Speechless escrita por Vick_Vampire, Jubs Novaes


Capítulo 16
15. Só mais um sábado na vida de Alice Egg Brandon


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me a demora!
Boa Leitura!



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Alice

                Ah, não.

                Era a única coisa que eu conseguia pensar quando a minha ficha caiu, um pouco depois que Jasper foi na direção da cozinha.

                Droga, Jasper! Por que você tinha que me trazer aqui? Aliás, droga Alice, isso sim. Eu, estúpida, não quis ir à casa dos meus tios. Por que, Alice, sua rainha das burras e idiotas?

                Quando vi aquela cascata de cabelos loiro-morango aparecer na fresta aberta da porta da cozinha, eu gelei. Fiquei morrendo de vontade de mover meus pés e sair correndo dali, mas eu sequer conseguia respirar normalmente.

                Inspire, expire, Alice. Ele tem de ficar do lado de Tanya. Afinal, que razão tinha eu por meter Tanya naquilo? Não estava dentro dos planos de Rosalie e Bella, e também não deveria estar nos meus.

                Eu consigo encarar Tan, era o que eu dizia à mim mesma mentalmente. Quem sabe, conseguisse ouvir todos os desaforos que ela tinha para dizer para mim. Quer dizer, sou a menina que sobreviveu no acidente, não é?

                Sou mesmo ainda aquela garota? A mesma que desprezava Jasper, Tanya e qualquer pessoa que estivesse no mesmo “nível” deles? Ou seja, alguém como eu agora?

                Só de pensar nisso, eu mal conseguia suportar a ideia de que, algum dia, eu fora assim. Então, era verdade: Eu estava mudando.

                Então por que tudo que eu merecia quando era má tinha que acontecer agora, quando eu era, bom, boa?

                Respirei fundo, dispersando meus pensamentos. Movi meus pés lentamente, pé ante pé, na direção da cozinha –me aproveitando daquela coragem momentânea, que sabia que logo ia acabar-.

                E essa certeza foi confirmada quando eu empaquei na porta da cozinha, voltando dois pares de olhos para mim.

                Tanya e Jasper abriram a boca lentamente, mas não permiti que Jasper dissesse nada; fui até ele e tampei sua boca com a minha mão esquerda. Com a outra, puxei a caneta do meu bolso e escrevi no meu braço –uma vez que toda a minha mão estava cheia de rabiscos-:

                “Pode Criticar.”.

                Pisquei os olhos por um segundo, esperando que Tanya terminasse de ler. Ela respirou profundamente e voltou o olhar de censura para mim, como se arquitetasse todo um discurso para mim.

                -Sabe o quanto essa sua atitude egoísta me prejudicou?-começou, e eu assenti, sem tirar os olhos dos dela.  –E não me importa se você estava sob efeitos alucinógenos, você não tinha o direito de fazer isso comigo! Parece até a antiga Alice de quem Jasper tanto me falava!

                -Tanya! –Jasper arfou. Ambas de nós olhamos para ele. Eu, incrédula por ele falar de mim –provavelmente, xingando- para ela; Tanya, por ele interromper a crítica sobre mim.

                Ele se calou e ela voltou os olhos azuis para mim, não parecendo tão irritada como antes. Talvez só um pouquinho.

                Ou muito.

                -Entende, Alice, que eu nunca mais quero ver essa sua cara, porque sou capaz de socá-la, se vê-la influenciando Jazz de novo? –suspirou. Meu lábio inferior tremeu, e meus olhos se encheram de lágrimas. Sabia que ela não teria pena de mim, então tratei de piscar os olhos com força, escondendo as lágrimas que se acumulavam e borravam minha visão. –Por favor, Alice. Eu te imploro. Não destrua nossas vidas de novo. Por favor, vá embora.

                Eu percebi que a voz dela parecia a beira de cair em prantos, mas tinha certeza de que não era por mim. Eu mesma relembrava o momento que Jasper me contou da ruína da vida dela, e imaginava que era bem pior do ponto de vista de Tanya.

                Assenti uma última vez, olhei para os dois e me virei para sair, tentando controlar o tremor do meu lábio, mordendo-o.

                A porta da cozinha parecia menor; a sala de estar maior. Apesar de não ter certeza de nada com os olhos marejados, eu tinha essa sensação. Mesmo assim, engoli o meu ego e o meu orgulho e dei os passos que me levariam longe da única coisa que me tinha tirado do fundo do poço, quando eu mais precisara.

