Um Novo Rumo escrita por Arthemisys


Capítulo 3
Alguns enganos


Notas iniciais do capítulo

Os Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya) não pertencem a minha pessoa, mas são propriedade de Masami Kurumada.

As marcas “National Geographic” e “Greenpeace” pertencem as suas devidas associações.



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Um novo rumo

 

Capítulo 3

 

“Alguns enganos”

 

 

Durante toda a manhã, as palavras que Saori proferira na noite anterior continuavam a girar na cabeça de Ikki.  Na tentativa de esquecer de tudo aquilo que para ele não passava de uma “grande besteira”, vai até a escrivaninha que fica ao lado de sua cama e tenta estudar um pouco. Antes de abrir um livro de introdução à algoritmos1, vê um pequeno pedaço de papel amarelo colado no monitor do seu computador.  É um recado de Shun:

 

“Desculpe não poder te avisar pessoalmente, mas fui chamado para fotografar uma matéria que a revista vai fazer sobre o Monte Fuji. Na quarta-feira já estarei de volta. Abraços, Shun. ”

 

Nesse momento, Ikki não conseguiu esconder o orgulho que sentia pelo irmão mais novo. Depois da batalha que travaram contra Hades, Shun conseguiu amadurecer de uma forma  tão rápida, que até mesmo os próprios companheiros se espantavam. Além da maturidade adquirida, seu semblante ganhou um ar mais divertido, bem diferente do olhar melancólico que carregava quase que diariamente durante os tempos de batalha. Com toda certeza, o seu irmão havia crescido...

 

Novamente, tentou abrir o livro, mas outra coisa chamou a sua atenção de forma involuntária.  O diário da colegial.  Por um milésimo de segundo, um pensamento que em nada combinava com a personalidade de Ikki pareceu tentar-lhe de forma feroz: Ver o que estava escrito naquele diário.

 

-         Eu estou ficando louco mesmo!  Como pode passar pela minha cabeça a idéia de ler este diário! 

 

Levanta-se com o diário na mão e caminha em direção à lixeira da cozinha.

 

-         Muito bem, vamos acabar com tudo isso de uma vez por todas!

 

Mas antes que jogasse o diário na cesta de lixo, algo cai de dentro do livro.  Quando o cavaleiro olha para ver o que caiu, sente as suas pernas fraquejarem a tal ponto que ele cai de joelhos perante  o objeto: Uma foto.

 

-         ... Não pode ser...  É impossível...

 

Na foto, Sakura está vestida com um macacão jeans e com os cabelos presos em uma única trança.  Está abraçada com uma mulher de beleza ímpar, também parecida com Sakura.  Deu-se a entender que se tratava da mãe de Sakura.  Cabelos castanho-claro lisos, cortados em camadas na altura dos ombros, pele alva, olhos verde-musgo.  Ela também está sorrindo, mas é um sorriso melancólico.  Expressão de alguém que sofre por algum fato que saiu errado no passado. 

 

Ikki respira fundo e retoma novamente o seu ar frio de costume.  Desiste de jogar o diário fora, pega a foto e coloca dentro do diário novamente.

 

-         Acho que dessa vez a Saori tem razão...

 

***

 

Três dias depois...

 

***

 

Aquela manhã prometia ser tranqüila.  Em sua casa, Isao Takeda, um homem de quarenta e cinco anos, folheia o jornal do dia enquanto toma o seu café, sem nenhuma companhia a mais. 

 

-         Eu nem acredito que estou tomando café e lendo meu jornal preferido como qualquer ser humano! – Dizia ele em voz alta e satisfeita.  Afinal, faziam cinco anos desde a última vez que ele tinha tirado férias do trabalho.  Mas antes que pudesse terminar o seu lanche matinal, a campanhia toca.

 

-         Kami, Kami!!! Quem será que está perturbando a uma hora dessas!...  Já vai!!!

 

Isao sai bufando até a saída da casa e quando abre o portão para ver quem é.

 

-         Se for para vender tralhas e cacarecos quaisquer, eu vou logo avisando que...

 

-         O senhor se chama Isao Takeda? – Interceptou o outro.

 

-         ...S-sim... – Respondeu, um pouco confuso com a pergunta feita pelo outro.

 

-         Eu me chamo Ikki Amamiya e vim entregar o diário que a sua filha perdeu.

 

Repentinamente, as feições de Takeda mudaram. 

 

-         V-veio entregar... o diário da Sakura-chan?  Por Kami!  Por favor entre!  Sinta-se a vontade, senhor...

