Walkie-talkie escrita por Franiquito


Capítulo 8
Uma perspectiva diferente


Notas iniciais do capítulo

Olá, minna-san!
Como têm passado? Bem? Eu também, obrigado por perguntar! -qqq
Enfim, eu andei comentando por aí que o "povo mala" da fic ia ter seus momentos pra se redimir, não falei? Pois então, começa por esse capítulo aqui. A Yoko vai pensar mais no que fez e no que o Yutaka representa pra ela, e isso graças a quem vcs menos esperam... *ri* Foi bastante divertido escrever esse cap, espero que vcs gostem!
Boa leitura! ^.^



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Yoko arrumou delicadamente as caixinhas com os doces dentro de uma sacola para entregar à cliente. Sua calma andava invejável nos últimos dias, o que fez seu chefe observá-la mais atentamente durante o expediente.

- Pronto. Seus doces – Yoko estendeu a sacola para a cliente – E seu troco – Yoko fez o mesmo com o dinheiro – Muito obrigado e volte sempre!

A senhora agradeceu com uma pequena reverência e saiu da lojinha, deixando Yoko livre para desmanchar sua postura de atendente exemplar e voltar à pose anterior: o cotovelo apoiava-se no balcão e o rosto apoiava-se na mão. A jovem começou a contornar os docinhos sob o vidro com o dedo, mas dessa vez seu rosto não estava sonhador como de costume, e sim carregado de tristeza. O cenho franzido, os lábios levemente curvados para baixo e os olhos melancólicos pareciam estranhos no rosto delicado de Yoko, mas habitavam seu semblante havia três dias... Desde o dia em que Yoko parara de falar com Yuk.

Apesar do que tinha ocorrido, Yoko sentia falta de conversar com Yuk. Ela conseguia falar tão abertamente com ele sobre tudo... Os dois sempre faziam piadas e se divertiam sem notarem as horas passando...

Mas então houve aquilo no domingo. Por que Yuk não podia ser um homem diferente? Ele era mais velho, deveria ser mais maduro e se abster de piadas tão vulgares! Além disso, não era nada polido da parte dele, que sempre passara à Yoko a ideia de ser um homem educado e gentil. Parecia que ela tinha se enganado redondamente e aquilo doía tanto...

Yoko soltou um suspiro que se prolongou por vários segundos e mesmo assim não aliviou seu peito. Aquilo não estava certo... Yoko sabia que Yuk não era aquele tipo de pessoa. Após o desentendimento inicial sobre o walkie-talkie, Yuk sempre lhe tratou com respeito e educação. Mesmo que ele fizesse brincadeiras, eram todas ingênuas e de bom gosto. Sua voz e seu riso eram tão inocentes, tão gentis... Yoko suspirou outra vez com a lembrança.

Uma sombra não muito grande projetou-se sobre Yoko, fazendo-a erguer o olhar do balcão. Parado à sua frente estava seu chefe com as duas mãos na cintura e a costumeira expressão fechada.

- Vai espantar toda nossa freguesia com essa cara, Yoko-chan – ele disse sem usar um tom muito severo.

A moreninha endireitou a postura e forçou um sorriso sem sequer conseguir mostrar os dentes brancos. Seu chefe bufou.

- Isso não está nem perto da Yoko que trabalha aqui.

Yoko suspirou de forma cansada, algo recorrente nos últimos dias, e voltou a se apoiar no balcão.

- Eu sei... Gomenasai, senhor.

O homem a encarou por mais alguns segundos esperando alguma reação, mas Yoko continuou mirando os doces pelo vidro.

- O que diabos aconteceu com você? – ele perguntou de forma um pouco bruta, mas com real interesse. O homenzinho gorducho simplesmente não sabia ser delicado, mas se importava com o estado de sua única funcionária.

Yoko suspirou novamente antes de responder.

- Eu só... Eu briguei com alguém. Mas eu não queria ter brigado...

- Seu namorado?

- Eehh?? – a jovem se assustou, encarando o chefe com os olhos muito abertos – Ele não é meu namorado! Ele é só... meu amigo – ela voltou a desenhar imagens abstratas no vidro com o dedo.

- Ele te fez alguma coisa? – o tom do chefe agora estava bravo e quando voltou a encará-lo, Yoko viu seu rosto redondo adquirir um tom róseo.

- Ele não me fez nada! Por que todos perguntam isso?

