- Ninguém cansa de me fazer de palhaça por aqui? - Perguntava irada a loira de mãos na cintura, segurando as lágrimas dos olhos já marejados.

     Os olhos das pessoas presentes voltaram-se todos para Ino, que brigava com Sai, muito alterada. Estavam num evento da vila, apesar da guerra contra a Akatsuki, era dia festivo e tinham que comemorar. Hinata e Naruto, que estavam ao lado dos dois num banco, pararam os beijos para observar qual o problema.

     - Como assim eu sou feia? - Ela esbravejava.

     - Eu já disse. Você disse que era para mim largar os meus livros e começar a falar a verdade, disse ainda que a verdade pode ser dolorosa, mas é o mais certo a ser feito. Só disse a verdade: quando te vi e te chamei de linda, foi porque falar o contrário para vocês parecia dar mais certo. - O sorriso falso de Sai continuava estampado naquele rosto.

     - Eu não acredito... - Uma lágrima teimosa acabou caindo, junto com um suspiro pesado e triste. - E eu pensei que me amava! Acabou, Sai! ACABOU! - Agora ela virou o rosto para Hinata e Naruto, que olhavam pasmados a situação. - E vocês? Sempre me fazendo de idiota, acham que não sei? Sempre me excluindo, e eu achando que gostavam de mim! - As lágrimas saíam sem controle. - Quem se preocupava comigo era Asuma-Sensei, e agora ele está MORTO! TODOS VOCÊS, SAIBAM QUE OS ODEIO! - Ela apontou por último para as outras pessoas que estavam por ali, como Tenten, Rock Lee, Kiba e Sakura.

     A menina deu as costas e saiu correndo dali, com suas sandálias mal-postas nos pés. Seu Yukata¹ azul combinava com os olhos e as lágrimas da garota.

     - A porca enlouqueceu de vez... - Sakura falava enquanto via Ino se esconder na multidão. Ela achou que fosse só mais um ataque de histerismo vindo dela, mas não era bem assim.

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     Ino corria atordoada pelas ruas, já tinha se afastado da multidão do centro da cidade. Tropeçou várias vezes, não queria parar para arrumar a sandália. Chorava copiosamente, pensando no que havia feito para merecer isso... Após um certo caminho já percorrido, longe da parte central da cidade, ela caiu no chão, esfolando os cotovelos, mãos e joelhos. O Yukata¹ que era azul-céu se transformou num mar de manchas marrons de barro.

     Ela não conseguiu levantar... Suas pernas não se moviam. Ela permaneceu ali, com a face virada para o chão, chorando e sussurrando palavras incompreensíveis. Por que? Por que eles sempre tinham que tirar sarro dela? Já não era o bastante ela ser quase a única sem ninguém? Seu pai trabalhava todos os dias com Tsunade, não tinha tempo para nada, sequer jantar com ela. Ás vezes, até trabalhava 3 dias seguidos! Sakura sempre teve Naruto lhe apoiando. Ino também teve bons amigos: Chouji e Shikamaru. Mas Shikamaru, após ganhar o título de jounnin, se juntou aos outros ninjas e não podia mais vê-la. Chouji ficara chateado quando ela começou a namorar Sai, porque ele gostava dela, e desde então, não se falavam mais. Que vida!

     Sai. Outro problema.

     Ele a chamava de loira gostosa, sorria daquele jeito peculiar e parecia com Sasuke, o tão amado (ou ex-amado?) ninja fugitivo de Konoha. Ele a atraía demais, ela estava apaixonada. Mas no fim, ele sempre mentia. Fazia piadinhas, que ela tentava levar na esportiva, mas estava passando dos limites. Todos ali passaram dos limites. Ela estava sozinha.

     - Chega... Se o Sasuke pode, eu também posso. - Ino secava as lágrimas com as costas da mão, levantando rápido do chão e pondo-se a caminhar para casa. Havia chegado ao limite, e ela pretendia por um fim nisso tudo.

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     Ino abriu a porta da casa lentamente, entrou, fechou e escorou as costas na gelada madeira. Teimosas, as lágrimas voltaram a cair... Vagarosamente, desciam quentes pelo rosto já borrado de maquiagem da kunoichi. Seu corpo pendeu, e ela foi deslizando as costas na porta, até chegar ao chão; tapou o rosto com as mãos e soluçava sem parar: era seu lado escuro.

     A loira não chorava muito na frente dos outros, queria ser vista como durona, e realmente era. Mas esse lado chorão, inseguro e fraco, ficava escondido lá dentro do coração, como um segredo vital. Ela não queria se sentir abaixo de ninguém, e isso não era prepotência. Era medo.

     - Ikuso! - Abriu a porta e olhou para o horizonte escuro da madrugada. Eram no máximo 3 horas da manhã, e ela tinha que agir se queria mesmo sair da vila.

     Saiu em passos rápidos, levianamente e mal fazendo barulho. Os cabelos loiros brilhavam na luz da lua e voavam agitadamente. O frio batia no rosto, mas isso não a abalava, sua expressão, mesmo com os olhos vermelhos, parecia decidida e com uma pontada de raiva.

     Chegando à entrada, era avistado um dos guardas de pé, ao lado do grande portão. “Onde está o outro?” Pensava a ninja, afinal eram sempre dois que ficavam no posto de vigia. Mas como não tinha tempo a perder, continuou o plano.

     Ino fez silenciosamente algumas formas com as mãos e usou seu jutsu da mente. Fez o guarda correr até as árvores longes da entrada e voltou ao corpo, que voltou ao normal e foi rápida mas cautelosamente saindo de Konohagakure.

     Mas, após alguns 20 metros passado da entrada, seu corpo simplesmente estacou. Ela não tinha movimento nenhum.

     - Por que? - Era aquela voz familiar. Shikamaru.

     - Apenas me deixe. Eu preciso ir. - Ela fechou os olhos. Ele era a última pessoa com quem gostaria de conversar. Shikamaru sempre conseguiu convencê-la do contrário quando ele achava as decisões dela incompetentes.

     - Então deixarei. - Como? Ela realmente havia ouvido isso? - Mas não me dê problemas, Ino. Volte antes do amanhecer.

     A sombra que ligava os dois foi se dissipando, então a loira se virou para Shikamaru, dando aquele sorriso de abalar multidões, cheio de beleza e afeto.

     - Eu voltarei. - Os olhos se encheram de água mas ela não hesitou. Deu as costas ao amigo também sorridente e saiu rapidamente.

     Ela continuava correndo e chorando, parecia que as lágrimas nunca acabavam. Ela traiu Konoha, traiu seus amigos e traiu a Hokage. Traiu seu pai, seu grupo e todos que moravam ali. Mas eles realmente eram seus amigos? Tão falsos, a achavam descartável e nem mesmo se importavam com ela. Era o que devia ser feito, sair dali para não atrasar mais a vida dos outros, já que era sempre o estorvo para tudo.

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     Já era quase manhã quando Ino resolveu descansar, suas pernas estavam doloridas e seu coração, pesado demais. Era muita coisa pra um dia só. Largou sua mochila ao lado de uma árvore e sentou escorada na mesma, estava tão cansada que nem se deu ao trabalho de estender um colchonete ou coisa parecida. Inclinou a cabeça para trás, e mais uma vez com os olhos marejados em lágrimas, desejou que tudo mudasse.

     E quem sabe mudaria.