 

-         Amamiya.

 

-         Isso!  Por favor entre, Amamiya-san!

 

***

 

Cerca de quinze minutos depois...

 

***

 

-         Então você cursa Ciências da Computação na Toudai2, Ikki?!  Realmente inteligência é um adjetivo que você possui de sobra!

 

-         Por favor...  Apenas estudo medianamente.  Qualquer pessoa com o ginasial3 pode entrar na Toudai.

 

-         É mesmo?  Então você ainda não entrou em nenhum cursinho de pré-vestibular, meu rapaz!  No cursinho que eu ensino por exemplo, as salas de aula não estão tendo mais capacidade de comportar todos os alunos que querem entrar na Universidade de Tóquio!  É um verdadeiro Pan-demônio..ahahahaha!!!

 

-         Então o senhor é professor de cursinho...

 

-         E também presto serviços como técnico em impressora para uma empresa de Telemarketing!

 

-         Não acha que o senhor trabalha demais? Ahahahah! – Indagou Ikki, divertido com toda a simpatia vinda de Isao. 

 

-         Trabalho nunca é demais, meu jovem!  Na idade que eu estou, tenho mais é que colocar a minha mente para funcionar em coisas úteis, senão você sabe como é!  “Mente vazia é morada para o Diabo ”.  Assim dizia a minha falecida mãe!

 

-         Meu irmão costuma dizer esse mesmo ditado quando eu digo para ele levar a vida numa boa!

 

-         Então você tem um irmão?

 

-         Sim.  É mais novo do que eu três anos.

 

-         Também estuda na Toudai?

 

-         Não.  Ele é fotografo da revista National Geographic.  Alias, deve estar chegando hoje de uma matéria que fotografou no Monte Fuji.

 

-         É mesmo?!  Seus pais devem sentir muito orgulho de terem gerado dois prodígios como vocês!  Se fosse eu o pai de vocês, ficaria orgulhoso pelo o resto da minha vida!

 

-         ... Nós somos órfãos...

 

-         Como é que é? – Perguntou um pasmado Isao.

 

-         Sim.  Eu tinha três anos quando perdi a minha mãe.  Ela morreu quando deu à luz ao meu irmão.   

 

-         E o pai de vocês?

 

Ikki ficou um pouco incomodado com a pergunta de Isao.  Afinal, ele nunca tinha conversado sobre o seu passado com um estranho.  Mesmo que aquele homem conversasse com toda sinceridade, para o cavaleiro, ele ainda não passava de um estranho.  Porém...

 

-         Eu só conheci a minha verdadeira origem paterna quando tinha oito anos.  Mas nessa época acabei “viajando” para fora do país e quando voltei, descobri que ele tinha morrido com problemas de coração.

 

-         É uma grande pena...  Sinto muito por você e pelo seu irmão, Amamiya-san.

 

-         Não é necessário sentir nada... – respondeu friamente o cavaleiro. 

 

-         Hum...  Mudando um pouco de assunto... – Isao tentava contornar o clima desagradável que aquela conversa estava gerando - A minha filha com certeza iria gostar muito de conhecer o seu irmão... 

 

-         Tem certeza? – Ikki então se lembra do rosto da garota e do escândalo que ela fez por causa da sua latinha de refrigerante.  Agora toda vez que se lembra da cena, sente uma vontade muito grande de rir do mico que ela fez ele pagar naquele dia no metrô.

 

-         Bom...  É que ela faz parte do projeto Greenpeace.  E é uma grande ativista...  Bem, como dizer...  Ela é bem frívola quando o assunto é a natureza.  Ela costuma dizer em seus acessos de raiva, que daria a vida pelo planeta e pelas pessoas que vivem nela.

 

-         Eu conheço bem esse discurso...

 

-         O que quis dizer? – Perguntou Isao.

 

-         Nada não!  Deixa para lá! – Retrucou Ikki que olha para o seu relógio.

 

-         Bem, eu preciso ir agora ou senão chegarei atrasado para a segunda aula.  Foi um prazer conhece-lo senhor Isao.

 

-         Mas já?  Está bem.  O prazer foi todo meu!  Mas onegai, prometa que virá algum dia para que nós possamos tomar um bom saquê de Hokkaido e conversarmos mais a vontade!

 

-         Não posso prometer...

 

-         Se achar conveniente, venha jantar conosco na véspera do Natal! – Takeda ignora completamente a negativa de Ikki e continua - Pode trazer o seu irmão também!  A minha esposa vai preparar um maravilhoso peru! 