                Jasper.

                Parecia que aquela era a missão dele com relação à mim; mas, então, por que eu tinha a sensação de que essa missão estava incompleta?

                No segundo que eu passei pela porta da cozinha, pisquei levemente e deixei as lágrimas salgadas invadirem minhas bochechas. Mesmo assim, não parei de andar por um segundo.

                Por que, diabos? Por que é que eu chorava por Jasper e Tanya, que eu conhecia há cerca de duas semanas? Eu nunca tinha derrubado uma lágrima sequer pelas minhas “amigas”... Só por Emmett. Mas esse era um caso diferente, porque...

                ...  Porque eu o amava.

                E Rosalie... Ah, se não fosse ela, nada disso teria acontecido. Fiquei com um ódio mortal dela, mas sabia que, infelizmente, isso não mudaria nada. Ela não ia explodir se Alice-Perdedora-Brandon a odiasse.

                Pisquei novamente, deixando mais uma cascata de lágrimas escorregar pelas minhas bochechas, fazendo com que algumas caíssem no tapete vermelho. Tentei me orientar pelo caminho que eu sempre usava quando saía da casa de Rosalie...

                Mas, agora, era a casa de Jasper.

                Avistei a porta da frente e, me sentindo desesperada, corri na direção dela e forcei a maçaneta, saindo no ar gelado de Forks. Respirei fundo, sentindo o frescor invadir meus pulmões, me tranquilizando um pouco.

                Bem pouco.

                Atravessei o caminho de pedras, erguendo os olhos para o céu cinzento e desanimador. Quando eu estava prestes a atravessar a rua, eu ouvi alguém chamar meu nome.

                -Alice, querida? Você já vai? –era uma voz familiar; reconheci como a da mãe de ... Jasper. Eu tive medo de me virar e não ter mais coragem de continuar. Mas, mesmo assim, me virei e dei um sorrisinho fraco, dando de ombros. –Ah, que pena. Nos visite mais!

                E ela mal sabia que, provavelmente, eu nunca mais a veria.

                Voltei a seguir meu caminho, na direção da casa dos meus tios. A porta da frente estava trancada, então, contornei a casa e empurrei a porta dos fundos, fazendo com que a cicatriz nas minhas costas ardesse um pouco.

                Os meus tios não estavam lá, graças aos céus. Quem sabe, tomando vergonha na cara e indo procurar um emprego.

                Não, aí não seriam meus tios.

                A cozinha estava escura, e o linóleo antigo no chão estava gelado. Tirei meus sapatos dos pés e atirei na sala, tentando extraviar a minha raiva, numa crise momentânea de, digamos assim, desequilíbrio emocional.

                Deixei as lágrimas correrem livres pelo meu rosto, enquanto jogava as minhas meias e, em seguida, o meu casaco.

                Era algo muito injusto.

                O quê? Tudo.

                Abri a despensa e tirei de lá todas as caixas de barras de cereais, atirando contra a parede da cozinha. Cada vez que acabavam, eu as pegava e jogava novamente, continuando a sentir o ódio por mim mesma.

                Por que aquilo não mudava nada?

                Corri pelo chão da cozinha e catei todas as embalagens de barras de cereais. Destranquei a porta da frente –que estava com a chave por dentro- e taquei as caixas ao lado da lata de lixo, para que o caminhão de lixo coletasse mais tarde.

                Respirei pela primeira vez naquele meu acesso, e levei uma mão aos olhos, para que eu não visse aquilo que eu estava voltando a ser.

                Caí sentada no chão, com o lábio tremendo e tentando controlar os soluços sem som que ameaçavam a sair da minha garganta. Muitas palavras sem nexo rondavam minha cabeça ao mesmo tempo, tornando tudo mais impossível de conseguir superar.

                Medo. Ódio. Sozinha. Fraca. Idiota. Muda. Rosalie. Crueldade.

                Jasper.

                Às vezes, não entendia o porquê de pensar tanto nele. Quer dizer, de fato, ele tinha sido a primeira pessoa a ter pena de mim, e a tentar me tirar daquele buraco que “a mesa cinco” tinha me jogado. Mas não fazia sentido ele ter de ser tirado de mim, e, ainda por cima, lembrar desse fato a cada cinco segundos.

                Encolhi minhas pernas e escondi meu rosto nos joelhos, me abraçando. Sentia meu jeans ficar úmido com as lágrimas, e meu corpo chacoalhar com os soluços dolorosos.

