Assim que entramos na sala do diretor, ele nos indicou as cadeiras à frente de sua mesa e nos sentamos.

_Expliquem-se.- disse severamente e Lucas pôs-se a falar.

_ Senhor, a culpa foi toda minha. Eu a peguei de surpresa com este gesto obsceno. Anna não teve culpa.

Me surpreendi com as palavras que ele usou. 

_Senhor ... como é mesmo seu sobrenome garoto? 

_Clark. Lucas Clark.- Eu não sabia o sobrenome dele, mas gostei de ouví-lo.

_Certo, senhor Clark. Não se responsabilize por tudo. Eu vi muito bem como a senhoria Parker estava contrariada. Não nasci ontem senhores.

_Senhor, a culpa foi minha. Eu provoquei-o. - eu disse, afinal não poderia ficar calada e deixar que Lucas recebesse a culpa sozinho. E além do mais, não era mentira. Eu tinha mesmo o provocado.

_Acho que seu pai irá adorar saber disso...

_ Não , por favor senhor. Não diga nada aos pais dela. Eles estão passando por grandes problemas. - olhei incrédula para Lucas. Como ele podia mentir, assim, descaradamente?- Não é Anna?

_S-sim. É diretor.Acho que somos grandes o suficiente para resolvermos entre nós.

_ A senhorita tem certa razão.Deveria expulsá-los, por terem feito tal ato. Mas não irei.Então como punição, para que aprendam que a escola é um lugar onde se vem para estudar , terão que fazer um trabalho de no mínimo 300 páginas sobre um assunto do interesse dos dois. Têm uma semana para me entregarem, ou então contatarei os pais de vocês. - ele me encarou e então prosseguiu- com problemas ou não.Dispensados.

Nenhum de nós teve a coragem de reclamar do curto prazo para a entrega de um trabalho tão extenso. Estávamos satisfeitos o bastante de que nossos pais não ficariam sabendo.

Longe o bastante da sala do diretor , percebi que Lucas estava com um ar despojado, mesmo depois do que havia acontecido.

_Como pode ficar tão calmo quando temos um trabalho gigantesco para entregar em uma semana, quase fomos expulso e por pouco nossos pais não ficaram sabendo, tudo por sua culpa?- quase gritei e ele se espantou.

_Minha culpa? Anna, se nossos pais não ficarão sabendo é graças a mim. E quer saber de uma coisa, foi você pediu que lhe provasse o quanto gostava de você. 

_É mais a culpa é sua mesmo assim. Será que não percebe o que está fazendo comigo , Lucas? Você está me deixando pirada. Você está mudando minha personalidade, está fazendo com que eu deixe de ser a menina certinha que eu sempre fui. Acha que meus pais ficariam orgulhosos ? E isso tudo é por sua causa !

_ Você sempre esteve presa ao que seus pais gostariam que você fosse. Agora você está mostrando quem realmente é ! E quer saber de uma coisa? Você devia me agradecer por isso !

_ Agradecer? Pelo que? Por fazer com que tenhamos que passar todas as tardes por uma semana inteira juntos? Ora, me poupe ...

Ele me olhou perplexo, e eu nem mesmo entendi o porquê.

_ Achei que gostaria de passar esse tempo comigo. Afinal, eu vou gostar.

Ele se virou e começou a caminhar.

_ Lucas , espera ! Não precisa ficar assim também ! - mas ele nem ligou para o que quer que eu estivesse dizendo. Continuou a caminhar , até que desapareceu de vista, quando virou um corredor.

O sinal tocou indicando o fim de uma aula que eu não compareci.

Fui até meu armário e recolhi o material que havia derrubado. Guardei-o e apanhei o que necessitaria para a aula seguinte.Vi Lílian e Daniel vindo em minha direção.

_ Não apareceu na aula.- disparou Daniel.

_Um garoto não parou de perguntar sobre você.- disse Lílian com um sorriso irônico nos lábios.

_ Um garoto? Que garoto?- perguntei, pensando em quem poderia perguntar sobre mim, sendo que Lucas estava comigo o tempo todo.

_ Um tal de Jake...- disse Daniel, de suar forma lenta e calma.

Mudei de assunto rapidamente. Não queria falar desse assunto, principalmente com duas pessoas que nem conhecia muito bem.

Jake perguntara por mim. Este pensamento simplesmente não saiu de minha cabeça durante a última aula, e eu não sabia porque.

Logo que o sinal tocou, sai da sala e guardei todo meu material, em minha bolsa. Seguia rumo ao portão de saída quando ao virar um corredor vi Lucas conversando com Hector.

Escondi-me , a fim de ouvir o que diziam , atrás da parede. Então pude ouvir:

_Lucas, você não se apaixona por ninguém !- disse Hector.

_Eu sei ! Mas com ela parece que foi diferente. Ela é diferente! 

_Não !É você que está ficando louco. 

_Você sabe , eu não me apaixono por ninguém . Acha que me apaixonaria de verdade? - Senti uma pontada no peito. Então eu estava certa. Sempre estive. Era tudo mentira, Lucas nunca havia se apaixonado por mim !

_Então continua nessa que ela tá caindo direitinho.- Hector riu, mas Lucas não. Será eu ainda teria uma chance?- Cara ! Você não perde uma aposta ! Ela tá na sua mão ! 

Eu não queria mais ouvir.Bastava para entender. Tudo não passara de um jogo. Lucas jogou com meus sentimentos. Jogou com meu coração! Grossas lágrimas rolaram por meu rosto e pus-me a andar depressa .

Passei por eles e esbarrei em Lucas.

_ Anna? Está tudo bem? - ele perguntou vindo atrás de mim.

_Me deixa Lucas. - encarei-o com os olhos molhados por lágrimas. 

Virei-me e continuei a caminhar, mas fui impedida pois ele segurou meus braços fortemente.

_Não adianta pedir, não vou e soltar enquanto não me disser o que está acontecendo.Talvez eu possa ajudar.

Como ele pôde fazer uma coisa dessas comigo e ainda por cima conseguir ser tão fofo ?

_ Acontece que eu fui traída ! Fui enganada ! Me disseram calunias! Fizeram com que eu remoesse meu passado !E acredite, a unica maneira de me ajudar é ficando o mais distante possível de mim. Depois que fizermos esse maldito trabalho quero que esqueça que eu existo. Esqueça que um dia você me conheceu ! - pensei por alguns segundos e então continuei.-Segunda-feira, 14:00 da tarde, em minha casa. Não se atrase .

" Agora me deixe ir. Ou ainda não está satisfeito com minhas respostas?"

Soltei meu braço de seu aperto  e segui rumos à saída do colégio.

Caminhei rapidamente até minha casa. Cheguei nela e vi que meus pais não estavam lá. Subi para o meu quarto e me olhei no espelho.

Eu estava cansada de quem eu era. Cansada de como me vestia, de forma como arrumava meu cabelo. Mesmo que me produzisse mais ficava com o mesmo rosto de garotinha. Estava cansada de ser essa menininha do papai. Aquela que todos pisoteiam. Que humilham, aquela com qual todos jogam.Eu precisa mudar. Precisava me tornar mais mulher.

Precisava mostrar para todos que a garotinha cresceu.Que se tornou mulher.Eu precisava mostrar que ninguém é melhor do que ninguém. Precisava mostrar quem é que manda. E iria.