 

-         Mas...

 

-         É uma ordem! – Diz Isao com um ar bastante feliz e sereno – Com certeza, a minha mulher vai gostar muito de conhecer vocês!  Afinal, a minha esposa também tem o mesmo sobrenome de vocês!  Quem sabe, vocês podem até serem parentes distantes!

 

-         Assim decidido... – Ikki desiste de qualquer desculpa – Até a véspera do Natal.

 

-         Até, Ikki! Muito obrigado por trazer de volta o diário da Sakura!  Ela vai ficar muito feliz e agradecida pelo seu gesto!

 

“E eu vou ficar aliviado” – pensou Ikki que respondeu a Isao com um sorriso.

 

-         Ah!  E vê se não comete mais travessuras até lá!

 

-         ????

 

-         Ahahaha!!!  É que eu notei  que você tem bastante cicatrizes e a maior é essa aí  no seu rosto!  Imagino que tenha sido muito travesso na infância!

 

“Se ele soubesse...”

 

-         Espero nunca mais precisar praticar “travessuras” que venham a me causar cicatrizes como essa, Takeda-sama.

 

-         Como foi que você disse? – Agora foi Isao que não entendeu.

 

-         Nada importante... – “Para o senhor, é claro”  - Adeus.

 

-         Adeus, não!  Até logo!  A minha esposa detesta essa palavra “adeus”.

 

-         Então, até logo Takeda-sama.

 

Ikki saiu da residência dos Takeda-Amamiya em direção à estação de metrô.  No caminho, ficou meditando acerca das últimas frases proferidas durante aquela conversa.

 

“O mesmo sobrenome...  Não!  Isso não passa de uma enorme coincidência!  Porém...  Particularmente, eu também não gosto da palavra adeus...  Mas com os riscos que eu corri durante todos estes anos, acabo dizendo adeus involuntariamente, como se eu estivesse prestes a morrer a qualquer momento...  Mas aquele homem pensar que a minha cicatriz foi causada por uma travessura de criança?!  Pff!  Realmente as pessoas consideradas normais não tem a menor noção da verdadeira realidade que as cercam...”

 

***

 

Algumas horas depois...

 

***

 

-         Papai!!!  Cheguei!

 

-         Com esses gritos, nem precisa dizer que chegou, Sakura-chan.

 

A garota se aproxima do pai e lhe dá um abraço. 

 

-         Cadê a mamãe?

 

-         Para variar, ela avisou que vai chegar tarde hoje...  Hum...  Não sei o porquê dessa idéia de sua mãe querer trabalhar...  Eu posso dar conta do recado sozinho.

 

-         Ah!  Deixa de ser chato, pai!  Se ela quer trabalhar, é porque ela não gosta de depender do senhor e eu acho isso muito certo!  Essa época de mulher precisar do dinheiro do marido acabou a séculos, viu?  Eu também não vou depender de homem nenhum, jamais!

 

-         Falou Ártemis...

 

-         Falou quem?

 

-         Ártemis.  Uma deusa grega que não gostava muito de homens...  Digo, uma deusa com ideais bem feministas.  Era considerada a deusa da caça, senhora da lua e dos mistérios noturnos...

 

-         Ah, papai... – a jovem mal prestara atenção na explicação dada pelo pai, pois estava revirando a mochila como se estivesse procurando algo – O senhor não viu  o meu diário por aí?

 

-         Seu diário? – Isao dá uma olhada por cima da armação de seus óculos para a filha.

 

-         Hein, o senhor não viu?

 

-         Você sentiu falta do seu diário desde quando?

 

-         Desde ontem, mas é que com os preparatórios para o manifesto que vai se realizar nos próximos dias, eu não tive tempo para procurar.

 

-         Não Sakura, eu não vi o seu diário.

 

-         Meu Deus!!! – Sakura bate com a mão na testa como se lembrasse de tudo – Deve ter caído naquele dia do metrô!

 

-         Dia do metrô?

 

-         Sim! – sua feição mostra um leve desespero – Talvez aquele cara pegou o diário – agora realmente desesperada – e deve ter lido tudo!!!  Eu tenho que descobrir onde aquele sujeito mora senão eu vou...

 

-         Está aqui, Sakura-chan – ele estende o diário que estava escondido atrás dele - e não se preocupe.  Aquele rapaz não tem cara de quem lê diários alheios.

 

-         Meu diário!!! – a garota pula em direção do pai e pega o diário como se tivesse reencontrado um filho perdido – Graças a Deus!!!

 

-         E a Ikki.

