Todo dia minha filha e meu irmão perguntavam se eu estava bem. Eu dizia que sim, mas o que ninguém sabia, era que eu estava me corroendo por dentro. Estava tão preocupada que chegava a ser... Como se diz... Neurótica! Fazia de tudo para não encontrar Jake de novo. Mas ao mesmo tempo sabia que era inevitável, afinal eu era a cirurgiã do seu filho. Mais cedo ou mais tarde eu teria que vê-lo. Eram normas do hospital, que a cirurgiã responsável pelo paciente apresentasse o relatório final. Nesse dia, eu cheguei a ficar de luto de tanto medo e raiva. Eu não queria ter que vê-lo novamente. Travei uma guerra pessoal dentro de mim, em um lado, meu coração dizia para me jogar em seus braços e pedir perdão por não ter lhe contado sobre Marina... Mas no outro estava minha razão, dizendo para eu ser fria e fingir que ele era apenas o familiar do um paciente normal.

Nunca mais segui meu coração desde o dia fatídico da minha formatura. Sempre optei por escolher a razão... Jamais o coração! Tentava não deixar que a emoção me levasse em absolutamente nada! Tranquei meu coração a sete chaves, me tornando alguém totalmente fechada para qualquer tipo de relação amorosa.

Mas chegou o dia... Segui pelo longo corredor tentando parecer sem emoção e desanimada. Mas a verdade era que eu me encontrava apreensiva e curiosa. Queria ver a reação que ele iria ter ao me ver novamente.

Bato na porta e eles me permitem entrar.

Não olho para ninguém.  Mas pelo que pude perceber Jake se encontra parado ao lado da porta. Olho para John que está a minha frente e dou as costas para Jake tentando ignorá-lo.

- Olá! Sou a Dra. Cullen! Mas como odeio que me chame de Dra. pode me chamar apenas de Nessie..- Aaahh... Merda esqueci! “Nessie somente para íntimos”. Pelo menos foi o que disse para Jake naquele dia. Agora estou contradizendo minhas palavras. Bom... Mas eu não ligo! Ele que pense o que quiser de mim... A quem você está tentando enganar Renesmee?  Você não quer que ele pense mal de ti não é?!

- Oi Dra. Ness! – Ai meu Deus! Lá vou eu, ter que olhar para ele. E o pior é que ele me chamou de Ness... Como ele consegue me deixar arrepiada somente com essa voz rouca, sexy e linda??? Ele me deixa com os nervos a flor da pele. Mas vamos lá Nessie... Você é forte e consegue, não é mesmo?! Era só o que me faltava... Já to duvidando de mim mesma!!! Virei-me e encarei aquele olhar negro, que já me fez chorar, rir, amar, gozar e odiar tanto... Não! A quem estou querendo enganar? Eu nunca o odiei... Tentei! Mas não consegui e não consigo até hoje! Quando se ama uma pessoa, ela é seu amor pra sempre, você pode até se apaixonar por outra... Mas amar?! Nunca! Depois de 15 anos ainda irá amá-la. Não do mesmo jeito. Afinal outras pessoas aparecerão e mudarão a sua vida, o seu coração. Mas o amor verdadeiro jamais acaba.

- Olá senhor... - Fingi olhar na ficha e falei com frieza – ...Black! – O vi sorrir quando falei seu nome.

- Como assim “senhor”? Agente já se conhece Ness! - Falou divertido. Vi de relance os olhos de seu filho se esbugalhar um pouco. Até parecia que ele me conhecia também... será? Será que ele sabe sobre mim e o Jake? Espero que não! Seria uma vergonha.

- Não! Eu não o conheço! O senhor deve estar enganado! O único Black que eu conheci, morreu há mais ou menos 16 anos. Se não me engano! - Respondi com toda a amargura que eu ainda tinha dentro de mim. Acho que deu certo. Pois ele fechou a cara e vi seu olhar ficar um pouco triste. Mas quer saber?! Que se dane... Ele que sofra também!!! Eu sofri. Porque ele não pode???

- Tudo bem, se você quer assim! Olá... Dra. Cullen! – Senti uma dor no peito ao perceber o quanto o machuquei pelas palavras que falei. Tive que ignorá-lo para não o pegar nos braços e consolá-lo. Falar que ainda o amava. Eu admito, fiquei triste também. Doeu quando ele me tratou tão formalmente. Mas eu já estava acostumada com as dores familiares em meu coração. Mesmo assim precisava manter distância. Virei-me e comecei a falar com seu filho.

- Bom! Como você está John?  Posso te chamar assim? É que você ainda é muito jovem para eu te chamar de senhor. – Sorri. - Vejo que está bem melhor desde a cirurgia, não?

