Time Of Changes - Parte I ... escrita por ARurouni


Capítulo 1
Parte 1 - O Encontro ...


Notas iniciais do capítulo

Conheça Cerys, uma jovem menina sonhadora que, por mais que os tempos sejam duros e difíceis para ela e seus pais, ela sempre tenta ver o lado bom e otimista das coisas.



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O vento soprava de forma agradável, fazendo mover o alto gramado de uma ampla área rural.  Algumas pessoas trabalhavam ou conversavam entre elas, próximos a uma casa.  Afastado dali, uma jovem menina, de cabelos ruivos e trajando roupas do campo, um tanto surradas, estava deitada tranqüilamente, aproveitando que, naquele local onde estava, ela só podia ouvir o vento e, as folhas e o gramado que se mexiam, preenchendo-a com uma paz e tranqüilidade que não costumava ter, quando ficava perto de casa.

Quase adormecendo, a jovem menina sentiu uma sombra a cobrir o seu rosto.  Tentando entender o que era, ainda com seus olhos fechados, aos poucos abriu os olhos e percebeu um menino, de pé, a sua frente.  Exibia um sorriso irônico ao ver que ela passou a olhá-lo, com seus belos olhos azuis.

“Hehehe... então era aqui que você estava!?”  Disse o garoto, ainda com a mesma expressão.  A menina, ainda confusa, após ser tirada de seu momento de paz, tentou reorganizar seus pensamentos, enquanto questionava quem era aquele garoto a sua frente.  “Huh..!?”  Disse ela, levantando parte de seu corpo do chão, apoiando-o com seus dois bracinhos para trás.  “Q-quem é você?!”  Perguntou.

Rindo, o garoto colocou as duas mãos na cintura e fazendo pose.  Agora a menina podia perceber que ele estava bem vestido para ser da região aonde ela morava.  “hahahaha... Léon Delacour.  Futuro herdeiro das terras ao sul de Abrahms.”  Disse, ainda com aquela pose austera e meio esnobe, mas sem tirar os olhos dela.  A menina o olhava, ainda sem entender: Abrahms era bem afastado de onde ela morava, por quê ele estaria ali?  Confusa, sacudiu a cabeça e levantou-se, limpando a sujeira de terra do seu vestido.  Assim que o fez, voltou a olhar para ele.  “Huh... p-prazer... Meu nome é....”  Ia dizendo, quando o garoto ergueu sua mão, com os olhos fechados, ainda com a sua costumeira expressão.  “Nah, não precisa dizer... você se chama Cerys Shannon.”  Disse, como se já conhecesse toda a vida da garota, deixando-a mais confusa e, começando a deixá-la assustada.  “C-Como você sab...!?”  Começou a perguntar, mas o garoto fez novamente um gesto, interrompendo-a.  “Venha, nossos pais estão conversando na sua casa.”  Disse e, sem esperar qualquer reação dela, começou a caminhar, saindo do campo gramado em que ela, antes, estava deitada.  Cerys olhou por algum tempo o nada, ainda tentando assimilar tudo o que havia acontecido e, ainda limpando o seu vestido, começou a andar com as mãos segurando uma a outra, na altura do estômago, sentindo-as um tanto gélidas, já que se encontrava um tanto nervosa e ansiosa.  “O que será que ele quer... e ... ‘nossos pais’?!”  Pensou, olhando o menino, que caminhava como se tudo abaixo de seu rosto fossem as coisas mais insignificantes para ele.  Cerys suspirou e caminhou atrás do garoto.

Cerys tentou acompanhá-lo, mas ele caminhava a passos largos e, como ela estava descalça, fez com que ela demorasse bem mais do que ele para chegar em sua casa.  Lentamente abriu a porta e passou os pés para limpá-los, mas antes de entrar, começou a ouvir vozes alteradas e, meio que receosa, colocou apenas parte da cabeça para ouvir e ver o que estava acontecendo.