 

-         Quem?

 

-         Ao rapaz que veio até aqui e entregou o seu diário.  Uma pessoa muito cordial, por sinal.

 

-         Como é o jeito dele? – Sakura não queria acreditar.

 

-         Feições de estrangeiro, possui uma cicatriz na altura da testa e é estudante da Toudai... – Isao olha à filha e joga uma leve brincadeira – se eu fosse uma mulher, com certeza eu teria me apaixonado por ele...

 

-         Papai?! – Sakura põe as mãos na cintura, incrédula com a “revelação” feita por Isao.

 

-         Ahahahaha!  É lógico que é brincadeira, Sakura!  Não vai me dizer que desconfiou do seu próprio pai!

 

-         Do jeito como as coisas andam hoje em dia...  Eu desconfiei sim!

 

-         Como é Sakura?!

 

-         Devolvi a brincadeira, ahahaha!!!

 

A garota sai correndo em direção ao seu quarto.  Fecha a porta e fica encostada a ela com o diário entre os seus braços enquanto pensa.

 

“Eu não posso acreditar que ele veio até aqui só para devolver o meu diário...  Será que eu o julguei mal?  Bem, de todo o jeito, a Tomoko tem um pouco de razão nisso tudo...”

 

Ela então caminha até a escrivaninha, senta e começa a escrever em seu diário:

 

“Bem... tenho que admitir...  Hoje reconheci que julguei mal uma pessoa que parece não ser tão ruim assim.  Tudo começou quando a Tomoko e eu pegamos o metrô e demos de cara com um sujeito que ia começar a beber uma lata horrível de coca...”

 

***

 

Alguns dias depois...

 

***

 

-         Um brinde pela grande e boa notícia que o Shiryu nos deu!!!

 

Todos os cavaleiros incluindo Jabu e seus companheiros, estavam reunidos na mansão da família Kido em um jantar para comemorar uma bela e inesperada notícia...

 

-         Esperem pessoal!  Na realidade, quem deve merecer o brinde é a Shunrei!  Se não fosse ela, eu não estava dizendo para vocês agora que brevemente vou ser pai!  Ahahah! – Fala o cavaleiro de Dragão abraçado com a sua pequena e tímida esposa Shunrei.

 

-         Ah!  Deixa isso pra lá ô Shiryu!  No final das contas, “a ordem dos tratores não altera o viaduto”, já dizia o filósofo!

 

-         Só se for o filósofo da sua família Seiya!!! – Esbraveja Jabu.

 

-         Hum...  Ora seu...

 

-         Já vão começar de novo?!

 

Saori reclama, mas se vira para o casal homenageado e fala:

 

-    Shiryu e Shunrei.  Em nome de todos eu quero parabenizar pelo fruto do amor de vocês.  Que essa criança que estar por vir seja abençoada por Deus e que se torne uma pessoa meiga como a Shunrei e equilibrada como o Shiryu.

 

-         Muito obrigado, Saori – respondeu Shiryu.

 

-         Muito obrigada por abençoar o nosso filho, deusa Athena. – Fala Shunrei.

 

-         Saori.  Para meus amigos, sou apenas Saori. – sorri a deusa.

 

-         Estou muito feliz por você maninho! – Shun que havia chegado junto com Ikki no instante em que Saori estava discursando dá um forte e caloroso abraço no meio-irmão.

 

-         Muito obrigado Shun...  Mas espere um pouco! – Shiryu começa a reparar na fisionomia de Shun – É impressão minha, ou você cresceu dez centímetros desde a última vez que a gente tinha se visto!?  E também está mais forte...  Contra pra nós, o que está acontecendo?

 

-         Deve ser impressão sua! – fala um envergonhado Andrômeda – Apenas estou trabalhando muito!

 

-         E você Ikki, não vem me dar um abraço??? – Shiryu brinca, mas já tendo quase certeza da resposta que levaria.

 

-         E desde quando eu sou de abraçar homens!?

 

Nesse momento, todos não conseguiram deter um grande acesso de riso diante da resposta dada por Ikki.

 

-         Todos mudaram, mas você continua com a  mesma “simpatia”... – resmunga Hyoga.

 

Ikki ignora a indireta de Hyoga e continua.

 

-         A única coisa que me fez vim até aqui foi dar os parabéns para você e a Shunrei.

 

-         Também virmos para trazer uma lembrança. – fala Shun, que estende em direção ao casal, um pequeno pacote.

 

-         Mas não precisava! – fala Shiryu que abre a embalagem junto com Shunrei. – Mas é lindo! – clama Shunrei.

