O maldito telefone tocou pela quinta vez naquela tarde. Eu levantei do sofá, cansada, e atendi.

- Alô. – murmurei, irritada.

- Jenny, sou eu. – reconheci a voz irritante de Liz novamente. O que ela queria, de novo?

- O que você quer agora? – perguntei, suspirando.

- Bom, eu e Tiff queremos saber se você quer vir jogar carta aqui em casa. Podemos pintar as unhas... – ela sugeriu o convite

Revirei os olhos. Tiffany devia ter dado a ideia. Elas queriam se reunir para eu contar sobre meu novo namorado o, gatíssimo, Joe. Como não estava fazendo nada mesmo, concordei.

- Já estou saindo. Beijinhos. – falei e desliguei o telefone. Minha tia chata tinha saído ao mercado. Caminho livre.

 Só teria que deixar um aviso ao meu irmão retardado, Derek, que eu iria a casa delas. Peguei minha bolsa e um casaco e sai andando. Fiquei pensando no que elas deviam estar preparando. Uma mesa farta de doces e bolos, um SPA enorme, clipes lindos na TV e muita música alta. Era sempre assim a minha tarde com as amigas. Perfeita.

 Chegando da longa caminhada eu toquei a campainha da casa de Liz. Óbvio que ela abriu a porta e correu ao meu encontro.

- Jenny, você veio! Entre. – falou ela com enorme e lindo sorriso no rosto.

Logo Tiff apareceu atrás da porta e sorriu.

- Oi, linda. Vamos entrando...

Entrei, larguei minha bolsa no sofá e olhei. O lugar estava exatamente como eu tinha imaginado. Corri para ver qual dos clipes selecionados estava dando e gritei quando vi “Peace Of Me” da Britney Spears.

- Ok. – me rendi quando ela me perguntou pela sexta vez o que tinha rolando entre eu e Joe. – Vou contar.

Elas sorriram, satisfeitas e bateram palmas. Pedi para elas guardarem segredo. Elas estranharam, mas assentiram.

- Certo. Bom. Eu tive um sonho muito estranho que uma mulher dizia: “Alex será seu. Entregue-se a ele.” – falei, imitando a voz da mulher assombrosa do meu sonho.

- Cara. – bufou Tiff. – Isso é realmente apavorante! - brincou

- Que estranho. Você foi na onda? Aquilo deve ter sido apenas um sonho. Você acha que algo ou alguém está mandando um “sinal” para você? – perguntou Liz.

- Sério, gurias. Eu não sei o que é, mas sei que algo está me apavorando durante minhas noites de sono. E não está sendo muito legal, não. – assumi

- Você contou à sua tia? – perguntou Liz.

- Óbvio que não. O máximo que ela iria fazer é rir da minha cara. – falei, com raiva.

Desde que meus pais faleceram num estranho acidente, foram queimados vivos por um usuário de drogas, minha tia Holga nos abrigou no seu casarão e nos trata como se tivéssemos 3 anos de idade.  Nem mesmo com meu irmão eu podia contar. O idiota tem 20 anos e se acha “o” grande. Vive tentando dar ordens na casa e me enche muito o saco. A história da nossa família não é das melhores e o convívio entre nós está cada vez piorando mais. Minhas amigas ficam apavoradas porque eu ainda não tentei me matar.

- Só sei que essa história me deu medo. – falou Tiff abraçando uma almofada.

Silêncio.

- Quem sabe agora não vamos jogar cartas? – sugeriu Liz.

- Eu não estou com muita vontade de jogar. Joguem vocês. Vou ficar aqui do lado. – falei.

Comecei a pensar em possibilidades de como eu poderia ter tido aquele sonho horroroso. De repente, fiquei com uma dor de cabeça terrível.

Você devia ir pra casa.

- Que? – perguntei as gurias.

- Hum? Nós não falamos nada.

Continuei quieta, mas a voz não parou por ali.

Você se sente segura aí? Vai sentir o medo...

E no silêncio ela se misturou virando sussurros. Fiquei com medo. Olhei para as meninas, entretidas jogando cartas e rindo. Eu não sentia mais graça em jogar cartas. Levantei-me bruscamente quando leves sussurros recomeçaram a soar na minha cabeça.

- Aonde vai? – perguntou Liz, jogando uma almofada em mim.

- Embora.