“Então, Senhor Jughund Shannon... se deseja prosseguir com esta idéia, não vejo problemas, mas suas terras serão minhas, assim como o nome de sua família deixará de existir, pois não admitirei que nenhum Shannon polua o nome da minha família, a família Delacour.”  Disse um homem alto e visivelmente mais forte que Jughund, o pai de Cerys, que era um senhor, um tanto quanto baixo e cabelos já grisalhos.  Seu rosto exibia uma fúria mortal que, apesar da pequena Cerys não saber o porquê daquilo, sabia que algo de muito ‘ruim’ estava sendo discutido ali.  “Então!?  Estamos de acordo?!  É uma pena você não ter tido filhos homens... poderia estar numa situação melhor agora.”  Disse, com escárnio, o homem alto, que postava com orgulho e satisfação o pequeno Léon.

Cerys, triste ao ver a cena, perdeu levemente o seu equilíbrio e acabou fazendo a porta ranger, fazendo com que todos os presentes a olhassem.  Léon Delacour e seu pai a olhavam, com sarcasmo em suas expressões, enquanto que Jughund olhava a sua filha de tal forma e tal fúria, que parecia que poderia lançar raios de seus olhos na direção dela.  Extremamente assustada e com medo, Cerys correu para perto de sua mãe, que a acolheu num abraço, enquanto tentava enxugar algumas lágrimas, para evitar que Cerys a visse chorando e, sem se demorar, a afastou da sala, para que não ouvisse e atrapalhasse a conversa deles.

Sendo levada para a cozinha, Cerys percebeu que sua mãe estava triste e não entendia o que estava acontecendo.  Curiosa, ela se aproximou de sua mãe e, com um jeito infantil, puxou levemente o vestido de sua mãe, que se virou e, apesar dos olhos estarem vermelhos e inchados, ela forçou um sorriso para a sua filha.  “Hmmm... o q... o que foi, minha filha?”  Disse, ainda com aquela expressão forçada no rosto.  Cerys a olhou com seus olhares curiosos, mas meio assustados.  “... m-mamãe... o que... o que está acontecendo... Por que papai tá furioso e você tá triste?”  Perguntou, tentando observá-la atentamente, como se tentasse extrair a verdade só em olhá-la.  Sua mãe, que usava seus longos cabelos ruivos presos sob um lenço, se abaixando para ficar na altura de sua filha, que ainda a olhava com aqueles olhares assustados.

Gentilmente a acariciando, Cerys foi abraçada por sua mãe por algum tempo, deixando-a mais confusa.  “Filha... você... você me perdoa?”  Disse, com uma voz levemente embargada, mas sem soltá-la do abraço.  Ainda perdida e muito confusa, Cerys não conseguia entender o que se passava, mas, aos poucos, talvez por causa do jeito que sua mãe havia pedido, ou talvez por vê-la soluçar, Cerys moveu lentamente seus bracinhos e retornando o abraço e, sem se demorar, pôs-se a chorar também.

As duas ficaram abraçadas assim, por um bom tempo, que não perceberam de imediato, quando Jughund adentrou a cozinha e as olhou por algum tempo.  “Celes... trate de pô-la para dormir, já é tarde.”  Disse, de forma ríspida, servindo-se de um pouco do café que tinha no bule.  Celes se arrumou e tratou de enxugar as lágrimas que caíam do seu rosto, enquanto que começava a levar Cerys em direção a saída dos fundos da cozinha.  Porém, no caminho, Cerys virou-se para o seu pai e, com aquela pergunta ainda presa na sua garganta.  “P-papai... o que... o que houve!?”  Perguntou.  Celes tentou evitar que ela falasse, mas já era tarde: Jughund virou-se para ela, seus olhos apertados e frios, fitando-a, como se visse um inimigo pela primeira vez.  Celes o olhou e tentou argumentar algo, mas ele não se comediu, focando a sua filha por alguns instantes.  “Você quer saber?”  Disse, em tom baixo, a princípio, aproximando-se lentamente das duas.  “Você quer MESMO saber!?”  Disse, sua voz elevando de tonalidade, Celes o olhava com uma expressão assustada, tentando puxar Cerys para perto dela, no intuito de protegê-la enquanto que, tentava afastar-se, mas sem se virar contra seu marido, que parecia mais apavorante do que antes.

