Aprendendo a Ser Feliz escrita por Monah


Capítulo 3
Questão de tempo


Notas iniciais do capítulo

Vamos "movimentar" mais essa história hehehe. Espero que gostem do capítulo.



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Capítulo 3 – Questão de tempo.

“O tempo não pára, não pára não...”

(Cazuza)

 

 

Ela se perguntava por quanto tempo estivera ali a espionar a rua. Da varanda alta observava as crianças jogando bola, algumas pessoas que fofocavam nas esquinas e outras que passavam apressadas de um lado pra outro. Cada um entretido com a própria vida, cada um com sua história.

 

Era o segundo dia que estava morando em County Hills com a mãe. Esta passara o dia inteiro fora cuidando de coisas que julgava importantes. Não tinha nada para fazer naquela tediosa hora da tarde e por isso observava a rua em que tinha vivido os cinco primeiros anos de sua vida. Nada tinha mudado, somente as pessoas. As crianças já não eram as mesmas de sua época, obviamente. Recordava-se de nunca ter brincado na rua como aquelas faziam ao final de uma quente tarde de verão. A mãe nunca deixara.

 

Em Los Angeles o pai lhe permitia levar as amiguinhas em casa, nadar na piscina e brincar na areia da praia em dias de domingo. Lá sim foi aprender o que era se divertir com os amigos. As lembranças que tinha de cinco anos atrás eram vagas, talvez porque nunca se esforçara demais para guardá-las na memória.

 

Recordava-se pouco da praça das flores onde toda primavera faziam um bonito festival. Quem sabe se lembrasse da velha sorveteria onde o pai a levava quando queriam conversar. Uma última por sinal muito divertida era a imagem da casa ‘mal assombrada’ dos Landers, lugar que conhecia de vista desde que se entendera por gente. Algumas histórias vagas lhe percorriam a mente falando sobre o local. Todas as crianças da rua temiam passar perto da casa porque os adultos contavam terem visto lá coisas muito estranhas. 

 

Tempos de paz em que Jenie Rutherford nem sonhava com a separação dos pais e tão pouco entendia o motivo de inúmeras discussões entre eles. No dia em que o pai a levara para tomar sorvete e contara que dali a uma semana moraria nos EUA sem a mãe, a pequena Jenie viu o mundo desabar sobre sua cabeça. Era inaceitável a idéia da separação, contudo, por mais que sofresse com isso foi um incidente inevitável.

 

***

 

Escureceu e Jenie recolheu-se. Jantou, despediu-se da mãe e tentou dormir. Nem conversaram muito sobre o dia. Mary nunca oferecia a mesma liberdade do que o pai James. Se fosse com ele, na certa Jenie lhe diria que seu dia havia sido uma droga. Mas com a mãe era tudo formal demais, fato que preocupava e irritava a menina.

 

Acordou com um barulho de algo rolando pelo telhado. Parecia mais com alguma espécie de lata ou algo que fosse sólido e oco. Algumas marteladas a fizeram despertar de novo, dessa vez induzindo a se sentar na cama e pensar no que estaria acontecendo do lado de fora.  Não acendeu as luzes para evitar chamar a atenção. Abriu vagarosamente a janela e perscrutou os arredores.

 

Só então percebeu que o barulho não vinha do telhado de sua casa, mas da casa ao lado que era muito próxima a sua. Uma casa alta, de paredes amarelas. Firmou a vista e viu um garoto pregando um objeto no telhado. Abaixou-se para apanhar uma espécie de cilindro que tinha rodado até a calha. Certamente isso havia provocado o tal barulho. Jenie fechou as cortinas e escondeu-se para não ser percebida. Depois que o garoto se afastou ela voltou a espiá-lo.

 

Só então percebeu que o tal objeto montado sobre o telhado era uma luneta. Com o tripé firme e a lente apontada para o Norte, o estranho menino estudava concentrado o céu naquela hora da madrugada.

 

“Ora, mas que maluco! Ficar acordado a essa hora só pra ver o céu com uma luneta.” _Pensou Jenie achando que cada maluco tinha a sua mania.

 

O garoto parecia muito atento e interessado no que via. Nem sequer se preocupava se alguém poderia vê-lo no telhado àquela hora da manhã ou não. Se quem sabe os pais o pegassem fazendo tal loucura e por isso lhe dessem bronca. Ele parecia estar fazendo o que mais gostava, sem se importar com o que os outros pensariam a respeito.

