Capítulo 9 – Chamado

Zack na verdade estava nervoso por dentro. Sabia que Riku era bem mais forte, porém, isso não o impediria. Olhou de relance Lilian, que mantinha uma expressão de preocupação no rosto. Ela engoliu o seco e acenou positivo para ele, para passar confiança. Pena que não funcionou muito.

Riku se aproveitou do momento de distração do oponente e avançou, desferindo o primeiro golpe, na qual Zack não tivera tempo para defender.

O rapaz fora atingido em cheio e recuou um pouco, pondo a mão no ombro, onde o golpe acertara. Não fora profundo, mas o suficiente para lhe causar uma ponta de dor.

Zack tentara avançar, mas Riku defendera seu golpe facilmente e puxou o rapaz para junto de si, dando-lhe um chute na barriga. Aquilo fez Zack ajoelhar-se com a falta de fôlego.

O rapaz tentara se levantar, apoiando-se na Oblivion, porém, Riku fora mais rápido e lhe dera outro chute e o empurrara usando a Way to the Dawn. O jovem de cabelos prateados se afastara.

Zack se levantou mais uma vez apoiado em sua keyblade negra, porém, estava ferido, e a dor começava a tirar as forças que deveria usar para manter-se na luta. Tentou focar sua visão na luta, mas Riku se aproximou mais uma vez dele por trás e atacou-lhe mais uma vez usando a keyblade.

O rapaz conseguiu se desviar, mas a Way to the Dawn ainda o pegara de raspão. Zack engoliu o seco e evitou pensar na dor que aparecera em suas costas.

Não saberia quanto mais iria aguentar. Tentou levantar, mas uma dor aguda em suas costas o fez soltar um gemido e o levou de encontro ao chão. Algo sobre o seu corpo impedia o rapaz de se levantar. Zack não precisava ver que era Riku, que pousava um de seus pés com força nas costas do garoto.

- Decepcionante... – sussurrou Riku.

Riku ergueu a sua keyblade acima da cabeça e preparava para finalizar com aquela luta.

Zack apenas já não tinha mais forças. Oblivion estava em sua mão fraca. Seu olhar saiu da keyblade e pousou em Lilian, que estava com a expressão de preocupação na face, e ele pode sentir uma ponta de medo. Ele estava para fechar os olhos, quando sua voz o fez voltar a si.

- Não!

Zack olhou para a sombra de Riku e viu o momento em que ele descia a Way to the Dawn em direção ao seu peito. O rapaz não teve muito tempo para pensar, porém, ele conseguira forças para se livrar do pé de Riku e rolar para o lado. Viu a Way to the Dawn cravar o chão com força, fazendo-o rachar em volta de onde a ponta de keyblade atingira.

Riku ficara surpreso com a reação do oponente. Contudo, desviou o golpe que Zack dera e recolheu a sua keyblade do chão branco. Talvez ele não fosse tão fraco..., pensou o jovem de cabelos prateados, enquanto defendia mais outro golpe.

Zack procurava avançar de todas as formas, mas Riku sempre defendia com uma enorme facilidade. Pressioná-lo não iria adiantar. Zack precisava pensar numa outra forma de fazer Riku abaixar a guarda, nem que fosse por alguns instantes para que pudesse lhe ferir significativamente.

Riku não poderia defender para sempre. Precisava tomar o ataque novamente contra o rapaz a sua frente, que se esforçava para atingi-lo com a Oblivion. Defendeu o último ataque e viu a oportunidade que queria. Chutou o rapaz para longe, que se afastou, mas não caiu.

Zack sentiu outra pontada de dor e seu fôlego o deixar. Mas foi rápido para defender o ataque de Riku. Com dificuldade, Zack defendia a maioria dos golpes do rapaz a sua frente. O último ataque de Riku que Zack defendera, ele conseguiu manter a Way to the Dawn longe de seu rosto. Olhou de relance para Lilian, que ainda parecia preocupada sobre a luta. Aquilo foi um erro, pois Riku percebera.

O rapaz de cabelos prateados chutara Zack mais uma vez, que caiu com força de costas para o chão. Riku, então, foi até Lilian, e sem hesitar, ela a pegou com força pelo braço e pressionou a lâmina de sua keyblade contra a garganta da moça.

