Genesis escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 6
Capítulo 6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/9067/chapter/6

          O lugar onde Aoi havia estacionado era um pouco longe da casa noturna, mas vinte passos na direção da mesma já eram o suficiente para que Uruha ouvisse o som ininterrupto e as batidas contínuas que ele tanto amava. Olhos brilhando por causa da antecipação, o loiro apressou seu passo sem perceber, não notando também a leve risada que escapou os lábios adornados por um piercing preto do outro homem atrás de si.
          A dupla de alunos acabou chegando pelo lado oposto ao que se formava a fila para entrar no local, recebendo olhares nada amigáveis quando ambos pararam na frente da porta, o moreno girando a cabeça enquanto tentava localizar a hostess. Uruha parou ao lado do outro, apenas batendo o pé no pavimento da calçada no ritmo, a cabeça sendo jogada de um lado para o outro levemente.
          Distraído, o loiro quase gritou de susto quando um segurança alto e bem intimidador o tocou nos ombros, seus óculos escuros deixando-o ainda mais autoritário.
          - O que você está fazendo aqui? Seu lugar é no final da fila.
          - Iie! Meu amigo está com os VIPs, só precisamos da hostess... - ele começou a explicar enquanto parte da fila assistia a cena com um interesse morno, que no entanto pareceu crescer por parte das mulheres quando o segurança usou os dois braços para mover Uruha do lugar e um trecho maior da sua barriga foi exposto.
          - Sabe quantos garotos metidos à galã me passam essa conversa por noite?
          Prestes a ser arrastado para o final da fila sem motivo algum, o loiro foi salvo quando a mão direita de Aoi fechou-se no seu pulso, puxando-o de volta e atraindo a atenção do truculento segurança. Olhando para o homem de terno, ele mostrou os dois bilhetes prateados para o outro com um sorriso que misturava desprezo e triunfo, mas que no entanto haveria de ser ignorado pelo outro; Aoi realmente tinha o que era necessário para entrar como VIP.
          - Agora, se fizer a gentileza de soltar meu amigo... - o moreno falou, o piercing que enfeitava seus lábios ainda mais para cima da sua localização original devido ao sorriso que não havia deixado seu rosto - Poderia chamar a Reiko e dizer que Aoi está esperando?
          O segurança largou o guitarrista loiro muito a contragosto, bufando quando virou para a direção oposta e voltou para a frente da casa noturna, a música vindo sem parar de dentro da mesma. Depois de alguns momentos, uma garota que aparentava ter por volta de uns dezenove anos veio correndo na direção do moreno, suas roupas de grife mostrando que recebia um salário bom para poder comprá-las e que também tinha seus dotes naturais para poder exibi-las.
          Quando ela jogou o cabelo para trás, Uruha percebeu que a hostess usava lentes de contato azuis quando abraçou Aoi pelo pescoço, que rapidamente enlaçou a hostess pela cintura e deu um meio giro com a garota nos braços. O loiro apenas observou a cena, seus olhos castanhos se arregalando consideravelmente quando os dois trocaram um beijo bem comprido e um tanto quanto cheio de intimidades demais para o gosto de Uruha.
          Batendo-se mentalmente, o loiro rolou os olhos ao lembrar de que eles eram ex-namorados. Uma recepção calorosa era de se esperar, principalmente se a garota havia arranjado dois convites VIPs para seu antigo namorado.
          - Rei-chan. Você está linda, como sempre... - Aoi comentou quando eles se separaram um pouco, pegando a mão direita da menina e fazendo com que ela desse uma volta no próprio eixo enquanto ele assobiava, balançando a cabeça afirmativamente - Não me lembro dessas roupas.
          - Porque são novas, baka. - ela respondeu sorrindo e removeu rugas invisíveis do seu top roxo escuro brilhante - Tudo bem com você? E este, quem é? - ela perguntou, virando-se para encarar Uruha pela primeira vez e arregalando os olhos. O loiro sorriu de leve; aparentemente, ele também tinha seus charmes.
          - Este é Uruha, um amigo da escola. Uruha, esta é Reiko, ex-namorada e hostess da Maximum Impulse.
          Apresentações feitas, Uruha e Reiko cumprimentaram-se como pessoas normais e sem os exageros que o antigo casal havia cometido, a hostess logo em seguida recolhendo os convites deles e colocando em um bolso lateral na sua calça. Conduzindo os dois amigos para a entrada, ela aproximou-se de Aoi o suficiente para conseguir murmurar algo para ele antes dos dois descerem as escadas que levavam ao interior da casa, deixando-os sozinhos novamente.
