu nome. Mas, quando notou quem era o alvo daqueles comentários maldosos, precisou se controlar.

Assim que percebeu que o tal Benedict, um rapa loiro e magricela caminhava até Ludmila, lhe dizendo algo que a fez recusar e dar-lhe as costas. Mas o rapaz não parecia satisfeito com a recusa e se colocou à sua frente, querendo impor sua vontade sobre ela. Percebeu que a menina se sentia acuada. Foi quando se aproximou e lançou um olhar frio e mortal sobre o inconveniente rapaz, que recuou intimidado.

–Ele a incomoda, milady?-perguntou Shura a Ludmila, que demorou um tempo para tentar formular uma resposta.

–Ele... Sim... Mas...

–Deve desculpas a essa dama. -disse Shura enfático ao rapaz.

–Por que me desculparia?

Ludmila sentiu as faces arderem e os olhos marejarem. Sim, era verdade que essa sociedade sabia ser muito cruel com uma mulher sem família e sem quem a defenda ou ampare. Isso fez o sangue de Shura ferver.

–Por favor, milorde. - dizia o rapaz com um sorriso esnobe. - Não vamos brigar por causa de uma simples criada.

–Como ousa?- Shura o segurou pela gola, e imediatamente atraiu a atenção de várias pessoas, incluindo Aldebaran e Giovanni que pararam o que faziam e se aproximaram para evitarem algum conflito. - Ela é minha esposa, peça desculpas!

Ludmila ficou lívida como cera com aquelas palavras, não sabia o que falar. Olhando ao redor tentando encontrar alguma das meninas Dawes para socorrê-la. Avistou Vanessa, que logo se colocou ao seu lado, acompanhada pela neta da Viscondessa, a senhorita Lucy.

–Peça desculpas, Benedict O’Brian. Ou terei que falar com seu pai pessoalmente sobre o modo que trata uma mulher?

Todas as atenções se voltaram para Annely que olhava furiosa para o rapaz. O loiro estremeceu mais de terror por estar diante da pequena filha do médico do que diante da raiva do espanhol.

–A-A-A-Annely!-gaguejava.

–Devo te lembrar do modo que soquei seu nariz quando tentou ser indiscreto comigo, durante a festa na igreja em homenagem a Saint Peter?

Avisou novamente a jovem, desta vez Kamus surgiu. Parecia que tentava alcançar Annely em meio à confusão de convidados e parou diante do que a jovem acabara de falar e olha furioso para Benedict, que encolheu-se mais ainda.

–Portou-se como um canalha com a minha... -Annely direcionou seu olhar furioso para Kamus.

–Não sou sua noiva. Não vamos nos casar!-avisou a pequena, erguendo o queixo e fitando-o.

–Não pode decidir algo assim sozinha!

Nesse momento, vários convidados foram atraídos pela confusão. Lucy colocou a mão sobre a boca, surpresa e escondendo um sorriso com o que acabara de ouvir.

–Não me pediu em casamento. Impôs que deveríamos nos casar!

–O problema é esse?

–Por que não vão conversar em outro lugar?-sugeriu Lucy aos dois. - A Biblioteca!

Benedict que ao perceber que não era mais o alvo das atenções tencionou sair daquela situação “à francesa”, mas foi agarrado pela gola da casaca por Aldebaran que havia acompanhado parte da discussão ao lado de Agatha.

–Esqueceu-se de pedir desculpas a dama. -disse o brasileiro, com um sorriso mortal. Do seu lado apareceu Giovanni acompanhado por Helena, que se colocou ao lado de Ludmila e das demais damas.

–Eu... Eu... Eu...!-o rapaz virou-se para Ludmila, suando frio, tremendo de medo diante do olhar furioso do espanhol. - Perdão, milady! Eu... Jamais irei... Preciso ir embora, por favor...

O loiro estava quase às lágrimas. No mesmo instante que soltou Benedict, ele saiu apressado do salão para ir embora da fazenda. Nesse momento, a Viscondessa apareceu arfando e parecendo que iria desmaiar.

–Que... Constrangedor... -murmurava, sendo amparada pelo reverendo e pelo Dr. Hopkins e sentando em um divã próximo.

–Acalme-se, vovó. –dizia Lucy. - Kamus e Annely vão conversar na biblioteca e...

