Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Betado por Annely. (que me chicoteou sem dó)



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Shura saia do quarto da estalagem após pedir a um dos empregados desta levarem sua mala. Encontrou seus companheiros de viagem no andar de baixo, conversando com o rapaz loiro que estava acompanhando todas aquelas mulheres, inclusive Ludmila, a alguma viagem.

Ao se aproximar, pode escutar parte da conversa animada entre Giovanni e o loiro.

–Mas quem poderia imaginar isso!-exclamava Giovanni, chamando Shura com um gesto.-Meu bom amigo, acabei de descobrir que este nobre senhor e seus amigos vão para o mesmo destino que nós. Southampton!

Shura custou a acreditar no que ouvia, e não conseguia dizer nada quando percebeu a presença de Ludmila que acompanhava as damas. Iriam todos para a mesma cidade?

–Precisamente para visitarmos a Viscondessa.-anunciou Shaka.

O espanhol começou a imaginar que Deus o estava castigando pelo mal que fizera aquela menina.

–Vai ser uma viagem agradável!-Giovanni sorriu, fitando Vanessa que virou o rosto após fazer uma careta ao italiano.-Divertida, eu diria.

–Peço novamente desculpas pelos modos de Vanessa.-dizia Shaka.-Pelo pouco que conheci de minha prima, percebi o quanto ela é voluntariosa.

–Não se preocupe.-Giovanni envolveu Shaka em um abraço amigável, conduzindo-o para fora da taverna.-Me conte mais sobre seus negócios na Índia enquanto nossas carruagens ainda não estão prontas.

Shura permaneceu parado no mesmo lugar. Os céus estariam dando respostas às perguntas que o afligiram a noite toda? Havia encontrado Ludmila, mas temia que o mesmo destino que os uniu ao acaso numa taverna em noite de chuva, a levasse para longe, mas agora descobria que ela também seria hóspede na mesma fazenda que seu amigo Kamus!

Olhou para o grupo que já se encaminhava para fora, para irem embora. Como se percebesse que era vigiada, Ludmila olhou por sobre o ombro e corou ao deparar-se com Shura que a fitava intensamente. Virou-se rapidamente para frente, chamando a atenção de Inis ao seu lado.

–O que houve, Ludmila?

–A-aquele senhor. O de olhos negros.-Inis olhou para trás discretamente.-Ele ainda está olhando para cá?

–Está sim.-Inis deu uma risadinha.-Parece-me interessado em você.

–Ai que vergonha!-Ludmila esconde o rosto com as mãos.-Eu não gosto como ele me olha!

–Como assim?

–Eu...não gosto.-como explicar a senhorita Inis o súbito calor que tomava conta de seu corpo sempre que sentia o olhar dele sobre ela, ou o modo como ele se parecia com o homem de seus sonhos? O calor em seu baixo ventre...-Não é decente!

–Não se preocupe, Ludmila. Está em nossa companhia e de modo algum permitiríamos que um homem a ofendesse.-enfatizou Inis solenemente se aproximando da carruagem que as levariam.

–O-obrigada, senhorita Inis.-Ludmila iria entrar na carruagem, quando notou que sua patroa olhava desconfiada para um ponto entre as árvores ao lado da estrada.-Senhorita?

–Eu pensei ter visto alguém ali.-murmurou.

–Deve ser um dos empregados da taverna.-comentou Ludmila, subindo e se acomodando.

–Não. Parecia familiar...usava um chapéu engraçado mas...não, pode ser ele!-falou subindo na carruagem e olhando pela janela do outro lado.-É ele!

–Ele?- a criada parecia confusa.

–Aquele chinês! O jardineiro! É ele nos seguindo!-sussurrou nervosa, olhando para fora esperando que as irmãs não a ouvissem.

–Tem certeza? Por que faria isso?

–Só pode ...pode...ser um bandido!-Ludmila levou a mão a boca, assustada.-Eu sabia que ele não era confiável!

–O que faremos? Ele sabe seu segredo!

–Eu não sei...mas eu pensarei em algo!

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Southampton, várias horas depois.

Lucy estava na varanda da casa principal da fazenda, apreciando um suco de frutas quando avistou as carruagens fazendo a curva na estrada e se aproximando da propriedade. A jovem dá um enorme sorriso e corre para dentro de casa, chamando a avó que conversava numa sala com o bom amigo Malloren.

–Estão chegando, vovó! Seus convidados estão chegando!