          - O quê ela te disse? - Uruha tentou se fazer ouvir por cima da música, bem mais alta do que estivera antes do lado de fora. Sua cabeça inconscientemente marcava o ritmo da batida de novo, os detalhes prateados da sua roupa brilhando quando a luz ocasionalmente caía neles.
          - Ah, o de sempre. Para quando eu quero mais ingressos. - Aoi respondeu com naturalidade, sorrindo antes de parar no fim da escada e se virar para Uruha - Muito bem, o quê vai beber?
          - Beber? - o outro quase gritou, embora não porque quisesse ser ouvido e sim porque havia se assustado - Aoi, não temos idade para beber! E sabe que se alguém nos pegar, nós...
          - Hai hai hai. - o moreno impediu o outro guitarrista de continuar falando com um gesto apressado de mão - Eu vou pegar alguma coisa para mim. Não suma nessa pista de dança, se bem que... - os olhos do moreno desceram e subiram pela figura de Uruha, examinando mais uma vez o corpo do outro e o jeito que estava vestido - Nada não. Já nos encontramos na pista.
          - Wakatta. - Uruha murmurou antes de abrir caminho por entre as pessoas que apenas balançavam no lugar ao invés de realmente dançar, chegando por fim aonde ele amava estar nos fins de semana: uma pista de dança cheia de gente, música alta e iluminação nada convencional.
          Aquela era a fuga do loiro; era o jeito que ele encontrava para se distrair dos problemas que sempre batiam à sua porta, fosse dentro ou fora de casa. Ali ele não tinha de atender às expectativas de ninguém, não tinha que causar impressão nenhuma, não era um item em exposição numa vitrine familiar.
          Ele podia ser simplesmente quem ele era, e nada pagava esses momentos de pura liberdade. Na verdade, noites como aquelas eram compradas com ingressos, por sua vez adquiridos com o dinheiro da sua mesada, mas que ultimamente... Havia sido cortada por sua mãe a mando de seu pai depois de algumas respostas atravessadas de Uruha que o senhor Takeshima não havia gostado.
          Mas nada disso importava agora. Ele estava novamente no lugar a que ele pertencia, deixando seu corpo ser tomado pela batida que ouvia e sentia dentro de si mesmo, lançando os braços acima da sua cabeça e fechando os olhos, ocasionalmente sorrindo enquanto dançava e como sempre, atraindo olhares toda vez que ele demonstrava o quão integrado com aquele ambiente ele estava.
          Tomado pela música, Uruha mal sentiu os dois braços que o envolveram pela cintura, percebendo a presença dos mesmos quando ele foi puxado de encontro a um segundo corpo. Sorrindo e pronto para discutir de brincadeira com Aoi sobre agarrar outras pessoas na pista, Uruha se assustou quando viu que se encontrava nos braços de um estranho, muito mais ameaçador que Aoi e provavelmente bêbado, a julgar pelo bafo que o loiro sentia no outro.
          - Você fica ainda mais linda assustada... Vem aqui, vem... - o homem desconhecido puxou Uruha violentamente contra o seu corpo, sorrindo enviesado e deixando o pobre guitarrista loiro em estado de choque, e não só porque ele havia sido confundido com uma mulher. A falta de ação não durou muito quando Uruha percebeu que o outro estava tentando beijá-lo, fazendo com que as suas defesas naturais fossem despertadas e ele começou a se debater, tentando a todo custo se livrar dos braços do outro.
          - Me... Solta! - o outro gritou, o que não foi muito significativo por causa da música alta. O homem avançou novamente, mirando o seu rosto e Uruha fechou os olhos, empregando toda a sua força em uma tentativa bastante desesperada de tirar o outro de perto dele.
          Surpreendentemente, o loiro se viu livre da ameaça, abrindo os olhos rapidamente e acostumando-se em segundos à luz piscante da pista. Como se fosse em câmera lenta, ele observou Aoi socar o outro homem no meio do rosto dele, mandando o bêbado cambaleando para trás até acertar uma mesa, onde assustou os ocupantes que saíram correndo.
          Uruha levou as mãos à boca, olhos maiores do que nunca. Aoi iria... Se machucar se continuasse daquele jeito!
