Capítulo 19 – Poderes

POV da Bella

O quarto de hóspedes em que eu dormia, parecia muito claro com a luz da manhã. Olhei no relógio ao lado da cama e eram cerca de dez e meia. Estiquei meus braços e notei que pela primeira vez em dias, eu não tinha dores de cabeça, nem cansaço no corpo. Eu estava completa e inteiramente relaxada, eu não tinha palavras para descrever o quão confortável estava me sentindo.

Quanto ao fato de Jacob ter matado meus pais, tecnicamente me seqüestrado e matado vampiros para viver mais tempo, eu não estava mais tão fissurada quanto antes. A raiva que eu sentia ainda estava lá, enterrada em algum lugar e se acumulando; minha raiva era como uma bomba relógio, não tinha hora para explodir.

Assim que levantei, ouvi alguém batendo na porta. Eu fui até lá e abri, para minha surpresa, era a vampira que parecia fada que estava ali, com um sorriso no rosto.

- Bom dia, Bella! – Alice me abraçou.

- Bom dia.

- Bem, estou aqui para resolver um probleminha seu. Suas roupas.

- Ah, é. – Eu olhei para minha mochila, ali só tinha uma camiseta e uma calça. Nada mais. O resto havia ficado na reserva. – Ficaram na reserva. Devo ter algumas em Treesville.

- Não se preocupe. Eu já previa isso e tomei a liberdade de lhe comprar algumas. – Ela disse sorrindo, parecia que havia ganhado uma batalha. – Estão no closet. Vamos, vou te ajudar a se arrumar, depois você desce e toma café.

Alice me puxou pela mão até as duas portas brancas. Aquele closet era quase tão grande quanto o próprio quarto. Havia outra porta ali, de correr, como a da entrada do closet. Imaginei que fosse outro quarto.

Quando terminei de colocar a calça, os meus tênis e a blusa que ela tinha separado, desci e encontrei Leah na cozinha. Esme e Carlisle estavam fazendo companhia a ela. Pela primeira vez eu a via totalmente à vontade. Minha estadia naquela casa não seria tão conturbada quanto eu pensava; duas meio humanas se sentindo a vontade em meio de vampiros... Super!

- Oi, Lee!

- Bella, venha, experimente as panquecas da Esme. – Ela riu e me deu seu garfo.

- Hum... As últimas panquecas que comi e que estavam deliciosas assim foram as da minha mãe. – Eu disse a vampira matriarca.

- Obrigada, Bella. – Ela sorriu.

- Hum... – Alice resmungou.

- O que está vendo, filha? – Carlisle perguntou.

- Vejo que vamos caçar hoje.

- Mas alguém precisa ficar aqui. – Esme falou. – Estou realmente precisando caçar.

- Hã... Vocês... Digo... Se... Caçam... Humanos? – Eu ergui uma sobrancelha.

- Ás vezes. – Carlisle admitiu. – Sangue humano nos deixa fortes e a queimação diminui por mais tempo. Mas em tempos como esse, caçamos animais. Não tem o mesmo gosto, mas a caça é prazerosa.

- Matt e Edward ficarão. Eu já vi. – Alice sorriu, mas havia algo a mais naquele sorriso dela, o quê, eu não sabia.

Depois que tomei café, sentei com Leah na sala e ficamos passando os quatrocentos canais da TV. Tanya e Alice, e mais tarde Rosalie, sentaram conosco. Leah eu comentávamos de alguns seriados e mudávamos lentamente os canais. As vampiras pareciam ficar entediadas. Muito mais do que já estavam. Esme estava folheando livros de receita, ela era cozinheira em sua vida humana e estava adorando ter para quem cozinhar.

- Hum... Pare na Warner, B. – Leah falou.

- Omg. – Eu engasguei.

- Ah, perfeito, vamos ver TVD! – Leah exclamou feliz. Se tinha algo que nos deixava feliz eram os dias da semana que passavam seriados.

- O que é... TVD? – Tanya perguntou. Não que ela fosse uma loira burra, mas eu acho que ela não era muito ligada nessas coisas. E não que eu fosse chamá-la disso.. Acho que ela iria mesmo me trucidar.

- The Vampire Diaries. – Eu e Leah dissemos.

No segundo seguinte, nós duas vibrávamos com a cena dos vampiros lutando. E não demorou muito até que todos estivessem ao nosso redor.