- Estou sim Nessie! Posso te chamar assim? Afinal, sou um Black e nasci há quase 16 anos atrás e não morri ainda! Hahahaha... – Com essa tive que rir e ouvir Jake rir junto. Sua risada é inesquecível e linda. Algo no que ele disse me chamou atenção. Ele nasceu mais ou menos na mesma época da Mari... Isso... Quer dizer que... Jake me traiu não só com aquela mulher que vi em sua cama! Mas com outras também! Com essa afirmação juro que me segurei para não chorar na frente deles. Era como se o buraco em meu peito se reabrisse ainda maior. Ele não me traiu apenas uma vez, mas varias vezes! Vi que John percebeu minha tristeza, pois me olhou preocupado. Com isso eu tomei uma decisão...

- Sim! Claro que pode. Mas só você viu?! – Frisei a palavra VOCÊ. - Você tem a mesma idade da minha filha. Então acho que me sentiria muito velha e feia se você me chamasse de senhora ou Dra.! Minha filha tem a sua idade, ela faz aniversario dia 29 de março, e você? - Mari nasceu prematura, eu já estava com três meses de gravidez quando tentei contar ao Jake. Minha barriga não cresceu muito depois. Ela nasceu de sete meses. Tão pequena e frágil. Quase enlouqueci quando vi que ela seria prematura, cheguei a pensar que não vingaria. Mas graças a Deus, ela nasceu super saudável. Ela era pequena, moreninha e seus olhos... Os mesmos olhos de Jake! No mesmo instante percebi que ele estaria comigo para sempre através de Mari.

Quando terminei de falar, vi o olhar alarmado de John e achei estranho. Olhei para trás e só deu tempo de perceber Jacob cambaleando para trás. O que será que aconteceu?

Claro... Seu plano deu certo Renesmee! Agora ele acha que você o traiu ou que tem uma filha com ele. Eu queria muito que ele pensasse que eu o traí, pois assim ele sofreria como eu sofri! Saber que você foi traída é algo extremamente horrível e doloroso. A pior sensação de todas.  O mundo simplesmente desaba sobre sua cabeça e você começa a achar que tudo foi em vão. Que as palavras de amor, de nada valeram. Que enquanto você fez da outra pessoa sua vida, você não significou nada para ele.

- Vejo que você está melhor que seu pai. - ele riu.

- É... Acho que sim Dra.!!!

- Eu já disse John! Nada de Dra. para você. É apenas Nessie! – Ele sorriu torto e olhou para seu pai atrás de mim. Eu o examinei. Ele estava ótimo, em todos os aspectos! Mas o que não me deixava sossegada era o mal estar passageiro de Jacob. Na verdade aquilo me deixou bem preocupada, pois apesar de tudo eu sentia um grande afeto por Jacob. Eu ainda o amava.

- Bom senhor Black! Acho que vou chamar uma enfermeira para vim ver você. – Ele nem olhou em meus olhos. Estranhei. Pois de tal forma ele começou a me ignorar. Foi como um balde d’água fria em minha cabeça. Senti uma dor tão grande no peito. Mas também né Renesmee!! O que você queria? Queria que ele se declarasse pra você depois de saber que tem uma filha e que pode ser dele? Pelo menos deu certo... Ele ficou surpreso!!! Deve ter pensando que eu o traí. Isso é bom. Pelo menos irá manter distância.

Isso tudo ainda me dói tanto... Eu queria poder sentir ele de novo em mim, seus lábios nos meus, seus braços me abraçando por trás como fazia quando queria conversar com alguém, sem me soltar... Como é bom lembrar desses momentos! Dias que não saem da minha cabeça. Que me fazem sofrer... Sofrer de saudade! As vezes acho que sou meio masoquista. Porque mesmo sofrendo gosto de me recordar dos nossos melhores momentos. Que foram quando o conheci... O primeiro beijo... E a primeira vez! Não minha, mas dele... Sim, isso mesmo. Jake era virgem e eu não. Mas para mim foi como se tivesse sido a primeira também.

FLASH BACK ON

Meu Deus... Meu Deus! Sério que ele me convidou para sair? O cara mais badalado da escola quer ir ao cinema comigo? A nerd nova da escola. Acho que vou ficar louca, mas de felicidade! Mas e agora? O que vou fazer aceitar? Que pergunta Ness... Como se você recusasse um bolo de chocolate pronto e lindo para comer... Sem duplo sentindo, claro! Vou aceitar e agora.

Caminhei decidida em sua direção. Ele estava tão lindo. Usava uma jaqueta de couro preta, calça jeans e uma blusa da nossa banda favorita AC/DC. Que por sinal, eu tinha uma igual. Fui com ela na aula uma vez. Dias depois descobri por ele mesmo, que havia comprado só pra me imitar. Ele era tão lindo, tão sexy, tão gostoso... Morri babando por ele.

