Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 3
Capítulo 3




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O que aquilo significava? “mamãe”? Todos ficaram estáticos por o que me pareceram longos minutos. Até que a pequena correu a mão de encontro ao rosto da minha mãe, que parecia encantada com a criança de mais ou menos um ano que segurava.

Eu e Alice fizemos uma carranca. E o Emmet continuava ali parado como uma estátua inútil. Ora, tínhamos sete e nove anos, era normal sentirmos ciúmes e confusão diante daquilo tudo. Como meu pai e mãe tiveram coragem de adotar uma criança sem nos comunicar?

Papai percebendo aquilo tudo, pigarreou levemente, olhando direto para a mamãe, que se abaixando beijou Alice a acenou levemente para mim e Emmet.

Alice agarrou a ponta do avental de Esme, alternando olhares entre papai e nossa mãe.  Ela devia estar tão perdida quanto eu e o Emm, que desde a nossa disputa nem uma palavra deu.

– Oh, meu Deus Bella! Minha querida! Você deve ter passado por tanta coisa. – Minha mãe chorava silenciosamente enquanto se dirigia a garota.

Esme acariciou seus cabelos, olhando em seus olhos:

– Não meu bem, eu sou sua tia. Irmã da sua mãe. – Falou como se a menina pudesse entender alguma coisa. Estranhamente, parecia que sim. E ela tomou um pouco mais de ar, olhando para Carlisle como quem pede auxílio.

– Venha cá Bella. Vou te mostrar a casa. Seu quarto será o mesmo de Alice, olha ela ali, sua prima. – Ele falou animadamente, acenando para nossa direção, já com a tal Bella nos braços. A menina fitava minha mãe ainda. Como quem descobre um tesouro. Percebi que Esme estava desconcertada com tudo. Como quem é pega de surpresa.

– Ela vai viver conosco? – Emmet fez a pergunta que agora percebi, deveria ter sido a minha também desde o início.

–Vai sim Emm. A partir de agora, Bella fará parte dessa família. – Carlisle soltou essa confirmação solenemente, mas, com uma naturalidade até engraçada dado o absurdo da situação. Não estava tudo bem. Era uma criança nova, um bebê, vindo... Vindo de onde?

– De onde ela veio? – Olhei para o meu pai com interesse. Ele moveu minimamente os pés olhando para mim, depois para mamãe.

– Mas, como assim pai? Ela vai ficar no meu quarto? – Ali parecia zangada. E nem percebeu a mudança no assunto, ter seu quarto ocupado por uma criança estranha devia ser o pior para ela.

Finalmente a mamãe voltou a funcionar normalmente, Bella agarrou com suas mãos o pescoço do papai e fechou os olhos encostada com a cabeça na bochecha provavelmente gelada de Carlisle. Esme pegou minha irmãzinha no colo.

– Vai ficar com você sim Alice, até organizarmos um quarto novo para Isabella.

– Mas, mamãe...

– Sem mais, ela é sua prima, logo vocês farão amizade. Ela será uma companheira de brincadeiras! – as mães sabem ser concisas e doces ao mesmo tempo, o que significava derrota total para nossos argumentos contrários. 

Aquilo pareceu animar um pouco mais a pirralha. Que se aproximou do nosso pai, e dando um pulo se apresentou: 

– Oi Isabella, sou Alice Cullen prazer! – Estendeu a pequena mãozinha. Mas, a nossa “prima” mal reagiu a empolgação da Cullen mais elétrica.

– Alice sua idiota, ela é um bebê! Como você espera que ela responda? - Emmet destacou o óbvio absurdo da situação.

Esme reprovou a frase do meu irmão, meneando a cabeça. 

– Ela pode entender Emm, ela é um bebê sim, mas, já tem um ano, nesta idade vocês já entendiam quase tudo que se passava.

Foi a vez de meu pai entrar na conversa:

– Bella olhe, sua prima. - Alice deu alguns pulos ao redor da menina, que soltou uma deliciosa gargalhada infantil. E os adultos pareceiam derreter com aquilo.