–Ah, finalmente!-suspirou a nobre, pegando uma sineta para chamar a criadagem.-Preparem-se todos! Lucy querida, avise seu irmão e o senhor Alessandros. Eles estão na biblioteca.

Assim que a jovem sai da sala, acompanhando os criados, a viscondessa se vira para o amigo que apreciava as tortinhas de limão servidas há pouco.

–Adam! Finalmente! A baronesa e suas enteadas estão chegando!

–Desistiu da idéia de uni-lo àquela moça da cidade?-perguntou o Reverendo, limpando a lapela de alguns farelos que caiam.

–Viu como meu neto chegou hoje cedo? Triste, abatido!-ela suspirou, fazendo uso de um leque.-Isso sem mencionar que ele quase morreu porque ela o derrubou do cavalo! Coitadinho!

–Foi um acidente.

–Não, ela é nociva ao meu neto. Começo a achar que não é uma boa escolha aquela jovenzinha.

–Ora, nem ao menos tentamos!-exclamou o religioso.-Vamos ver hoje no jantar. Como ele se com comporta com as convidadas antes de tomarmos alguma decisão concreta, minha cara.

–E se acaso ele não sentir nada por nenhuma destas jovens? Elas são bonitas, você as viu no baile em minha casa.

–Não irá fazer um baile em comemoração ao seu aniversário daqui a três dias?-perguntou pegando outra tortinha.

–Sim...pretendo sim. Por que?

–Se ele não demonstrar interesse algum hoje, convidaremos Annely Hopkins para o seu baile de aniversário e ...deixe o restante comigo.-ele piscou, mordendo a tortinha.-Divino!!

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–Kamus! Kamus!-Lucy entrou toda eufórica na biblioteca aonde o Visconde e o amigo estava concentrados em um jogo de xadrez.-Vovó os chama! Seus convidados já estão chegando! Carruagens já entraram na propriedade.

–As pretensas candidatas a serem minha “noiva”?-Kamus suspirou ruidosamente.-Vieram rápido demais!

–Talvez sejam nossos companheiros, Kamus.-Milo moveu uma peça, satisfeito por sentir que iria ganhar o jogo desta vez.

–Que os Céus o ouçam, meu amigo.-Kamus move uma peça.-Xeque mate!

–QUE???-Milo não acredita, analisando as jogadas mentalmente.-Como consegue isso? Me venceu nove vezes seguidas!

Kamus deu um meio sorriso, levantando-se.

–Vamos meu amigo. As feras nos esperam.

–Não fale assim das amigas da vovó, Kamus!-Lucy o repreendeu e foi prontamente ignorada pelo irmão saindo da biblioteca.-O que aconteceu com ele? Está mais mal humorado que o costume.

–Duas palavras minha querida.-disse Milo oferecendo o braço a Lucy para que o acompanhasse com um sorriso encantador no rosto.-Annely Hopkins.

–Oh...

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–Estou vendo a fazenda!-exclamou Tathiane empolgada.

–Graças a Deus.-suspirou Melissa.-Não aguentava mais esta viagem nesta estrada horrível!

–É culpa da chuva.-explicou Carla.-Se não fosse por ela teríamos chegado ontem mesmo.

A mais velha das Dawes reparou no quanto Amada estava quieta, até com um certo ar de melancolia.

–Amanda, se alegre. Logo terá mais oportunidades de conversar com o senhor Kanon.-Carla tentou animá-la.

–Isso se Igor ou nossa madrasta deixarem!-bufou de raiva.-Viram como eles implicam com ele o tempo todo?

–Se implicam é porque tem algum motivo.-diz Melissa friamente.

–Você também não gosta dele, Melissa!-acusou Amanda cruzando os braços sobre o corpo.

–Ele tem olhos de raposa.-respondeu Melissa, fazendo as irmãs olharem para ela sem entender.-Vão entender.

–Explique direito, Melissa!-pediu Carla.

–Aqueles gregos...senhor Kanon, seu irmão...-Melissa hesitou antes de continuar a falar.-Aiolos e seu irmão, eram esses seus nomes não é? Achei mais fácil memorizar nomes do que sobrenomes.

–Não desvie do assunto.-insistiu Amanda.

–Eles parecem que estão sempre escondendo algo. Percebi isso ontem a noite na estalagem aonde pernoitamos.-disse a menina com o dedo em riste e ar de superioridade, dando um sorriso confiante.-Afinal, eu tenho que aprender a analisar as pessoas se vou ser uma detetive da Scotland Yard!

–Não queria ser escritora?-indagou Carla.

–Não era advogada?-Perguntou Tathiane.