A face de preocupação de Lilian se transformou em medo e pânico, além de uma ponta de surpresa. Zack estava se levantando e pensando no que faria. Não poderia avançar contra Riku sem machucar a amiga.

- Você não teria coragem. – disse Riku. – Jamais me venceria, pois você não iria machucar a sua preciosa Lilian, iria Zack? – continuou o rapaz e fitou Zack com um sorriso sarcástico.

Não podia avançar sem que a Oblivion machucasse Lilian. Ele tentou pensar, mas apenas Lilian estava em sua mente. Abaixou a guarda e confusão invadiu seus pensamentos.

- Desista Zack. Você não pode me vencer. – disse Riku calmamente. – Você é fraco. Não consegue nem ao menos se proteger, tampouco conseguirá proteger a Lilian.

Aquilo fez Zack desabar. Ajoelhado e apoiado em sua keyblade, as palavras de Riku pareciam consumir o rapaz por dentro.

- Você perderá a Lilian para sempre. – falou Riku mais uma vez.

O coração de Zack doeu. A ideia de perder Lilian para sempre era algo na qual ele jamais conseguiria suportar. Ele sentiu o chão vibrar. Uma força começava a invadir seu corpo. Sentiu o sangue pulsar mais rapidamente dentro de suas veias. Zack se levantou com um brilho nos olhos castanhos.

Já não parecia mais tomar conta de si quando Zack avançou velozmente contra Riku, que lançou Lilian para o lado, fazendo-a cair no chão. Zack desferiu um golpe em Riku, que defendeu com a Way to the Dawn, mas recuou com o impacto.

Zack não parava de avançar. Riku sabia que não demoraria a cair, porém, viu uma brecha na defesa do jovem e deu um chute na altura da barriga. Zack percebera a intenção e segurou o pé de Riku. Com força, trouxe o rapaz de cabelos prateados para junto de si e deu-lhe um soco na barriga com força, fazendo-o perder o fôlego.

Riku logo se recuperou, porém, não teve tempo para avançar, já que Zack começava a seção de golpes novamente.

Zack já não pensava em mais nada, apenas concentrava-se em acabar com tudo aquilo. Percebeu que Riku começava a arfar. Não demoraria a ele cair perante o rapaz de olhos castanhos.

Viu Riku abrir uma brecha em sua defesa. Aproveitou a chance para avançar mais uma vez e desferiu um golpe com a Oblivion, que atingiu com força a Way to the Dawn, fazendo-a escapulir das mãos do dono. Logo em seguida, Zack o chutou com força. Riku caiu de costas para o chão enquanto respirava rapidamente, um pouco surpreso pelo que acabara de acontecer.

Zack se aproximou e mirou a ponta da Oblivion no pescoço do rapaz de cabelos prateados. A fúria era notada nos olhos castanhos de Zack. Poderia acabar com ele ali, mas voltara a si e percebeu que Lilian ainda estava ali imóvel no chão, observando tudo.

Voltou a sua atenção para Riku mais uma vez. Levantou a Oblivion acima da cabeça. Quando a keyblade voltou a descer, Zack a fincara no chão a centímetros do rosto de Riku.

- Acabou! – disse Zack, ainda sério e com sua respiração acelerada.

Riku sentiu sua respiração voltar ao normal e começou a rir levemente, como se alguém o deixasse orgulhoso.

- Parabéns Zack. Você realmente se mostrou digno de empunhar a keyblade que atende pelo nome de Oblivion. – falou Riku enquanto se levantava e recolhia a Way to the Dawn.

- Você tem coragem, jovem Zack. – começou Mickey, se aproximando do rapaz, que parecia confuso. – Você é dono de uma força incrível, meu jovem. Agora erga a sua keyblade.

Zack obedeceu. Ao fazer o que foi mandado, ele sentiu uma energia que o renovou por dentro. Ele agora parecia menos cansado e se sentia diferente. Logo, a keyblade Oblivion sumiu de suas mãos.

- Oblivion o aceitou, Zack. – disse Riku. – Por hora, aconselho que você descanse.

Zack apenas concordou com um aceno. Viu Riku se retirando. Nem ao menos voltou a olhar para ele, muito menos para Lilian, que observava tudo tão confusa quanto o rapaz.

Ele olhou para a moça e correu até ela. Abraçou-a com força. As palavras de Riku ainda ecoavam em sua mente. Não queria soltá-la, pois temia em perdê-la se fizesse isso.