                Não devia haver uma cota de choro por dia? Talvez não doesse tanto se eu pudesse simplesmente parar de chorar.

                Mas seria bem mais fácil eu parar de chorar se tudo fosse... normal. Sem sofrimento.

                Tomei a coragem de me erguer da grama do jardim mal-cuidado dos meus tios e fiquei de pé, secando as lágrimas que teimavam em continuar a cair. No entanto, quando eu olhei para frente...

                ... tive vontade de nunca ter me erguido. Jasper me encarava da entrada de sua casa, como se estivesse o tempo todo lá, desde o momento que comecei a jogar as caixas na calçada.

                Eu tive vergonha; mas, também, não pude evitar as lágrimas que dificultaram a minha visão. Me forcei a engoli-las e me virei, como se não o tivesse visto. Caminhei de volta para a casa dos meus tios, sentindo seu olhar sobre mim e, principalmente, um peso irremediável no peito.

                Tranquei a porta e não tive coragem de olhar pela janela. Fui direto à minha mala e, fugindo da visão externa da janela, separei uma muda de roupa: uma camiseta roxa comum, uma calça de moletom e um par de pantufas –claro, sem contar a roupa íntima-. Parecia que aquela roupa seria meu pijama definitivo, se eu tivesse tempo de vesti-lo antes de apagar no sofá.

                Subi as escadas sinuosas da casa dos meus tios e me tranquei no banheiro pequeno. Deixei a roupa sobre a tampa da privada e me despi, jogando a roupa num canto do banheiro, para jogar fora depois. Eu não queria ter nenhuma memória desse dia.

                Liguei a torneira quente do banheiro e esperei que a água esquentasse, enquanto olhava meu reflexo no espelho pequeno.

                Havia duas bolsas de olheiras sobre os meus olhos, que quase cobriam algumas das minhas cicatrizes. A em forma de arco que descia do meu olhos esquerdo ao meu lábio parecia quase que curada, como se fosse só mais uma memória. A que ficava perto da minha orelha estava rosada, como se tivesse passado por uma cirurgia depois que eu a vira da última vez.

                E, claro, o pequeno corte que havia um pouco abaixo do meu olho direito. Mal conseguia vê-lo; talvez fosse a iluminação, ou talvez ele estivesse melhorando mesmo. Passei os dedos pelas cicatrizes que cobriam meu rosto, como se pudesse fazê-las desaparecerem.

                Não funcionou, é claro.

                Coloquei minha mão debaixo do chuveiro e constatei que a água já estava quente. Entrei debaixo dele e peguei um sabonete, começando a esfregar no corpo. Eu me sentia mais imunda do que nunca naquele momento.

                Ah, Deus.

                Por que aquele momento debaixo da água reconfortante parecia me tirar do mundo por alguns segundos? Era como se todas as minhas preocupações –sobre os meus tios, Rosalie e o grupinho dela e, principalmente, sobre Jasper e Tanya- se esvaíssem da minha cabeça, só para eu me sentir uma pessoa normal.

                Infelizmente, por muito, muito pouco tempo.

                Peguei a embalagem do shampoo barato dos meus tios e espremi, deixando que o líquido cremoso caísse direto na minha cabeça. Massageei o meu cabelo por algum tempo e, depois, enxaguei-o.

                A toalha que eu tinha usado em um outro dia desses estava pendurada na lateral do box apertado. Puxei-a e me sequei, voltando a me perder em pensamentos.

                O que eu faria na segunda-feira? Quer dizer, ainda era sábado, ainda tinha muita areia até lá. Mas, mesmo assim, o que faria eu? Agiria normalmente, como eu andava fazendo nas últimas semanas, como se nada tivesse acontecido?

                Mas é claro que todos sabiam que algo tinha acontecido.

                O pior seria ter de encarar Jasper todos os dias da semana sem poder dirigir a palavra a ele. Bom, escrevendo, é claro.

                Jasper. Droga. Esse nome aparecia na minha cabeça toda vez que eu tentava solucionar meus problemas. Talvez fosse porque, antes, ele tinha mesmo solucionado todos os meus problemas.

                Vesti o meu “pijama” e destranquei a porta do banheiro, levando comigo a muda de roupa da sexta/sábado.

                Depois de descer as escadas, me certifiquei que Jasper não estava espiando da casa dele e taquei a roupa inteira no lixo, junto com as barras de cereais.