–NÃO!-gritou Malloren, assustando a todos e fazendo Kamus e Annely voltarem para ver o que acontecia, temendo ser algo com a idosa.-Digo...Não é de bom tom que fiquem a sós! Vão comentar!

–Talvez seja melhor dizer a todos que a anfitriã precisa se recolher e que o baile terminou. - sugeriu Vanessa.

–Boa ideia!-Malloren se vira para Lucy. - Faça isso, querida. Cuidaremos de sua avó. Senhorita Dawes, senhor Mastrângelo... Poderia ajuda-la?

Lucy concordou e se afastou receosa, sendo seguida pelos amigos.

–Milorde... -Malloren virou-se para Kamus.-Melhor conversar com a senhorita Hopkins em seu escritório. A biblioteca está... Inapropriada agora.

Ele ergueu a sobrancelha não entendendo, mas acatou a decisão do reverendo. Aproximou-se de Annely segurando seu cotovelo com delicadeza e a guiando.

–Vamos conversar... Por favor?

Ela o olhou desconfiada, mas concordou com um aceno de cabeça caminhando a frente do lorde.

–Não me divertia assim há tempos. - comentou Giovanni se afastando.

–Ora, tenha modos!-Vanessa o repreendeu. - Não vê que algo aconteceu entre o Visconde e aquela jovem? E seu amigo!-apontou acusadoramente para o italiano.

–O que há?-ele fez uma expressão que não havia entendido a acusação.

–O que ele fez a Ludmila? O que ele disse aquele loiro? Falou que era a esposa dele!

–Deve ter dito aquilo para deixar o idiota que a assediou em uma situação constrangedora. Afinal, ter dito que haviam incomodado uma dama casada é quase certeza de que o marido tem permissão da lei para lavar a honra desta com sangue!-dizia dando uma risada. - Aquele magricela ficou mais lívido que um cadáver ao ser confrontado pela garota do que pelo Shura. Inacreditável!

–Não sei... Tem algo a mais nisso tudo!-ela parecia pensativa e aquilo atraiu a atenção de Giovanni. -Ele a olha estranho desde que se viram na taverna na estrada, lembra-se? Não raras vezes o vi tentando ficar a sós com Ludmila. Parecia querer lhe dizer algo!

Giovanni ficou sério. Realmente o amigo estava diferente nos últimos dias. Mais distante como se algo o preocupasse. E isso só piorou depois de se encontrarem na taverna outro dia.

–Talvez esteja apaixonado. - disse Lucy, sorrindo e depois pedindo que os músicos parassem com um gesto e fazendo o anúncio do fim do baile por motivos de saúde da aniversariante.

Os dois que a acompanhavam se entreolharam. Será?

–Impossível! Shura não é do tipo que se apaixona a primeira vista por uma garota tão sem atrativos. - comentou o italiano.

–Como assim?-Vanessa parte para a defesa da amiga. - Ludmila é linda! Muita nobre não tem a beleza que Lud tem!

–Ela não tem o. -ele faz o gesto com as mãos denotando que lhe faltava seios enormes. - Sabe, o espanhol gosta de mulheres mais... Sabe assim iguais aos seus... Digo... Como fala em inglês... Assim com dois grandes... -Vanessa o olhou descrente e percebeu que estava sendo indiscreto além do limite aceitável. - Olhos! Dois grandes e belos olhos!

–Porco... -fez uma careta, se afastando.

–Espere!-Giovanni correu atrás dela.

Helena acompanhava de longe a discussão do primo e balançava a cabeça negativamente, cobrindo o rosto com uma das mãos.

–Senhor...

–Ele não tem jeito com as mulheres. - a voz de Afrodite a assustou. - Na verdade, ele não sabe como se portar diante de alguma dama com a qual tem sincero interesse.

Helena o fitou e sentiu o rosto corar só de estar próxima. Era a primeira vez que o via desde que o baile havia começado e ficava questionando se acaso estivesse evitando-a a noite toda.

–Ainda estou me acostumando ao jeito de meu primo. - sorriu sem graça.- Sei que ele não fala essas coisas com intenção de ofender, apenas é...sincero demais.

–Pena que o baile terminou antes de dar-me a chance de uma dança. - ele comentou oferecendo a Helena uma rosa recém-colhida dos jardins onde havia ficado a maior parte da noite, fugindo das damas que se acotovelavam-se para dançar com o belo rapaz.

–Sim... -parecia decepcionada, depois sorriu para ele.