Ainda com aquela expressão de extrema fúria estampada no rosto, ele focava a pequena garota, que começava a chorar, ele se aproximava delas.  “Bem, saiba apenas que... a CULPA é toda sua!!!”  Disse, quase num grito e arremessando com toda a sua força, a caneca com o café contra a parede, que se espatifou logo que se chocou contra a mesma.  Tanto Celes, quanto Cerys choravam, extremamente assustadas, enquanto que Jughund permanecia parado naquela posição, de forma ofegante, como se a violência do golpe houvesse extravasado boa parte de sua fúria.  “Mulheres... vocês... são todas umas inúteis... Se você tivesse nascido um garoto...”  Disse, ainda com a respiração um tanto ofegante.

Passado alguns poucos minutos, que pareceram horas para os três, Jughund se restabeleceu e se afastou para a sala.  “Volto mais tarde...”  Disse, antes de bater com toda força, a porta de entrada da casa.  Celes e Cerys, como se o tempo voltasse a se movimentar após um longo tempo sem se moverem, voltaram a chorar: Cerys mais do que sua mãe, que permanecia amparando a jovem menina.  “M-mamãe...”  Disse, entre um soluço e outro.  Celes, ainda acariciando-a e arrumando os seus curtos cabelos, forçou um leve sorriso.  “Estou aqui, minha filha... não chore... venha... vamos tomar um banho.  Você está toda imunda, sabia?”  Disse, com um largo sorriso no rosto, mas os olhos ainda exibiam uma expressão triste e preocupada.  Cerys a olhou e moveu lentamente a cabeça, concordando.

Após tomar banho e a ajudá-la a se vestir, Celes a levou para o pequeno quarto aonde a menina dormia.  Era bem apertado, mas dava para ela ter um mínimo de conforto.  Como pôde, Celes se deitou ao lado de sua filha, acariciando-a, tentando acalmá-la e fazê-la dormir.  Tentava não se preocupar como o seu marido iria retornar para casa: não havia sido a primeira vez que ele saíra de casa de tal forma e retornar para casa, bêbado.  Suspirou.  Não, não iria pensar nisso no momento, olhou a sua filha, que ainda soluçava baixinho, recostada nela.

“M-mamãe... por quê?”  Perguntou Cerys, ainda chorando e soluçando.  Celes suspirou.  “Filha... eu sei que... você não vai entender boa parte do que tenho a lhe dizer... mas... acho que você precisa saber a verdade...”  Disse, ainda triste, tentando enxugar as lágrimas de sua filha e suspirou.

“Seu pai e eu nos conhecemos quando eu era bem jovem.  Ele tinha 26 anos e eu tinha 16 anos... Já havia passado da idade de me casar, mas ele não se importou e fomos felizes por um bom tempo...

O tempo passou e ele acabou herdando essa terra, que era dos ancestrais da família Shannon.  Começamos então a trabalhar e a dar duro para termos chance de sobrevivermos.  Foram épocas difíceis, mas conseguimos nos manter.  Até que, após algum tempo, tivemos você, minha filha.  Eu fiquei muito feliz, mas seu pai ficou um pouco desapontado: ele esperava um menino, para que pudesse ser o novo herdeiro das terras, mas nós passamos a acreditar que, iríamos ter mais um filho, o quanto antes...

Tudo ia bem, até que eu adoeci... Fiquei muito doente e passei a não poder mais trabalhar na terra e nem em casa.  Seu pai ficou aborrecido com isso, mas estava até preocupado.  Tentou cuidar de você, quando eu mal podia sair da cama... até que precisei ver um médico.  Sem muitas condições, mas como eu não apresentava sinais de melhora, seguimos os conselhos dados por ele, até que...”  Deu uma pausa, suspirando.  Seus olhos começavam a ficar marejados.  “Descobrimos que não poderíamos ter mais filhos...”  Completou.  Seus olhos, de marejados, passaram a derrubar mais lágrimas, estava por demais triste ao trazer a tona todas essas lembranças tristes.  Suspirou, tentando afastá-las, mas essa era uma grande ferida que tinha.  Cerys a olhou, meio que sem entender, mas ao ver sua mãe chorando, não resistiu e tentou consolá-la.

