Mia gritou quando viu o ingresso. E o berro aumentou quando ela leu o bilhete, embora ela não soubesse que aquela frase tinha um significado interno. E ela teria ficado gritando se não fosse o dono da sorveteria, que foi lá e a repreendeu por estar afastando os clientes dele. Então ele viu o ingresso na minha mão.

- Minha filha tentou comprar hoje, já tinha esgotado. Achei uma palhaçada. Aquele garoto tinha que ter escolhido um lugar maior para dar show.

- Não fale mal dele, seu antiquado! – Mia repreendeu o homem, tão alto que os clientes que estavam ali começaram a nos olhar. – Velho maluco, você mande sua filha ser mais esperta. – Muita gente deu risada, eu só não ri por respeito ao homem, que era dono da minha sorveteria preferida da cidade.

Pena que ele nos proibiu de voltar na sorveteria dele. Não repreendi Mia porque foi engraçado, mas fiquei brava: Ele podia ter me deixado terminar meu sorvete!

Mia não achou ruim termos sido expulsas, ela gostava de outras sorveterias. O que ela realmente queria naquela hora era fazer compras, e me carregou para o shopping.

Minha primeira reação foi dizer que não, mas ela me lembrou que eu precisava de uma roupa para o show de sábado, e era um argumento muito bom. Acabei comprando um vestido, sandálias e alguns acessórios. Minha mesada foi embora nessas compras.

Em casa, tive que esperar minha mãe chegar para contar do show. E implorar para ir, claro. Só que, quando ela chegou, a última pessoa que eu esperava ver naquela época do ano chegou junto.

- Lucas! – Me atirei nos braços do meu irmão mais velho, que estava estudando do outro lado do país e raramente nos visitava. Um dos motivos era por ter brigado com minha mãe depois que meu pai morreu, o outro era porque ele tinha que estudar muito. Eu era apegada a ele desde sempre, e fiquei arrasada quando foi embora. – O que faz aqui?

- Vim buscar vocês, Anna. – Ele sorriu e me deu um beijo na testa. – Ganhei três passagens para o Canadá, e sei que você adora aquele país.

Meus olhos brilharam.

- Mas as férias estão longe! Vai passar seis meses aqui? – Estranhei.

- Boba, vamos depois de amanhã. – Ele riu e revirou os olhos, sem notar que minha cara de felicidade tinha se transformado em cara de tristeza. – Arrume as malas, ficaremos por uma semana!

- Mas... O show... – Tentei explicar. – Justin Bieber...

- Fiquei sabendo desse show.  – Lucas tinha aversão à minha paixão por Bieber. – Mas nem discuta, já paguei tudo, não vai me fazer gastar atoa, vai?

Suspirei. Eles me levariam à força, que diabos eu faria?

No dia seguinte de manhã, Justin sentou atrás de mim novamente. Aproveitei o tempo em que os professores trocavam de sala para virar para trás e devolver o envelope com o ingresso.

- Obrigada. – Agradeci, odiando o olhar de dúvida dele. – Eu... Eu vou viajar.

- Viajar? – Ele perguntou, incrédulo, depois ficou desconfiado. – Então por que estava na fila para comprar os ingressos ontem? E por que reclamou tanto de terem poucos ingressos? Eu te ouvi na sorveteria.

- Meu irmão chegou ontem e simplesmente decidiu que iríamos viajar. – Expliquei. – E eles não vão me deixar ficar, além do que, faz mais de um ano que eu não o vejo e...

- Não podem adiar?

- Eu pedi, ele não deixou. – Hesitei. – Ele não quer que eu vá ao show.

Ele ficou em silêncio por um tempo, depois pegou o envelope e o guardou no bolso.

- Se não quer ir, é só falar. – Falou, por fim. Abri a boca para me defender, já sentindo a irritação, mas um envelope caiu na mesa dele e me distraiu. Era idêntico ao que ele me deu. Ele pegou, aparentemente confuso, e abriu o envelope. Meu queixo caiu quando vi o mesmo ingresso que ele me deu e outro bilhete. Olhei para o lado e vi Stacy sorrindo para ele.

- Obrigada pelo ingresso. – Agradeceu, me deixando chocada. – Mas eu já tinha comprado o meu, não precisa. E eu quero saber o quanto você gosta de mim. – Ela puxou o bilhete e virou propositalmente para que eu pudesse ler. Me esforcei para manter a expressão impassível.

Porque no bilhete tinha quase a mesma mensagem que recebi.

Quer saber O QUANTO eu gosto de você?

E “o quanto” estava com letras maiúsculas, dando ênfase. Olhei-o sem acreditar. Ele olhou de Stacy para o envelope, e depois para mim. Stacy deu um beijo na bochecha dele e se afastou com risinhos.