          O grandalhão bêbado, agora com o orgulho ferido, lançou-se contra o moreno, que tinha em uma das mãos um copo alto preenchido com um líquido que o loiro simplesmente não conseguia identificar, ainda mais na luz peculiar em que se encontravam. O copo caiu no chão, quebrando-se e espalhando todo o seu conteúdo, fazendo com que o desconhecido escorregasse nos cacos de vidro e tombasse para o lado, deixando Aoi em paz por um triz.
          Nessa hora, os seguranças da casa chegaram do lado de fora e abriram caminho entre a multidão que dançava, muitos sem sequer tomar ciência da briga que acontecia mais ao fundo. Dois deles arrastaram o homem que já havia tomado cervejas demais para aquela noite para fora, a camisa do bêbado manchada com um pouco de sangue; ele provavelmente havia se machucado nos cacos do copo que havia se espatifado. Piscando e percebendo que o perigo havia passado, Uruha correu até Aoi, que arfava um pouco e tinha a mão direita próxima da boca, cobrindo o piercing.
          O loiro não teve muito tempo para agradecer ou perguntar o que tinha acontecido, porque outros dois homens de terno apareceram para escoltá-los até o lado de fora. Sem reclamar dessa vez, os dois se deixaram conduzir pela saída dos fundos, onde foram deixados rudemente, com direito a alguns insultos proferidos pelos seguranças antes de voltaram para o interior da casa noturna e baterem a porta com força.
          Sozinhos na rua dos fundos, Uruha imediatamente se aproximou do amigo e olhou com preocupação para ele, o rosto do moreno agora visível decentemente sob a claridade do poste de iluminação. Com delicadeza, o loiro usou as pontas dos dedos para tirar a mão de Aoi da frente da sua boca, e constatou com horror que havia sangue ali.
          - Aoi! Você está sangrando!
          - Eu... Sei... - o moreno respondeu, fazendo uma pequena careta de dor e usando a língua para mexer na parte afetada do lábio; fora isso, ele não parecia ter sofrido nenhuma outra lesão - Aquele filho da mãe me atingiu na boca. Mas também foi o único golpe que ele conseguiu acertar. - o outro riu sozinho, aparentemente satisfeito com os resultados finais, de repente erguendo a cabeça e fitando o loiro ao seu lado - E você? O quê ele te fez?
          - Ele? - Uruha piscou várias vezes - Ah, o bêbado? Eu estou bem, ele não me fez nada... Por pouco. - ele acrescentou em voz alta, ajeitando a blusa que havia sido ligeiramente deslocada e mostrava mais da sua pele branca do que deveria - Arigatou ne, Aoi.
          - Nah, não foi nada. - o moreno respondeu com um sorriso, parando com o mesmo quando notou que doía curvar os lábios daquele jeito - Eu preciso de... Gelo.
          - Vamos até o pronto-socorro mais próximo. - Uruha decidiu, pegando o outro pela mão esquerda que não tinha sangue e puxando-o devagar na direção do carro do pai de Aoi - É bom que confirmem que você não vai ter problemas com o seu piercing...
          - Eu acho que não. - Aoi comentou, querendo se livrar do sangue que tinha na mão e no rosto mas não tendo nenhum lenço consigo para usar - Mas sabe, Uruha. Dizem que um beijo sempre ajuda os machucados a sarar.
          O loiro parou de andar, encarando o seu amigo somente para corar furiosamente, sem soltar a mão do moreno no entanto. Aoi riu, mas arrependeu-se de fazer isso quando sentiu sua boca protestar contra o movimento novamente.

          Sentados na sala de espera do pronto-socorro do distrito onde ficava a casa noturna onde Aoi se machucara, os dois estudantes estavam quietos, esperando que o nome do moreno fosse chamado para que eles fossem então atendidos. Mas o silêncio que imperava ali não era em respeito à foto de uma enfermeira com o dedo indicador sobre o lábio, ou para que um bebê mais ao canto da sala não acordasse; era porque falar virara uma atividade dolorosa para Aoi nas suas atuais condições e Uruha estava em estado de choque.
          - Não acredito que... Dirigi o carro do seu pai.
          O mais velho dos dois virou a cabeça para a direita, encarando o outro adolescente que parecia querer sumir na cadeira que ocupava.
          - Dirige como se estivesse bêbado, Uruha. Mas nada que não melhore com treino.
          - Eu dirigi sem ter idade, habilitação e sem nem ao menos saber como se dirige um carro direito! - o loiro também se virou para o seu companheiro e elevou a voz, rapidamente descendo o volume da mesma e corando quando se deu conta de que ele estava praticamente confessando um crime - Ah, se meus pais descobrirem...
          - Descobrirem que você andou dirigindo sozinho?