–Gostaria de dançar, milady?

–Sem uma música?

–Ora... basta usar sua imaginação.- ele lhe estendeu a mão e Helena aceitou o gesto.

Em seguida, Afrodite a envolveu em seus braços e começaram a se mover ao som de uma valsa imaginária em meio a um salão quase vazio. Helena fechou os olhos, imaginando uma valsa que escutara uma vez quando menina ao passar diante de uma grande mansão.

Era um baile para jovens e do portão gradeado viu os jovens casais. Imaginou se um dia algum nobre cavalheiro dançaria com ela, algum dia. E quando acontecesse, queria muito que fosse ao som daquela bela valsa. Abriu os olhos e percebeu que não dançavam mais, estavam parados no meio do salão parados, apenas trocando olhares. Quando percebeu, Afrodite inclinava a cabeça, tocando seus lábios com os dele, em um terno e delicado beijo.

Novamente fechou os olhos, desta vez para sentir o calor daquele beijo e o aroma de rosas que seu corpo exalava e que tanto amava. Sentiu que o abraço dele tornou-se mais possessivo, trazendo seu corpo para mais perto do dele, tornando o beijo mais profundo.

Então o beijo cessa. Helena nota que eram alvos dos olhares dos músicos da orquestra, dos irmãos Petronades, de Melissa e Thatiane. Ela fica envergonhada por seu comportamento, o empurra e sobe as escadas para seu quarto correndo, deixando Afrodite parado e sozinho em meio ao salão.

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–Por que ela correu daquela maneira?-Melissa perguntava, comendo outro pedaço de torta de chocolate. - Foi apenas um beijo!

–Isso mostra o quanto é ainda uma menina, senhorita. -Aiolos provocava, comendo também uma torta de chocolate.

–Saiba que farei quinze anos logo!-ela lhe lançou um olhar mortal. - Não sou uma menina!

–Verdade. Já deveria estar casada!-Aiolos continuou. - Em minha terra já teria um marido. Mas quem vai querer se casar com uma garota briguenta?

–M-Melissa... -Thatiane pedia em vão que ela parasse de discutir.

–Creio que seja uma luta inglória tentar impedi-los. -Aiolia apareceu e Thatiane não conseguia disfarçar seu nervosismo ao lado do rapaz. - Meu irmão encontrou uma forma divertida de passar o tempo. Fazer sua irmã perder a paciência com ele.

–Amanda sonhadora como é iria dizer que está apaixonado por ela.-riu do próprio comentário.

Aiolia arregalou os olhos. Será? Não. Melissa era jovem demais para o padrão do irmão, que sempre preferiu mulheres maduras. Se bem que apesar da pouca idade, Melissa demonstrava que seria uma bela mulher ao tornar-se adulta. Bem como Thatiane Dawes ao seu lado.

–E quem disse que quero me casar?-voltaram a discutir.- Ser uma velha gorda com 10 filhos aos 30 anos, casada com um homem barrigudo e começando a ficar careca? Não, obrigada.

–E vai fazer o que da vida?-ele ergueu a sobrancelha, encarando-a.

–Serei advogada! Ou investigadora da Scotland Yard!-disse solenemente. Aiolia a encarou espantado. - E ainda vou publicar meu romance!

–Uma mulher que sabe o que quer. -Aiolos sorriu e Melissa corou.- Quando publicar seu livro, irei comprar um exemplar.

–Para rir de mim?

–Não. Eu aprecio uma boa leitura e ademais. -lhe dá uma piscadela. -E se for ruim, saiba que irei rir mesmo.

Thatiane suspirou, desistindo quando Melissa começou a se referir a Aiolos com termos mais ofensivos e impróprios para uma dama e para sua idade.

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Assim que se despediu dos convidados, Lucy sentiu-se fisicamente e mentalmente cansada pelas desculpas repetidas mecanicamente a todos. Então, quando viu Mu aparecer com duas taças de ponche nas mãos, aceitou de imediato o que ele lhe oferecera.

–Aconteceu algo com sua avó, senhorita Lucy?

–Não... ao menos espero que não seja nada. -ela deu um gole na bebida e respirou fundo, depois sorriu. -Acho que finalmente meu irmão vai fazer que deveria ter feito há anos.

–E o que seria?

–Casar com a mulher que sempre amou. -respondeu simplesmente, sentando numa das poltronas da varanda.