 

O presente é um pequeno medalhão em ouro, no formato de uma estrela.  No centro do pingente, estava escrito em aramaico e grego:  De Deus para sempre.

 

Jabu que até o momento estava apenas observando a cena, se dirige a Shun.

 

-         Então quer dizer que agora Hades quer que o seu próximo “eleito” seja o filho do Shiryu?

 

Todos os olhares se voltam para o Unicórnio.

 

-         Por que está dizendo essa grande besteira, Jabu? – pergunta Seiya.

 

-         Não estão vendo?  Esse medalhão é idêntico ao que o Shun usava antes da batalha contra Hades!  Ele usava isto antes que todo mundo descobrisse que ele é a reencarnação de Hades.

 

-         Já chega Jabu!!! – Exclamou Ikki que já estava preparando o punho em direção a ele – Agora você vai engolir tudo o que disse de uma forma bem dolorosa!

 

-         Pensa que eu tenho medo de você, Fênix?  Tá na cara que o Shun foi e sempre será um inimigo em potencial!  Ele é Hades na Terra, esqueceu?!

 

-         Você vai morrer agora! – Ikki já ia desferir um grande soco na face de Jabu, quando é interrompido por Shun.

 

-         Qual é Shun!?  Esse imbecil está  falando um monte de asneiras e você não quer que eu reaja??

 

-          Aqui não Ikki, por favor... – respondeu Shun - ...mas lá fora.

 

Andrômeda encarou Jabu de uma forma que o próprio Jabu se assustou. 

 

-         Jabu!  Se continuar a falar essas atrocidades, eu serei obrigada a lhe expulsar daqui! – Saori falou de forma bastante enérgica.

 

Ao ouvir as palavras vindas de Athena, o cavaleiro de Unicórnio se calou.  Mas todo o seu rancor em relação a Shun tinha uma explicação.  Ele nunca se conformou com o fato de não ter podido lutar por sua deusa, no momento em que ela mais precisou de ajuda. Também não aceitava a explicação de que Hades escolhera Shun como o seu hospedeiro.  Para o cavaleiro de Unicórnio, a única verdade absoluta é a de que Andrômeda é a reencarnação de Hades, assim como Saori Kido é a reencarnação de Athena.

 

-         Desculpe o transtorno causado senhorita... – Jabu então se vira para Shiryu e Shunrei – desculpe-me Shiryu...  Não foi a minha intenção estragar a alegria de vocês.

 

Jabu se retira do recinto, mas antes lança um último olhar em direção aos irmãos Amamiya.

 

“Os dois ainda vão me pagar pela humilhação que passei!”

 

-         Cara chato! – analisa Seiya.

 

-     Pelo visto ele ainda tá com aquela piração de que o Shun é a reencarnação de Hades! – proclama Nachi.

 

-         Deixa pra lá, ele nunca vai mudar mesmo. – fala Ichi.

 

-         Bem...  Muito obrigada pelo presente Shun.  Não precisava. – Shunrei tenta quebrar o ar pesado que pairava sobre o ambiente.

 

-         Esse medalhão vai proteger seu filho para que nenhum mal aconteça a ele – Shun tira então de dentro da camisa um medalhão idêntico e continua – desde a nossa última batalha, eu carrego esse medalhão junto a mim sempre.

 

-         E de onde você conseguiu esses medalhões, Andrômeda? – indaga Geki, o cavaleiro de Urso.

 

-         Quando eu comecei a trabalhar para a National, uma das primeiras matérias que tive de fotografar foi a descoberta de algumas ruínas de um antigo templo cristão na região que compreende o Mar Morto em Israel.  Enquanto eu fotografava o local, algo começou a me chamar atenção.  Era um pequeno brilho dourado que vinha da parede de uma ruína.  Quando me aproximei, vi que na realidade se tratava desse medalhão.  Ele estava grudado na parede.  Quando retirei, senti uma cosmo-energia...  Não!  Era muito mais poderoso!  Senti que era “abraçado” por essa poderosa sensação!  Foi a partir daí que eu percebi... – seus olhos começam a brilhar por causa das lágrimas que começam a se formar – que eu não era o culpado por tudo o que tinha acontecido durante a guerra contra “O Invisível”4.  Percebi que apesar de todos os meus pecados, Deus nunca me abandonou e sempre ficou velando por mim em todos os momentos da minha vida...  A maior prova do amor Dele por mim, foi esse achado.  Está escrito “De Deus para sempre”, o que significa dizer que eu não sou e nem nunca fui o eleito de Hades.  Eu sou o eleito de Deus...  Sou um filho de Deus!

