Jessica não pensou duas vezes. Tinha que fazer aquela chamada. Já não aguentava mais, não podia continuar a trabalhar para Rubens e a vender os seus segredos à ESP Motors.

Claro que a segurança do seu irmão a preocupava. Na verdade, essa fora a única razão que a levava a fazer o que tinha feito, mas tinha ido longe demais.

Não podia continuar a fazer aquilo. Não tinha desculpa.

Ao sair do trabalho, em vez de ir para casa, tinha andado a passear por Milão e terminara na Praça do Domo. Uma vez ali, tinha-se sentado num pequeno café e pedido um copo de vinho.

Ali estava, a ver as pessoas passar. Que simples pareciam as suas vidas comparadas com a sua, tão complicada. Como se envolvera naquela situação? Quanto tempo demorariam a detê-la e a mandá-la para a prisão?

Era evidente que Rubens a ia denunciar e não era para menos. Tomara tivesse sabido arranjar uma solução melhor quando o seu irmão Nelson lhe pedira ajuda pela primeira vez.

No inicio, negara-se a fazer o que ele lhe pedia, mas, quando uns pistoleiros lhe tinham dado uma surra….ao vê-lo tão mal no hospital, tão perto da morte, Jessica mudara de opinião.

Embora tivesse apaixonada por Rubens Silva, Nelson era seu irmão e não podia permitir que o matassem.

Aquela explicação ia ser indiferente para Rubens.

- Jessica?

Jessica levantou os olhos e deparou-se com Marta Picão, outra secretária de Silva Motors.

- Olá, Marta.

- Importas-te que me sente contigo?

- Claro que não.

- É que marquei aqui com um rapaz que conheci na Internet – explicou-se Marta.

- Não acredito. Marcas encontros com rapazes que conheces na Internet?

- É muito divertido. É claro que não vou encontrar o homem da minha vida assim, mas sou americana e estou um pouco sozinha nesta cidade, por isso isto ajuda-me a sair de casa.

Jessica riu-se pela primeira vez desde que ficara a saber que Rubens sabia o nome do espião que andava a roubar os seus segredos industriais.

- Devias experimentar – sorriu Marta.

- Não, não me apetece – respondeu Jessica – Já tenho complicações suficientes.

- Compreendo. Rubens é um chefe muito exigente.

- Sim.

Claro que também era um homem encantador. Jessica lembrou-se que naquela mesma tarde a convidara para sair e beber um copo. Muito gostaria de lhe dizer que sim, mas não o tinha feito para não complicar ainda mais a situação.

- Estás à vontade a trabalhar com ele? Uma vez que tive que substituir-te, fiquei em pânico. Tinha medo de me enganar.

- Não é caso para tanto. Parece mandão, mas, na realidade, não é. A única coisa que quer é que se faça bem as coisas.

- Tu lá sabes, mas eu fico feliz por ele não ser meu chefe – insistiu Marta. – Acho que aquele ali é o rapaz com que marquei – acrescentou, olhando para um homem que estava num canto, a olhar para todas as direcções.

- Qual?

- O da camisola cor de cereja…não se parece nada com a foto que tinha na Internet.

- Isso costuma acontecer, não? Eu saí algumas vezes com rapazes que conheci na Internet e nunca eram como diziam ser.

- Sim, tens razão. Eu também não sou como digo na Internet…