Mu sentou-se ao seu lado, mas mantendo uma discreta distância. Ambos ficaram observando a noite estrelada, e mesmo com o barulho das carruagens se preparando para sair, ainda apreciavam a noite.

–Senhorita. Parece que não tivemos uma boa oportunidade para conversamos desde que cheguei. -ele começou a falar, parecendo procurar as palavras certas. -Gostaria muito de...

–Oh, é verdade!-Lucy pareceu constrangida. -Sou uma péssima anfitriã! Que vergonha!

–Não, não!-Mu tentava se explicar. -É até justificável, uma vez que sua residência está cheia de convidados. Ademais, estou mais em companhia dos lordes do que das damas.

–Não está ofendido pela minha falta de atenção?-parecia tensa.

–De modo algum. -Lucy respirou aliviada. -Como poderia ficar ofendido com uma dama tão bela.

Lucy ergueu o olhar, levemente ruborizada.

–Digo... estou na Inglaterra há tão pouco tempo mas...posso garantir que poucas mulheres se igualam a senhorita em beleza. Nem mesmo em minha terra, vi beleza igual.

–Senhor Mu...

–Certamente, quem a desposar será um homem de sorte. -ele se ergue.-Bem, devemos nos recolher.

–Acredito que os outros ainda estejam acordados. Não há mal nenhum de ficarmos aqui um pouco mais, conversando.

Mu assentiu com um aceno de cabeça, voltando a se sentar próximo. Lucy começou a perguntar sobre sua terra natal, e Mu começa a contar tudo o que podia sobre o Tibet, diante do olhar admirado da jovem lady.

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Em outro ponto do salão.

–O... por que mentiu, milorde?-perguntou Ludmila a ele.

–Eu... parecia constrangida por aquele falastrão. Queria dar-lhe uma lição sobre respeitar uma dama. -respondeu de imediato.

–Eu agradeço que tenha me defendido, milorde. -Ludmila torcia as próprias mãos em sinal de nervosismo. -Não quero parecer mal agradecida por tê-lo questionado.

–De modo algum.

–Mas... -Ela o fitou intensamente. -Lembra quando comentei com milorde da minha impressão de haver lhe conhecido antes?

Shura engoliu em seco, não estava realmente preparado para confronta-la sobre o passado que os ligava. Ao menos não agora.

–Sim, lembro sim.

Ela o fitou longamente em silêncio, depois virou o rosto balançando negativamente, sorrindo em seguida.

–Deixe para lá, milorde. É apenas um devaneio de uma tola.

–Por que diz isso? Por que a tomaria por tola?

–Pois é o que eu sou. -disse caminhando na direção do salão principal, onde os demais convidados da mansão pareciam se reunir após o baile. -Por um sonho tolo.

–Gostaria de saber sobre esse sonho tolo. -Shura a incentivou.

Ludmila notou o real interesse dele e sorriu um pouco embevecida por um nobre tão belo quanto ele se interessar a conversar de modo tão cordial com ela. Por não contar sobre isso também? Sentia que ele seria cavalheiro o suficiente para não zombar dela.

–Sabe... eu sempre tenho o mesmo sonho. Desde que tinha apenas 10 ou 11 anos.

–Poderia falar mais?

–Estou numa capela. -ela começou a falar. -Meu pai também está lá. Ele já faleceu, sabe? Sinto falta dele e por isso gosto desse sonho, pois posso sempre me lembrar de seu rosto. Meu pai está bem digno em meu sonho, vestindo uma casaca apropriada para um casamento e parecia feliz!

–Casamento de quem?

–O meu!-ela começou a sorrir.

–Quem é o noivo afortunado de seus sonhos?-perguntou cauteloso.

–Eu não sei...-ela parecia pensativa e então fita Shura.-Sei que ele está no altar, um homem alto, de cabelos e olhos negros...profundos e belos. Tive a impressão que milorde tinha os mesmos olhos do homem de meus sonhos.

–Acaso sou o homem de seus sonhos?

–Não ousaria dizer isso, milorde. -Ludmila corou até a raiz dos cabelos com o comentário. -Mas o estranho é que o sonho para aí... E depois parece tão reais algumas coisas, que parecem mais um pesadelo.

–Que coisas?

–Cheiro de uísque. Meu pai bebia muito. O noivo e o juiz de paz também tinham o mesmo cheiro de bebida. -ela ergue uma sobrancelha. -E o estranho que essa parte é que parece ser a certa. Pareço louca ao falar isso não?