–Posso ser advogada criminalística, escritora de romances policiais e detetive ao mesmo tempo.-falou solene, arrancando das irmãs suspiros de quem não confiavam muito nisso.-Gente de pouca fé.

–Não é isso, só achamos que você exagera.-diz Carla sorrindo sem graça.

–Eles escondem algo, e eu hei de descobrir o que é. Vivem aos cochichos pelos cantos, como conspiradores. E vou expor isso a todos!-Melissa exclamou séria, socando a própria mão.-E irei começar investigando os irmãos Petronades!

–E-espere, Melissa!-pediu Carla.-Não faça nada imprudente.

–Não agirei sozinha, Carla. Fique tranquila.-disse a loirinha com um sorriso quase angelical.-Igor vai me ajudar, irei falar com ele. E Tathiane também!

–EU?????-Tathiane assustou-se.-Não me envolva nisso!

–Está decidido! Vamos interrogar eles durante o jantar!

–Já falei para não me envolver nisso!

Amanda e Carla apenas suspiraram.

Logo as carruagens pararam defronte a residência dos Chanttél e todos os recém-chegados pareciam satisfeitos de estarem ali. A viscondessa nesse momento os aguardava na varanda, ao lado dos netos e seus amigos, exibindo um largo sorriso. A baronesa nesse momento sussurra para Igor, seu fiel escudeiro.

–Por que sinto que estamos indo para alguma artimanha?

–Certamente estamos, madame.

–Logo farei aquela garota pagar pelo golpe em minha cabeça e o café que quase me queimou.-sussurrava entre os dentes Máscara da Morte a prima enquanto caminhavam até a casa.

–Giovanni, não faça nada que gere um escândalo!-pedia a moça sabendo que era inútil pelo sorriso e olhares de seu primo.-Deus...me ajude.

Shura permanecia sério, olhando Ludmila de lado, imaginando como abordaria a moça com o que deveria falar. Algo que iria mudar sua vida para sempre, com toda certeza. Já Ludmila, tentava inutilmente desviar o olhar de Shura, sentindo-se constrangida próxima a ele. Shaka foi logo se apresentando a Viscondessa, agradecendo o gentil convite, sempre acompanhado de seu amigo Mu, ao qual Lucy prontamente o reconheceu e o recebeu com um sorriso tímido, notado por Kamus.

O Visconde suspirou, imaginando que sua avó havia exagerado ao convidar um exército de moças, que pelo o que pode notar, a maioria eram da mesma família! Milo por outro lado, achava divertido o constrangimento do amigo em cumprimentar uma por uma das Dawes com um sorriso amigável.

Terminadas as apresentações e cumprimentos, todos entraram na casa enquanto o chefe da criadagem fazia as recomendações para quais quartos as bagagens seriam levadas. Igor e Ikki ajudavam nessa tarefa.

No salão principal todos se acomodaram enquanto as criadas serviam chás acompanhados por bolos, tortas e biscoitos aos convidados.

–Fico encantada em receber tantas pessoas em minha casa.-falou a Viscondessa.-Quero que se sintam em casa, meus amigos. Livres para passearam pela propriedade.

–Agradecemos sua hospitalidade, milady.-disse Saga exibindo seu melhor sorriso a Viscondessa, olhando de lado a baronesa que o ignorava prontamente servindo-se do chá.-Terei prazer de caminhar pelos jardins e pomares após este delicioso chá.

–Irá gostar muito, meu amigo.-disse Kamus que em seguida virou-se a avó.-Se não se importa, vovó...meus amigos e eu preferimos conversar mais a vontade no meu escritório, aonde desfrutaremos de um bom conhaque. Nos acompanharia lorde Furneval? Você e seu amigo?

–Certamente.-respondeu Shaka.

–Eu não bebo conhaque.-anunciou Mu constrangido.

–Mesmo assim, junte-se a nós.-Milo falou, batendo nas costas de Mu amigavelmente.-Vamos!

–Está muito cedo para beberem conhaque, Kamus.-a avó o repreendeu.

–Certamente Kamus quer conversar assuntos só de homens, vovó.-Lucy comentou.-Deve achar que se entediará com nossa conversa.

–Lucy, pensa muito mal de mim.

–Milorde.-A baronesa se manifestou dando um sorriso.-Por favor, não sinta-se constrangido com a nossa presença. Tenho certeza que tem assuntos mais interessantes a tratar com seus amigos.