– Ela não fala pai! – Interferi. Às vezes os adultos eram bem bobos. Olhei para Bella que descansava a cabeça no pescoço do meu pai, parecendo cansada, fechou os olhos.

Carlisle mexeu os ombros fazendo com que a menina abrisse seus grandes olhos, focando-os em Alice.

Ela estendeu a mão e apenas tocou os cabelos de minha irmã, como se estivesse encantada. Alice soltou uns risinhos, satisfeita pela “apresentação”. 

Papai entrou em casa com Bella ainda no colo. Eu fiquei parado como um bobo no meio do jardim esperando pela explicação que nossa mãe nos daria.

– Venham cá crianças, preciso conversar com vocês. – Esme se sentava no batente da entrada nesse momento, e tudo que eu queria era uma explicação sobre tudo. apai e

– Quem é essa menina estranha mãe.

– Emmet não fale assim meu filho. Ela é filha de minha irmã, vocês nunca a conheceram por que, desde que se mudou, não entrou em contato conosco. –Nós a cercávamos extremamente perplexos com as notícias.

– Mas, porque morar com a gente mamãe? Cadê a tia? Ela morreu? – Emmet, como sempre o mais direto.

A mamãe abaixou a cabeça, e vi que ela tentava esconder o choro de nós.

– Não chora mamãe. – Alice abraçava. 

– Emm seu imbecil fez a mãe chorar! – Eu manifestei minha frustração pela idiotice do meu irmão.

– Não é isso querido. É um assunto muito chato para vocês. Olhem: O que importa é que Bella é parte da família e nós vamos cuidar dela. Preciso da ajuda de vocês para fazê-la se sentir bem, okay?!

            Concordamos um pouco relutantes. Eram mudanças muito grandes acontecendo, então, foi perfeitamente normal nossa reação diante do fato de uma menina de repente passar a fazer parte das nossas vidas.

Quando entramos em casa, mamãe foi preparar o lugar onde a tal Bella ficaria. Alice não parecia mais tão infeliz em ter que dividir o quarto com uma estranha.   

Nesse ponto havíamos nos esquecido até das ordens de Esme, ainda estávamos todos porcalhões sujando o tapete. Que ela nem visse. Discretamente puxei a manga da camiseta de Emm.

– Vamos pro banho Emmet antes que a mamãe perceba. – Mostrei as manchas que nossos sapatos fizeram no assoalho.

Saímos de fininho enquanto Alice sentava em frente a TV.

Horas depois e vários quilos de lama a menos, descemos as escadas já limpos e trocados para o almoço. Meu irmão não dera mais uma palavra depois do incidente com a nossa prima. Eu sabia o que isso significava; ele estava querendo me pedir desculpas, mas, se debatia um pouco ante a perspectiva de dar o braço a torcer. 

– Ed, me desculpa por ser um idiota. A gente vai construir a casa juntos certo? Prometo que vou ser menos cabeça dura. 

O Emm tinha uma qualidade que era absurda para alguém da sua idade. Ele era muito humilde. Sempre depois das brigas ele que nos pedia desculpas. Chegava a ser engraçado: Ele era o mais velho, o mais forte e, mesmo assim, não forçava a superioridade. Na verdade essa atitude dele deixava-nos mais culpados do que se ele nos forçasse a pedir perdão ou algo assim. 

Ele me estende sua mão, e eu olho para ela sem entender muito bem o porquê daquela formalidade entre nós. Ele inclina seu queixo, como quem aponta para algo e olha para mim e para sua mão pendente. Timidamente, aperto a palma. Como quem pensa direito, ele me puxa em um abraço quebra ossos.

Apesar do tamanho, na verdade ele é um irmão carinhoso conosco. Procurava nos defender de qualquer provocação dos meninos maiores. É um bom irmão. 

            Um pouco constrangido pela demonstração de afeto, ele pigarreia e me chama com aceno a descermos as escadas. Quando ele se vira, dou um pequeno sorriso.