–Talvez lembranças da sua infância tenham se misturado aos seus sonhos, apenas isso.

–Provavelmente. -Ludmila observava o senhor Afrodite conversando com Kanon, lorde Shaka trocando palavras com Louise, enquanto Melissa discutia com o senhor Aiolos sobre os olhares de Aiolia e Thatiane.

Inis e Carla estavam em uma das varandas, caminhou acompanhada por Shura até onde estava a maioria dos convidados, notando a movimentação próxima ao escritório que pertencia ao Visconde e começou a se questionar:

–Onde está milady Blackmoore?

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Na biblioteca.

–Oh, Céus...

Suspirou a baronesa, tentando novamente em vão, forçar a porta da biblioteca abrir. Em seguida, lançou um olhar reprovador sobre Saga que permanecia deitado no divã, apenas observando o que a dama fazia com um sorriso jocoso nos lábios. O que em nada contribuía para acalmá-la.

– Parece que a música parou. O baile chegou ao fim tão cedo? Vai mesmo ficar deitado como se nada estivesse acontecendo.

–Mas o que posso fazer milady? – perguntou despreocupado. –Creio que devemos ficar aqui e esperar que nos procurem. Talvez pela manhã alguém abra essa porta pelo lado de fora.

–Por Deus, não! –ela exasperou-se, ficando de costas para ele, olhando para a porta.- Passar a noite toda aqui? Com você? Minha reputação estará manchada para sempre! É tudo minha culpa!

Ele pretendia provocá-la apenas para ver aqueles olhos castanhos inflamarem de raiva novamente. Não queria admitir, mas achava particularmente esse olhar sedutor. Mas notou que ela estava tensa demais, teria a ouvido soluçar? Endireitou-se ao sentar-se e apurou os sentidos para ter certeza do que ouvira. Ela tentava segurar um choro. Saga sentiu-se culpado e ficou em pé, sem saber ao certo o que dizer.

–Pensei que não ligasse para os comentários maldosos dessa sociedade antiquada de Londres. A culpa não é sua e...

–Tem razão, milorde. -ela virou olhando-o furiosamente. -A culpa é sua!

–Milady... er...minha?

–Sim. Minha vida estava perfeita até que VOCÊ chegou e a arruinou!-ela falava apontando-lhe do dedo e fazendo-o recuar.

–Acalme-se.

–Não ouse dizer para que eu me acalme!

Quase gritou e bufou, se afastando dele e indo até o outro lado da biblioteca, pegando uma garrafa de Bourbon que ali estava e se servindo, tentando se acalmar. Sorveu todo o conteúdo da taça em um único gole, para o espanto de Saga.

–Isso é Uísque, milady.

–E?

–Nada... Acho que precisamos muito de uma bebida, milady.

–Preciso que fique longe de mim!-ela avisou se servindo de outra dose.

Mas ele a ignorou e caminhou até onde estava se servindo também da bebida.

–Vamos nos dar uma trégua? Pelo menos até que eu pense em um modo de sairmos daqui e manter sua reputação intacta.- ela o fitou desconfiada.- Milady, apesar de sermos declaradamente inimigos, eu não quero destruí-la.

A baronesa não estava acreditando, mas resolveu dar-lhe esta trégua, pois de que adiantaria brigarem agora?

–Sei que tem uma visão horrível da minha pessoa, mas não sou o monstro que imagina, lady Julie.- falou em um tom tão sereno, que era praticamente impossível ver mentiras em suas palavras.- E acredite. Se meu irmão se casar um dia com sua enteada, ele seria honrado e faria de tudo para fazê-la feliz. O idiota se apaixonou pela menina!

Ele ergue a taça e sorve seu conteúdo.

–Não pense que eu deixarei que qualquer um se case com as meninas. Elas são a minha família.

–E um brinde a essa temida guardiã!-servindo outra dose para ela e para si mesmo. - Se meu irmão provar ser digno da mãe da jovem lady Amada?

–Poderia repensar. Mas, não quero condená-la a ter um cunhado desprezível como você. - bebendo.

–Assim me ofende, milady. Desprezível não... -Saga finge indignação, mas logo em seguida exibe seu mais charmoso sorriso minando as defesas dela, fazendo-a sorrir.- Fica mais linda quando sorri.