Os rapazes preferiam sair e a tarde foi ocupada com conversas amenas, até que alguns convidados se retiraram aos quartos com o pretexto de arrumarem as malas e descansarem antes do jantar. Alguns preferiram conhecer um pouco mais a propriedade, caminhando por seus jardins. As Dawes se dividiram em dois aposentos, enquanto a baronesa por insistência da velha viscondessa, foi instalada em uma das suítes.

Em dos aposentos, enquanto as irmãs desfaziam as malas ajudadas por Ludmila, Inis observava a vista pela janela. Foi quando notou a presença dele novamente, escondendo-se nos estábulos mais longe. O reconhecia em qualquer lugar, graças ao chapéu que insistia em usar e que chamava muito a atenção.

–Eu...vou dar uma caminhada.-disse, saindo do quarto em seguida.

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Inis venceu a distância entre a casa e o estábulo rapidamente, desviando-se das pequenas poças de lama que ainda resistiam após as chuvas. Olhou a redor, haviam apenas os animais em seus cercados. Caminhou devagar pelo corredor e parou diante de uma janela cruzando os braços e falando séria.

–Saia de seu esconderijo, seu perseguidor!

Passou-se alguns segundos e nada. Então, Inis sentiu a presença dele logo atrás de si, seu calor, o cheiro que emanava de seu corpo, a voz firme próxima ao seu ouvido.

–Aqui estou.

Inis deu um salto, assustada, quase dando um grito. Em seguida, colocando a mão sob o coração, controlando a respiração o encarou, quase fuzilando-o com o olhar por vê-lo sorrir.

–O que pensa que está fazendo? Deveria estar em Londres! Por que nos segue? É algum bandido ou algo assim?-foi logo perguntando, colocando as mãos na cintura em tom de fúria.

Dohko observou a garota a sua frente. Tinha que admitir que ela era corajosa em vir até o estábulo enfrentar um homem que ela supostamente acreditava ser uma ameaça a sua família. Ao mesmo tempo em que admirava essa coragem, dizia a si mesmo o quanto ela deveria ser imprudente por agir assim. Observou melhor a senhorita Inis Dawes. Os grandes olhos escuros brilhavam, demonstrando que não estava contente, o nariz pequeno, os lábios cheios e tentadores.

“Feitos para serem beijados.”, pensou consigo mesmo e depois desviou o rumo de seus pensamentos para sua real missão. Pigarreou e respondeu solenemente.

–Não, senhorita. Eu vivo para proteger sua família.

–Como? O que disse?-a postura defensiva dela relaxou diante de tal revelação, e Inis o encarou.

–Há alguns anos, seu pai salvou a vida do meu. Esse ato nunca pode ser retribuído ao seu pai em vida, então...minha família prometeu retribuiria protegendo as filhas de nosso benfeitor.

Inis ficou sem saber o que falar:

–Conheceu meu pai?

–Era um garoto na última vez em que nos vimos.-ele aproximou-se perigosamente de Inis.-Devo dizer que é tão corajosa quanto ele, senhorita.

–Mas, isso não explica o por quê de estar aqui?-desconversou, sentindo o rosto corar com o que ele havia dito.-Não tem nada de perigoso nessa fazenda!

–Receio que tenha sim.-o rosto de Dohko ficou sério de repente.-Lembra-se de Sutclife?

O rosto de Inis alterou-se, ficando lívido. Os olhos dela brilharam de raiva a menção do nome.

–Yves Sutclife? Aquele verme?-ela referiu-se a ele com asco.-O que há com este...este...Filho Da...

–Acho que a senhorita não deveria dizer esta expressão!-pediu Dohko, tentando acalmá-la.

–Como não? Ele deveria estar bem longe de Londres...da Inglaterra! Em um buraco no lugar mais imundo da Terra!

–Ele voltou.

–O que?-Inis levou a mão ao pescoço, indignada.

–Seu mordomo, Igor. Ele me contou tudo o que eu deveria saber, sobre os inimigos de sua família, de como protegê-las. Isso tudo em uma carta que me enviou ano passado.-explicava Dohko.-Foi quando saí da minha terra natal e decidi vir para Londres.

Inis prestava atenção no que ele dizia.

–Procurei conhecidos meus em seu país, me informando de cada nome na lista que ele havia me enviado. Soube que um deles havia retornado e parecia interessado em sua família.

–Graças a Deus que viemos para cá. Nem imagino o quanto a notícia da volta deste verme poderia perturbar Julie e...ela já sabe?

–Sim.

–Céus! Pobrezinha! Tenho que contar a Carla para não a deixarmos só e...

