Capítulo 15 – Mar

- Lil! – gritou Zack, aproximando-se da amiga.

Lilian finalmente voltou a si e olhava para os lados. Zack a ajudou a se levantar. Ela parecia cansada e estava cambaleante. O rapaz a levou para junto dos irmãos, que foram auxiliar Edmundo.

O irmão mais novo estava tremendo. Pedro e Susana estavam apreensivos, enquanto Lúcia se aproximava com o frasco que ganhara do Papai Noel. Ela deixou cair uma gota e esperou.

Edmundo parara de tremer e parecia não mais reagir. Lilian se aproximou mais, não querendo que o rapaz estivesse morto. Zack pôs a mão em seu ombro para consolá-la.

Mas Edmundo começou a tossir, e aos poucos foi abrindo os olhos. Ele olhou em volta esboçou um meio sorriso, contudo, sua face expressava um pouco dúvida por aquela felicidade dos irmãos e dos amigos em volta.

- Quando vai aprender a obedecer ao que eu digo? – perguntou Pedro brincalhão.

Os irmãos olharam para Lilian e Zack, que se aproximaram deles.

- Obrigado! Obrigado por tudo. – agradeceu Pedro.

Logo todos se reuniram para um abraço, enquanto esbanjavam felicidade, pois a guerra havia acabado e tudo parecia mais seguro naquele momento. O abraço se desfez e todos passavam a olhar para Aslam.

Lúcia se levantou e pegou o frasco. Ela olhava para parte do exército caído a sua volta que precisavam de sua ajuda.

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Os preparativos para a coroação dos irmãos Pevensie estavam corridos. Após os acontecimentos posteriores a batalha, todos se apressavam em Cair Paravel.

Lilian mal tivera tempo de andar pelo castelo. Mas ela tinha que admitir que ele era enorme, e lindo também. Os irmãos providenciaram um quarto para ela e para Zack.

A hora da coroação estava próxima. Lilian estava em seu quarto, olhando pela janela o mar adiante. Alanis, uma centauro que havia sido designada para ajudá-la, entrou nos aposentos.

- Jovem Lilian. – chamou ela. – Está quase na hora da coroação. Devemos nos apressar.

- Iremos. – disse a moça.

Lilian tomou um longo banho e se arrumou. Um vestido vermelho claro estava sobre sua cama. Ela apenas vestiu. Não era longo, e ia até os joelhos. Não havia mangas nele. Alanis a ajudou com os cabelos castanhos, no qual trançou em uma única trança, deixando apenas a franja de lado solta, que realçava a face da jovem.

No salão onde havia os quatro tronos, tudo estava na mais perfeita ordem. Sua decoração era composta por bandeiras de Nárnia, vermelho e dourado, com o símbolo de um leão. A cor das paredes era composta por um creme bem suave e o chão em mármore, que reluzia a luz do entardecer.

Todos se alinharam em duas fileiras, deixando uma passagem no meio. Lilian e Zack, ambos com a keyblade em punho estavam prontos para saudar os novos soberanos.

Não demorou e os irmãos apareceram, ladeados por Aslam. Eles estavam deslumbrantes. A aparência imponente dos soberanos era de completa admiração.

Cada um dos Pevensie tomou um lugar à frente do trono. Aslam se virou para todos. Ele começou o seu discurso, enquanto anunciava os novos reis e rainhas. Os Castores se aproximaram com as coroas dos irmãos, acompanhado por Tumnus.

Lúcia, intitulada de a Destemida, foi a primeira a receber a coroa, de cor prata. Edmundo, que fora nomeado de o Justo, recebera a sua logo em seguida, e tinha mesma cor que a da irmã mais jovem. Susana, conhecida agora como a Gentil, fora coroada com uma coroa semelhante a da irmã, porém, era dourada. Por último, Pedro fora coroado e intitulado de o Magnífico. Os irmãos ocuparam os lugares nos tronos, enquanto todos os saudavam.

Lilian e Zack cumprimentaram os novos reis e rainhas, e antes que pudesse ser dito algo por parte dos irmãos, as keyblades dos jovens brilharam, e no vitral, atrás dos quatro tronos, uma fechadura se formava.

- Lilian e Zack! – chamou Aslam. – Há algo que precisam saber sobre a keyblade. Aquela fechadura é o que guarda o coração de Nárnia.

- Coração de Nárnia? – indagou Lilian.

- Em cada mundo há um coração, que o sustenta de acordo com os sentimentos das pessoas. Como devem saber, vários mundos foram consumidos, pois as pessoas deixaram de ter fé, e as trevas tomaram conta. Suas keyblades e várias outras que vieram antes dela tinham o poder de fechar estas fechaduras e proteger o coração do mundo, e das pessoas existentes neles.