“... Desde então... seu pai tem tentado o máximo possível para manter as terras, mas eu não estava tendo mais como trabalhar, então ele passou a fazer sozinho todo o trabalho... mas começamos a ficar sem ter mais como pagar as dívidas e, para piorar... tivemos vários incidentes, como o clima e pragas... perdemos várias plantações... e acabamos ficando, por pouco, para perder as terras... foi quando, já sem alternativas, seu pai decidiu fazer uma coisa: em troca de metade do terreno mais uma... coisa... ele teria como manter parte das terras...”  Disse, extremamente triste, Celes.

Cerys a olhou, sem entender.  “M-mas... que... c-coisa é essa... mamãe!?”  Disse, olhando-a.  Celes a olhou por algum tempo e a abraçou, com um abraço sentido.  Passaram alguns minutos assim, até que Celes suspirou fundo e, como se uma sombra houvesse passado em seu rosto, ela aparentou estar mais pálida do que se encontrava.

“Filha... seu pai e o Sr. Edgard Delacour prepararam os arranjamentos do casamento seu com o jovem Léon”  Disse, com um certo pesar em sua voz.  Sem entender, Cerys a olhou por algum tempo e, aos poucos, seus olhos foram se arregalando, conforme ia compreendendo o que estava acontecendo.  A imagem daquele esnobe garoto passou várias vezes em sua mente e uma sensação de pavor começou a crescer dentro dela.  “Não pode... não pode ser verdade... mamãe... eu nem o conheço...”  Disse Cerys, os olhos fixos em sua mãe, como se tentasse ver que tudo não passava de uma brincadeira.  Uma brincadeira de mau gosto.  Mas sua mãe negou com a cabeça.  “É... é a verdade, filha...”  Disse Celes, ainda acariciando a cabeça de sua filha, sentindo-se péssima por sua filha, mas sabia que isso era algo que era muito usado, para vários fins.  Cerys começava a chorar.  “M-mamãe... não... não pode ser feito nada...!?  E-eu nem o conheço, mamãe.... por favor...”  Dizia, quase que implorando, mas a mãe negava com a cabeça.  “Sinto... sinto muito, minha filha... mas seu pai decidiu e... a última palavra é a dele.”  Disse e Cerys finalmente abaixou a cabeça, chorando.  Estava acostumada já que, as decisões e as idéias sempre vinham de seu pai.  Qualquer tentativa de se revoltar contra isso, era quase como um sacrilégio, como ela aprendeu com seus pais e com a igreja que freqüentava todos os domingos.  Chorando, abraçou a mãe, tentando encontrar apoio ou, ao menos, conseguir se sentir um pouco melhor em seu abraço.  Celes, ao vê-la, também se sentia da mesma maneira, mas ela não podia fazer nada: ambas eram mulheres e elas mal tinham direitos a argumentar e a se meter nos negócios dos homens.  Chorou abraçada a filha, praticamente a noite toda.  Cerys acabou dormindo, após um bom tempo chorando.

O tempo foi se passando.  Cerys havia perdido toda a sua alegria e animação, havia se tornado praticamente uma sombra do que ela era, quando criança.  Não via mais a necessidade de se deitar no gramado, e curtir o vento passar, como quando era criança e desconhecia, até então, os planos de seu pai.  Havia praticamente ‘morrido’ em vida.  Apenas continuava a viver e a seguir o desejo do seu pai.  Este continuava a destratá-la, quando se irritava, sem contar quando mantinha olhares frios para ela.  “Desde quando ele agia assim?”  Pensou, enquanto penteava seus longos cabelos vermelhos.  Havia crescido e se tornado uma bela, mas triste, jovem.  Faltava uma semana para o seu aniversário de 15 anos.  Data esta que normalmente ela iria comemorar com muita alegria, mas atualmente, ela desejava que a mesma demorasse um longo tempo para chegar: seu pai e o pai de Léon Delacour, Edgard, haviam combinado, naquela fatídica data, que a data do casamento entre eles seria no dia do aniversário.

