Todos estavam reunidos no centro do acampamento, ouvindo aos avisos dos professores. Depois de mais ou menos 20 minutos de recomendações, eles separaram a turma por sexo. Por incrível que pareça, nossa turma era perfeitamente simétrica, tendo 12 meninas e 12 meninos. Cada grupo correu para suas casas, afinal, depois de nos acomodarmos, teríamos uma lagoa inteira para nós.

A casa das meninas estava muito bem arrumada, por isso apenas precisamos colocar nossas malas sobre as camas e ir colocar o biquíni. Os meninos sabiam o que os esperava, por isso foram rápidos no trocar de roupas. Ficaram sentados às mesas, que eram próximas à cozinha do acampamento, olhando atentamente para a casa das meninas. As primeiras “corajosas” saíram e pudemos ouvir os assovios e as cantadas de pedreiro. Lá de dentro ríamos da infantilidade, mas também nos divertíamos. Combinamos de deixar as mais populares por último e Viviam e eu ficamos surpresas ao ver que as meninas nos apontaram como uma das tais favoritas. Pena que a tal de Laila também ficou conosco, junto com mais outras duas garotas, mas enfim... Deixamos os garotos esperando por mais ou menos 7 minutos, depois saímos meio que nos sentindo as poderosas (combinamos isso também). Eu estava com um biquíni verde-petróleo com um decote que valorizava meus seios, enquanto a parte de baixo tinha uma argola dourada na lateral que atava as duas extremidades do biquíni, além disso usava uma saia branca semi-transparente. Viviam estava linda com um biquíni laranja (conseguindo ser menor que o de todas nós) tomara-que-caia com a parte de baixo tendo lacinhos discretos dos lados, enquanto ela usava uma canga amarrada à cintura. Percebemos a maioria dos olhares em nossa direção e ficamos orgulhosas, porém os olhares para a Laila me corroíam por dentro. Ela estava usando um biquíni branco! Nem perderei meu tempo descrevendo, porque biquíni BRANCO é apelação!

Todos nos dirigimos para a lagoa cuja água era bem cristalina. Alguns se jogaram de cabeça na água, outros foram jogar bola, outros conversavam e trocavam cantadas, tinham garotas até deitadas sobre as toalhas se bronzeando, haha! Viviam me arrastou junto com ela para perto de Eric e passou a conversar com ele. Estava segurando vela para um casal que eu não gostava, até que Lutt finalmente apareceu para me salvar (nunca fiquei tão feliz por ele aparecer do nada). Ele chegou por trás e me abraçou pela cintura, dando um beijo em meu ombro.

- Entediada?

- Parece que adivinhou...

- Vamos nadar então.

- Nadar? – fiz uma careta – Como está a água?

- Gelada.

- Mas hein?!

- Deixa de drama e vem logo. – agora de frente para mim, sem me livrar de seus braços, ele me arrastava para a lagoa.

- Lutt, espera, vamos negociar sobre isso...

- Ok.

- Ok? – perguntei sem entender.

- Certo, vamos aos negócios. – ele sorriu diabolicamente e me soltou. Quando pense que ele tinha desistido, ele me pega no colo e corre rápido para a água. Nós dois afundamos e segundos depois emergimos, eu tirava meu cabelo pesado de cima do rosto enquanto analisava a temperatura da água.

- Nem está tão gelada assim, Lutt.

- Viu? Não tinha fundamento naquele seu drama. – levantei uma sobrancelha e dei um leve sorriso. Ele pegou em minha nuca e tentou me beijar.

- O que pensa em fazer? – eu disse já impedindo o beijo.

- Apenas continuando o que estávamos fazendo desde ontem.

- Eu falei que era só para te atiçar, te maltratar.

- Opa! Eu podia ser maltratado assim todos os dias...

- Engraçadinho.

- Você me ama que eu sei, Desirée.

- Eu não... – antes de completar minha fala, avistei Laila um pouco mais distante, olhando para nós dois.