–Senhorita Inis...sei que seu temor, o do senhor Igor não tem nada a ver com os negócios da sua família, do dinheiro que foi desviado.-Dohko notara o pavor de Inis e isso o preocupou.-Poderia me contar o que ele fez?

–Não sei se posso...eu...-ela fechou os olhos, suspirando. Quando os abriu Dohko estava diante dela. Em seu olhar ela pode ver que era um homem honrado, de confiança.

Respirou fundo novamente, as cenas daquela noite vieram a sua mente e contou a Dohko na noite em que Sutclife invadiu a sua casa logo após a morte de seu pai. Ele havia sido sepultado naquela tarde, e as meninas cansadas pelo velório e pela tristeza dormiam. Menos Inis e Carla que velavam o sono das menores.

Ouviram barulho e desceram para ver o que estava havendo, viram Sutclife exigir algo da Baronesa, que ela lhe entregasse o controle dos negócios de seu falecido sócio e ela negar. Viram quando ele a agrediu com um tapa.

–Ele...ele tentou forçá-la a...você sabe...-as mãos dela tremeram.-Estava louco pela bebida, pela raiva porque meu pai conseguiu reaver o que ele havia roubado, deixando-o sem nada. achei que ele fosse matá-la. Ficamos tão assustadas. Eu não conseguia me mexer de pavor. Carla correu chamando pela criadagem, pedindo ajuda. Se Igor e os outros não tivessem tirado aquele homem horrível de cima dela e o expulsado como um cão, eu...

Dohko segurou as mãos de Inis entre as suas, tentando transmitir tranquilidade a ela enquanto falava:

–Juro que não deixarei que ele a toque novamente. Em nenhuma de vocês.

Inis deu um sorriso, confiando naquelas palavras. Mas corou e ficou assustada quando Dohko levou suas mãos aos lábios e as beijou. A jovem afastou as mãos e correu de novo para a casa principal deixando o chinês para trás.

Nenhum deles havia percebido a presença de uma terceira pessoa, que caminhava por perto e ao percebeu a movimentação no estábulo aproximou-se cauteloso, e escondido ouviu tudo.

Saga apertou a bengala que carregava com tanta força que parecia que iria quebrá-la. A antipatia por Sutclife tornou-se ódio ao ouvir o que ele teve a coragem de fazer. Como ele ousava? Jurou que era melhor que não se encontrassem novamente, ou poderia cometer o ato de matar o crápula se o visse.

Começou a imaginar que a admiração e o amor que as meninas Dawes possuíam por sua madrasta era genuína, e que talvez...embora não quisesse admitir...estava errado em relação a ela.

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Enquanto isso, em Londres.

Sentado a uma mesa em um suspeito pub em Whitechapel, em um distrito de Londres cuja maioria dos habitantes era formada por imigrantes, principalmente vindos da Irlanda e Índia, o homem chamado Sutclife acabava de engolir a dose de uísque fazendo uma careta.

Olhou para o relógio de bolso, impaciente. Odiava esperar. E faziam cinco anos que esperava por aquela oportunidade. Foi quando dois homens de aparência suspeita entravam no local, andando diretamente a sua mesa.

–Então?-indagou Sutclife, se servindo de outra dose do péssimo uísque do pub.-Localizaram o que eu pedi?

–Sim.-um deles falou, mas estendeu a mão indicando que só falaria mediante o pagamento combinado.

Sutclife deu um meio sorriso jogando na mesa um envelope com o pagamento esperado. Os dois homens agarraram o pacote com avidez e olhando seu conteúdo, em seguida olharam entre a raiva e a surpresa para o homem a sua frente.

–É metade do que combinamos!

–Eu não seria tolo de dar-lhes o pagamento sem antes me dessem a informação, não acham?-riu acendendo um charuto com calma.-Agora falem.

–Bem.-um deles olhou para os lados para ter certeza de que não eram alvos da atenção de curiosos.-Soubemos que a baronesa doou vários itens das viagens do Barão para serem leiloados. Inclusive um baú fechado, aonde tava a tal relíquia que você procurava. Foi arrematada e levada pela compradora, uma mulher, para uma fazenda no interior. Não sabemos se a pessoa que a comprou já viu o que tinha no baú.

–É provável que sim.-disse o comparsa.

–Um baú feito de madeira maciça, muito grande.-disse Sutclife.-Feito em madeira de cânfora e detalhes em metal trabalhado, com figura mitológica chinesa...um dragão?

–Sim.

