Cripta - o Silêncio das Gárgulas escrita por Pedro_Almada


Capítulo 6
Capítulo 6




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Capítulo 6

 

Presente Momento

 

            - “Fim de ideário no Governo Stalin”, com dez letras.

            A caneta deslizava sobre os quadriculados, enquanto ele contava os espaços.

- Socialismo – ele murmurou enquanto completava a primeira palavra cruzada.

            A sala escura não era o suficiente para impedir que aqueles olhos violeta enxergassem muito além do que normalmente seria possível. Mais do que ver no escuro, ele era capaz de enxergar o que ninguém conseguiria com simples olhos humanos.

            - “Rena do papai Noel”, começando com a letra C. – ele suspirou, tedioso – “Comet”, claro.

            Parou por um rápido instante, certificando de que ninguém se aproximava.

            - Devo estar ficando paranóico... Vamos ver...

            Seus olhos púrpura eram ágeis, corriam da folha para a grande porta de metal a sua frente, presa com centenas de pequenos cadeados e correntes muito resistentes. Ele, realmente, não queria ser incomodado.

            - “Papa baleado na Pça São Pedro, no Vaticano”. João Paulo II.

            Escreveu a última palavra, pousou a caneta em uma escrivaninha ao lado e, vagarosamente, levantou-se, sentindo as pernas formigarem. Caminhou até um velho lampião suspenso na parede de pedra escura, onde centenas de tiras de jornais, fotografias velhas e novas, entre outros recortes, decoravam a superfície fria.

            A chama acesa varreu a escuridão do pequeno cômodo, iluminando uma escrivaninha velha de mogno, uma cadeira forrado com um tecido vermelho, uma mesa de metal com uma caneca com restos de leite, um pires com doces caseiros e um pão surrado.

            O homem, debaixo da luz vacilante, tinha uma aparência curiosa. Seus cabelos negros e espessos, completamente embrenhados, cobriam completamente as orelhas, seu rosto era pálido mas preservava nas bochechas um leve tom arroxeado. Rosto triangular, de uma beleza pouco conhecida, uma fisionomia jovem, mas com traços envelhecidos pelo passado turbulento. Uma figura na escuridão.

            - Devem estar me procurando... – ele pousou o lampião sobre a mesa de metal, enquanto se servia de doces – nunca me acharão aqui. Não mesmo.

            Ele riu debilmente. Estava desolado, efeito comum depois de quase três anos em completa solidão sem nenhum brilho de sol, ou frescor da manhã. Enfiou os doces na boa e engoliu-os inteiro, já desacostumado em comer civilizadamente.

            Então ele parou. Seus olhos, antes violeta, mudaram. Estavam negros, completamente, uma cor de óleo viscoso, exibindo um pavor que não sentira há muito tempo.

            - Isso não...

            Deixou os doces caírem no chão, revelando o seu verdadeiro peso. Eram tão resistentes quanto blocos de tijolos, capazes de quebrar os dentes de alguém normal. Não, aquele rapaz não era, nem de longe, normal.

            Correu até a escrivaninha, recolhendo o jogo de palavras cruzadas, fitando-o como se fosse uma bomba-relógio.

            - Por que eu as realizei nessa seqüência? – ele estava aflito, seus olhos loucamente apavorados vidrados na folha quadriculada, aparentemente sem nenhuma importância há poucos segundos atrás – Socialismo... Comet... João Paulo II.

            Então ele parou de falar, ou de ver, ou mesmo de respirar. Estava estupefato, paralisado de medo. Sua audição, por outro lado, estava a todo vapor. Conseguiu ouvir com clareza os passos que soavam discretamente na escada de pedra do outro lado da porta bem protegida.

            - Socialismo... Governo... Comet... Queda, chegada... João Paulo II... Queda de governo... Queda do inesperado... Não, não entendo... É confuso... João Paulo II... Comet... Merda!

            Os passos estavam se aproximando.

            - Queda do governo. Mas, não aqui. Não esse! Não nesse tempo? O que isso quer dizer? Não faz sentido! O que estou dizendo?

            Um estrondo soou impetuosamente, e a porta foi arremessada, passando por cima da cabeça do rapaz, apavorado e confuso. Uma densa camada de pó se ergueu, cobrindo o ar com um cheiro acre insuportável. O rapaz fitou, alarmado, os vultos caminhando em sua direção, atravessando a névoa.

            - O que... Como me acharam? Eu apaguei todos os meus rastros...

            Ela sorriu.

            - Ninguém pode se esconder de Lorelai, Pietro.

            Ele cobriu o rosto, trêmulo. Estava decidido em não assistir à sua própria morte.

            - Não se preocupe, rapaz... – uma voz masculina soou ao fundo – Ninguém aqui vai te fazer mal.

            Pietro lançou um outro olhar à nova figura que surgia em meio ao pó.

            - Chandler Blay... – ele engasgou – O filho de Berserker...

            Pietro ajoelhou-se no chão, apertando jogo de palavras cruzadas entre os dedos. Havia entendido, afinal.


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Notas finais do capítulo

confuso, com certeza... Mas já estou criando o próximo cap, continuando esse.
Estou fazendo capítulos menores por falta de tempo. Então estou dividindo um mesmo momento em partes, assim não fico muito tempo sem postar.
abraços e obrigado por reviews xD