 

Quando terminou de relatar o ocorrido, todos estavam boquiabertos com o que terminaram de escutar.

 

-         Então foi por isso que você se tornou cristão, Shun? – perguntou Hyoga.

 

-         Exatamente, Cisne. – respondeu Shun.

 

-         Mas...  E esse medalhão que você nos deu? – indagou Shiryu.

 

-         Esse é uma cópia, mas foi banhado no rio Jordão.  Foi nesse rio que Jesus Cristo foi batizado!  Os israelitas dizem que o Jordão é sagrado e que qualquer objeto ou pessoa que for banhado em tal rio adquire uma proteção divina contra qualquer mal.

 

-         Com certeza é um preciosíssimo presente! – exclama Saori.

 

-         Seremos eternamente gratos, Shun! – disse o Dragão, que dá um caloroso abraço no meio-irmão.

 

-         Mas quando é que vamos jantar mesmo, hein?  O meu estômago não está mais agüentando toda essa pressão! – fala Seiya, que passa a mão na altura do estômago, como se quisesse consola-lo.

 

-         É incrível a capacidade do Seiya só pensar em comida! – examina Ikki – Sua cabeça não funciona para mais nada não?

 

-         Acho que os neurônios dele só funcionam para duas coisas: Comida e Saori Kido! – Hyoga chacoteia.

 

-         O que foi que você disse ô “emplumado”?! – Seiya com o rosto rubro de vergonha e raiva.

 

-         Como foi que me chamou? – ira-se Hyoga.

 

-         Eu te chamei de...

 

-         Já chegaaaaaa!

 

O grito de Saori foi tão forte que os dois cavaleiros tiveram o tamanho reduzido, como nas cenas clássicas de anime.

 

-         Tá... – os dois falam com as vozes também reduzidas.

 

Involuntariamente, todos começam a rir da bizarra cena e se retiraram para a sala de jantar.

 

***

 

Durante o jantar...

 

***

 

-         E aí, Ikki, entregou o diário da menina? – pergunta Seiya ainda com a boca cheia de comida.

 

-         Entreguei.

 

-         Que diário? – indaga Shun.

 

-         Foi um diário que uma colegial esqueceu no banco do metrô.  Aí eu achei e fui devolver.

 

-         Fico tranqüila em saber disso, Fênix. – fala Saori.

 

-         Ei irmão!  Me conta mais sobre isso... – Shun é interrompido pelo seu celular – com licença, eu já volto!

 

-         Mas quem ligaria pra ele numa hora dessas? – pergunta Hyoga.

 

-         Talvez sejam as gatinhas!!!  Ehehehehe!!! – brinca Seiya que esfrega as mãos como que imaginando algo diabólico.

 

-         Esquece!  Ele só tem olhos para a amazona de Camaleão...  Como é o nome dela mesmo? – pergunta Shiryu.

 

-         É June. – responde Ikki.

 

-         E você Ikki, não tem olhos para ninguém? – pergunta Shiryu.

 

-         Pff!  Eu tenho olhos para coisas mais importantes.  As mulheres é quem devem ter olhos só para mim. – responde com o ar sarcástico de costume.

 

-         Mas é muita exibição para o meu gosto! – Saori lívida de raiva com o despeito de Ikki.

 

-         Exibido, eu? – o cavaleiro se faz de desentendido.

 

-         Nãoooo...  Você é a personificação da modéstia! – Hyoga intercede por Saori.

 

Antes que ele respondesse a Cisne, Shun volta apressado e anuncia:

 

-         Fui chamado para cobrir agora uma manifestação que está acontecendo na Praça Central de Tóquio.  É um protesto de um grupo de ativistas do meio ambiente contra a construção de prédios perto do parque ecológico da cidade e parece que até a polícia já bateu por lá.  Desculpem-me amigos, mas vou ter que sair agora mesmo!

 

Involuntariamente, Ikki pensa na garota.  “Será que ela está lá?”

 

-         Mas já?! – fala Seiya – Mal chegou e já vai sair?

 

-         Ossos do ofício! – responde com um largo sorriso – Até a próxima!

 

***

 

Uma hora depois...

 

***

-         Vamos sair daqui!  O lance esquentou pra valer! – gritava um rapaz de cabelos negros e lisos.

 

-         Nunquinha mesmo!  Eu não fiz nada de errado para ficar fugindo!  Estou fazendo valer os meus direitos como cidadã! – também gritava uma garota de olhos castanhos claros.