- Olá Jake! Posso falar como você?- Perguntei insegura. Vai que ele me dá um fora no meio de todo mundo.

- Claro! – Respondeu. Ele parecia nervoso. Vai vê é ilusão da minha cabeça. Afinal, ele é o bam-bam-bam da escola. Não iria ficar nervoso para falar com a caloura nerd. Ou ia?!

- Queria saber se essa coisa que o Seth me falou é verdade... - Como vou dizer isso??? - ...você... Me convidou para sair?

- É sim... Mas não quero que você aceite só porque sou popular.... - nem se acha quase. - Ou porque se sente obrigada, para não me dar o fora. - Ai que lindo!!!! Ele não tem nem noção do quanto que eu quero sair com ele.

- Você acha que eu sou assim? Dessas garotas que ficam com todos? Saiba que se um dia eu me propuser a sair com você, pode ter certeza que é porque eu quero, não porque tenho que sair. Mas eu não duvido nada de você, vai saber se isso não é uma aposta?! Afinal, não é normal um cara popular, como você, chamar uma nerd, como eu, para sair. - Falei com as sobrancelhas arqueadas.

-Não... Não... - Ele tentou se explicar rapidamente. - Imagina se algum dia eu iria fazer uma coisa dessas com você. Sei que é diferente das outras. Não é como as garotas que eu saio por aí. E por isso, gostei de você! Você tem papo, é inteligente, tão tímida e fica linda corada... – Quando ele disse isso... Eu corei é claro. - Quero sair com você, não por uma aposta ou coisa do gênero, mas porque você é linda e única.

-Obriga... - Eu ia falar, mas ele me interrompeu.

- Não por isso! Eu só estou constatando a realidade.. - Essa frase é minha. - Mas se for para agradecer... Agradeça por isso...

Ele chegou perto de mim e encostou sua testa na minha. Naquele momento percebi o quanto ele era mais alto que eu e olha que eu nem sou tão baixinha assim. Ele foi se aproximando... Seu nariz tocou o meu. De repente notei o que ele queria e que todos a nossa volta estavam nos olhando como se fossemos árvores de natal enfeitadas com luzes de neon. Amei isso! Ele foi chegando cada vez mais perto... Mais perto... Então senti seus lábios nos meus. Não eram lábios comuns. Eram lábios quentes, macios e únicos. Nossa boca se moldou uma na outra. Foi algo mágico e inesquecível. Nem de perto, todos os garotos que eu já beijei ou fiquei mais seriamente, tinham esse gosto, esse sabor. Todos foram importantes, mas nenhum nesse nível... Nenhum com essa intensidade. Ele inclinou levemente a cabeça e pediu passagem para sua língua. E eu permiti de bom grado. O toque da língua dele na minha, foi algo sem palavras. Foi como se ali, eu pudesse ter a certeza de que já o amava e o queria para sempre! Algo que eu consegui e não consegui ao mesmo tempo. Que senti o gosto, mas que não tive a continuação, já que nossa história não vingou.

Ele se soltou de mim e encarou meus olhos. Eram olhos lindos, intensos e... Apaixonados.

- E aí, não vai agradecer?

- Acho que não com palavras... - Dizendo isso, o segurei pela nuca e o beijei novamente. Travando uma linda batalha entre nossas línguas. Aquele não era um beijo calmo. Era um beijo extremamente intenso. Como se fosse um beijo de adeus... O beijo que eu jamais esqueceria. E que nunca esqueci!

- Isso responde sua pergunta? Sobre agradecer e aceitar o convite? – Falei sorrindo. - Pegue-me as sete, em minha casa, na sexta-feira! - Falando isso ameacei dar a volta, mas antes dei um selinho em sua boca e sussurrei. - Agora você é meu!

- Ok! Para sempre! – Respondeu retribuindo o beijo.

Naquele dia, eu fui embora, como uma criança que vai a primeira vez à praia. Feliz e sorridente. Com uma sensação maravilhosa de querer mais e poder ter mais! Mas já naquele dia, eu sabia que seria feliz, e também que mais cedo ou mais tarde o conto de fadas acabaria! Acho que esse sempre foi o meu medo. Até hoje. O medo de ter e depois perder.

FLASH BACK OF

Mais um dia me deixei levar pela dor das lembranças que me consumiam. Eu tentava me recompor... Pela minha filha... Mas era tão difícil. Doía demais saber que o tive em minhas mãos, mas que não fui o suficiente! Que ele precisou procurar outra para conseguir ser feliz. Eu era pouco e não bastava. Essa dor da perda e da humilhação iria me acompanhar até o dia de minha morte.

E hoje... Frente a frente com ele... O meu medo voltou ainda mais forte. Não quero me entregar novamente... Correr o risco de sofrer novamente. Meu coração já não suporta mais. Suas feridas ainda estão abertas, mesmo depois de 15 anos.