Genesis escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 1
Capítulo 1




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          Aoi batia o lápis contra a mesa repetitivamente, os lábios contraídos em uma fina linha que quase não seria percebida se não fosse uma pequena bola de metal: seu piercing. Ele sentia leves chutes nas suas pernas, cortesia do seu amigo de classe, Kai.
          Suspirando, o moreno apagou uma linha inteira de notas musicais que estavam em uma pauta montada no seu caderno. Olhou para o papel durante alguns minutos, até tornar a enchê-lo de símbolos musicais novamente, em seguida largando o lápis e dedilhando uma guitarra invisível.
          Ele franziu a testa, mudando uma nota no seu pentagrama. Os chutes na sua perna se intensificaram, e Aoi de repente ouviu a voz do seu professor ao seu lado, assustadoramente perto.
          - Por que não coloca um sustenido na primeira nota da terceira linha, Shiroyama?
          O moreno podia jurar que havia escutado um gemido atrás de si. Calmamente, ele correu os olhos pela linha que havia acabado de reescrever, batendo ocasionalmente a ponta emborrachada do lápis contra a madeira da carteira enquanto conferia o ritmo.
          Erguendo a cabeça, ele encontrou os olhos furiosos do professor sobre si.
          - Iie, sensei. - ele respondeu, sua voz carregada de ironia - Impossível colocar um sustenido ali, nessa escala. No modo menor, talvez.
          O professor pareceu bufar enquanto algumas risadas ecoavam pela classe. Um lindo sorriso adornava as feições do guitarrista moreno, deixando-o ainda mais atraente do que de costume.
          - Shiroyama. Detenção, hoje à tarde.
          O jovem compositor não disse nada, apenas olhando com um certo orgulho o professor de física que voltava para a frente da sala. Ele não gostava mesmo da matéria...
          Mal Aoi havia voltado à sua atenção para a música que estava compondo, um papel caiu na sua mesa. Olhando rapidamente para o professor, viu que ele ocupava o quadro com várias daquelas fórmulas inúteis e complicadas. Sentindo que era seguro, o moreno abriu o bilhete.

          \"Eu tentei avisar que ele estava olhando.\"

          Um sorriso imenso surgiu no rosto do moreno, escrevendo rapidamente a resposta para seu amigo. Kai estudava com ele desde a metade do ginásio, e ambos gostavam muito de música. De expressão gentil e olhar aguçado, Kai era baterista e tinha o cabelo cor de chocolate, sempre curto e rente aos ombros.
          Era mais novo que o moreno, porém muito mais responsável que ele, em alguns sentidos. O jovem baterista se assustou ao ver o bilhete cair na sua cadeira de volta; Aoi respondera rápido.

          \"Minhas pernas sabem que você tentou, Kai.\"

          O mais novo dos dois amigos suspirou, não respondendo de volta o bilhete. O professor acabara de se voltar novamente para a classe, e Aoi continuava compondo com seu instrumento invisível.
          Alguma coisa na expressão assassina do professor de física indicava que o seu amigo, no mínimo, teria o dobro de detenções.

          - Um recorde, foi um recorde, Aoi!
          - Obrigado, obrigado.
          - Não é algo de que você deveria estar orgulhoso... - Kai murmurou ligeiramente contrariado. Ele também não morria de amores por física ou pelo professor Takeda, mas Aoi havia passado dos limites.
          - Então é verdade que você deu uma resposta invertida para o Takeda, hein?
          Os dois se viraram para encontrar um amigo em comum, vindo ao encontro deles. Assim que ele emparelhou, continuaram andando rumo à lanchonete da escola para o almoço. O recém chegado era mais novo que os outros dois, embora Kai parecesse muito mais jovem que ele por causa da sua aparência inocente. Ruki era como o chamavam, e ele geralmente optava por um estilo mais agressivo e tendia para o punk na hora de se vestir e agir.
          Exatamente como Aoi, o moreno de cabelo espetado e com mechas loiras não era exatamente famoso por boas notas na escola, mas era excelente músico. Conheciam Ruki desde o começo do colegial, quando começaram a estudar juntos.
          - Hai. - Aoi sorriu divertido para Ruki - Ele tentou dar palpite na minha composição.
          - Que palpite?
          - Sustenir um dó em mi maior!
          - Mas está implícito na armadura.
          - Eu sei. Atrevimento...
          Kai suspirou pesadamente.
          - Mas você anda compondo sem instrumento agora? - Ruki perguntou, erguendo uma sobrancelha enquanto entravam no amplo refeitório da escola, logo se dirigindo para a mesa que ocupavam normalmente.
          - Ele deu para fazer isso agora, Ruki-kun.
          - A inspiração vem a qualquer hora.
          A risada alta do mais novo dos três acabou por silenciar os outros dois estudantes que discutiam. Ainda rindo, Ruki falou:
          - Podem ir pegar o almoço, eu espero aqui...
          - Hai.
          Enquanto estavam na fila, Aoi continuava falando da sua composição para Kai, que se concentrava em colocar uma porção de arroz generosa no seu prato.
          - Eu gostei da música. Vou terminá-la na detenção.
          - Aoi... - a voz do garoto de cabelos castanhos tinha um tom de censura.
          - Vai ficar ótima. Vou colocar sim aquele solo de baixo que comentei. - acrescentou o moreno empolgado, servindo-se de misoshiro.
          - Solo de baixo?
          - Não gostou da idéia?
          - Iya, não é isso... Só achei incomum.
          - Essa é a idéia. E a linha da guitarra solo está quase pronta.
          - Aoi-kun. Você poderia prestar mais atenção na aula, ne?
          - Eu realmente não preciso disso, Kai. - Aoi deu de ombros, sua voz cheia de desprezo - Para quê eu preciso calcular a velocidade de um carro? Se o guarda me parar, eu vou saber que estou acima do limite. - o moreno finalizou, rindo da própria piada.
          Nenhum dos dois percebeu que um jovem loiro ao lado deles ouvia a conversa do par atentamente.

