Mundos Distantes escrita por LauraPavessi


Capítulo 30
O final inexistente.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 30 - Último.
Durante muito tempo, eu escrevi essa fanfic. Deve ter cerca de dois anos. Aos poucos, muito devagar mesmo. Não posso dizer o quanto ela significa pra mim.
É engraçado, hoje, lê-la desde o início e observar as mudanças. Mudanças na ortografia e mudanças nas opiniões dos personagens. Aos poucos, deixei de lado a amistosidade e aumentei a saturação dos personagens e, visivelmente, explorei os sentimentos da Duda quando mais madura. Li livros, ouvi músicas e tive algumas experiências próprias enquanto escrevia essa história. E hoje, finalmente decidi por terminá-la, coisa que eu venho adiando a muito tempo, justamente por essa fanfic significar tanto para mim.
Quem ainda ler esse último capítulo, meus sinceros agradecimentos pela sua paciência.
Deve ser a hora de dizer adeus.



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  Andando pelo corredor do hotel, eu e Bill não sentíamos necessidade de falar por algum tempo. Já devia ser tarde da noite, e em tal altura não havia ninguém nos últimos andares do hotel. Ele segurou a minha mão, e assim permaneceu durante todo o tempo.

 

 - É tão engraçado, hoje... - ele começou - pensar que há quatro anos atrás, eu havia me apaixonado por uma fã. E tudo aconteceu de forma tão natural... Mesmo com vinte anos, eu era tão ingênuo, tão carente...

 - Acha que foras imprudente? - perguntei, arqueando uma das sombrancelhas. Ele olhava em meus olhos.

 - Sim. Eu e você. Eu poderia ser uma pessoa muito diferente do que você imaginava... E você também.

 - Acho que isso aconteceu, Bill. Você não era quem eu imaginava, e você tinha a impressão de que eu era uma oportunista.

 - Não! Você está redondamente enganada. Nunca acreditei que você fosse uma interesseira, como hoje sei que não é. Duda, você pôde construir tudo sozinha, não precisaria de qualquer ajuda minha! Se não fosse por todas essas sujeiras, esses vícios...

 - Não, Bill. Eu amaldiçoo esta fama. O que contribui generosamente para a minha dor foram essas escolhas. Graças à toda esta maquiagem e à criatura esquelética que eu me tornei, as pessoas escutam as minhas terríveis canções. 

 Ele ficou em silêncio, novamente.

 - Você devia tentar de novo. Deixar tudo isso de lado, voltar para o começo. Ah, Duda, você é tão jovem... Pode fazer dar certo dessa vez. Nós somos jovens.

 Minha vez de dar uma pausa, parei de caminhar pelo corredor também e fiquei à frente dele. Ele afastou uma mecha de cabelo meu que estava no meu rosto. Acho que nesse momento, devo ter sorrido.

 - Algumas coisas só acontecem uma vez. É como entrar em um labirinto - falei, passando as costas dos dedos pelas suas boxexas. - Depois que já fostes uma vez, já sabes o caminho. Pode fingires satisfação e surpreendimento em achar a saída tão depressa, mas dentro de ti, estás deveras aborrecido por ter de repetir aquele caminho. Não adianta quantas vezes tentares, quanto tempo esperares... A emoção da descoberta não voltará.

  Ele não falou nada, apenas olhou em meus olhos e permaneceu naquela expressão impenetrável.

  - Tu foi o meu primeiro amor. - continuei - Quando me conhecestes já era um homem. Ingênuo, como falaste, mas um homem. Eu era uma menina, que ainda não sabia que alimentar um sofrimento pode torná-lo em uma ferida mórbida. Nossos destinos não se cruzam, meu querido. - coloquei a mão em seu peito, para sentir seu coração pulsando forte e irregular contra as costelas, desmentindo toda a serenidade que tentava passar com aquela expressão ensaiada. Desta vez eu tenho certeza que sorri. - Alguns fatos e decisões que eu e tu tomamos ao longo desses quatro anos, entortaram nossos caminhos. Eu sei que não tem sido fácil para ti também. Custa-me olhar dentro dos teus olhos, acredita. De uma forma ou outra, eu não pertenço a esse mundo. E é por isso que eu tenho vivido aqui à tanto custo.

