Amigos e Amantes escrita por Najayra


Capítulo 3
Capítulo 3 - Um é péssimo... Dois é pior ainda...




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Ao ouvir o som desagradável da campainha, peguei meu prato e o coloquei dentro da pia. Deitei no sofá e comecei a ler um livro que estava sobre a mesinha de centro. Viviam disparou em direção à porta e quando a abriu, sorriu maravilhosamente.

 

- Entre, Eric. Entre. Estou quase pronta, por favor, espere aqui dentro.

 

O jovem Eric (só de pensar em seu nome eu sentia repulsa) adentrou a sala enquanto Viviam corria para o quarto. Ele se virou para me dar boa noite e instantaneamente arregalou os olhos. Claro... Eu estava de calcinha e blusão!

 

- Bo-boa noite... Desirée.

 

- Boa noite.

 

Ele, despistadamente, tentava admirar minhas pernas nuas. Sem mudar minha expressão e ainda lendo o livro em minhas mãos, disse para ele:

 

- Se pretende ter algo com Viviam, não deveria ficar olhando para minhas pernas.

 

- Eu não estava...

 

- Claro que não...

 

Logo Viviam voltou, simplesmente impecável. Estava linda, saltitante, entusiasmada. A personificação da felicidade.

 

- Tchau Desí. Não espere por mim. – ela saiu, quase que voando, segurando a mão de Eric. Apenas pisquei os olhos e ouvi o som da porta batendo.

 

- Tchau... – minha voz estava um pouco sem vida.

 

Fiquei lembrando nossa infância. Desde que nascemos praticamente, estávamos sempre juntas, brincando e rindo. Quando fui morar com ela, há dois anos atrás, parecíamos duas estranhas. Com o tempo, reatamos aquela amizade linda... A questão é que... Eu cometi o erro de me envolver além da amizade.

Fiquei perambulando pela casa. Lia livros, ouvia música, via filmes. Até que desisti. Onze horas da noite. Ela não vai mais chegar. Fui para minha cama, me deitar e tentar esquecer um pouco esse “problema”. Ao contrário do que imaginei, dormi bem rápido, pois estava exausta.

Na manhã seguinte, acordei às sete. A aula começava às oito e nada de Viviam. Pude então perceber ao lado da cama, sobre o criado–mudo, uma espécie de bilhete.

 

“Desí, cheguei um pouco tarde demais, por isso não quis te acordar. Foi um encontro maravilhoso! Preciso te contar em detalhes o que aconteceu! Ah... Fui mais cedo para a escola, não se preocupe, tomei café-da-manhã ^^. Beijos, Vi.”

 

Aí começou a cascata de sentimentos! Alívio: Ela dormiu em casa; Felicidade: Ela se preocupou em não me acordar; Raiva: Havia sido um encontro maravilhoso; Ódio e dor de cabeça: Ela iria me contar tudo em detalhes. Será possível que ela é sádica e eu masoquista? Um tanto irritada, levantei da cama e fui tomar meu café. Depois troquei de roupa e fui para a escola. Quando cheguei à minha sala, Viviam estava sentada na mesa atrás de mim, ao lado de Eric. O garoto chato, que me chama de ruiva, chegou segundos após e quando viu que perdeu o seu lugar para Viviam fez uma cara de desaprovação e seguiu comigo até eles.

 

- O que significa isso? – dizemos os dois, ao mesmo tempo, porém com vozes diferentes. A minha estava mais para exaustão e a dele para desaforo.

 

- Eu e Eric combinamos de sentar juntos.

 

- E a gente? – novamente, nossas vozes em uníssono.

 

- Sentem-se juntos também, ué.

 

- Com ele?

- Com ela? – nos lançamos um olhar de desenho animado. Podiam-se perceber os raios saindo de um par de olhos em direção ao outro.

 

Nos sentamos nas cadeiras à frente do casalzinho ternura, de braços cruzados e irritados. Pude ouvir uma risadinha vindo de Viviam.

E foi assim... Todos os dias, todas as aulas, nós dois estávamos um ao lado do outro. Pelo menos, passamos a conversar (quando éramos obrigados). Fazíamos coisas juntos (trabalho em dupla valendo nota). E na hora do intervalo, ficávamos juntos (ele ficava debochando do meu sofrimento ao ver o casalzinho rindo e trocando beijinhos). Até trocávamos carícias (ele era um tarado tentando abusar fisicamente de mim, ou até mesmo através de sua imaginação incrivelmente fértil e perva).