                Voltei para dentro da casa me abraçando, surpresa com o frio que fazia do lado de fora. Me arrastei até o meu sofá e coloquei a manta nos ombros, me encolhendo.

                Fiquei observando os poucos carros que passavam na rua pela janela. Por que minha vida não podia ser assim? Um fluxo constante no qual ninguém precisava sair machucado?

                Eu ainda não tinha percebido direito, mas, no fundo, acho que eu precisava mais do perdão de Tanya. Quer dizer, que se danasse Rosalie e suas maldades, eu conseguiria passar por tudo de cabeça erguida com pelo menos um amigo ao meu lado.

                Ouvi um rugido vindo do meu estômago e, percebendo que não tinha mais opções, me ergui e calcei um par de tênis, com preguiça de tirar o pijama improvisado. Escolhi uma blusa de cashmere preta e peguei alguns trocados do dinheiro que tinha tirado do cofre do meu pai.

                Quando abri a porta da casa dos meus tios, um vento rugia forte, sacudindo alguns galhos de árvores. Ninguém caminhava pela rua naquele momento; eu só conseguia ver os caixas do Forks Supermarket que, graças aos céus, não eram Tanya nem Jasper.

                Caminhei contra a ventania com certa dificuldade, já que a cicatriz nas minhas costas latejava consideravelmente. Depois do que me pareceu séculos, consegui chegar ao Forks Supermarket, com algumas memórias dali frescas na minha mente.

                Um dos funcionários –era um cara moreno e alto, que me lembrava muito o ... ex-namorado da minha irmã, Jacob- me ajudou a entrar no supermercado e me deu uma cesta, e sorri fracamente para ele. Nesses tempos, eu quase me esquecia que eu já tinha tido uma família de verdade e, quando eu lembrava, doía.

                Fui na sessão de empacotados –já que eu não tinha a menor ideia de como cozinhar- e peguei algumas embalagens de macarrão instantâneo. Nem me dei o trabalho de olhar o sabor; Todo santo miojo tinha gosto igual.

                Peguei também algumas latas de refrigerante não dietético –o que importava algumas gorduras a mais, afinal? Já era muda; não podia piorar- e coloquei na cesta. Aquilo daria para sobreviver por alguns dias.

                Fui na direção do caixa e coloquei os produtos na esteira. Com o mesmo ânimo que eu, o caixa foi passando os produtos naquele troço que eu não sei o nome. Vinte e um, foi o que ele disse logo após.

                Paguei e peguei a sacola de papel pardo onde ele separara os produtos, e voltei a caminhar na ventania incessante, na direção da casa dos meus tios.

                Eu cambaleava para os lados às vezes, já que a corrente de ar ia mudando de direção a todo momento. Já parecia ter passado meia hora quando consegui sair da quadra do Forks Supermarket, atravessando a ruela deserta.

                Uma chuva fina começou a cair no meu cabelo, mas não me importei. Mesmo que tivesse acabado de lavá-lo, isso não ia fazer a diferença, porque ninguém nunca iria notar se os meus cabelos estavam fedidos ou não.

                Apertei a sacola de papel com mais força perto do meu peito, sentindo frio. O vento começou a se intensificar, fazendo aquele som engraçado de assobio. Eu tive um pressentimento ruim.  

                E, então, tudo aconteceu muito rápido.               

                Primeiro, eu escutei alguém gritar meu nome.

                Depois, numa fração de segundo, começaram a cair vários ovos ao meu redor, fazendo voar a clara na minha roupa. Eu pulei de susto e, quando voltei ao chão, o vento me fez cambalear e cair para trás.

               

Enquanto eu olhava para uma Rosalie e um Emmett dando risadas escandalosas, eu percebi que tinha caído nos braços de alguém, e eu temia que, dessa vez, eu soubesse de quem eram.

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Por Vick_Vampire


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Notas finais do capítulo

E aí? Mereço reviews?
Bom, também quero agradecer à Ana_Paulina e linerulez pelas recomendações! Eu a-d-o-r-e-i ambas! Espero que a fic continue boa assim para vocês!
Não vou escrever notas finais que nem as da Jubs, porque eu sei que não vou conseguir nem chegar aos pés dela, então, só peço uma coisa (de novo):
MAAANDEM REVIEWS! XINGUEM, ELOGIEM, DIGAAM OI! Usem uma das 1001 utilidades dessa barrinha linda aqui em baixo! Sejam bonitos!

Bom,, é isso
Beijos
Vickie