Genesis escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 4
Capítulo 4




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          Fazia quase uma hora que os dois haviam iniciados os estudos. Suspirando com grande pesar, o moreno se jogou para trás na cadeira que ocupava, ignorando a dor que o havia atingido quando suas costas fizeram um contato nada agradável com a parte de trás da mobília.
          Esticando os braços acima da sua cabeça, ele fechou os olhos por alguns momentos, esfregando-os e finalmente focando as suas íris negras na figura de Uruha, que terminava rapidamente alguns cálculos com uma caligrafia corrida, mas ainda sim elegante.
          - Pronto. Aqui está como você calcula a velocidade nesse caso... - o loiro falou, puxando a folha para o meio dos dois na mesa e fazendo com que Aoi se inclinasse para a frente e mais para perto do outro estudante também - Usando os dados do enunciado e aplicando na forma, você tira a resposta. Nem precisa pensar.
          - Hah. - o moreno fez um barulho com a garganta e seus olhos cintilaram, refletindo a luz do abajur de um jeito estranho - Você não precisa me humilhar a cada exercício resolvido.
          - Não é questão de humilhar ou não. - Uruha replicou, acirrando os olhos e puxando o papel de volta para ele - Eu simplesmente sei isso e você não. E eu não vejo você se esforçando para aprender.
          - E você se importa? - o moreno perguntou incrédulo, sentindo suas sobrancelhas se erguerem sozinhas - Não aceitou isso apenas porque sua mesada foi suspensa e você não sai à noite há tempos?
          O loiro abriu a boca para responder mas nenhum som saiu, seus lábios ainda no formato de uma pequena letra "o". Aoi viu a surpresa no rosto do outro com uma satisfação que tinha uma ponta de maldade, mas seu subconsciente também notou o quão bonito Uruha ficava daquele jeito.
          - Aoi. Você não vai precisar dormir aqui se continuar assim, porque por mim, já terminamos a lição.
          Com um barulho surpreendentemente alto, o homem de cabelos dourados fechou o livro com força, encarando o seu aluno nada respeitoso com uma mistura de raiva e vergonha nos olhos. Aoi notou a presença das duas emoções e ignorou-as por ora, sentindo que a sua nota em física precisava de ajuda urgente. Ou então...
          Ou então sabe-se lá o que seus pais poderiam dizer sobre a sua banda e seus projetos artísticos.
          Aoi se perdeu por alguns momentos nesses pensamentos, só voltando à realidade quando Uruha se levantou da cadeira onde estava e apanhou seu material da mesa, deixando claro que tudo estava terminado mesmo.
          Com um movimento rápido, o moreno pegou o pulso de Uruha, com firmeza mas não com força suficiente para machucá-lo. O loiro tensionou o corpo e fitou o outro estudante de fama deplorável com desprezo, esperando pela próxima jogada do moreno.
          - Gomen nasai. - ele se desculpou - Eu... Realmente abomino isso. A escola, eu quero dizer. Não vejo utilidade nenhuma, mas você claramente vê e está aqui na noite de sábado comigo...
          Não olhando para o morador da casa, o estudante que ainda se encontrava sentado perdeu um pequeno sorriso no rosto do outro, que sumiu instantes depois.
          - Eu não vejo utilidade em física também... Aoi.
          Erguendo a cabeça, Aoi questionou Uruha silenciosamente com os olhos. O outro homem simplesmente suspirou, fazendo uma pequena mecha de cabelos cor de ouro voar antes dele voltar à sua posição inicial e sentar-se novamente na cadeira de escritório que ocupava. Seu pulso já estava livre outra vez.
          Em silêncio, Uruha abriu o livro novamente onde estavam e leu o problema seguinte, observando o gráfico e virando-se para a sua esquerda, encarando Aoi.
          - Faça isto com a sua mão.
          - O quê?
          - Faça isso.
          O loiro usou a mão direita, levantando-a um pouco e fazendo primeiro uma espécie de revólver com a mesma, deixando o polegar na vertical e o dedo indicador apontando para Aoi; em seguida, ele moveu o dedo do meio, deixando-o perpendicular ao indicador.
          O moreno copiou o gesto, mas sem muito sucesso. O loiro sorriu rapidamente mais uma vez, antes de usar a mão esquerda para explicar o que estava fazendo:
          - Força... - ele tocou o dedo polegar com a mão esquerda - Campo... - mostrou o dedo indicador - E velocidade. - mostrou o dedo do meio dessa vez, deixando a mão esquerda cair no seu colo de volta - É assim que você pode resolver problemas simples envolvendo direção de campos, trajetória da velocidade e por aí vai.
          O moreno piscou.
          - Isso é estúpido.
          - Isso funciona.
          - Eu vou ficar mexendo a mão desse jeito estranho durante uma prova?
          - Se isso for salvar sua nota, por que não?
          O argumento calou Aoi por vários segundos, enquanto ele tentava copiar a posição dos dedos longos e elegantes de Uruha, novamente fracassando.
          - Não, não é assim. - o loiro desmontou a posição da mão direita e ajudou Aoi a colocar os dedos do jeito certo, delicadamente virando-os para o lado correto sem machucar o outro estudante.
          O contato foi inesperado para o moreno; ele notou que as mãos do loiro eram suaves e delicadas, mexendo nas suas quase como se fossem preciosas. Aoi sentiu que parte dos dedos de Uruha também tinha calos, como se ele tocasse algum instrumento.
          - Pronto. Agora você sabe fazer.
          - E como eu vou lembrar da ordem?
          Uruha deu de ombros.
          - Você pode decorar ou inventar frases. A maioria inventa frases.
          - ...Por exemplo?
          - Fico com você. - ele sugeriu, tocando a ponta dos dedos que indicavam força, campo e velocidade respectivamente, as palavras tendo as mesmas iniciais que as contidas na frase exemplo.
          Os dois jovens ficaram em silêncio durante um tempo consideravelmente longo, antes que o moreno se inclinasse para a frente e sussurrasse:
          - Eu também.
          A voz da mãe de Uruha chamando-os do andar inferior para jantar salvou o loiro de corar mais que o necessário na frente do outro estudante, que ficou rindo sozinho no quarto do mesmo antes de descer para jantar.