“Nada mais justo!  Faremos uma única festa!”  Disse Edgard, dando um forte tapa nas costas de Cerys, que quase tropeçara devido à força, mas como havia se tornado uma pessoa praticamente sem vida, apenas o olhou e fez uma leve e, silenciosa, reverência para ele e caminhou em direção a cozinha, para pegar mais bebida para eles.  Celes a olhava e suspirava.  Sentia-se terrivelmente culpada pelo sofrimento de sua filha, mas nada podia fazer para ajudar a amenizar.  Já o tentara diversas vezes, mas sua filha praticamente não reagia.  Temia pelo pior, todas as noites, mas suspirava ao ver que, na manhã seguinte, ela ainda estava viva, mas a via daquela forma e se entristecia mais.

Sem pronunciar uma palavra sequer, ela pegou e encheu as canecas e retornou a sala, entregando-as para os dois.  Percebia os olhares de seu futuro esposo, que a olhava com uma expressão estranha, como se risse em forma de sarcasmo.  Ele havia crescido, assim como ela: havia se tornado um belo rapaz.  Os cabelos, como antes, eram curtos e negros e seus olhos, de um tom esverdeado, como se fossem duas esmeraldas a cintilarem.  “Seus olhares...”  Isso era a única coisa que a fazia perder um pouco daquela apatia.  Toda vez que ele a visitava, junto de seu pai, ela evitava ficar o menor tempo possível junto a ele.  “Mas... isso é inútil... daqui a uma semana.... eu e ele...”  Pensou e, segurando a bandeja vazia cobrindo o seu peito, tratou de voltar à cozinha.  Percebeu apenas que ele riu com essa atitude dela.  Ele realmente a assustava.

Ao voltar à cozinha, sua mãe voltou a olhá-la, mas Cerys estava com tantas coisas na cabeça, que apenas recuperou o fôlego e foi pegar uma jarra de água para beber.  Tentando animá-la, Celes se aproximou dela e apertou gentilmente o seu ombro.  “Filha... vá se deitar um pouco... você não parece bem...”  Disse, percebendo que a filha estava pálida e aparentando exaustão.  Cerys a olhou e suspirou.  “Mas... a senhora precisa de ajud...!?”  Ia perguntar, mas Celes apenas sorriu gentilmente, negando.  “Não se preocupe.  Vá, eu cuido das coisas aqui.”  Respondeu, dando leves tapinhas no ombro dela.  Cerys exibiu um curto e rápido sorriso e assentiu, indo em direção ao quarto.  Não queria nem se banhar, primeiro por causa das visitas e, segundo, que estava se sentindo muito exausta para fazer qualquer outra coisa e logo se deitou.  Dado o seu cansaço, não levou muito tempo para adormecer.

Teve vários sonhos curtos e, sem perceber, havia dormido por quase umas 4 horas.  Abriu os olhos, ainda meio zonza, ainda sentindo vontade de dormir por mais um tempo, mas havia ouvisto um barulho em seu quarto.  Com a visão ainda embaçada, tentou percorrer o local, mas dada à escuridão que já se estabelecia aos poucos, estimou que deveriam ser quase umas 6 ou 7 horas da noite.  Continuou a percorrer o local até que viu um vulto parado, próximo de um pequeno armário.  Parecia olhá-la fixamente.  Se concentrando naquela figura por um tempo, deu um pulo e saiu da cama, tentando se afastar.  Estava com medo e sabia, agora, quem era: Léon Delacour.  “M-mas... o que ele... está fazendo aqui...!?”  Pensou, mas sem tirar os olhos dele.

“O que foi, ‘querida esposa’?  Está com medo de mim?  Está com medo do seu ‘futuro marido’?”  Disse, de forma sarcástica e começou a mover-se em direção a ela.  Apavorada, Cerys se afastava mais com cada passo que ele dava.  Tentaria alcançar a janela e fugir por ela.  “O que... o que você quer!?”  Disse, quase num tom de voz embargada.  Ele a olhou novamente e riu e, num rápido movimento, conseguiu alcançá-la, segurando o seu braço direito.  “O que quero?  Eu não quero esperar até a lua de mel...  Quero –agora–!”  Disse, de forma definitiva e, dada a sua expressão e o que ele havia dito, fez com que Cerys se desesperou.  Tentou a todo custo se soltar dele.  “ORA... Fique quieta!  Você tem que me obedecer!”  Disse, mudando de atitude, para uma mais violenta, jogando-a na cama e, tão logo ela caiu a mesma, ele se deitou em cima dela.