Meu subconsciente sorriu malignamente, eu envolvi meus braços em volta do pescoço de Lutt e lhe dei o beijo que queria, ou melhor, até mais do que ele queria! Envolvi seu corpo com minhas pernas (na água, isso era uma tarefa fácil) e senti suas mãos em minhas coxas, para que nossos corpos pudessem ficar mais próximos. Devo ter perdido vários minutos naquele beijo, mais que isso, vários motivos me faziam querer perder uma eternidade no beijo dele:

Um: Laila estava assistindo a tudo de camarote;

Dois: Eric também deveria estar vendo, quem sabe após aquilo ele me deixaria em paz;

Três: Viviam ficaria satisfeita e iria parar de me interrogar;

Quatro: O beijo de Lutt estava me mantendo ali, de alguma maneira, força da gravidade, sei lá;

Cinco: Meu subconsciente pedia fervorosamente para que eu não parasse;

E seis: Meu corpo e o de Lutt pareciam reagir eletricamente, carga positiva atraindo carga negativa. Nunca senti isso nem pela Viviam, é como se fosse impossível querer separar nossos corpos. Até que percebi que estava fazendo tudo errado... Ok, eu até poderia estar fazendo tudo certo, mas eu não sabia porque estava fazendo tudo aquilo. Cessei o beijo e (ainda com os braços em volta de seu pescoço, ele com suas mãos em minha cintura neste momento) nos olhamos ofegantes. Ambos pareciam não entender os que estava acontecendo, porque tanta eletricidade entre a gente? Eu reagi meio sem jeito, desviando meu olhar do dele e, pedindo desculpas, nadei para fora da água. Ele até que tentou me impedir de ir embora, mas não acho que também queria pensar um pouco.

Então ficou assim, eu me sentei sob uma árvore e comecei a trabalhar minha cabeça desocupada e deficiente. Ele ficou pensativo dentro da água mesmo, ambos olhando para o nada a pensar coisas inúteis e sem sentido. Meu corpo gritava: “Eu quero agarrar aquele cara!”, enquanto a parte sóbria de minha mente dizia: “Não se aproxime dele!” e meu subconsciente desejoso resmungava: “Admita que você o ama!”. Isso me chamou a atenção e então decidi discutir com este último, um monólogo chato e sem sentido.

Eu não amo o Lutt!

Ama, sim!!

Que coisa mais absurda!

Desirée, não seja idiota, veja suas atitudes ultimamente! Ciúmes da Laila, tentando ser “a malvada” ao beijar uma pessoa que você gosta...

Não tenho ciúmes dela.

Claro! Você só o beijou depois que a viu olhando para vocês. Você deve ter sentido tesão por ela e para não ir até lá, agarrou o Lutt que era mais acessível.

É provável...

Acorda!!! Você é HETERO!!!!

Decidi para de discutir comigo mesma e voltei a olhar a lagoa. Laila se aproximava de Lutt para instigar conversa. Eita, menina insistente!!

- Quanto tempo você precisa para perder o amor da sua vida? – disse Viviam ao meu lado, com seu olhar sarcasticamente.

- Não começa, Viviam! Não estou bem!

- Claro, está longe de quem queria estar perto!

- Pode parar de falar nisso?

- Claro. Não direi mais nada. Você já é bem grandinha, sabe o que é bom para você. – ela saiu após isso, completamente inexpressiva.

Depois de tudo aquilo, não falei mais com Lutt. A tal da Laila também não deixou!!! Todos do acampamento almoçaram, tomaram seus banhos e fizemos mais algumas atividades em grupo (coisa de professor). Mais à noite, os professores nos chamaram para o teste de coragem. Achei estranho, pois deveria ser no último dia e não no primeiro. Mas como eu gostava daquilo, nem reclamei da antecipação. Iríamos em duplas, ou melhor, em casais. Eu tinha duas opções, ir com o Lutt ou com algum outro garoto que eu nunca troquei sequer uma palavra. Não eram opções tão ruins assim... Começou o sorteio. Depois de alguns nomes, ouvi chamarem por Viviam e Lutt. Droga! Menos uma opção! A Laila foi com um tal de Gabriel e eu esperava pelo desconhecido que iria me acompanhar. Quando ouvi meu nome ser pronunciado junto com o de Eric, meu sangue gelou nas veias. A única opção que eu nem ousei cogitar... Por que comigo? Vi Lutt dirigir seu olhar preocupado e urgente em minha direção, enquanto Eric me fuzilava de uma maneira que eu detestava. Eu escondi o rosto com as mãos e pensei no que eu gostaria de ter escrito em minha lápide.