          Os olhos castanhos de Uruha de repente estavam de volta no rosto de Aoi, olhando com espanto para o moreno, que apenas sorriu e deixou sua cabeça encostar na parede.
          - Como você sabe?
          - Ah, fácil. Você dirige como um bêbado, mas... - uma piscadela de olho serviu para enfatizar o "mas" - Dirige, no final das contas. Para fazer o que você fez algum conhecimento era preciso, ne.
          Os lábios brilhantes de Uruha se curvaram num sorriso que inicialmente parecia tímido, mas que depois se alargou e passou a transmitir uma emoção que o moreno não sabia definir. No entanto, qualquer sorriso do loiro tinha aquele efeito nas pessoas, afinal os lábios dele eram lindos, beijáveis... E só ficavam mais atraentes quando gloss era aplicado sobre eles, como naquele momento.
          - Ainda bem que você não é um policial.
          - E nunca serei. - Aoi fez uma careta - Trabalho chato. Ninguém merece policiar toda uma sociedade.
          - Hm-hmm. - o outro concordou com um murmúrio, encostando também sua cabeça na parede e olhando o seu colega com o canto do olho - Mas pense pelo lado positivo: você ia ficar bem interessante de uniforme.
          Piscando e sem compreender que o outro garoto havia flertado com ele inicialmente, Aoi só se movimentou quando uma enfermeira apareceu na sala e chamou seu sobrenome, fazendo com o que guitarrista se levantasse e fosse atrás do seu acompanhante loiro. Algumas pessoas lançaram olhares para os estudantes, no entanto Uruha não percebeu. O moreno, porém, tinha visto tudo e duvidava de que fossem dirigidos ao seu lábio danificado.

          O cumprimento de "bom dia" de Kai foi cortado ao meio quando ele viu o curativo branco que protegia o lugar onde seu amigo exibia um piercing preto normalmente. Deixando o queixo cair alguns centímetros, o jovem de cabelos castanhos logo recuperou a fala e perguntou:
          - Aoi-kun! O quê aconteceu?
          O baterista se levantou da cadeira e tentou chegar mais perto, mas com um sorriso tranqüilizador Aoi segurou-o pelos ombros e fez com que se sentasse novamente na carteira, ele mesmo se acomodando depois e virando para trás.
          - Não se preocupe, Yukkun. Foi um acidente. - a explicação saiu calma e cristalina, mecânica até; o adolescente havia perdido a conta de quantas vezes havia explicado aquilo, incluindo seus pais entre os ouvintes.
          - Não me chame assim aqui! - protestou o outro com uma cara amarrada que durou apenas segundos antes de voltar à preocupação de antes - Que tipo de acidente? Bateram em você?
          - É.
          - Como?
          - Foi isso mesmo.
          Kai ficou em silêncio por alguns momentos, observando o seu amigo que bizarramente tinha uma expressão divertida no rosto.
          - Eu estava brincando...
          - Eu sei. Mas realmente foi isso, sofri um acidente no final de semana. Um cara bêbado tentou atacar Uruha na Maximum Impulse e...
          - Maximum Impulse? Vocês saíram para dançar ao invés de estudar?
          A voz de Kai estava carregada de incredulidade, o que inevitavelmente fez o moreno rir. O baterista suspirou e enterrou o rosto nas mãos, balançando a cabeça lentamente.
          - Kai, Kai. Eu estudei. Estudamos antes de sair.
          O baterista ergueu a cabeça e apoiou o queixo na sua mão espalmada esquerda, observando o amigo. Sorrindo um pouco, ele continuou:
          - Desculpa se fico desse jeito, Aoi-kun. É que não quero ver você perder um ano aqui, ne. Se alguma coisa acontecer...
          - Eu sei. Meus pais vão atacar a banda antes de qualquer coisa. Eu sei... Não quero estragar o sonho de vocês por um descuido meu. Por isso eu realmente estudei. Não toda a matéria, mas...
          - Wakarimashita. Já está melhor assim, Aoi-kun.
          Logo em seguida o professor Takeda entrou na sala, ordenando que todos fossem para seus lugares e ficassem quietos. Quando os olhos do professor repousaram na figura do moreno e notaram o curativo, o guitarrista podia jurar que o filho da mãe havia sorrido por alguns instantes antes de entregar as provas.