De forma relutante ela tentou se livrar dele, mas sua força não era páreo para ele, que segurou o rosto dela com uma mão, enquanto acariciava, por cima do vestido que ela usava, os seios dela.  “Até que são macios... haha... pelo menos vai valer algo eu me casar com você, ‘esposa’!”  Disse, de forma sarcástica, ainda mantendo-a sob o seu controle.

Sentindo-se ultrajada e enojada, Cerys ainda tentava se livrar das garras daquele monstro, mas a sua relutância em não aceitar aquilo a deixava confusa: havia o acordo que seu pai havia feito.  Estaria transgredindo-o?  Não sabia dizer, mas não queria aquilo, não daquela forma.  Vários pensamentos passavam em sua mente: sua mãe.  Teria sofrido isso também?  Também não sabia dizer.  Mas seu desejo de sair daquela situação foi maior e, movendo sua perna com força, acertou-o bem entre as pernas dele, fazendo-o urrar de dor e cair para o lado, liberando-a, momentaneamente, o que ela não demorou e fugiu pela janela, ainda sentindo-se enojada e humilhada.  Seu futuro marido queria estuprá-la?  Foi a única coisa que lhe veio em mente, mas decidiu não pensar em nada, a não ser em fugir.  Sentia que precisava.  “M-mas... estarei agindo contra a vontade de meu pai?”  Pensou e arriscou parar de correr e olhar para trás, mas ao ver Léon pular a janela e vir em sua direção, ela se desesperou e ignorou o pensamento que havia tido e voltou a correr em desespero.

Apesar de ouvir as passadas dele se aproximando, Cerys continuou a correr no máximo que podia e alcançou uma floresta.  Iria se esconder lá pela noite.  Arriscou olhar rapidamente para trás e, vendo que ele continuava atrás dela, continuou a correr e a adentrar a floresta.  Sua respiração ofegante aumentava a cada metro que avançava, mas não poderia ceder ao cansaço, ou estaria perdida.  Procurou se esquivar entre as árvores, na tentativa de se perder dele e, após passar entre outras árvores e conseguir perceber que ele havia se afastado dela, já que o local estava começando a escurecer, ela conseguiu encontrar um local para se esconder.

Ofegante, cansada e, sem perceber, havia ferido levemente seus braços e pernas durante a fuga, tentou recobrar o fôlego, enquanto permanecia atenta: ele poderia estar por perto.  Aguçando seus sentidos, ficou procurando por qualquer som que viesse por parte dele.  Sentou-se lentamente e recolheu suas pernas contra o seu peito e começou a chorar, totalmente apavorada.  “Por quê?... Por que isso tinha que... acontecer comigo?”  Pensou e chorou com o rosto encostado entre os joelhos.

Ficou assim por alguns instantes, até que algo a ergueu pelo braço de forma brutal.  Apavorada, pôde ver que a sua frente, estava ele, Léon, extremamente furioso.  “PENSOU QUE IA FUGIR, É?!  ESTÁ ENGANADA, VOCÊ ME DEVE RESPEITO, SUA INSOLENTE!”  Gritou ele, jogando-a contra uma árvore com sua força.  Desesperada e mal conseguindo falar, a única coisa que vinha a sua mente foi sua burrice em ter se distraído.  Iria morrer, com certeza: seus olhares para ela exibiam isso.  Ele se aproximava contra ela e, em um outro movimento, as costas da mão esquerda dele a acertaram com toda força no rosto e, talvez devido ao cansaço, ou talvez da violência do golpe, ela caiu ao chão, sentindo terríveis dores no rosto e no corpo.  Não conseguia pensar coerentemente, apenas tentava se rastejar, já que não conseguia se levantar rapidamente, para longe dele.  Léon a olhava, ainda com fúria nos olhos.  “AONDE PENSA QUE VAI?  VAI VOLTAR PARA CASA E CONTAR PARA A SUA MÃE?  IDIOTA...  SEU PAI VAI MESMO GOSTAR DE SABER DO QUE FEZ!”  Continuou berrando e caminhando em direção a ela.  Apavorada, continuou rastejando para longe dele, mas ele estava cada vez mais perto.  Sabia que iria apanhar mais, mas não havia opção: ou apanharia por tentar fugir, ou apanharia por ficar ali... ou algo pior.