–O baú tinha um fundo falso. Sem a chave não tem como abrir. Foi aonde o maldito a escondeu tencionando devolvê-la quando me descobriu.-Sutclife deu um golpe na mesa com o punho cerrado.-Maldita mulher! Nem sequer sabia do tesouro que havia em casa!

–Por que não pegou o baú antes, chefe?

–Eu tentei. Mas me exaltei e não pude fazer nada. Maldita, ela consegue me tirar a razão! Mas, tudo bem.-ele volta a tragar o charuto.-Irei até esta pessoa que comprou o baú e faço uma boa oferta para ele. Mas preciso descobrir aonde está a chave. A baronesa nem deve saber disso também!

–Bem, senhor...era o que queríamos dizer. Sobre a segunda coisa que mandou a gente descobrir.

–Digam.

–A baronesa foi para o interior, passar uma temporada na fazenda de uma pessoa amiga da família.

–E?-Sutclife estreitou o olhar. Não poderia haver tamanha coincidência.-Não me digam que...para aonde está o maldito baú?

–Sim, senhor!

–Maravilha!-ele suspirou nervoso.-Mas talvez não seja um contratempo. Posso pegar a chave, o baú e o meu tesouro de uma vez só. Aonde fica a tal fazenda?

–Tem um nome complicado, qual é mesmo Harry? Soult...Saultpton?

–Ih, não sei Edgar...não lembro...Southbapton?

–Não existe Southbapton!

–Nem Saulpton, Edgar.

–Southampton.- Sutclife fala o nome e os dois comparsas concordam rapidamente.-Diga Edgar, seus primos ainda querem trabalho? Precisarei de mais ajuda. O dobro do que paguei pelo seu último serviço.

Sutclife joga outro envelope na mesa contendo o restante do pagamento. Os homens o pegam com os olhos brilhando de ganância e Edgar acena positivamente com a cabeça saindo do pub para convocar mais pessoas para ajudar seu novo patrão. Enquanto isso, o homem no bar sorri, sorvendo o restante de seu uísque barato.

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Southampton, na fazenda do Visconde de Chanttél, A baronesa de Blackmoore olhava-se pela última vez no espelho. Devido a natureza de sua anfitriã preferiu trazer seus sóbrios vestidos de luto, pelo menos desta vez. Sabia que a Viscondessa não a via com bons olhos, ao menos não iria dar vazão a qualquer especulação sobre seu modo de vestir enquanto estivesse ali hospedada.

Seria uma recatada viúva, simples assim. Acabou de ajeitar os cabelos ruivos em um coque simples e decidiu usar a única peça para quebrar um pouco a cor triste do luto. Uma gargantilha com um pingente em forma de dragão, dado de presente pelo seu falecido marido poucas semanas antes de morrer.

Era um presente que ela tinha muito apreço. Sempre admirou a cultura oriental, principalmente os mitos sobre dragões. Achou o presente que seu marido havia encomendado da China muito criativo. Tocou a pequena peça dourada e sorriu, deixando o quarto. Não queria atrasar o jantar na primeira noite na fazenda, seria rude.

Ao sair do quarto, deparou-se com outro convidado que também acabava de sair de seus aposentos, na outra extremidade do corredor. Era Saga, usando um elegante terno cujo corte apenas favorecia seu porte. Parecia mais alto, mais intimidador, pensou.

Julie tratou de apressar os passos, chegar a escada primeiro e evitar qualquer contato ou conversa com aquele homem. Queria evitar discussões que pudessem gerar qualquer escândalo. Mas aparentemente ele teve a mesma idéia, mas com intenções diferentes ao se colocar entre ela e a escada que levava ao andar inferior.

–Com licença, senhor!-ela pediu evitando olhar diretamente para ele.

–Voltou a usar o luto.-ele comentou.-Sinceramente preferia que usasse roupas mais alegres.

–Não quero constranger a minha anfitriã.

–Aquela senhora empertigada? Creio que ela não está interessada no que veste, madame.-ele colocou o braço diante dela, impedindo sua passagem.-Está interessada em fazer uma de suas meninas se tornar a noiva do neto. Não é uma idéia ruim.

–Eu já imaginava que era esta a intenção.-ela ergueu o olhar em desafio.-Acho que farei de tudo para que lorde Kamus veja Amanda com outros olhos.

–Está empurrando sua enteada para o Visconde? Que feio!-disse com falso ar de espanto.

–Poderia me deixar passar, “milorde”?