          O jantar se deu na mesa da sala de jantar da casa de Uruha. Aoi foi curtamente apresentado pelo loiro, que olhou para todos os lugares menos para o seu colega de escola moreno. Além da mãe do loiro, estavam também presentes o pai do mesmo e outras duas garotas, que aparentemente eram as irmãs mais velhas do loiro.
          - Kou-chan! Por que você nunca trouxe Shiroyama-san aqui antes? - uma das garotas perguntou, e Aoi ergueu a cabeça. Ele não precisava se virar para Uruha, sentado à sua esquerda, para saber que ele estava ficando com vergonha de ser chamado daquele jeito por todas as mulheres da sua família.
          - Não tínhamos nos falado muito na escola até pouco tempo atrás. - o moreno explicou rapidamente.
          - Ah, que pena.
          Uruha tossiu de um jeito estranho ao seu lado, fazendo o moreno olhar com o canto do olho para o colega de escola; ele parecia estar mais vermelho que de costume no rosto.
          Uma breve conversa sobre a comida e as habilidades culinárias da senhora Takashima se seguiram, e Aoi educadamente elogiou toda a comida. Ela estava, de fato, um pouco mais salgada do que o moreno estava acostumado, mas isso não tirava os méritos da dona da casa.
          - Shiroyama-san! O quê você pretende fazer quando se formar?
          Quem havia falado era a mais velha das irmãs, que embora fosse muito bonita, tinha um nariz que dava a impressão de que não era dela. Sem contar que ela tinha o cabelo escuro, completamente o oposto do irmão. Talvez Uruha fosse adotado.
          - Músico. Eu tenho uma banda.
          Murmúrios de surpresa ecoaram por parte das duas irmãs e da mãe de Uruha, o pai do mesmo se abstendo de comentar. Aoi imaginou que ele deveria ser parecido com o seu próprio pai: conservador e da opinião de que músicos eram pessoas que não queriam trabalhar seriamente.
          - Kou-chan também toca! Não toca?
          - Hai. - Uruha murmurou por entre dentes cerrados, sua comida esquecida no prato.
          O moreno olhou com surpresa nos olhos para o loiro ao seu lado. Então havia uma razão para os dedos do outro apresentarem as calosidades que ele imaginara ter sentido.
          Os lábios adornados pelo piercing preto se curvaram em um elegante sorriso para o garoto ao seu lado.
          - E você toca o quê, Kou-chan? Harpa? Violino? Piano?
          O loiro mordeu o lábio inferior, encarando Aoi de um jeito maligno e ignorando as risadas das suas irmãs.
          - Guitarra. Melhor do que você. - ele acrescentou com um sorriso ferino e saiu da mesa rapidamente, murmurando qualquer coisa sobre estar satisfeito e ir dormir.
          O moreno piscou, se retirando da mesa pouco depois.