          O moreno abriu a porta da sala que havia lhe sido indicada como a da detenção, ligeiramente contrariado. Ele ficaria por mais uma hora naquela tarde e na de sexta-feira também, por sua resposta inspirada.
          Sentando-se com barulho em uma das várias carteiras vazias da sala, ele olhou rapidamente para as outras três pessoas que dividiam o cômodo com ele: uma garota e dois garotos, um deles quase dormindo.
          De repente, os olhos dos quatro estudantes convergiram para a porta quando Ruki entrou, um sorriso de orelha a orelha no seu rosto:
          - Aoi! Vim fazer companhia!
          O moreno sorriu, apenas vendo o amigo ocupar uma cadeira ao seu lado enquanto retirava a música inacabada da mochila.
          - Não acredito que veio. Nada melhor para fazer?
          - Nope. - respondeu o punk - E depois, eu quero ver isso... - ele puxou a folha de forma que pudesse olhar para ela - Posso colocar alguma letra mais tarde.
          - Seria bom.
          Nesse momento, um jovem que parecia da idade deles entrou na sala, carregando várias folhas nos seus braços. Ele era alto e loiro, com o cabelo bem liso e na altura dos ombros. Os olhos escuros percorreram rapidamente a sala, e ele se dirigiu para a mesa do professor.
          Aoi ouviu Ruki fazer um barulho de desprezo ao seu lado. Provavelmente mais um desses alunos que eram extremamente puxa-saco, iam muito bem e ficavam fazendo favores para os professores.
          O loiro deu um pequeno suspiro antes de falar:
          - Muito bem, eu sou Suzuki Akira, mas prefiro Reita. Estou tão feliz por ficar mais uma hora na escola quanto vocês... - o sarcasmo era notável - Portanto, quando eu chamar, ergam as suas mãos e venham pegar os exercícios que os professores deixaram.
          Os outros três alunos foram chamados, até o responsável por eles erguer os olhos e fitar Aoi durante alguns segundos.
          - Matsumoto Takanori e Shiroyama Yuu, eu presumo. Takeda-sensei passou uma lista longa, mas não vejo seu nome aqui, Matsumoto-san.
          Os dois músicos se levantaram e caminharam até a mesa, pegando a folha. Realmente, era uma lista de exercícios de tamanho considerável.
          - Eu peguei detenção na última aula.
          - Então... - Reita pareceu ponderar sobre o caso - Façam juntos. Mas façam alguma coisa.
          Os dois se retiraram e sentaram-se novamente, não cogitando começar a resolver os exercícios. Nenhum dos dois havia copiado a matéria ou tinha a mínima idéia de como deveriam resolver aquilo.

          Quando a hora da detenção passou, eles foram os últimos a sair da sala, entregando um terço da lista feita, e muito mal-feita. Quando Aoi estava arrumando suas coisas, ele ouviu a voz do loiro da frente da sala.
          - Então você está pensando em um solo de baixo.
          Não era uma pergunta, era uma afirmação.
          - Hai. Estou sim.
          - Toca alguma coisa, Suzuki-san? - perguntou Ruki, ligeiramente sarcástico.
          - É Reita. - ele corrigiu o pequeno punk - Hai, Matsumoto-san. - Reita devolveu no mesmo tom - Baixo. Mostre-me o solo quando estiver pronto o solo, Shiroyama-san.
          - Pode chamar de Aoi. - o moreno respondeu, piscando um olho.
          - Wakatta. Sayounara. - o loiro sorriu e saiu da sala de aula, levando as folhas embora. O par finalmente deixou a escola também.
          Enquanto caminhavam pelas ruas calmas, o menor dos dois fez uma sugestão:
          - Ne, Aoi. Talvez fosse uma boa idéia convidá-lo para a banda.
          - Por quê isso agora? - o guitarrista brincou, sorrindo para Ruki - Não parecia gostar dele no começo.
          - Não é que goste, mas... Eu não agüento mais tocar baixo ocasionalmente para vocês. Esse \"ocasionalmente\" está mais para \"permanente\" do que outra coisa. - ele concluiu seu raciocínio com um barulho de desprezo - E como ele sabia do solo?
          O moreno parou para pensar. Era verdade, como ele sabia? Puxando pela memória, ele se lembrou da hora do almoço, quando estivera conversando com o seu amigo baixista e Reita deveria estar por perto, já que ele se lembrava de alguém loiro próximo a ele.
          - Provavelmente no almoço.
          - Un. - foi a resposta eloqüente de Ruki, despedindo-se logo depois do guitarrista quando tomaram rumos separados para as suas respectivas casas.
          Aoi ficou pensando na sugestão do amigo punk. Realmente, ela não soava tão ruim assim.


Continua...

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