Léon se aproximou dela e esticando sua mão para puxá-la, sentiu um zunido passar perto de seu ouvido.  Estranhou e se ergueu, batendo com o seu ombro em algo que estava preso a uma árvore ao seu lado.  Olhou e pensou inicialmente se tratar de um galho, mas ao tocar e sentir sua espessura, surpreendeu-se: era uma flecha.  “Uma flecha... mas quem...!?”  Pensou e voltou-se para todos os lados, mas como estava ficando muito escuro para identificar algo, não encontrou ninguém, porém permaneceu alerta, ainda concentrando-se de onde poderia ter vindo àquela flecha, enquanto que Cerys, sem ter percebido nada, continuava a se rastejar, afastando-se dele: ela estava sendo movida inteiramente pelo pânico, nem percebendo que seu algoz, seu futuro marido, havia paralisado.

Não vendo mais nada, Léon voltou a sua atenção para Cerys e fez menção de buscá-la.  Iria se acertar com ela.  Iria humilhá-la pelo que ela fez, mas, como antes, ouviu mais um zunido, surgindo outra flecha, estocada na árvore atrás dele, há pouquíssimos milímetros de seu peito.  Irritado, virou-se para frente.  “QUEM.. QUEM ESTÁ AÍ!  APAREÇA, SE FOR HOMEM!”  Berrou, focando-se em vários pontos, mas novamente, não conseguia ver nada, a não ser uma outra flecha que passou a milímetro de seu pescoço, porém, dessa vez ela passou arranhando-o, fazendo vazar um pequeno filete de sangue.  “ARGHH....  SEU... SEU COVARDE!”  Berrou Léon, tentando ainda localizar quem o atacava.

Cerys, que ainda permanecia rastejando-se, parou ao ouvir os gritos de Léon.  “Algo... está acontecendo...”  Pensou.  Poderia ser uma armadilha, mas pressentia algo errado e olhou para ele: estava paralisado junto a uma árvore, pondo uma mão perto do pescoço, parecia estar sofrendo ao mesmo tempo em que arfava e, nervosamente, olhava em todo o redor.  Foi quando ela viu: algo desceu de uma das árvores, parecia uma sombra, segurando o que parecia ser um longo arco e caminhava a alguns passos a frente e erguendo aquele arco e esticando, o que parecia ser outra flecha.  Assustou-se, ante a visão e sentia a necessidade de continuar a fugir, mas seu corpo começava a não responder.  Olhou o Léon que continuava no mesmo ponto.

“APAREÇA!  EU TE ORDENO, SEU COVARDE!!”  Berrou novamente Léon, causando medo em Cerys.  Até que ambos ouviram uma risada e o som de algo a se esticar.  Tanto Cerys, quanto Léon, sabiam do que se tratava esse som: outra flecha sendo preparada.  “Ordenas?...  Hah, não me faça rir, por favor...”  Disse uma voz, que vinha da frente de Léon, foi quando ele conseguiu ver o vulto e um leve brilho do luar iluminava algo que refletia a luz: a ponta de uma flecha e, graças a essa luz, percebeu que a figura usava um manto que cobria parcialmente sua cabeça e seu corpo.  “COVARDE!  ESTOU DESARMADO E VENS ME AGREDIR COM SUAS FLECHAS?”  Berrou novamente e outro zunido passou próximo de seu ouvido.  Tão próximo, que sentiu uma pontada de dor, que crescia em intensidade e, sem se demorar, sentiu algo quente e úmido cair em seu ombro: havia acertado uma ponta de sua orelha.  “GAAAAAAAAHHHH... SEU…. SEU….”  Berrou, ainda sentindo aquela terrível dor em sua orelha.

