Nyx, a Demônio Banida escrita por Live Gabriela


Capítulo 6
Sermões, vôos e músicas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/87744/chapter/6

   Depois de ter meu pé examinado, enfaixado e engessado me mandaram para casa. Claro que tive que ir acompanhada de meu novo vigia, mas tudo bem, pensei no assunto e ele pode até me ser útil. 

   - Te deixo sozinha por uma noite e você explode uma delegacia, quebra o pé e faz com que um anjo caído leve um tiro? Eu to fora! Sou uma ceifadora de almas não uma babá. Diga pro seu pai ir se fuder porque ele tá fudendo comigo me deixando perto de você. Garota louca! Tomara que você vá para o Tártaro pra que Tisífone (divindade vingadora dos assassinatos) te castigue por tudo o que fez, principalmente com aqueles humanos que você matou na primeira noite em que esteve na Terra. - dito isso a Morte foi embora.

    - Legal, mais um sermão. - me virei para o anjo caído - Hey, qual é o seu nome hein?

    - Gadrel.

   - Gadrel... - repeti para mim mesma. Parei virada para a janela, fiquei observando o movimento da rua, que por acaso não era muito grande. Me virei para Gadrel - Por que você caiu?

    Ele pareceu dar um sorriso e me respondeu com tom de satisfação.

    - Digamos que eu ensinei a alguns anjos sobre a arte de ferir alguém com uma espada.

    - Legal. - aquilo sim era interessante.

    Fiquei olhando para ele mas ele desviou o olhar, acho que essa troca de olhares o deixou desconfortável, mas não dei a mínima continuei encarando-o.

   - Já que vai ser minha babá porque não fica?!

   Ele se virou em direção a janela e antes de me responder ficou me olhando, sem virar a cabeça.

   - Pode ser. - voltou a olhar para a rua.

   Silêncio.

   - Me deixa ver como você é?

   - Han?

   - Ai, por acaso você é surdo? Eu quero ver como você é, sua verdadeira aparência.

   - Não.

   - Como assim não?

   - Olha, só porque tenho que ficar te aturando não significa que vou fazer o que você mandar.

    Fiquei quieta, deixei meus olhos falarem por mim. Eles ficaram vermelhos, e como resposta os dele ficaram prata, estavam tão claros como na noite anterior.

    Abri minhas asas e eles as dele, ambas negras mas as minhas pareciam de morcego enquanto as dele lembravam a de uma águia.

    Naquele momento me dei conta do quão pequeno era meu apartamento, pois minhas asas não são bem grandinhas e as dele eram maiores ainda e realmente precisam ser, porque para aguentar nosso peso a asa tem que ser bem grande, assim como nosso esforço na hora de usá-las. Para um demônio ou um anjo, voar é como correr carregando várias caixas de leite longa vida, ou seja, não é muito fácil, claro que o vento ajuda bastante, mas mesmo assim fazer todo esse esforço nos faz bem, nos deixa fortes.

    Continuei minha transformação para incentivá-lo a fazer o mesmo. Minha pele ficou mais clara assim como a dele. Meus cabelos escureceram e cresceram, chegando a altura de meu quadril, os dele fizeram o mesmo, mas desistiram de se esticar ao chegar nos ombros. As bocas delicadas e quase inofensivas criaram dentes afiados e mortíferos. Minha cauda e meus chifres apareceram assim como nossas garras apareceram em sincronia. As roupas se desintegraram e outras apareceram em seus lugares.  No meu caso um vestido com cauda, uma camada branca e uma preta por cima, esta ultima toda rasgada e desfiada dando a impressão de uma teia desmanchada, e um sapato baixo de cano alto. Já os vestes dele não exigem tanta descrição, estava sem camisa, vestia apenas uma calça preta e uma luva de couro da mesma cor e sem dedos, pés descalços.

    Estávamos diante de nossas verdadeiras imagens, mas nem eu nem ele desviamos o olhar de nossos olhos.

    Ele sorriu mostrando seus dentes que eram mais brancos do que sua pele albina. Abriu a janela e pulou. Fui atrás. Fomos o mais alto que podíamos. Ele estava guiando e eu apenas observando por onde passávamos até perder-lo de vista. Olhei em volta e nada. Não fiquei procurando por ele, voltei para casa descansei por algumas horas, até que começasse a escurecer. Já que Gadrel ainda não tinha voltado fui aproveitar minha liberdade.

   Peguei meu mp3 e comecei a voar sem rumo, estava nublado, parecia que ia chover, as nuvens estavam carregadas e o céu cinzento, alguns raios do sol ali apareciam. Estava brisando e quando me dei conta parei em um lugar que não conhecia, haviam várias pedras, montanhas. Uma paisagem agradável. Olhei em volta para tentar me localizar e lá estava ele. Sentado na ponta de uma pedra, rocha, seja lá o que for com um lampião ao lado, este ele deve ter roubado de algum museu de antiguidade. 

    Tudo bem, confesso que sua pose me chamou a atenção, ele lá, sentado com uma das pernas dobrada enquanto servia de apoio para seu braço, era um tanto "sou foda" mas nem me importei. Cheguei mais perto e pousei na pedra.

    - Que tipo de vigia é você que some e não me procura?

    - O tipo de vigia que tá pouco se fudendo pro que acontece com você.

    Sorri e me sentei ao lado dele. Fiquei apreciando a vista e coloquei meu meu fone no ouvido.

   Ele tirou um dos fones de meu ouvido e perguntou - O que é?

   - Creed, One Last Breath.

   - Curto Creed. - disse ele colocando o fone no ouvido.

   - É, eles são legais.

   - I'm looking down now that it's overReflecting on all of my mistakes - cantou ele. O olhei com cara de "cala a boca" , ele sorriu e ficou quieto.

   - Hold me now I'm six feet from the edge and I'm thinking Maybe six feet Ain't so far down... - cantei, ele se virou para mim, dei uma espécie de sorriso e ele retribuiu. 

   Ficamos cantando até o fim da música, de frente um para o outro, olhos nos olhos. 

   - Acabou. - eu disse.

   - É acabou - disse ele tirando o fone do ouvido e colocando-o de volta no meu.

   Sua mão encostou em meus rosto, era fria, bem fria, mas não me incomodei, eu gosto de frio. 

   Ele se aproximou, tanto que pude ver meu reflexo em seus olhos. Colocou a mão em meu rosto e aproximou o dele. Por um instante um frenesi fez com que eu não conseguisse me mexer, mas logo isso passou, percebi que ele estava mais perto do que deveria então me joguei para trás, conseqüentemente caindo da pedra. Me virei e voei para longe, olhei para trás e não o vi mais. Voltei para casa e ele não estava lá, não me importei, achei até bom, já era tarde e eu ainda não tinha comido nada e também não estava afim de caçar. Me contentei com uma caixa de carne de hamburger e um cachorro que estava latindo na rua, aquele latido tinha me incomodado muito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nyx, a Demônio Banida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.