Forgotten escrita por Lunna


Capítulo 1
10 anos


Notas iniciais do capítulo

O Good Charlotte não é meu, infelizmente.E o Billy não é meu, consequentemente, e, convenhamos que se fosse eu estaria com ele fazendo outras coisas...*roll*



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Nobody likes you
Everyone left you
They're all out without you,
Havin' Fun.
-“Homecoming”, Green Day


O balanço ia e vinha com os leves movimentos que os pés do menino fazia no chão. Nos olhos azuis as pálpebras continham as lágrimas que a criança de recusava a deixar caírem, enquanto ouvia os outros rirem à sua volta. Tentava não prestar atenção, atendo-se somente no que via embaçado no momento: a grama debaixo de seus pés.
-Eles não gostam de você! –gritava um. –Ninguém gosta de você!
-Eles não virão te buscar hoje! Já devem ter se mudado para não precisarem te levar para a casa! –gritava uma garota. Ele era sempre o último a sair da escola, sempre o último. E era tudo culpa sua, ele sabia. Era culpa sua que seus pais o odiavam, era culpa sua ser tão estranho e fora dos padrões, era culpa sua ficar esperando mesmo sabendo que - mais uma vez- seu pai o havia esquecido na escola, mas a esperança de uma criança de apenas dez anos de idade é a última coisa que morre, e ele ainda teimava em esperar por horas a fio, até que a escola estivesse mesmo deserta e que ele tivesse certeza que seu pai não viria. E só então levantava-se, pegava sua mochila no chão e caminhava de volta para casa, uma longa caminhada, diga-se de passagem. As coisas estavam confusas ultimamente, seu pais haviam optado pelo divórcio há menos de seis meses, e seu pai já havia se mudado para longe deles há pelo menos um ano. Desde então ele e sua mãe decidiram que ele o buscaria todos os dias na escola, passaria pelo menos uma hora com ele e o deixaria em casa. Quando seu pai conseguia lembrar-se que ele existia, e realmente o buscava na aula e o levava para almoçar, divertiam-se bastante. Sempre gostou mais de seu pai do que de sua mãe, nunca entendeu o motivo, nunca lhe deram na verdade motivos para gostar mais de um do que de outro, já que ambos eram indiferentes à sua existência. E ele só começou a notar isso depois do divórcio, quando seu pai deixou de telefonar, aparecia raramente e geralmente era pra falar com sua mãe, sobre pensão ou algo parecido, e ele acabava ficando na escola... e voltava sozinho. E então chegava em casa, comia alguma coisa do dia anterior e jogava-se em seu quarto ouvindo suas bandas favoritas enquanto continuava repelindo as lágrimas. Não conseguia lembrar-se de ter realmente chorado alguma vez. Quando sua mãe falava para alguém a seu respeito, referia-se a ele como uma criança pacífica e sorridente quando bebê, que pouco deu trabalho. Na verdade, ele não conseguia sequer lembrar-se de ter sorrido alguma vez. Talvez fosse mesmo alguém a quem as pessoas devessem ficar indiferentes, afinal não chorava, não sorria, raramente sentia. Era um monstro horrível e sem emoção. Era pequeno demais para a sua idade, magro demais, apático demais.
Ninguém gostava dele.
Nem ele mesmo.
Perdido em pensamentos, olhou ao redor, notando que a escola já estava vazia. Pegou a mochila do chão, colocou nas costas, enterrou as mãos nos bolsos, chutando ocasionalmente uma borracha caída no chão, continuando a caminhar. Passou pelo portão de entrada, saindo para a rua vazia. Soltou um suspiro, sem erguer a cabeça, sem tirar a franja do cabelo de cima dos olhos.
Um carro soou no fim da rua, parando estrategicamente ao seu lado. Ele ergueu a cabeça, tentando não se permitir ter esperanças e olhou para o lado, encarando olhos iguais aos seus, cabelo preto penteado para trás, terno e gravata:
-Billy, querido! Desculpe, o papai estava ocupado! Desculpe, querido! Entre, ainda dá tempo de almoçarmos e tomarmos um sorvete antes que eu precise voltar ao escritório! Vamos, entre! –exclamou o homem no banco do motorista. Billy deu a volta no carro, sem dizer uma palavra, abriu a porta sentando-se no banco do passageiro e colocando o cinto.
-Não precisava se preocupar, pai. –respondeu sem emoção.
-Precisava sim, Billy. Precisava sim...