- Porque você está com cara de que ele fez.

- Não – Yoko negou com a cabeça – Ele só disse uma coisa... Ele insinuou... – Yoko se sentiu corar, sem coragem sequer de pensar naquilo – Bom, eu me decepcionei por ele ter dito o que disse.

O chefe estreitou os olhos já pequenos e aproximou-se mais de Yoko, mirando-a inquisidoramente como se a analisasse.

- Afinal ele disse com todas as letras ou você deduziu isso?

Yoko encarou o homem com surpresa, sem saber o que dizer a princípio. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, sentindo o rosto esquentar de vergonha, até que respondeu sem jeito em voz baixa:

- Eu deduzi, eu acho...

- HÁ! Eu sabia! – o chefe bateu a mão no tampo de vidro do balcão, assustando a mais nova – Vocês mulheres são todas iguais, não importa a idade, não importa a época! Vocês ouvem uma frase e já deduzem o livro inteiro!

- Mas... – Yoko procurou se justificar – Mas não tinha outra coisa para pensar! Foi como se ele me dissesse com todas as letras...

- Mas ele não disse! Então você não pode ter certeza, pode?

- E o que o senhor sugere que eu faça?

- Vá conversar com ele para esclarecer de uma vez por todas, oras! Se você estiver errada, vocês poderão voltar a ser amigos – a expressão do chefe mudou completamente, fechando-se outra vez – Mas se estiver certa, Yoko-chan, lhe dê um chute bem forte na canela para ele aprender!

Antes que pudesse notar, Yoko estava dando risada da sugestão do chefe, o que fez o homem rechonchudo sorrir também.

- Isso, essa é a Yoko-chan que eu contratei.

Yoko fez uma reverência com um sorriso amável nos lábios.

- Arigato gozaimasu pelo conselho, senhor!

- E agora vá arrumar aquelas prateleiras! Você já viu a bagunça que está aquilo? Vamos, ao trabalho!

Yoko riu outra vez, obedecendo prontamente.

- Hai! Eu estou trabalhando!

O resto do dia passou muito mais rápido para Yoko. A conversa com seu chefe tinha lhe aberto os olhos para uma nova possibilidade... Yoko sentia-se mais leve com a esperança de que as coisas pudessem ter sido mal interpretadas por ela, afinal não seria a primeira vez que ela e Yuk passavam por aquilo. Parecia que tudo à volta deles tinha que ser confuso de alguma maneira, começando pela forma como se conheceram... Talvez aquilo fosse só mais um mal-entendido.

E então ela não estaria enganada a respeito de Yuk. Ela nunca quis estar. Yoko sentia tanta falta dele desde o incidente que até se assustava. Ora, eles se falavam não tinha nem uma semana e nem se conheciam pessoalmente! Yoko não fazia ideia de como era Yuk fisicamente, mas ela imaginava... Ele parecia ser alguém bastante ocupado e importante com o que trabalhava, então ele devia andar por aí com ares de seriedade... Mas Yoko conhecia seu bom humor e risada maravilhosos, e imaginava um lindo sorriso de dentes perfeitos moldado em lábios finos. Os olhos... deviam ser brilhantes e alegres, mas escuros, daqueles que passam respeito.

Como uma pessoa com aquele tipo de imagem poderia ser grosseira??? Yoko não via sentido naquilo, por mais que tentasse, por mais que estivesse magoada com o que pensara ter entendido. Yuk não se encaixava naquele perfil, ela sabia disso, Yoko podia sentir dentro do seu coração! E depois dos conselhos do seu chefe, Yoko se sentia mais confiante a respeito do que sempre achara de Yuk.

Talvez ela tivesse dado ouvidos às coisas que Mai dizia. Sua irmã nunca gostou daquela história e sempre deixou bem clara a sua opinião a respeito de Yuk. Mas ela não conhecia Yuk; Yoko sim conhecia Yuk! Todas as vezes que os dois conversaram não poderiam ter criado uma impressão tão errônea... Yoko deveria saber que mais cedo ou mais tarde se deixaria influenciar pela irmã, que preferia sempre se manter na defensiva a descobrir novas coisas... Constatar aquilo entristeceu Yoko, mas era uma realidade recorrente: Yoko admirava a irmã mais velha e tinha muita consideração pelo que ela dizia. Mas não queria dizer que precisava se deixar influenciar por ela...