 - Por quê então, não saímos os dois desse mundo? - ele disse, em um tom exasperado que me surpreendeu muito. Pegou em minhas duas mãos e esfregava-as nas suas enquanto falava apressadamente, com uma forte súplica no olhar. - Deixamos para trás esses fotógrafos, essas revistas, os tapetes vermelhos... Vamos pra bem longe, eu, tu e quem mais quiseres! Vamos ter uma família, muitos cachorros e fazer amigos. Vamos até o supermercado no sábado à noite, discutir sobre o vinho e reclamar da fila nos caixas! Teremos uma biblioteca à tua disposição, e em grande acervo de discos. Nunca mais te deixarei, nunca...

 

 

- Bill. - interrompi, tentando me desprender do abraço em que ele me envolveu enquanto despachava da sua boca as últimas palavras. - O tempo para termos planos como estes já passaram.

  Ele se silenciou, mais uma vez. Ele não esperava por uma resposta dessa, posso apostar que a resposta que ele esperava de mim era bem diferente. Seu rosto mostrava o desgosto acentuado às minhas palavras.

 - Por quê? Ainda há tanto tempo, Duda! Nós estamos tão próximos agora... Não me separe de ti novamente. Esses quartos de hotéis me apavoram! Eu não quero mais ter de entrar em um avião. Quero ir para a serra contigo novamente, quero passear por parques sem ter que me disfarçar e...

 - Isso nunca vai acontecer, Bill. Nunca. Suas escolhas vão refletir na sua vida para sempre. Nós éramos jovens quando fizemos as decisões mais importantes das nossas vidas. Você escolheu a fama que parece ter sido inventada exatamente para ti, e eu... Escolhi uma versão genérica e infeliz dela. Para viver próxima de ti. - antes que ele recomeçasse a falar, eu continuei: - Mas acontece que somos como o Sol e a Lua. A única coisa que nos une, é esse céu, o infinito do espaço.

 Ele abaixou a cabeça e assim permaneceu por alguns minutos. Quando tornou a olhar para mim, disse:

 - És muito mais bonita sem estas lentes de contato.

 Nós dois rimos. Sabíamos que era a hora de voltar. Desconhecíamos o tempo que ficaríamos sem nos ver, mas era claro que agora eu já não tinha motivos para continuar evitando ele.

 Aos poucos, fomos nos aproximando. Ele colocou as mãos no meu rosto delicadamente e falou em um sussurro, quando já estávamos tão perto um do outro que a respiração dele era também a minha:

 - Você é a minha vida, meu verdadeiro amor. Eu encontrei-te de uma forma tão inocente, tão sutil, à qual só poderia mesmo levar-me à ti. E você é tão singular que eu não posso ter-te pra mim, embora os nossos corações pertençam um ao outro.

 - Então espere, meu anjo - falei, no mesmo tom que ele, colocando as mãos ao redor do seu pescoço. - Espere até que mais ninguém observe o céu. Quem sabe quando isso acontecer, nós poderemos viver no mesmo (lado do mesmo) mundo.

 Finalmente, selamos nossos lábios. O seu beijo era carinhoso, cuidadoso e apaixonado ao mesmo tempo. Aquele era o único beijo que eu lembraria até o meu último suspiro. Quando nossos lábios voltaram a se separar, encostei a cabeça no seu peito e ficamos assim, por muito tempo. Eu passava as mãos pelas suas costas e ele acariciava o meu cabelo suavemente.

 Mais uma vez, pedi para não precisar nunca ser levada da felicidade de estar entre aqueles braços. Mas mais uma vez a realidade chamava, quando vi os primeiros raios de sol entrarem por uma das grandes janelas do corredor. O tempo tinha passado voando.

 - Aqui - disse Bill, colocando a mão no bolso -, isso é seu. - e me entregou o velho anel, com o coração negro que eu havia lhe entregado na última vez em que o havia visto, quatro anos atrás. Senti caírem algumas lágrimas dos meus olhos. - Todas as noites eu procurava por ele, houvessem estrelas no céu ou não. Só esse luar me interessa.

 - Não, Bill, ele é seu. Nunca te privaria desse céu. - falei, sorrindo.

 Ele acariciou o meu rosto uma última vez, e eu passei a ponta do dedo pela altura do seu rosto, fazendo o contorno da sua testa, do nariz, dos lábios e do queixo, lentamente.

 Eu te amo.

 Lia-se em nossos olhares. Selamos nossos lábios mais uma vez e voltamos a andar, separados dessa vez, um para cada lado.

 Eventualmente olhando para trás.


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