- Então nós devemos fechá-lo, e preservar este mundo. – comentou Zack.

O rapaz olhou para Lilian, que sorria e acenava positivamente com a cabeça. Ambos levantaram as suas keyblades, e um feixe de luz de branca atingiu a fechadura, que brilhou e logo sumiu.

- Eu agradeço a vocês, Lilian e Zack, por terem atendido ao meu pedido. – agradeceu Aslam. – E lembrem-se, chaves não servem apenas para fechar.

Os festejos logo começaram. Todos conversavam e cumprimentavam os novos reis e rainhas alegremente. Lilian parecia um pouco alheia a tudo isso. Certificou-se de que ninguém estava olhando e saiu do salão.

Não demorou e ela alcançou a praia. Ficou descalça por uns instantes e sentiu a úmida e fofa areia da praia. Aproximou-se da água e deixou que seus pés sentissem a água.

- Achou que ninguém a veria sair? – perguntou uma voz masculina.

Lilian se virou um pouco surpresa. Seu sorriso costumeiro brotou dos lábios ao ver Zack parado.

- Não pense que assim pode me assustar. – disse ela.

- Talvez não fosse essa a minha intenção. – falou ele revirando os olhos de maneira brincalhona.

- E você tinha razão. – comentou ela, fazendo o amigo arquear uma das sobrancelhas. – O mar é lindo. – e voltou a fitar a imensidão de água.

Os dois ficaram fitando o cenário mais um pouco. Lilian se virou para fitar o amigo mais uma vez, e ela reparou que ele a olhava, o que a fez corar. A jovem se aproximou e estalou os dedos e ele pareceu despertar de um transe, o que a fez rir de leve.

- Sabe Lil, eu fiquei me perguntando algo. – disse ele, desviando o olhar, e ela esperou que ele continuasse. – Como vamos voltar para Disney Castle?

Ela não respondeu. Apenas pensou um pouco. Então, algo viera em sua mente, e ela invocou sua keyblade. Zack a olhou duvidoso sobre o que ela pretendia fazer.

- Lembra do que Aslam disse? – perguntou ela, e ele pareceu mais confuso. – “Chaves não servem apenas para fechar”. Elas também servem para abrir. Acho que unindo nossas keyblades, nós podemos abrir um portal para Disney Castle.

Zack pareceu captar a ideia. Invocou a sua keyblade e ambos miraram para o mar mais uma vez. Da ponta de cada uma das duas keyblades, um feixe de luz branca atingiu parte da água, que se agitou. A água foi se levantando e formou o que parecia ser uma moldura de porta na areia úmida.

Lilian olhou para o amigo, que parecia duvidoso sobre aquilo.

- Lilian? Zack? – chamou outra voz.

Ambos se viraram e Lúcia, acompanhada dos irmãos, Tumnus, os Castores e Oreius. Aslam vinha atrás deles, olhando para a dupla.

- Vocês já vão? – perguntou a irmã mais nova.

- Sim Lu. – confirmou Lilian. – Foi muito legal conhecê-los, mas temos que voltar para casa.

- Vocês podem vir nos visitar? – dessa vez foi Edmundo que perguntou.

Lilian trocou um olhar com Zack, que respondeu por fim.

- Majestades, nós viemos visitá-los assim que pudermos. – disse ele.

Ele acenou e chamou a amiga. Ela acenou para os irmãos. Tumnus e os Castores agradeceram a eles por terem cuidado das crianças. Lilian também agradeceu a Oreius, e ele apenas acenou para a moça.

Sem olhar para trás, Lilian segurou delicadamente a mão de Zack e acenou confiante para ele. O rapaz respirou fundo e ambos andaram para o portal. A moça fechou os olhos e pensou em Disney Castle.

De repente, a moça não sentia mais a areia fofa ou o cheiro da maresia invadindo as narinas. Nem mesmo a brisa em seu rosto.

Ela abriu os olhos vagarosamente e se encontrava em uma pequena sala não muito ampla, de paredes brancas e um gramado que crescia de forma misteriosa no chão.

- Nós voltamos. – disse Zack.

Lilian olhou para o amigo e depois se olhou. Não vestia mais o vestido que usava em Nárnia, e seu cabelo não estava trançado como minutos atrás. As vestes de Zack também eram as mesmas de antes de partirem para Nárnia.

- Parece que voltamos a ser nós mesmos. – ele comentou.