Notou a movimentação estranha na casa da frente assim que colocou os pés para fora do caro de seu pai, depois de almoçarem.
-Avise sua mãe que preciso que ela me ligue. –disse sei pai saindo com o carro em seguida, antes mesmo que ele pudesse dizer que sua mãe provavelmente não ligaria. Subiu as escadinhas para a porta de sua casa virando-se um pouco para observar os vizinhos da frente: eram uma família grande, quatro irmãos, mais a mãe e o pai. Billy gostava deles, simpatizava com as brincadeiras das crianças no jardim, e às vezes pensava como seria se tivesse irmãos. Eram tão felizes, sorridentes, corados...
Não era o caso hoje. Um dos irmãos, o que Billy tinha a impressão de ser o mais velho, encontrava-se sentado na calçada da frente, a cabeça apoiada nas mãos, enquanto do lado de dentro podia-se ouvir gritos e coisas sendo quebradas. O pai parecia estar brigando com algum dos meninos. O que estava sentado na calçada levantou-se em um impulso rápido quando ouviu um grito mais forte vindo de lá, e correu para dentro da casa. Em seguida o outro irmão saiu, um de cabelos espetados e roupas estranhas. Parecia bravo, carregava uma mochila cheia. Pisando firme ele seguiu pela calçada, deixando a blusa que estava amarrada na alça da mochila cair no chão. Billy esperou que alguém fosse sair da casa e ver que a blusa havia caído, ou que ele mesmo fosse perceber que estava faltando algo, mas isso não aconteceu. Billy desceu as escadinhas de volta até o jardim, atravessou a rua, pegou a blusa no chão e esforçou-se para correr até ele.
-Hey! Hey! –ele não olhava para trás. -Heeeey! -gritou. O menino virou-se, irritação espelhada em suas feições, evaindo-se assim que viu que não era nenhum de seus parentes o chamando. –Você deixou cair. –disse Billy entregando a blusa a ele.
-Ah, obrigado. –respondeu ele colocando-a na cintura, amarrando na frente. Billy já o havia visto inúmeras vezes com seus irmãos, mas nunca atreveu-se a chegar perto, e agora podia analisar seu rosto um pouco melhor: tinha olhos castanhos, alguns brincos na orelha esquerda, unhas pintadas de preto e usava lápis de olho, igual sua mãe. O garoto o olhou de cima a baixo, parecendo também analisar sua forma diminuta, seus ossos pequenos e olhos azuis, e sorriu, pousando a mão sobre sua cabeça. –Valeu, baixinho. Agora volta pra casa, sua mãe vai ficar preocupada.
-Ela não está. –respondeu um pouco incomodado com o peso em sua cabeça.
-Quantos anos você tem? –perguntou franzindo a testa, tirando a mão de sua cabeça, colocando-a no bolso.
-Tenho dez, e você? –perguntou. O garoto devia ter mais ou menos isso também.
-Tenho treze. Achei que você fosse mais novo. –riu ele. –Olha, eu preciso mesmo ir. Valeu por pegar a blusa, se cuida, ta?
Se cuida? Era a primeira vez que alguém lhe dizia isso.
-Tá! Você também! –respondeu sem emoção. –Qual é seu nome? –perguntou por curiosidade, duvidava que fosse ver o garoto novamente. Ele riu, aquele sorriso que ele via pela janela de seu quarto mas que nunca chegou a contagia-lo.
-Benjamin, e você? –perguntou ele, claramente por educação.
-William. –respondeu.
-Então vou te chamar de Billy, tudo bem? Até mais, Billy! –disse acenando para ele e continuando seu caminho. Billy ficou ali até que ele desaparecesse no fim da rua.

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