Memórias Póstumas escrita por dona-isa


Capítulo 2
Retrocesso




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Meio desolados os agentes atenderam ao pedido de Near, saindo da sala.
- Vamos ver - ele murmurou pra si mesmo, pegando em mãos o primeiro cadernos, e que por sinal era o mais envelhecido.
"Dois a Quatro anos" - O que exatamente quer dizer? L já saberia escrever com essa idade?
Pigarreou se livrando dos pensamentos e começou a ler.

Domingo, 22 de março de 1980.
O homem alto e com sinais grisalhos nos cabelos penteados ainda me observava, de certa forma ele me deixava inquieto com sua maneira especulativa de me olhar, era uma mistura de admiração, observação e curiosidade, continuei sentado da mesma forma em que estava, coçando minha nuca e me virando pra ele.
- Qual é o problema daquele rapazinho? - o homem perguntou para a nossa coordenadora, que me analisou deixando o óculos cair sobre o nariz, ela parecia esconder uma certa repulsa.
- Não vai querer saber muito sobre ele, é somente um garoto com uma forte tendência a autismo.
O homem franziu o cenho pra mulher, parecendo revoltado.
- Não diga isso, todas as crianças no meu orfanato são consideradas únicas, especiais.
A mulher engoliu seco, gaguejando tentando se desculpar.
- Err... Gomenasai - ela murmurou sem jeito e se curvando - Eu não queria dizer isso, apenas disse que esse jovenzinho é muito peculiar, seu nome é Lawliet.
- Hmmm, pequeno L - o homem murmurou olhando pra mim, e me fazendo estremecer ao perceber que ele se aproximava.
- Olá caro jovem - ele disse com um sorriso que apertava seus olhos escondidinhos.
- Olá - respondi somente, sem dar um sorriso de volta, ainda o analisando.

- Você me parece ser uma menino muito esperto - ele afirmou olhando fixamente nos meus olhos.
- Pode se dizer que sim - respondi colocando o polegar em frente ao lábio inferior.
- Já sabe ler e escrever? - ele perguntou.
- Isso eu já sei faz muito tempo - respondi tombando a cabeça de lado, ainda sem sorrir.
Ele arregalou os olhos, logo depois sorrindo novamente.
- Sabe quem eu sou? - ele perguntou instintivamente.
- Não - admiti.
- Sou Watari, o fundador desse orfanato.
- Muito prazer senhor Watari, já ouvi falar muito no senhor.
Ele balançou a cabeça concordando com alguma coisa interna.
- Eu sou um homem muito solitário, e estou há muitos anos procurando uma companhia, a vida de inventor é cansativa sabia?
Levantei as sobrancelhas, finalmente mostrando alguma reação.
- Inventor?
Ele sorriu.
- Sim, inventor.
Estreitei os olhos, o olhando de lado.
- Onde o senhor está querendo chegar com isso?
Ele deu uma gargalhada.
- Já vi que não posso lhe enganar não é meu rapaz?
- Não mesmo.
- Há muito tempo eu venho lhe observado, e de todas as crianças desse orfanato, você é quem mais merece a minha admiração, e é por isso que venho lhe perguntar uma coisa.
- O que? - torci as sobrancelhas ainda com os olhos estreitos.
- Gostaria de vir morar comigo? de ser adotado por mim?
- Adotado - murmurei virando de lado, pensativo - Pode ser legal.
Ele sorriu emocionado.
Eu então arrumei minhas coisas e estava pronto para ir com aquele homem que me parecia ser tão confiável.

- Isso é magnífico - murmurou Near ao ler a primeira parte do caderno, folheando uma próxima folha.

Segunda-feira, 23 de março de 1980.
- Está um pouco frio aqui fora, senhor Watari - murmurei enquanto enrolava um cachecol no pescoço, cobrindo parte do meu rosto.
- Me dê sua bagagem, deve estar pesada - ele sugeriu pegando minha pequena mala das minhas mãos, e a segurando com a mão livre.
Estávamos parados na frente do orfanato, o silêncio era mórbido, a neblina nos envolvia, eu segurava em sua mão como se ele fosse meu refúgio, ambos usávamos luvas de napa e veludo.
- Precisamos nos despedir - ele sorriu olhando pra baixo, encarando meu rosto que estava metade coberto pelo cachecol - Está pronto pra ir pra sua nova casa?
Dei de ombros.
- Por mim tudo bem.
Ele sorriu e deu meia volta, me levando até um carro preto e reluzente, ele me disse que tínhamos um vôo marcado para os EUA, onde eu teria aulas de inglês, italiano, espanhol, alemão, turco, aulas de esgrima, taekwondo e tênis, uma coisa que não era sacrifício nenhum pra mim, eu gostava de aprender coisas novas, conhecimento era uma coisa que nunca era demais, e sempre seria bem vinda.
- Está cansado? - perguntou Watari, assim que chegamos em nossa nova casa em Los Angeles.
- Não, eu até poderia suportar mais algumas viagens - murmurei, ele se aproximou silenciosamente.
- Gostaria de comer algo? 
Fiz um biquinho enquanto pensava.
- Que tal um sorvete de morango e chocolate?
Ele arregalou os olhos.
- Eu quis dizer, comida de verdade!
Franzi o cenho, me empoleirando com os dois pés na cadeira em frente a ele, lhe fazendo uma careta.
- Sorvete de morango chocolate é comida de verdade - resmunguei.
Ele deu uma gargalhada envolvente.
- Tudo bem, eu acho que faz sentido eu te mimar um pouco antes de você se adaptar ao seu novo ritmo - ele murmurou passando a mão em meu cabelo arrepiado e o bagunçando ainda mais.


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