- Não exatamente. – falou Lilian. – Ficamos com os presentes. – e ela mostrou o pingente de lua preso num cordão ao pescoço.

Ele pegou o pingente de sol e o olhou por um momento. Lilian olhou para a sala em volta e viu o que tinha através da porta. Estava amanhecendo.

- Zack... Nós passamos dias fora. – disse a moça. – Todos devem estar loucos atrás da gente. Temos que procurar o rei Mickey.

O amigo assentiu, e ambos saíram da sala andando apressadamente pelos corredores. Corredor após corredor antes que ambos pudessem se sentir perdidos. Antes que pudessem falar, eles ouviram algo em uma das portas.

Lilian se aproximou e a porta estava entreaberta. As vozes de Riku e rei Mickey eram ouvidos, mas o que eles falavam era algo inaudível. A moça não pensou duas vezes e abriu a porta.

- Nós voltamos! – apressou-se ela em dizer.

Riku e rei apenas trocaram olhares e pareciam confusos sobre o que ela tinha dito. Zack parou na porta e esperava que a amiga dissesse algo para complementar.

- Voltar? – perguntou Mickey arqueando uma sobrancelha. – Nem sabíamos que vocês tinham partido seja lá para onde quer que seja.

- Mas nós saímos. – argumentou Lilian. – Passamos dias fora...

- Lilian! Tenha calma. – interrompeu Riku e esperou que a jovem se acalmasse antes de continuar. – E para onde vocês foram? O que exatamente aconteceu?

Antes que a jovem pudesse continuar o relato, Mickey mandou os visitantes se sentarem. Eles estavam em seu escritório. Não era grande, mas continha uma estante com livros, uma mesa lustrosa e uma cadeira não muito ornamentada onde ele se sentava.

Lilian ia começar o seu relato, quando Zack falou primeiro.

- Na verdade, a Lilian teve um sonho com uma ninfa. A Lil ficou um pouco perturbada e disse que precisava ajudar, pois alguém a chamava. Perdemo-nos pelos corredores, até que ela nos levou a um lugar do castelo onde a grama cresce de forma estranha e um portal que levava a outro mundo.

- Nós fomos para Nárnia. – continuou Lilian. – Aslam nos chamou.

- Aslam?! – repetiu Riku surpreso à menção do nome.

- Vocês viram Aslam? – perguntou Mickey.

- Sim. Nós o ajudamos a restaurar a ordem no país. – disse Lilian. – Mas vocês conhecem Aslam?

- Há muito tempo, eu fui à Nárnia. – falou Riku pensativo, com um sorriso infantil e abobalhado na face. – Faz tempo desde a última vez em que fui lá...

- Você já foi a Nárnia? – perguntou Lilian, um pouco surpresa. – Porque não foi chamado como eu?

- Lilian, nem eu nem o Riku temos mais permissão para entrar em Nárnia. – falou Mickey, e se apressou em continuar antes que pudesse ser interrompido. – Nós fomos lá há muito tempo, em épocas diferentes, porém, o que ouvimos foi a mesma coisa. Não podemos voltar, pois Aslam crê que somos velhos demais para acreditar em um mundo que muitos julgam contos de fada.

- Ele não nos disse isso. – comentou Zack pensativo.

- Então o grande leão julga vocês ainda novos. Vocês poderão voltar algum dia. – explicou Riku.

E o grupo ficou em silêncio. Lilian olhava para as mãos pousadas delicadamente sobre o colo. Porém, ela ficou revirando seus pensamentos e algo que Aslam dissera em Cair Paravel.

- Mas há ainda algo que quero saber. – disse Lilian, olhando diretamente para o rei, que acenou para que continuasse. – Aslam nos falou dos corações dos mundos e sua relação com as keyblades. Então é assim que as trevas conseguem tomar posse de um mundo, não é? E para voltarmos, eu e Zack usamos as nossas keyblades para abrir uma passagem para este mundo...

- É Lilian. Foi assim que as trevas tomaram conta de vários mundos. Primeiro eles invadem os corações das pessoas, e vão à procura do coração daquele mundo. Quando acham, as trevas invadem e tomam posse daquele mundo. – explicou Mickey.

- E as keyblades são as chaves que precisamos para proteger esses mundos. Mas como você já descobriu, ela também serve para abrir. E o portal que os trouxe aqui é uma dessas serventias. – continuou Riku.

E Lilian continuou a ficar em silêncio.

- Mas porque vocês não deram a nossa falta se nós passamos dias em Nárnia? – perguntou Zack curioso.