Um belo dia, dei meu último e mais intenso suspiro durante a aula, quando ouvi o casal dizendo “eu te amo”. O garoto chato percebeu e tentou me animar, mas da maneira errada.

 

- Por que ainda perde seu tempo suspirando? – revirei os olhos e suspirei. Esse era praticamente o nosso único método de conversação. Eu fazia isso, desaprovando a fala dele e ele fazia também, desaprovando minha atitude.

 

- Não entendo porque faz isso toda vez que digo algo.

 

- Porque sempre diz algo idiota. – ele revirou os olhos e suspirou. – Viu só? Tanto entende, que retribui. – Dei um sorrisinho e o olhei pelo canto do olho. Ele deu uma risada e apoiou a cabeça sobre uma das mãos virando o rosto para mim.

 

- Posso fazer uma pergunta? – fiz o mesmo gesto e respondi.

 

- Claro.

 

- Por acaso, sabe meu nome? – pensei bem na pergunta e percebi que só o chamava de garoto chato.

 

- E você? Sabe o meu? -  pude ver a reflexão em seus olhos. Ele também desconhecia meu nome. Nós dois demos uma boa, porém discreta risada.

 

- Desirée, prazer. – estendi a mão para cumprimentá-lo. Ele pegou minha mão e logo respondeu.

 

- O prazer é todo meu, sou Lutt.

 

- Lutt? Isso é realmente um nome?

 

- Sim, sim. Parece apelido, mas não é.

 

- Eu gostei. – sorri de forma sincera. Ele retribuiu o sorriso. Voltei a olhar para o livro de matemática aberto sobre a mesa. Ele colocou seu braço direito sobre meus ombros, me puxando para perto de si e sussurrou em minha orelha:

 

- Quer fazer uma coisa bem legal?

 

- Lutt, eu sei que tivemos um momento legal agora pouco, mas não tome tanta liberdade. – ele riu e levantou dois ingressos com os dedos indicador e médio da mão direita, os bilhetes ficaram próximos ao meu rosto.

 

- Pensar em outras coisas ajuda a esquecer os problemas. – ele sorria gentilmente.

 

- Esse é o parque que inauguraram recentemente? -  minha voz demonstrava surpresa.

 

- Ser filho do dono às vezes é bom.

 

- Ai, meu Deus! Eu não acredito! – peguei os bilhetes, eufórica.

 

- Sábado, às duas.

 

- Ei... – pensei por um minuto – Está me chamando para um encontro?

 

- Se eu disser que sim? – ele me lançava aquele olhar alvo e desafiador.

 

- Não irei. – retribui olhar, porém com o toque, menos impressionante, da cor  verde.

 

- Então não é. Apenas para não jogar fora.

 

- Hum... Farei esse esforço.

 

O sinal tocou, guardei meu material e peguei minha bolsa. Ficando com um dos ingressos e entregando o outro para ele e eu disse:

 

- Sábado, às duas. -  Nos despedimos com sorrisos e eu segui para casa.

 

Dois dias depois, era sábado. Uma e meia da tarde e eu estava terminando de me arrumar. Ainda teria que pegar o metrô até o parque. Viviam ainda estava na cama, com o rosto afundado no travesseiro. Deixei a porta do armário bater e ela acordou. Ainda sonolenta, ela murmurava:

 

- Desí, o que você está fazendo? Sabe que horas são?

 

- Uma e meia da tarde, Viviam.

 

- Sério? – ela pegou o relógio sobre o criado-mudo – no meu relógio são seis e quinze.

 

- Esse relógio está parado há muito, muito tempo.

 

- Ah... Tanto faz... – ela devolveu o relógio e afundou novamente a cabeça no travesseiro. – Mas então... Vai sair pra onde?

 

- O novo parque.

 

- Com quem?

 

- Interessa?

 

- Na verdade, não. Só queria ouvir da sua boca o nome “Lutt”. – ela ria.

 

- Há há! Morri de rir.

 

- Vocês são um casal bonito.

 

- Não somos um casal! – sai meio que com pressa e dois segundos depois bati a porta.

 

- Tchauzinho... – disse Viviam.


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Notas finais do capítulo

Quero reviews *--* please



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