- Yoko, acorde, por favor!

O chefe de Yoko estava estalando os dedos em frente aos seus olhos para chamar sua atenção.

- Hã? O quê? O que foi? Eu... eu estava trabalhando! – ela apressou-se em dizer.

- Claro que estava! Passou a tarde inteira arrumando essas prateleiras!!! – o chefe bateu as mãos e olhou para o teto como se não acreditasse – Acho que você estava pensando demais no que eu lhe falei... Nunca mais lhe dou qualquer conselho no meio do expediente, você fica ainda mais distraída! Vamos, o dia acabou!

Yoko desviou o olhar para o chão sentindo-se envergonhada. Já tinha acabado o expediente? Ela perdera completamente a noção do tempo pensando em Yuk... Talvez ela estivesse plantada na frente daquela estante cheia de caixas de doces há duas horas!

- Eu vou fechar o caixa, senhor – Yoko comunicou já caminhando em direção ao balcão de vidro, mas o chefe a impediu.

- Não, não, vá pra casa logo! Do jeito que está distraída não vai nem conseguir contar direito... Vá, pode ir!

A jovem se surpreendeu, mas não perguntou. Retirou seu avental bordado, guardou-o na despensa da loja e pegou a bolsa, pronta para ir embora.

- Boa noite, senhor! Até amanhã!

O homem não pôde conter um sorriso. Por mais que estivesse sempre reclamando, Yoko fazia toda a diferença na sua vida. Ela alegrava qualquer ambiente e parecia ter realmente melhorado depois da conversa que tiveram naquela mesma tarde.

- Boa noite, Yoko-chan. Tenha cuidado.

- Sempre tenho! – ela respondeu já do lado de fora da loja.

Yoko levou menos tempo para chegar em casa aquele dia. A animação que retornara ao seu espírito apressava seus pés pelo trajeto, e ela chegou bem antes de Mai no apartamento que dividiam.

Já dentro da casa, Yoko tirou as sapatilhas, jogou a bolsa no chão da sala e correu para o quarto. Na cômoda ela pegou o pequeno walkie-talkie que não via fazia alguns dias e recolocou nele as pilhas, seu coração batendo mais forte no processo. Yoko mordeu o lábio inferior, pensando no que fazer em seguida. Ela apertou o botão e abriu a boca para falar, mas parou. Tentou mais duas vezes, sem sucesso. Ela não sabia o que dizer!

A jovem se sentou na cama e fechou os olhos. Não tinha nada de mais em dar uma chance para Yuk se explicar. E era só aquilo que ela ia fazer... Certo?

- Yuk – Yoko chamou sem graça pelo walkie-talkie, num tom sussurrante – Yuk, você está me ouvindo?

Um minuto inteiro se passou enquanto Yoko aguardava. Ela tentou mais uma vez, tentando parecer um pouco brava.

- Eu só acho que seria justo lhe dar uma oportunidade de se explicar. Se você tiver uma explicação, eu digo... E achar que vale a pena... – ela fungou como se não ligasse – É isso.

Yoko esperou mais algum tempo completamente inquieta, as unhas já na boca prestes a serem roídas. Não havia resposta. Aquilo frustrou Yoko... Ela estava certa de que conseguiria um contato imediato com Yuk. A jovem suspirou com tristeza, fazendo beicinho.

- Você desistiu de mim, Yuk-chan? – ela murmurou para si em voz baixa, mirando fixamente o aparelho preto. Yoko fungou de novo e sentiu que os olhos estavam marejando com aquele pensamento. Yoko se assustou com sua reação a princípio, mas então sacudiu fortemente a cabeça de um lado para o outro.

Yuk podia ter “n” razões para não responder naquele momento. Ele podia ter saído. Ele podia estar trabalhando. Ele podia estar no banho. Ele podia estar dormindo. Era bem verdade que ele podia ter jogado o walkie-talkie no lixo... Afinal ele mesmo dissera que tinha outro par e não precisava mais daquele para trabalhar.

Mas Yoko não ia pensar naquela possibilidade ainda. Ela não era mulher de se deixar levar pelo lado negativo das coisas! Ela tentaria falar com Yuk novamente no dia seguinte, e se não conseguisse tentaria no outro, e no outro, e no outro... Ela tinha certeza que uma hora conseguiria. Ela tinha certeza.


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