- O tempo em Nárnia corre muito mais rápido que o nosso tempo. Isso também se aplica a alguns mundos. – disse Mickey.

Lilian mergulhou em pensamentos. Nárnia ainda vinha muito a sua mente. E lembrara-se do que Jádis a dissera. Ela perguntou a si mesma se deveria contar o que houve. Poderia ser besteira, mas aquilo de alguma forma a perturbou em Beruna.

- E se não sentiram a nossa falta... – começou Lilian, após pensar mais um pouco. – O que faziam? Vocês conversavam antes de chegarmos aqui, não foi?

Riku e Mickey trocaram olhares mais uma vez. Mickey apenas fitava Zack e a moça sério, enquanto Riku suspirou.

- Recebemos um chamado agora a pouco vindo de The Land of Dragons. – disse Riku. – Mulan deve estar com problemas e temos que ajudá-la.

- Zack e Lilian, eu quero que vocês dois vão. – falou Mickey.

- O que? – tentou argumentar Riku, um pouco surpreso. – Majestade, você sabe a situação daquele mundo. Não podemos mandar os dois...

- E é por isso que você também vai. – interveio o rei.

Ele assentiu e ficou pensativo. Mickey se virou para Lilian e Zack mais uma vez e sorrindo outra vez.

- Vocês dois podem não estar cansados, mas tiveram uma noite agitada. – começou o rei. – Descansem um pouco e partirão ao primeiro sinal do crepúsculo.

Eles assentiram e se prepararam para sair.

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A manhã não demorou a passar. Zack e Lilian ficaram treinando magia e maneiras de ataque com as keyblades. Porém, ambos estavam um pouco ansiosos.

O crepúsculo estava dando seus indícios. Vaan já estava a bordo da High Wing, apenas ajeitando alguns detalhes na cabine. Riku já esperava Zack e Lilian no jardim, porém, o casal não demorara em aparecer.

Quando todos estavam prontos, a High Wing deu seu sinal de vida e partiu. Em uma hora, Disney Castle era apenas um mundo que ficava para trás.

Lilian olhava a imensidão do universo pelo mirante. Sua mente estava menos preocupada, pois a ansiedade invadia. Pensamentos de como seria o novo mundo até mesmo o que eles podiam enfrentar eram algo que preenchia a sua mente, mantendo-a distraídas das preocupações.

- Algo a preocupa? – perguntou uma voz masculina.

Riku estava parado, olhando não para Lilian, mas para o que ela via através dele: o universo.

- Nada...

- Algo em Nárnia a deixou preocupada? – perguntou ele novamente, ignorando o que a moça ia dizer.

- Não é nada. – respondeu ela. – Foi apenas coisa demais em o que parecia ser uma noite.

Ele não conteve a risada. A conversa continuou até que o azul-escuro do céu fosse ficando mais claro e nuvens começassem a aparecer.

De repente Zack apareceu pelo elevador às pressas.

- Vão à cabine! – disse Zack ofegante. – Vaan disse que parece ter problemas.

Sem hesitar, o trio seguiu até a cabine, onde Vaan estava preocupado pelo que via adiante. Eles estavam sobrevoando um bosque, e mais além um vilarejo. O bosque abaixo tinha bastante movimentação.

- Vaan, nós iremos descer. – disse Riku. – pouse a nave em um lugar seguro e me contate pelo comunicador.

O rapaz loiro apenas assentiu.

Em minutos, Zack, Lilian e Riku estavam prestes a pular da nave, que sobrevoava mais baixo e com pouca velocidade. Não demorou e eles estavam no chão.

- Está mais calmo do que visto de cima. – comentou Lilian.

- Ou não. Vejam! – interveio Zack, apontando para um dos lados.

Um grupo em uma carroça puxada por cavalos rapidamente vinha na direção deles, e parecia não desviar. Riku mandou apenas pularem para os lados, e os outros dois apenas obedeceram, vendo a carroça seguir caminho, porém, ela parou logo adiante.

Três homens desceram e olhavam hesitantes para os estranhos.

- Nós viemos a pedido de Fa Mulan! – apressou-se Riku em dizer, levantando-se para encarar os homens.

Lilian e Zack se levantaram também e ficaram atentos a qualquer hostilidade. Os três homens trocaram olhares entre si, e o maior deles se dirigiu ao baixinho do grupo.

- Acho que era isso que Mulan queria dizer quando disse que reforços viriam, Yao.

O baixinho, Yao, olhou para o outro, que era mais magro e nem era tão alto nem tão baixo. O grupo demorou a responder. Parecia analisar a situação em que se encontravam naquele bosque.