Naquela noite, Eleonor teve certa dificuldade em dormir, sua cabeça doía, e quando suas tentativas começaram a deixá-la zangada, ela finalmente desceu, e foi na direção da sala, de onde ela iria até a cozinha, tomar um copo de água, já eram quase três da manhã.

Sentado na sala, Oliver lia um livro, o que pra ela foi um choque, uma vez que se fosse para encontrar algum deles, ela esperaria, a uma horas dessas, Sebastian, Nathaniel ou Boris. Mas não, lá estava ele, com roupas mais largas e pretas, sentado na poltrona em frente à janela, iluminado pela penumbra e pela luz alaranjada de uma vela branca, já parcialmente queimada.

Eleonor parou no meio da escada, ele era a última pessoa que ele esperava encontrar, ainda parecia meio estranho encontra-lo no meio da noite...

Ele continuou entretido no livro, não parecia ter notado a presença dela ali, ela desceu mais uns seis degraus antes que os olhos dele se dirigissem a ela, ainda na mesma posição: com a cabeça apoiada na mão esquerda e segurando o livro com a direita.

- O que faz acordada? – ele perguntou, fechando o livro e pondo no colo.

- Nada, estou com problemas pra dormir. – ela deu de ombros, tentando parecer o mais casual possível.

- Se quiser, amanhã troco você de quarto, escolha um colchão que a agrade. – ele diz educadamente, pondo o livro sobre a mesinha.

Os olhos cinzentos dele ficavam bem mais difíceis de encarar durante a noite do que durante o dia, a luz do lado de fora da janela dava um clima estranho a ele.

- Não é preciso. – ela diz. – Só preciso me adaptar a morar aqui.

- Como desejar. – ele diz, fechando os olhos por um momento.

- Mas e você? – ela diz, tentando puxar um assunto menos “profissional”.

- Eu? – ele pergunta.

- Isso. Você não tem sono?

- Geralmente não muito. – ele diz.

A voz de Oliver era sempre muito calma, suave e firme, falando tudo com clareza e objetividade.

- Ah... – ela disse.

- Precisa de ajuda? – ele oferece.

- Não, tudo bem. Só vou até a cozinha pegar um copo de água.

- Acho que Sebastian está lá... – ele diz, olhando na direção da cozinha.

- Oh, será que vou incomodá-lo?

- Duvido muito, ele deve estar dormindo. – ele diz, puxando novamente o livro de cima da mesa.

Eleonor terminou de descer as escadas, Oliver a parou dizendo:

- Eleonor.

Era a primeira vez que ele a chamava pelo nome.

- Sim?

- Será melhor se você ficar em seu quarto amanhã. – ele diz, abrindo o livro.

- Por quê?

- Doll House está aberta às terças-feiras. – ele diz.

- Sim... E?

- Você não precisa participar da insanidade que essa casa se torna durante as terças-feiras. – ele suspira.

- Está bem... – ela diz.

Eis uma coisa que Eleonor nunca tinha pensado, o que    Doll House fazia afinal?

Ela foi até a cozinha, onde como predito por Oliver, Sebastian dormia apoiado na mesa. Ela bebeu o seu copo de água e voltou pela sala, os olhos de Oliver não mais se voltaram pra ela, não até que ela dissesse:

- Boa noite Oliver.

- Boa noite Eleonor. – ele respondeu, mudando a página com a ponta do dedo.