 

-         Droga Sakura!  Você é difícil de engolir mesmo!

 

-         Se está com medo, pode ir saindo daqui agora mesmo, Takashi!

 

-         Então tá...  Fui!

 

O rapaz sai correndo em meio a transtornada multidão de manifestantes que começam a reagir, frente ao grande aparato policial.  Do outro lado da praça, outro grande conglomerado de curiosos e repórteres se espremiam para ver o resultado de tudo aquilo.   Sem sombra de dúvida, aquele lugar estava ficando a cada minuto mais perigoso. 

 

Entre a multidão de repórteres que a guarda tenta afastar do local, está Shun que também tenta furar o cerco policial.

 

-         Onde pensa que vai, rapazinho? – pergunta um ranzinza policial vendo que Shun atravessara a faixa de segurança policial.

 

-         Eu sou fotógrafo da Revista National...

 

-         Repórter, também?  Entenda de uma vez por todas!  Aqui não é lugar pra paparazzis! – retruca o guarda que olha para a câmara fotográfica do jovem.

 

-         Mas eu não sou paparazzi!

 

-         Então é o que?  Clark Kent?!  Para o seu bem, fique dentro da linha de segurança ou senão vou ter que prender você agora mesmo!

 

Nesse exato momento um grande som de explosão se faz ouvir dentro da multidão de protestantes. 

 

-         Mas o que é isso?! – o policial se assusta com o barulho e saca um revólver.

 

O cavaleiro aproveita a oportunidade e entra no meio dos manifestantes.

 

***

 

-         ...Aquele covarde... – Sakura fala para si.

 

Ela começa a caminhar entre os protestantes, tentando achar um lugar mais seguro.  De repente, algo voa em sua direção.

 

-         Segura isso aí, gatinha! – diz um homem que joga uma garrafa em direção a adolescente.

 

Não se sabe com que percepção, a garota consegue pegar o objeto no ar e vê que se trata de uma bomba de fabricação caseira.  O popular coquetel “Molotov”.

 

-         Mas o que é...

 

-         Então é você que está lançando bombas, guria?! – esbraveja um policial acompanhado de um enorme pastor alemão.

 

-         Mas que bombas?! – exclama Sakura.

 

-         Está com a prova do crime nas mãos e ainda se faz de santinha?! Pega ela Lex!! – o policial do batalhão de choque lança o cachorro contra a menina mas antes do animal alcançar o seu alvo...

 

-         O que é isso?! – o policial está chocado.  Seu cão cai no chão, totalmente imobilizado por... correntes?

 

Sakura mal tem tempo para se recompor do susto, pois sente que uma mão agarra o seu braço.

 

-         Vem comigo!

 

-         ...Q-quem é v-você?

 

-         Depois explico, vem logo!!

 

***

 

Meia hora depois em uma lanchonete...

 

***

 

-         Quer dizer que você não jogou bombas em ninguém?

 

-         É lógico que não!  Foi um malandro que jogou aquilo pra mim e se eu não tivesse agarrado, com certeza aquele coquetel teria explodido e muita gente teria se ferido, eu juro!

 

-         Você tem reflexos bem aguçados, menina!

 

-         Há!  Que é isso!  Eu apenas tenho algum sentido além dos normais!  Ihihihihh!

 

Os dois conversam tão animadamente que até esqueceram de se apresentarem.

 

-         Ei!  Mas me conta!  Como você conseguiu fazer aquilo?

 

-         Como?

 

-         Não se faça de bobo!  Aquilo com o cachorro!  Ele não morreu, foi?

 

-         Ah...  O cachorro?  Não, ele não morreu, só ficou imobilizado.  E como eu fiz?  Segredo...

 

-         Deixa de ser chato, seu...

 

-         Gatinho? – complementa Shun.

 

-         Além de tudo, é exibido!

 

-         Ahahahah!

 

Sakura começou a rir também.  Há tempos que ela não conversava com alguém tão agradável.  Em tão pouco tempo de conversa, os dois já se sentiam íntimos um do outro.  Como bons irmãos.

 

-         Está bem!  Eu conto o meu “segredo”.  Quando eu estava na multidão tentando tirar alguma foto para a matéria, eu vi um cara jogando aquela bomba em sua direção.  Nesse exato momento, passou por mim aquele policial com o cão.  Aí eu vi que ele começou a lhe ameaçar com o animal e então eu pedi emprestado aquela corrente de um cara que estava do meu lado e foi aí que...