–Ainda não.-ele fechou os olhos, e quando os reabriu a fitou intensamente, fazendo a baronesa estremecer levemente.-Queria pedir perdão por meu comportamento esta manhã. Fui rude.

A baronesa piscou várias vezes, como se não acreditasse no que ele estava falando. Seria algum truque para minar suas defesas? Não, ela pode perceber isso claramente em seus olhos. O que ele estaria pretendendo realmente?

–Desculpas aceitas.-ela respondeu.-Agora, me permita passar?

–Vejo que não acredita em minhas palavras, senhora.-ele lhe diz, descendo a sua frente na escada.-Bem, ninguém pode dizer que não tentei ser polido com minha declarada inimiga.

–O senhor não vai me fazer perder a compostura!-ela o avisou, ficando rubra, mas de raiva.

–Talvez, quando voltarmos a Londres.-ele falou por sobre o ombro exibindo um belo sorriso.-Eu possa tirar essa expressão séria de seu rosto, milady. Acredito que precisa exatamente de um novo marido.

–N-Não diga bobagens!-ficando mais rubra ainda.

Saga voltou a descer as escadas, dando-lhe as costas. Julie o maldisse, quem ele pensava que era. Não queria um marido, seja ele quem fosse. Não importasse se fosse atraente, que tivesse títulos, ou...Foi quando ela avistou suas rígidas nádegas masculinas, em seguida os ombros largos do homem que se afastava dela.

Umedeceu os lábios e depois balançou a cabeça furiosamente de um lado para o outro, colocando as mãos nas faces em fogo. O que estava pensando? Ele não a faria cair em tentação de novo. Não. Nunca mais!

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Enquanto isso, na estrada que liga Londres a Southampton.

–Uááá!!!-Afrodite bocejou muito cansado.-Quando tempo até chegarmos em nosso destino?

–Acho que umas duas horas...ou mais.

–Desisto. Vamos pernoitar em alguma estalagem.

–Não. Mesmo que cheguemos de madrugada prefiro continuar.-insistiu Aldebaran.

A carruagem passa por um buraco, solavanco por causa da estrada ruim e...

–Aaiii...-uma voz fina chama a atenção de ambos.

–Sammus, pare a carruagem!-ordenou Afrodite.-SAMMUS!

O idoso condutor demorou a ouvir o comando, devido a surdez. Mas quando percebeu os gritos de um dos lordes, parou. Neste instante Aldebaran desceu rapidamente e subiu na parte traseira da carruagem erguendo o manto que cobria as malas, revelando Agatha encolhida entre os baús.

–A-A-Senhorita Hazelmore!?!

–O-oi.-disse timidamente, tentando se proteger do vento frio da noite.

–Que? Uma garota?-Afrodite ficou surpreso, erguendo a lanterna que o condutor utilizava.

Aldebaran a ajuda a descer facilmente pegando-a pela cintura soltando-a apenas quando ela colocou os pés no chão.

–Oh, Céus...-suspira Afrodite, colocando a mão na testa.

–O que faz aqui? Escondida?-Aldebaran não acredita no que ela tinha feito. Depois puxou a lanterna da mão de Afrodite para iluminar melhor o rosto dela e notou pequenas escoriações em sua pele alva mostrando que a viagem incômoda teve conseqüências.

–D-desculpe-e milorde mas, eu agi por medo!-ela dizia retorcendo as mãos nervosa.

–Medo? De que?

–De minha tia.-Aldebaran lembrou da velha bruxa que os atendeu.-Ela queria me casar a força com um homem horrível! Eu nem pensei quando me escondi aqui. Eu só queria fugir!

–Se casar? A força? Eu não permitirei isso!

–Aldebaran...-chamava Afrodite.

–O que?

–Vem aqui, vamos conversar!-ele puxava o amigo e depois virou-se para Aghata com um sorriso amistoso.-Por favor, entre na carruagem. Está frio aqui fora. Tem uma alforje com pães, deve estar faminta. Tem água também.

Aghata agradeceu e entrou na carruagem suspirando, enquanto isso Afrodite arrastava o amigo a uma pequena distância dali.

–O que houve?

–O QUE HOUVE?-Afrodite quase gritou mas recompôs a postura.-Uma donzela, uma dama fugiu de casa. Conosco!

–Bem?

–Acontece que podem achar que NÓS a sequestramos!-ele olhou para a carruagem.-Que escândalo vai ser! A reputação dela e a nossa podem ser arruinadas!

–Eu não pensei nisso.