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Lilian sentiu o abraço do amigo e, automaticamente, ela o abraçou de volta, com força. Tudo fora muito rápido. Ela sentia medo e sem se importar com nada ao seu redor, a moça se desabou em lágrimas.

- Eu senti tanto medo... – disse ela entre soluços.

- Não se preocupe Lil. Eu estarei ao seu lado sempre. – sussurrou ele em seus ouvidos, o que a acalmou.

Ficaram ali por alguns longos minutos. Quando Lilian se deu conta, ninguém mais havia naquele local, apenas Zack e ela. A moça então soltou um bocejo.

- Acho que devemos mesmo ir descansar. – disse ela, com o rosto ainda molhado pelas lágrimas que haviam parado de cair.

- Sim, nós devemos. – concordou ele, enquanto enxugava o resto da moça e esboçou um sorriso.

Eles se retiraram da sala do trono e caminharam pelo corredor. Lilian segurava o braço do rapaz. Não podia negar que ainda sentia uma ponta de medo nela. Silenciosamente eles chegaram ao corredor onde ficava o quarto dos dois.

Lilian parou em frente à porta de seu quarto. Ela se virou para Zack mais uma vez.

- Obrigada. – falou ela abrindo um sorriso.

Ele sorriu e deu-lhe um beijo na testa. Ela acenou para ele e adentrou em seu quarto.

O lugar permanecia vazio. Ela se deitou em sua cama e ficou olhando a paisagem através da sacada. A brisa que vinha da floresta além dos terrenos do castelo foi deixando-a sonolenta.

Não demorou muito para que a jovem estivesse adormecida.

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O lugar ao redor era calmo e claro. Lilian se encontrava num bosque. O que era mais estranho era que um pouco além de onde ela se encontrava, Lilian podia ver a neve cair intensamente, enquanto a clareira onde ela estava era quente e a luz do sol atravessando as árvores. Ela sentia uma brisa passar e com ela, trazia várias pétalas de rosa. As pétalas pararam diante da moça e tomou a forma humanoide.

- Jovem Lilian. – chamou.

A moça ficou assustada. Perguntou-se como ela sabia seu nome, porém, antes que pudesse falar, a forma falou.

- Jovem, sei que tem várias perguntas sobre mim. Sou uma ninfa dos bosques, ou uma dríade, como preferir. Temo que meu tempo seja curto, mas venho lhe implorar por ajuda...

- Ajuda? O que está acontecendo e onde eu estou?

- Em breve, quatro crianças entrarão em meu mundo. Elas correm perigo. Venha em nosso auxílio. – continuou a ninfa sem dar atenção ao que Lilian dissera.

- E para onde eu devo ir?

- Não se preocupe jovem Lilian. Seu coração saberá para onde ir.

A moça ficou pensativa. Isso é um sonho?, perguntou-se, mas parece que a ninfa lia os seus pensamentos.

- Minha cara, isso de fato é um sonho. Com o resto de minhas forças e com a ajuda dele, eu consegui entrar em contato com a sua mente e com os seus sonhos.

Lilian ficou surpresa e com uma ponta de dúvida. Não sabia que pessoas de outro mundo poderiam fazer conexões com as mentes das pessoas. Aquilo a deixou um pouco curiosa. Porém, ela fez a menção de alguém.

- Dele? – perguntou Lilian.

Então a moça pôde ver. Além das pétalas que compunha a ninfa, havia alguém. Ou melhor, algo. Era um enorme animal. Um leão de pelos dourados que reluziam com a luz do sol. Sua juba era da mesma cor. Ele era enorme e com um porte imponente.

Ele era assustador, e ao mesmo tempo fascinante aos olhos de Lilian. O olhar do leão a encarou profundamente e ela estremeceu. De algum modo, ela sabia quem ele era e como encontrá-lo.

A ninfa se virou para ela e acenou então o vento levou suas pétalas para longe dali. Antes que Lilian pudesse fazer ou dizer algo, o leão rugiu imponente e tudo ficou escuro.

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Lilian acordara num pulo. Ela suava um pouco e sua respiração vinha de forma acelerada.

Olhou em volta e viu que estava em seu quarto. Ele estava vazio e escuro. Já havia anoitecido. Não sabia quantas horas havia dormindo, mas aquele sonho foi estranho, e real demais para ser ignorado.