 

-         Você “enrolou” o cão com aquelas correntes?  Difícil de acreditar, viu?

 

-         Por que “difícil”?

 

-         É que você não tem cara de quem possui habilidades marciais...

 

-         E eu tenho cara de que afinal?

 

-         Tem cara de... – ela puxa o crachá do jovem e começa ler – Funcionário: Shun Amamiya... Ei!  Você tem o mesmo sobrenome meu!

 

-         É mesmo?  E como você se chama?

 

-         Sakura Amamiya...  Que mico hein?  A gente nem se apresentou...  Ihihihih!

 

-         Pois é, né? – O rapaz coça a cabeça todo encabulado com o “mico”.

 

-         Hum, continuando – Sakura recomeça a ler o cartão de uma forma toda formal – Função: Fotógrafo...  Espera aí de novo!  Você é fotógrafo da National Geographic!!!  Que maneiro!!!!

 

-         É... – Shun mais encabulado ainda – Fala mais baixo, Sakura...  Toda a lanchonete está te escutando...

 

-         Tá bom, tá bom! – ela abaixa o tom da voz – É que eu não imaginava que você fosse da National... 

 

-         Quem vê cara, não vê coração – ele pega o crachá dela enquanto o garçom trazia o lanche – e pela sua cara também, você não se parece com uma ativista ambiental.

 

-         Hum... – ela percebe então que o rapaz tem algo diferente.

 

-         O que foi, Sakura-chan?

 

-         Onde foi que você conseguiu essa cicatriz de queimadura na sua mão?

 

-         Bem... – ele olha para sua mão e todas aquelas lembranças que o cavaleiro sempre lutou para esquecer vieram a tona.

 

-         E então? – ela volta a perguntar.

 

-         É uma longa história...  História essa que eu...

 

-         Que eu? – Sakura está mais curiosa.

 

-         ... Que eu sempre acabo me esquecendo!  Ahahaha!  Não liga, mas sou um pouco desatento...  – ele tenta a todo custo mudar a atenção da garota.

 

-         Tá certo...

 

-         Mas já não está tarde para uma menina como você ficar na rua, não?

 

-         Tá parecendo com o meu pai!

 

-         Se quiser, eu te levo para casa.

 

-         Bem... – Sakura olha para o relógio e quase cai para trás – Meu Deus!!!  Já são 22:45!  Meus pais vão me matar!!  O.k., eu aceito o seu convite, mas com uma condição!

 

-         Qual é a condição? – pergunta o rapaz.

 

-         Que você possa me mostrar as fotos dos lugares que já foi fotografar!  Eu amo a natureza, é sério!  Vai Shun, promete vai... – Sakura com uma cara de criança que pede aos pais um presente de natal.

 

-         Está certo, eu prometo! – diz o rapaz com um belo sorriso no rosto – E então, vamos?

 

-         Deixa só eu... – a garota procura na sua bolsa a carteira.

 

-         Ei!  Quem vai pagar a conta sou eu! – exclama Shun.

 

-         Não quem paga sou eu! – esbraveja Sakura.

 

-         Mas onde já se viu mulher pagando conta?

 

-         E onde já se viu homem fazendo questão de pagar a conta?!  Que coisa mais machista!

 

-         Vamos parar de discutir.  Eu pago o meu lanche e você paga o seu, o.k.? -  Shun desiste de qualquer insistência com a garota.

 

-         Então tudo bem.  Vamos? – pergunta Sakura.

 

-         Vamos. – responde o rapaz que a acompanha até o carro.

 

Os dois saem em partida para a casa de Sakura.  Com certeza aquela noite fora bem longa para ambos.  No entanto, o laço de amizade dos jovens estava apenas começando.

 

Continua...

 

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1 - Introdução à Algoritmos é uma das matérias estudadas no curso superior de Ciências da Computação.


2 - A Universidade de Tóquio também é conhecida pelos japoneses como Toudai.  É uma das universidades mais disputadas pelos estudantes japoneses e mantém um vestibular anual com duas fases.  A primeira fase consta de uma prova aplicada em todo o país, como o Enem aqui no Brasil.  A segunda fase é aplicada pela própria Toudai.  Para maiores informações, favor consultem o mangá “Love Hina” .  (Explicação didática, não acharam? =D )

3 - Se os meus conhecimentos não me falham, o ginasial japonês eqüivale ao nosso segundo grau, ou ensino médio como é chamado agora.

4 - A etimologia (significado de uma palavra) do nome Hades é “O invisível”.

 


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