 

Jenie cansou de observar seu vizinho e decidiu ir se deitar. Já sabia que se ouvisse mais barulhos o responsável seria o ‘lunático’ ao lado.

 

***

 

Os dias se seguiram e veio a ocasião de entrar para a nova escola. O Instituto County Hills era a única escola primária e secundária existente na cidadezinha. Seu prédio era bem antigo e grande contando com inúmeras salas e um imenso pátio. Não tinha tantos alunos como na Hight School University em Los Angeles, mas atendia a uma numerosa clientela estudantil.

 

Jenie não negaria estar muito ansiosa, mas como tudo, as coisas sair-se-iam bem. Não era a primeira vez que mudava de escola, e na certa teria a chance de fazer alguns amigos.

 

Pensando melhor, aquelas pessoas lhe pareciam fechadas e introvertidas demais pra alguém tão a frente quanto ela. Elas mal olhavam para sua cara quando saía na rua. Pareciam não saber que era a filha de Mary Rutherford, uma pessoa tão conhecida. Jenie às vezes achava elas metidas, meio arrogantes. Em sua opinião deveriam ser mais alegres e hospitaleiras como os americanos. Ingleses sempre foram resguardados e quietos. Jenie sabia que apesar da origem inglesa seu coração era totalmente americano.

 

***

 

O sinal soou anunciando o final do recreio. Um inferno para Jennifer Rutherford estar mais de três horas e meia sem falar com ninguém. Conhecera sua sala de aula, fora apresentada à turma pela supervisora, mas nada. Ninguém tivera o bom senso se ir recebê-la e trocar nem duas míseras palavras. Ficou num canto observando o movimento dos alunos em seus trinta minutos de folga. Desejava morrer do que estar ali sofrendo o desprezo de aluna novata. Se todos os dias fossem como aquele, prometeria a si mesma nunca mais pisar naquela escola outra vez.

 

Os alunos pareciam se conhecer muito bem. Obviamente, pois ali iniciavam no jardim de infância e só se separavam para ir à faculdade. Jenie não conhecia ninguém, ainda que tentasse procurar por alguém que quando criança tivesse visto nas ruas. Os dez anos que vivera na Califórnia apagaram todas as lembranças de sua mente e ela nunca imaginou que um dia fosse precisar voltar àquele passado.

 

_Aquela garota é ridícula! Olha só como ela se veste de modo vulgar. _Falou Liz à amiga Danielle Ousien, menina riquinha e arrogante que estudava junto de Jenie.

 

_Concordo Liz, ela já veio pra cá se achando a melhor só porque morou em Los Angeles e blá blá blá... _Danielle concordou observando a saia vermelha rodada e a regata branca que Jenie usava. _Ela até é bonita, mas tem que aprender que as garotas mais populares da escola somos nós duas e mais ninguém, concorda?

 

_Óbvio né Dany? Acho que a novata está precisando de uma lição. Algo que a faça descobrir seu lugar, o que você acha? _A morena Liz perguntou com ar diabólico dando uma piscadela à amiga.

 

_Adorei a idéia! _Dany devolveu a piscada entendendo a idéia.

 

***

 

Jenie estava de frente ao seu armário tentando memorizar a combinação do mesmo. Distraída não percebeu duas pessoas se aproximarem e uma delas empurrá-la para dentro do próprio armário e a outra trancar a porta.

 

_Mas que droga! O pensam que estão fazendo?! Tirem-me daqui agora mesmo!!! _Berrou a Rutherford irritadíssima.

 

_Que pena! Acho que vai perder o restante das aulas aí dentro novata... Te cuida, baby! _Falou Dany abafando os risos junto da amiga Liz.

 

_Me tirem daqui suas imprestáveis pra eu arrebentar o nariz de vocês! _Ela esmurrava histérica o armário causando barulho.

 

Contudo, as meninas já iam longe deixando a pobre Rutherford desesperada sem poder fazer nada sobre o caso.

 

“Que ótimo! Era só o que me faltava... Acho que vou mesmo odiar a Inglaterra, County Hills, minha casa e essa escola estúpida.” _Pensou a ruiva caindo sentada no chão do armário. Teve vontade de chorar, contudo, não o fez. Deveria achar um jeito de sair, ou sabe-se lá quanto tempo ficaria ali trancada.

 

Voltou a berrar e a chutar o armário feito louca quando não longe dali alguém a observava. Os gritos de Jenie eram ensurdecedores e assustavam a pessoa que seguia em sua direção.

         

 

 

 

 

 

 


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