O velho se aproximou de mim, coçou sua barba e arrumou os óculos. Seu olhos me analisavam e eu não gostava do ar de desdém que ele tinham para comigo.

-O que você fez? Para o Brass ter deixado você aqui mesmo depois de um pedido da Catherine... Não foi pouca coisa.

-Eu apenas fui me desculpar com sua namorada. - Ele me olhou por cima do óculos.

-Quem?

-Deixa. - Nós dois desviamos o olhar. -Não sei por que você usa óculos, não consegue enxergar um palmo a sua frente. Tem a verdade em sua mão, viu e comprovou na pele que o que eu digo é real e mesmo assim não quer acreditar. Sabe o que eu acho? Você tem medo, você não pode explicar e isso foge do seu controle, para você ter a explicação das coisas é o mesmo que ter o controle e você sabe que se perder isso por alguns segundos seria seu fim. Agora e eu te pergunto, você teve um vida inteira a tempos atrás, você soube vivê-la? -Houve silêncio da parte dele, aquilo não me surpreendeu. -Dá para ver que não. Uma pessoa como você não pode ter feito bom proveito do livre arbítrio que teve.

-Você fala como se não tivesse escolha, como se não tivesse vivido.

-Aquilo você viu na casa... Desde de guri eu ajudava meu pai a caçar. Aquilo é a minha vida.

-Certas coisas não podem ser diferentes. Você se sente bem capacitado para me julgar e eu para lhe incriminar, aonde isso nos levará?

-A canto nenhum. - Ele abriu a cela, entrou, escorou-a, guardou a chave no bolso e se sentou ao meu lado no banco.

-É seguro você entrar com as chaves? Não está com sua segurança para me bater.

-Depende, você irá me bater para consegui-la e arriscar sair em local cheio de policiais sabendo que fez uma grande amiga do capitão chorar?

-Como se ela fosse uma pobre moça indefesa.

-Você teria batido nela se as coisas piorassem?

-Não, nunca, se você ainda não percebeu eu não sou mau... Por mais que eu faça menções. - Ele arqueou as sobrancelhas e me encarou de uma forma que não dava para compreender o que ele pensava, parecia se lembrar de algo. -Entre nós dois, se eu tivesse feito alguma coisa você teria atirado em mim?

-Sim, sem pensar duas vezes.

-Por que mesmo sabendo que ela gosta de você ainda se nega a gostar dela? Bom ela não é feia, e para você, desculpa falar 'meu chapa', mais duvido que arranje algo melhor. - Ele curvou a boca em uma feição fechada.

-Você está certo. Ela é linda... Jovem. Algo difícil de se arranjar. - O olhar dele que já estava baixo se afundou ainda mais.

-Vou te dar uma dica, viva o hoje sem pensar no amanhã, talvez ele não exista – Acho que estava dizendo por experiência própria. -Você pode abrir mão de tudo e a única coisa que pode acontecer é você se arrepender de não ter feito isso antes. Quem vive da opinião dos outros é instituto de pesquisa. Ela gosta de você, caso não queira ser feliz deixe pelo menos ela ser. - Queria que fosse Castiel falando aquilo para mim, na verdade queria que eu pudesse fazer o que esse homem sempre se negou a fazer, largar tudo e saber que mesmo assim todos ficariam bem.

-É seria realmente bom: “Supresa Sara! Eu percebi o quanto idiota estava sendo e estou profundamente arrependido de não ter te amado antes”. Seria simples demais, até porquê é a verdade. Ela realmente merece coisa melhor e me sentiria culpado se percebesse que a fiz perder tempo com um cara velho como eu podendo estar aproveitando sua juventude.

-Realmente você não merece que ela se importante tanto. Você é muito egocêntrico e acha que sempre está certo e o pensamento de ninguém pode ter a razão que o seu tem. Se ela gosta de você a ponto de não se importar com o seu próprio bem-estar com certeza já deve saber de tudo que vai perder esperando por você, o que aliais, é bem mais desgastante do que estar com um “cara velho”.

-Eu a amo, verdadeiramente. E não quero machucá-la. - Na mesma hora nós dois escutamos a cela ser aberta, olhamos para frente e vimos a morena se aproximar, ela ficou frente-a-frente com Grissom, não encostei nele para saber, mas parecia gelado, estava pálido. O fato é que nós dois sabíamos que ela estava ali a bem mais tempo que percebemos. Após uma olha nos olhos ela foi certeira em dar uma tapa no rosto de Grissom e no mesmo estantes fica de joelhos na altura dele sentado e beijá-lo.

-A tapa foi por você ser um imaturo, infantil e orgulhoso e o beijo foi para saber que eu lhe desculpo você... - Ela continuaria se o velho não tivesse beijado-a e no ato os dois ficassem de pé. Castiel tinha que admitir, eu era bem mais cupido do que Eros.