Então descemos as escadas de madeira escuras como olivas, recobertas pelo carpete vermelho, sobre os quais Alice fingindo-se de rainha descia em suas brincadeiras de pequena. Éramos obrigados a servi-la como escudeiros. No fim era muito divertido. 

            Ouvimos sons vindos da sala de estar e nos dirigimos pra lá. Eram o pai e a mãe paparicando a garotinha. E eu respirei fundo, emburrado mais uma vez.

            Eles estavam sentados no sofá bege de Esme, enquanto o papai lhe dizia com sua voz calma e expressão serena de sempre, que agora nós éramos sua família. Mas, como eles esperam que uma criança de um ano entenda uma coisa daquelas. No lugar dela estaria gritando e esperneando pelos meus pais. Em uma casa estranha, com pessoas estranhas...

– Bella querida, estes são seus primos: Emmet – Ele deu um passo à frente cumprimentando nossa prima com um aceno de cabeça. – Alice, - Ela apenas olhou na direção de Bella e lhe sorriu timidamente. – E Edward. – A pequena garotinha olhou para mim então, e eu fiquei meio perdido com o escrutínio. Não sabia como agir, fiquei estranhamente nervoso, confuso com a situação. Ela continuava prendendo meus olhos com os seus, de repente, ela se esticou em minha direção quase tombando no chão. Minha mãe se aproximou segurando-a pelo tronco; a pequena me olhou por um instante, mas, não nos meus olhos. Ela focava outras partes de mim: o cabelo, os pés, os desenhos de minha camiseta, por fim observei ela se prender neles. Parece que gostara da cor verde e do tom esquisito e detestável do meu cabelo, pois, do nada puxou uma mexa dele.

Ela parecia empolgada, como se tivesse descoberto alguma espécie nova de animal ou algo assim. Senti-me desconfortável e me afastei.

Com meu ato ela pareceu se focar na realidade, então, inclinando-se um pouco, também se afastou.

Ela olhou para o chão com uma cara de choro, finalmente agindo como uma criança normal em um lugar estranho, com pessoas estranhas.

– Tudo bem querida. – Disse minha mãe com seu tom maternal. Isso me deixou um pouco enciumado. Alice já havia tomado lugar ao lado de mamãe, tentando chamar a atenção da nossa prima, que continuava com olhar no chão. Percebi que ela estava como fascinada pelos padrões indianos do tapete.

– Vamos almoçar então? Estou morto de fome! – Meu pai levantou-se e foi para a cozinha

Mamãe que ainda segurava Bella nos braços, permaneceu sentada na sala conosco.

– Carlisle, antes vá até a garagem e traga a cadeira de Alice para Bella.

Ficamos os cinco para trás, olhando para o chão.

– Então pequena, você é nossa prima, agora você é parte do clã. – Emmet se aproximou de mamãe e Bella. Ela era muito quieta, o que era estranho para um bebê. Emmet usou as palavras que o papai usava quando se referia à família Cullen. Eu nem sabia o que significava.

Animação parece passar nos seus grandes olhos castanhos. Então o inesperado acontece, novamente: Ela estala uma garagalhada e estende-se para Emmet e o abraça, fechando os olhinhos. Emm fica meio perdido no início, mas, depois coloca seus longos braços ao redor da pequena figura. Apertando-a.

Quando meu irmão a solta, ela começa a soluçar baixinho, e sinto vontade de chorar também. Não sei por que, nem de onde veio isso. Só sei que naquele momento, me segurava para manter o choro dentro de mim. Era muito estranho. Minha mãe começou a confortá-la.

– Não chora Bella, a gente vai cuidar de você agora. – Era a vez de Alice que havia se acomodado no chão de frente para seu objeto de fascínio - Bella -se manifestar. Senta-se no sofá perto de Mamãe, Emm e da garotinha e coloca sua mão no ombro dela. Ela ainda chora.

E foi estranha a forma como todos nos sentimos desde então. Como se devêssemos protegê-la, como se ela fosse frágil. Apesar de ser estranha a forma como ela falava e se comportava às vezes, desde aquela manhã de julho, todos nos sentimos puxados para ela, como se fosse um imã que nos unisse. 




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