Crona acordou em meio a um paraíso de tecidos de tons de cinza, preto e branco, em várias texturas agradáveis. Jogados na cama de modo á acomoda-la como em um ninho, ela tentou se levantar, sentindo a boa sensação dos lençóis roçando na sua pele, e o calor que emanavam só não era maior em sua pele fria, pois os cabelos molhados empaparam o travesseiro, e o lugar que estava deitada também estava tão úmido quanto. Como se ainda estivesse sonhando, sentia o cheiro de um incenso no ar. Ao olhar pra frente, e analisar o quarto, percebe que não era um lugar singelo, pelo contrário. Riqueza de informações, detalhes trabalhados e Crona quase podia sentir o cansaço da pessoa que organiza o mesmo.

– Espero que tenha se recuperado do susto...

Ela pulou no lugar ao ouvir uma voz feminina. Se virou, e viu uma mulher alta a olhando com carinho. Parecia ter uns 17 anos. Tinha longos cabelos louros, e o brilho dos olhos azuis indicava que sentia afeto por Crona sem nem mesmo conhecê-la. Ela chegou perto devagar, um pé na frente do outro, meio apreensiva.

– Tudo bem... ?

– O-Onde estou? Q-Quem é você?

Um sorriso se espalhou na face da moça, e isso seduziu Crona a aceita-la como uma pessoa boa ainda mais. Ela se sentou na cama, e, com a voz paciente e em tom explicativo, começou a contar a situação de uma maneira que não deixasse Crona perturbada ou triste.

- Bem... Kid, meu primo, te encontrou na rua em um estado de choque, ou algo assim... Parece que ele te conheceu em um desses passeios que ele vai pra fugir do stress... Você sabe o número da sua casa, Crona? Poderíamos chamar alguém responsável por você pra te buscar... A propósito, sou Liz.

- N-Não... S-Sim.. Quer dizer... Não tenho responsáveis por mim. Não tenho família, não tenho pra onde ir... T-Tudo... S-Sumiu.

Lágrimas desceram involuntariamente pelos seus olhos. Ela afundou a cabeça entre os joelhos, já não querendo olhar nos olhos azuis da moça bonita, culpada por mentir. Mas já não podia dizer que Medusa a abandonara.. Ela mesma não acreditava. E, seu lado que acreditava, dizia que não seria bom se procurassem por ela. Algo dizia que o sangue em sua casa não era um bom sinal. Isso era o melhor a ser feito, para proteger a sua frágil mente.

– Então... Quer ficar conosco? Quer dizer, temporariamente... Até que a parte problemática seja resolvida?

A voz doce soava de novo pelo quarto, carregada de bom senso. Confusa, Crona levantou a cabeça, olhando para a moça mais velha. Ela tentou controlar os soluços, enquanto perguntava.

– P-Por que? Porque por mim? Q-Que parte?

–  ... Porque Kid tem apreço por você. Eu realmente não conheço os motivos dele, mas... Ele nunca teve alguém pra se preocupar realmente. Algum sentimento forte o bastante que o motivasse a ter uma vida além de ser Shinigami... Mesmo com todas as tentativas... Eu nunca consegui ver o olhar preocupado que ele mostrou para você. Nunca consegui fazer com que ele mostrasse a aflição que sentiu quando te carregou nos braços por aquela porta... E se você conseguiu... Eu vou cuidar pra que isso continue. Você não entenderia o que eu digo, mas, apenas fique conosco durante um tempo.. Você poderia?

A moça bonita tinha razão. Crona não entendeu coisa alguma do que ela havia dito... Mas não era nescessário. A dedicação de uma vida ecoava nas palavras, a afeição de uma prima com um amor mais que fraternal escondido dentro do peito, sem nenhuma intenção de sair. Crona entendeu que, por mais que sofresse, Liz seria uma amante afastada. Alguém que cuida de longe. Uma garota enamorada que ataca a noite para ver os resultados no dia seguinte sem levar o crédito.

Apenas assentindo, Crona aceitou a situação sem mais comentários.

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