“Chamas-me de covarde, mas agredia até a pouco alguém, não?”  Disse o vulto.  “Vá embora... ou irá ganhar um novo adorno em sua testa.”  Disse, fazendo novamente o som de outra flecha a ser preparada.  Léon não aceitava ser humilhado daquela forma e sentia o peito arder em revolta.  “Quem ele pensa que é!?”  Pensou.  Focando-se na figura a sua frente, ele iria pagar pela humilhação que estava sofrendo.  “SEU... SEU...”  Ainda berrando e protestando ante a figura, que permanecia imóvel, ainda com o seu arco a postos.

O silêncio da figura, apenas quebrado pelo som da flecha sendo esticada, começou a fazer com que Léon começasse a sentir medo.  Ainda tinha ódio pela figura que estava a sua frente, pela forma que o humilhava perante a sua futura esposa.  Lançou um olhar na direção de Cerys, que ainda permanecia paralisada de medo e voltou-se para a figura com o arco e flecha.  Percebia que aquele brilho da ponta da flecha desaparecia, conforme ficava mais esticada.  Saberia que ela não o erraria dessa vez, como aquele vulto havia prometido.  Apertou os punhos e cerrou os dentes.  “HMPF... VOCÊ… VOCÊ VAI ME PAGAR!”  Berrou e. em poucos segundos, correu para longe do local, saindo da floresta.

A figura, deixando escapar certa risada, recolheu sua flecha e a guardou em algo que parecia ser uma aljava e, em seguida, guardou seu arco e focou sua visão para Cerys, que ainda permanecia paralisada de medo.  Sorriu e caminhou em direção a ela.

Cerys, apavorada, sentia que seu corpo voltava a ganhar mobilidade, mas o tremor que sentia em todo o mesmo, vendo aquela figura vindo em sua direção, fazia com que ela não conseguisse coordenar seus movimentos perfeitamente e tentava fugir, mas seus braços tombavam, precisando se reerguer às pressas.  Porém, quando conseguiu firmar-se, sentiu que aquela figura estava próxima, de pé, ao seu lado.

Agora, perto dela, Cerys percebia que era alto e parecia imponente.  Sentia medo e o temia.  “E-eu... v-vou morrer…”  Foi o pensamento que passou em sua cabeça, mas a figura permanecia parada por alguns instantes, mas logo se agachou.  Em seguida, removeu o seu capuz, exibindo um belo rosto com um sorriso estampado no mesmo e, com a luz do luar, iluminando-o por completo, percebeu que não era um homem: tinha feições femininas, mas não era um humano qualquer.  A figura a sua frente, era uma elfa.

“Uma... elfa...!?”  Pensou Cerys.  Tinha cabelos curtos e uma pequena trança que pendia de um dos lados de seu rosto.  Seus olhos, de tons quase dourados, fixavam-se nela, com um leve toque de preocupação perante o estado que Cerys se encontrava.  “Você... está bem?”  Perguntou, dando uma curta pausa.  “... Consegue se levantar?”  Concluiu, esticando a sua mão em direção de Cerys.  Ainda sob o choque de tudo que havia lhe acontecido nesse dia, Cerys sentiu seu corpo fraquejar novamente e, sem se demorar, caiu desmaiada.  A elfa a observou por algum tempo e suspirou.  “Pelo visto não...”  Disse.


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Notas finais do capítulo

Foi um capítulo divertido e até rápido de se escrever. A idéia para as duas personagens surgiu com a necessidade de contar sobre a ascenção de uma única religião central em Tharan... que a guerra que decidiu tal destino ficou conhecida como Religion Wars (ainda em planejamento). "Nascia" então Cerys e Ainariël, uma humana e uma elfa.
Fiquei com certo dó da Cerys e o seu arrogante 'prometido' Léon, mas me diverti na parte final, quando a elfa tenta ajudá-la e Cerys acabou por desmaiar.

Aguarde para breve, o segundo capítulo!



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