Ela vira o rosto, para que não a veja ruborizar.

–Pare de tentar me adular, senhor!

–Está bem, não irei falar verdades então. Mais Bourbon?

–Aviso que não conseguirá me embriagar, senhor!-aceitando a bebida oferecida.

–Não me passou isso por minha mente.

Para a surpresa da baronesa, ele estava agora diante dela agora, os olhos de Saga se entrecerraram, procuraram os dela, depois levantou uma mão, lentamente, e pôs o extremo de um de seus dedos sob o ângulo de seu queixo, justo debaixo da orelha, e o levou para diante, inclinando seu rosto para cima. Este simples toque fez com que a sensação deslizasse por ela, deixando sua pele ardendo.

–O... o que pretende fazer?-ela não podia ler absolutamente nada em seu rosto, entretanto, a sensação de ser considerada, como uma presa, aumentou.

–Imaginei... Como seria beijá-la novamente.

–Me beijar?-estremeceu, tentando se afastar, mas não conseguia se mover. -Já está embriagado? L-lembre-se de ser portar como um cavaleiro!

–Eu não sou um cavaleiro, se lembra milady?

Dizia enquanto seus lábios se pousavam nos dela, quentes, firmes, decididos, imperiosos. O corpo de Julie reagiu ao toque, entreabrindo os lábios, convidando-o. Sua mão se moveu, seus longos dedos rodearam seu pescoço enquanto que o polegar permanecia debaixo de seu queixo, sustentando-a ao mesmo tempo em que inclinava a cabeça e, como ela o exigia, levando o beijo mais à frente. Mais íntimo.

Julie levantou uma mão e percorreu suave e lentamente sua face, no lento enredo de suas línguas, consciente de seu braço que se fechava sobre ela, de sua outra mão que se estendia sobre suas costas, sustentando-a, apanhando-a, aproximando-a, tentando-a a aproximar-se ainda mais.

Saga sentiu que perdia o controle, endureceu todos seus músculos contra a urgência desenfreada de estreitá-la contra si. De dar aos seus sentidos que clamavam ao menos esse alívio, sentir seu ágil corpo colado ao dele. Queria sentir mais...

Os lábios do homem se afastaram hesitantes dos da mulher, percorrendo seu rosto e beijando seu pescoço e arrancando dela um débil gemido, que o deixou enlouquecido. Ele queria muito mais. Queria a promessa do corpo entre seus braços, queria reclamá-la, ditar sua entrega, ter seu suave corpo oferecido para aplacar a dureza do dele.

Levou uma das mãos ao seio dela e o apertou com força. Ela estremeceu e sentiu as pernas fraquejarem. Em seguida, ele a beijou novamente, guiando-a até o divã que ocupava a sala, sentando e fazendo-a sentar em seu colo em seguida.

–E-espere...

Julie tentava recobrar a lucidez, mas ao mesmo tempo seu corpo e mente se recusavam, voltando a beijar aquela boca novamente. Então, Saga parou o beijo, com um enorme esforço, com reticência. Ficaram se olhando, recuperando o próprio fôlego. Os olhos de Julie estavam fixos nos seus, mas sua mente corria.

–N-não é certo isso. -ela dizia.

–Não. -ele murmurou, acariciando sua cintura, mantendo-a em seu colo. -Mas é o que desejamos, não?

–Eu... não sei. -Ainda faltava o fôlego, subitamente ficou incerta, perdida.

Subitamente a porta da sala da biblioteca abriu-se, aparecendo a Viscondessa acompanhada pelo dr. Hopkins. O reverendo Malloren parecia querer impedi-los de entrar, mas a senhora estava determinada a ir aquele lugar. Queria conversar com os amigos longe dos hóspedes sobre como convencer Annely de se casar com Kamus.

Pararam ao verem a cena. A baronesa sentada de modo indecoroso no colo de Saga, boquiaberta e lívida por serem flagrados naquela situação.

–Oh...meu...Deus...-murmurou a baronesa, levantando-se rápido e ajeitando o vestido. -Que vergonha!

Saga parecia não saber o que falar pela primeira vez em anos, quando a Viscondessa levou à mão a boca e desmaiou, sendo amparada com muita dificuldade pelos outros dois homens.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Notas:
Fräulein= Senhorita.
Mein junge= Meu garotinho.
Ichwerdesterben= Eu vou morrer.



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