Saiu do quarto e pensou em procurar o rei. Provavelmente ele teria algumas respostas. Andou pelos corredores do castelo. A única iluminação era a luz que a lua emanava.

Não havia sinal de Mickey ou Riku em todos os lugares que ela conhecia do castelo. Já estava para voltar ao seu quarto quando ouviu alguém. Ela sacou Oathkeeper e se preparou para um possível ataque.

- Quem está ai?

Na esquina de um corredor, com as mãos atrás da cabeça apareceu Zack.

- Calma Lil...

- Como sabia onde eu estava...?

- Eu ouvi quando você saiu do quarto e decidi ir atrás de você, para que não fizesse nenhuma besteira. – disse o rapaz esboçando um sorriso. – Mas o que você fazia?

- Queria falar com o rei. Sinto que algo está errado em algum lugar.

Zack arqueou uma sobrancelha.

- Eu tive um sonho com uma... Como era mesmo o nome? Ah sim, com uma ninfa dos bosques e ela... – disse Lilian, mas foi interrompida por uma brisa com um aroma de rosa. – Esse aroma...

Lilian sentiu aquela brisa e seguiu o aroma pelos corredores, com Zack em seu encalço. Ela correu pelos corredores. Muitos daquelas salas ela não conhecia. A jovem passou por portas e degraus. Zack finalmente a alcançara e a segurou pelo pulso.

- Lilian! – chamou o rapaz, fazendo a moça voltar a si. – O que está fazendo? Para onde está indo?

Lilian... Lilian...

Uma voz a chamava e Lilian tentava segui-la, mas Zack a impedia. Ainda segurava a jovem pelo pulso.

- Eu preciso ir. Não está ouvindo? – perguntou Lilian.

- Que voz? – Zack arqueou a sobrancelha. – Eu não estou ouvindo nada. E estamos perdidos!

- Não estamos. É só seguir a voz. Venha Zack, por favor! – pediu Lilian com uma ponta de súplica.

Aquilo era demais. Zack não conseguia dizer não para a moça. E parte dele acreditava no que a jovem dizia. Soltou o pulso dela e continuou a segui-la até ela parar em frente a uma porta.

Lilian olhou para a porta de madeira. Estudou o corredor em volta e percebeu que jamais estivera ali. Porém, a voz que a chamava vinha de dentro daquele lugar. Ela soltou um suspiro e abriu a porta, entrando na sala.

A sala não era ampla. Tinha um formato de um quadrado perfeito. As paredes eram brancas, e o chão era diferente. Havia uma espécie de gramado ali. Do outro lado da passagem, havia duas árvores de tamanho médio. Uma ao lado da outra, como se formasse uma passagem. Seus galhos, numa altura considerável, se cruzavam.

- Beco sem saída Lil. – disse Zack entrando na sala e olhando o lugar.

A voz chamava a jovem mais uma vez. Vinha do lugar entre as duas árvores. Lilian continuou andando até as árvores e encostou sua mão em um dos troncos.

- A voz vem através dessas árvores. – disse a jovem. – Acho que isso é uma passagem.

- Bem, você dará de cara com a parede se continuar. – ironizou o jovem.

- Eu tenho que ir. Eu sei que há algo através dessas árvores. – falou a jovem, que continuou a andar.

Zack viu que não faria a garota mudar de ideia e a seguiu. Assim que ela passou por entre as árvores, ela sumiu. O rapaz ficou surpreso e um pouco temeroso. Respirou fundo e continuou a andar. Sem perceber, viu que a sala ficou para trás e ele se encontrava num bosque.

Lilian estava um pouco mais à frente. Ela esfregava os braços com as mãos e começava tremer um pouco.

Eles se encontravam num bosque. Havia neve nos galhos e uma camada de cerca de um palmo de neve, que cobria os pés dos jovens. Lilian olhou em volta e não conseguia ver muito além das árvores.

Ela continuou a andar, com Zack logo atrás. Ao longe, ela viu uma luz. Havia um lampião numa pequena clareira. Uma luz acesa e viva vinha do alto do lampião, que parecia contrastar com o frio do local. Lilian tocou na barra de ferro, que estava com uma camada fina de neve.

- Onde nós estamos? – perguntou ela por fim.