          Quando Aoi tentou entrar no quarto de Uruha, encontrou a porta trancada. Suspirando e revirando os olhos, ele bateu na mesma delicadamente.
          - Uruha? Abra a porta por favor.
          Silêncio sepulcral se seguiu, o que irritou o moreno um pouco. Não era possível que o outro estudante fosse vingativo daquele jeito.
          - Uruha?
          - Vá embora.
          - Uruha... Precisamos terminar de estudar.
          - Não precisamos não. Vá dormir no quarto de alguma das minhas irmãs, elas não vão se importar, eu garanto.
          O moreno arregalou os olhos, surpreso com as palavras do outro garoto. Sinceramente falando, Aoi estava acostumado com aquele tipo de reação; ele sabia que era bonito, talvez não tanto quanto Uruha, mas ainda sim chamava a atenção.
          Bom. Era hora de apelar para a porta ser destrancada.
          - Uruha. Se você não abrir a porta, não vai nem conseguir o ingresso que eu prometi. Abra pelo menos para pegá-lo.
          Dessa vez, o moreno ouviu passos vindo de dentro do quarto e a chave sendo girada rapidamente, a porta se destrancando e abrindo, Uruha parado atrás dela. Aoi rapidamente deu dois passos para a frente enquanto tirava a carteira do bolso e procurava pelo convite VIP de Uruha, assim evitando que o loiro fechasse a porta com ele para fora de novo.
          Estendendo o bilhete prateado para o loiro, Aoi murmurou:
          - Gomen. Eu não deveria ter brincado daquele jeito.
          - Nah. - ele replicou, aceitando o convite e guardando no bolso da calça - Eu que deveria pedir desculpas pelas minhas irmãs... É vergonhoso. Eu nunca gosto de trazer colegas em casa por causa disso.
          Uruha suspirou e revirou os olhos, dando as costas para o outro estudante e se jogando na cama. Aoi piscou, entrando de vez no cômodo e fechando a porta atrás de si, se ajoelhando no chão ao lado da cama do outro garoto.
          - Tudo bem. Eu estou acostumado.
          Um pequeno sorriso torceu os lábios sensuais de Uruha para cima.
          - Esnobe.
          - Sincero.
          - Que seja. - o loiro mudou de posição na cama, virando-se para a sua esquerda a fim de encarar o outro homem - Não me diga que você quer estudar mais.
          - Na verdade... - Aoi começou, vendo o espanto começar a encher os olhos de Uruha - Não. Eu queria saber se o que falou sobre a guitarra é verdade. E como... Você sabe que eu toco?
          - Ah. Bom... Eu soube pelo Reita. Ele me contou.
          - Reita sabia?
          - Sim. Do dia da detenção que ele teve que dar para você.
          Aoi franziu a testa.
          - Mas eu não contei que tocava guitarra naquele dia.
          - Não? - Uruha parece honestamente confuso - Bom, vai ver ele pesquisou ou perguntou para alguém. Não sei dizer.
          - Tudo bem... Vai me mostrar como toca ou não?
          - Tudo bem, tudo bem. - Uruha murmurou e desceu da cama, mas ele não estava irritado; Aoi havia visto um outro sorriso no seu rosto enquanto ele caminhava para um armário e abria a porta, tirando um volume preto que tinha os contornos de uma guitarra.
          O moreno continuou no chão, apoiado na cama enquanto Uruha se sentou na cadeira do seu computador, abrindo o zíper da capa que protegia sua guitarra e depositando-a no chão depois. Alguns segundos depois, o loiro a tinha em perfeita posição para tocar.
          - O que quer que eu toque?
          - Algo que seja melhor que eu tocando. - rebateu Aoi.
          A resposta do moreno ganhou um terceiro sorriso do loiro, que começou a dedilhar sua guitarra rapidamente, executando as notas perfeitas de um solo de uma música que ultimamente era tudo que se tocava no rádio.
          O moreno observou com olhar de especialista o outro menino à sua frente; Uruha tinha prática, mais prática do que ele supunha. E técnica também. O loiro sabia o que estava fazendo com toda a certeza.
          - E então?
          - Não sei se toca melhor que eu, mas tem talento.
          - Você não quer se rebaixar, eu sei. - Uruha replicou com um sorriso misterioso, guardando sua guitarra de volta.
          - Como sabia as notas da música?
          - Tirei de ouvido. Do rádio. - o outro homem respondeu, de costas para Aoi enquanto colocava a guitarra de volta no armário - Eu acho que tenho ouvido absoluto.
          - Como sabe?
          - Uma prima minha faz conservatório de piano. Ela que ensinou a maior parte de teoria para mim... - ele admitiu - E falou algo sobre eu ter ouvido absoluto.
          - Uruha.
          - Hai?
          - Tem idéia de que você combina talentos demais? Isso é irritante.
          Um sorriso brilhante foi a resposta silenciosa do aluno exemplar, girando na cadeira de escritório como uma criança.
          - Hey, Aoi... Decidi que você pode dormir aqui por hoje.
          - Ótima notícia.
          - Mas tem uma condição.
          A cadeira parou de girar e Aoi encarou Uruha fixamente.
          - Sim?
          - Quando sairmos amanhã à noite, você vai dizer que vamos dormir na sua casa. Invente um motivo; minha mãe e meu pai não podem saber que vamos nos divertir.
          - Tudo bem. - Aoi concordou, deitando no chão.
          - Mais uma coisa.
          - Você disse que era uma condição.
          - Vai me contrariar?
          - Não. Vá em frente.
          - Nada de conversar em voz alta aqui depois das dez horas. Minhas irmãs vão pro quarto delas e... - Uruha hesitou - Elas vão tentar ouvir a nossa conversa.
          O moreno sorriu para a figura sentada na cadeira, que parecia corar um pouco sob a luz do abajur.
          - Tudo bem. Talvez eu deva inventar que gosto de você e falar isso bem alto para elas ouvirem e nos deixaram em paz.
          Agora Aoi tinha certeza que Uruha estava vermelho.


Continua...


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