–Você nunca pensa!-Afrodite suspirou.-Teremos que levá-la e convencer a Viscondessa a colocá-la sob sua guarda e assim garantir que a reputação dessa menina não caia na lama.

–Kamus não nos negaria sua ajuda.-afirmou Aldebaran.-E não estou disposto a permitir que ela volte para aquela bruxa horrorosa!

–Aldebaran, não devemos nos intrometer em assuntos de família! O que esta garota representa para você para falar assim?

–Ela é a minha fada!

Aldebaran responde dando um sorriso, voltando para a carruagem, deixando Afrodite boquiaberto para trás.

–Eu não mereço isso.-suspirou, mas depois lembrou-se que até mesmo ele agira com impulsividade para proteger uma dama em apuros. E até hoje colhe o resultado de seus atos, não conseguindo esquecer sua querida “Bela”.

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Southampton.

–Annely?-Luna chamou a irmã assim que entrou no quarto.-Tudo bem com você?

–Estou bem.-respondeu a mais velha, sentada no umbral da janela admirando a vista da lua.-Por que pergunta?

–Mal tocou no jantar.-a irmã senta próxima a ela, puxando uma cadeira.-Que noite linda!

–Hmhm...-Annely suspirou.

–Irmã...bem...posso te perguntar uma coisa, mas por favor, não fique furiosa comigo, apenas me responda?-Luna pergunta sem graça.

Annely a olha de lado desconfiada, mas concorda com um aceno de cabeça.

–Você ainda o ama. Por que não tenta fazer as pazes com o Visconde?

Annely suspira e Luna recua com medo, achando que a irmã mais velha iria brigar com ela, mas a mais velha apenas a olha sem alterar o semblante entristecido.

–Eu não fiz nada de errado, Luna. Ele me acusou injustamente, me abandonou, me deixou enfrentando sozinha as más línguas desta cidade. Agora ele volta e age como se nada tivesse ocorrido? Como se ainda tivesse direitos sobre mim? E pior!-ela fita Luna.-Nem me pediu perdão! Não sou eu que tenho que mudar, Luna. É ele!

Luna suspira, tendo que admitir que a irmã tinha razão. Mas não iria admitir que este orgulho que dominava sua irmã e o homem que amava os impedissem de ser felizes, inclusive ela! Afinal, somente quando a irmã se acertasse com o Visconde ela poderia ter a benção do pai para ser cortejada pelo senhor Milo.

Levantou-se de repente, saindo do quarto. Annely imaginou que ela finalmente havia entendido seus sentimentos e a deixaria em paz, voltando a observar a lua.

–Se eu te conheço bem, deve estar na varanda olhando esta mesma lua.-murmurou.


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Na varanda da Fazenda, após o jantar que transcorreu com muita tranquilidade. Kamus observava a lua tendo uma taça de brandy nas mãos. Os convidados estavam na sala ao lado, entretidos com Lucy que tocava piano, e apesar da atmosfera de alegria, Kamus não desejava compartilhá-la.

–E como foi? Nenhuma das meninas atraiu a atenção dele?-perguntou a Viscondessa.

–Não. Mas notei que alguns dos amigos de seu neto tem interesses por algumas Dawes.-apontou Adam ao grupo com o olhar.

Aioros parecia estar sofrendo algum interrogatório por parte de Melissa, enquanto Tathiane estava sentada próxima a Aiolia rubra de vergonha. Kanon e Amanda não conseguiam desviar o olhar um do outro, apesar de o mordomo da baronesa ficar propositalmente entre eles, atrapalhando a visão de ambos.

Giovanni havia se aproximado de uma das damas, e o reverendo notou que a dama o hostilizou, até mesmo derramando “sem querer” a torta de morangos em sua roupas. O idoso disfarçou um riso diante da cena. Curiosamente reparou que o espanhol também não tirava os olhos da dama de companhia da baronesa, e tentou algumas vezes conversar com ela, mas parecia perder a coragem ao se aproximar.

Malloren também notou uma atmosfera tensa entre a baronesa e o outro grego, pareciam querer evitar contato, mas vez o outro o olhar de um era atraído por outro, bem como algumas das jovens mantinham olhares perdidos e apaixonados.

–Muitos aqui precisam do meu toque para uni-los.-pensou algo, coçando o queixo.-Vai ser interessante.

–O que disse, meu amigo?

–Eu disse, minha cara Viscondessa.-ele disfarçou pegando um brandy.-Posso convidar as moçoilas da cidade para o baile? Inclusive as senhoritas Hopkins?

–Pode sim.-a Viscondessa suspirou vencida.

Continua....


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