          No final da aula daquele dia, Aoi e Kai conversavam sobre o próximo ensaio quando a dupla de loiros que havia passado o final de semana também estudando chegou: Ruki e Reita. Tanto o guitarrista quanto o baterista ficaram em silêncio, observando os outros dois que caminhavam sossegadamente na direção deles, conversando como se fossem amigos de longa data.
          - Okay. Confesso que nunca imaginei que fosse ver isso.
          O adolescente de cabelos castanhos sorriu para Aoi.
          - Ne, Aoi-kun. Também achei que não fosse ver aquilo... - seguindo o dedo indicador de Kai, os olhos do moreno encontraram a figura de Uruha, que com certeza vinha na direção deles, atrás de Ruki e Reita. O guitarrista inclinou a cabeça para a direita, concordando brevemente com seu amigo mas sem conseguir evitar um sorriso.
          - Tem toda a razão, Yukkun.
          - Aoi-kun! Não me chame assim... - a reclamação do baterista, no entanto, não foi mais longe porque os outros três estudantes haviam por fim se juntado a eles, trocando cumprimentos.
          Ruki pulou para o meio do pequeno círculo que eles haviam inconscientemente criado com seus corpos, apontando o dedo indicador da sua mão direita para o meio do rosto do moreno:
          - Você! Você deveria ter visto a cara do Takeda quando eu entreguei a prova toda respondida! - o punk se vangloriou, causando um pequeno ataque de riso por parte de Reita; as atitudes recatadas do baixista contrastavam com a irreverência de Ruki de um jeito que era paradoxal e complementar ao mesmo tempo.
          Internamente, Aoi estava grato pelo seu amigo não ter perguntado sobre a sua boca e o piercing; ele já deveria saber de tudo por Reita que por sua vez provavelmente havia sido informado por Uruha, mas ainda sim Ruki sabia que o moreno detestava comentar sobre qualquer coisa que expusesse uma fragilidade sua em público.
          - Eu queria ser uma mosquinha para ver a cara dele quando corrigir as nossas provas. - Aoi emendou com um sorriso largo e tomou a iniciativa de começar a andar, deixando a frente da escola e levando o grupo junto com ele. A velocidade dos passos, no entanto, era pequena e permitia que todos conversassem sem problema algum.
          - Graças a quem? - Reita perguntou, ganhando um soco leve e de brincadeira no braço esquerdo de Ruki que riu.
          - Ao meu solo de baixo! - Aoi proclamou e se virou para onde o loiro educado e cortês do grupo se encontrava, fazendo um sinal de positivo. Reita acabou concordando no final - Se não fosse por ele, não estaria aqui.
          - E no final, era o que você estava compondo na aula do Takeda-san, ne? - Kai lembrou o incidente, que fez o moreno parar de andar por alguns momentos, sorrindo malignamente e logo em seguida pedindo desculpas a Uruha que havia trombado com ele.
          - Kai. Eu não tinha pensado nisso.
          - Nisso o quê? - Uruha indagou, colocando-se agora ao lado de Aoi na calçada para evitar futuras colisões.
          - No fato de que o Takeda... Foi o responsável pela formação final da nossa banda.
          Ruki e Reita pararam de conversar e os cinco adolescentes formaram novamente um círculo na rua, quatro faces encarando o rebelde moreno.
          - Como é, Aoi-san? - o baixista perguntou.
          - Fácil. - o rapaz temporariamente sem piercing respondeu - Ruki é uma catástrofe no baixo e você é excelente. - vendo Reita erguer as duas sobrancelhas, Aoi explicou - Se você aplicar a dedicação que tem na escola ao baixo, você certamente já terá ultrapassado Ruki. O que não é lá muito difícil, sem desmerecer suas habilidades.
          O punk loiro sorriu, fazendo um comentário sarcástico que não impediu Aoi de continuar:
          - E depois, Uruha é um excelente guitarrista. Não melhor que eu, claro. - e nessa parte o loiro cruzou os braços e lançou um olhar cético para Aoi, sem, no entanto, omitir um sorriso - E com duas guitarras podemos ir muito mais longe. Temos, no final, uma banda completa. Com Ruki voltando novamente para os vocais.
          Silêncio se abateu sobre o pequeno grupo que era lentamente tingido de laranja pelo sol que se punha, repentinamente quebrado por Uruha:
          - Quem foi que fez de você o líder?
          Rindo, o moreno retomou o passo mais uma vez, propondo uma comemoração em uma lanchonete distante duas quadras dali. Os outros concordaram e, em um clima de total amizade, continuaram o caminho.
          A formação estava completa; era a gênese do sonho de cinco estudantes.



Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Genesis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.