- Ah, qual é? Seriados de vampiros? – Jasper resmungou.

- Gosto é gosto. Além do mais... O seriado é ótimo ok? – Leah deu de ombros. – Omg! Eu não acredito que ele vai fazer isso!!

- Tadinha. – Eu disse baixo.

- Ah, ela era uma vadia. – Emmett pulou ao nosso lado, jogando no sofá. Então o vampirão bebê sabia sobre a Katherine e o seriado? Eu ri horrores com a possibilidade. – Todo mundo sabe. E vocês vão ficar com dó?

- Hum... No fundo ela é boa, tenho certeza. – Eu disse.

Horas mais tarde, Esme e todos os outros – exceto Edward e Matt – saíram para caçar. Segundo eles, não havia possibilidade alguma de Jacob invadir o território e, muito menos de descobrir que estávamos sozinhas com somente dois vampiros. O clã Cullen, embora parecesse gentil e amigável, podia ser letal; pois o modo como eles falavam sobre lutas e o olhar – e as cicatrizes – daquele Jasper me faziam tremer por dentro.

Era meio da tarde, Leah tinha ido sentar na varanda, com Matthew ao seu lado. Os dois estavam ficando amigos demais, e eu apostava que eu não demoraria a começar a rolar o romance propriamente dito. Eu fiquei repassando os canais da TV, quando Edward sentou-se na outra ponta do sofá grande. ‘Tédio’, estava estampado em seu rosto.

- Está entediado? – Perguntei.

- Sim. Odeio não ir caçar.

- Desculpe ser o seu estorvo. – Murmurei.

- Oh, não. Não. – Ele sorriu. – É só que... Caçar é divertido. – Ele falou exibindo os dentes brancos. Como eu não havia notado aquele sorriso antes?

- Hum... Desculpe-me por Tanya. – Ele falou de repente.

- Ah, não. Sem problemas. Ela... Foi gentil. E sincera. Todos vocês foram, para falar a verdade. Eu é que tenho que agradecer, especialmente a você... Eu não sei o que teria feito se Jacob me pegasse e-

- Não precisa dizer mais nada. – Um dedo dele me silenciou. – Eu sei como se sente, Bella. Sei a posição delicada que está.

Algo me dizia que Edward sabia o que eu sentia, porque ele sentiu isso. Forcei minha mente a sair do foco dos olhos dourados e da beleza de um deus grego que ele tinha, para procurar algum ponto falho nessa história.

Se a Rachell era alguém como eu, as únicas duas pessoas que poderiam tê-la eram Jacob e Edward. Se ela não queria o Jacob, só restava o Edward.

- Você conhecia a Rachell. – Eu afirmei.

- Ela foi a última, antes de você. Ela me deu um pouco de seu sangue, eu acabei matando o pai de Jacob, deixei-o nocauteado e neste meio tempo ela se matou. – Edward disse com um tom sombrio na voz. Ele sofria por aquilo. – Ela não queria o irmão de forma alguma e sabia das tramóias dele e do pai.

- É por isso que você sabe como eu me sinto. Você é o telepata da família, você podia ler a mente dela e sabia a dor que ela sentia! – Eu disse num quase grito. – Céus, quando essa história vai acabar??

A agitação que tomou conta da minha mente acabou sendo extravasada para fora dela. As luzes da sala e a TV começaram a piscar como se tivesse interferência de alguma coisa. Alguns objetos da mesinha ficaram balançando, como naqueles filmes paranormais. Era possível ouvir aquele barulhinho de eletricidade correndo nos fios. Mas foi só quando eu senti as mãos de Edward sobre minhas bochechas que eu me acalmei.

O toque frio fazia com que eu me acalmasse. Seus olhos ocres e toda aquela beleza me desnorteavam, realmente era uma boa forma de me fazer esvaziar a mente. Eu fiquei sem reação alguma e ele continuou me encarando, quando se deu conta, ele deixou suas mãos cair sobre as minhas e mudou a direção do seu olhar.

- Você me acalma. – Eu disse num impulso. – Obrigada. – Emendei rapidamente.

- Nossos poderes são parecidos. São dons mentais. – Ele deixou seus dedos compridos brincando com os meus.

- Com ela... Também era assim?

- Você me parece ser mais forte. Talvez porque ela não era para ser o que foi. – Ele falou baixo. Eu fechei meus dedos em torno do seu.

- Você ainda me matará? – Perguntei baixo o suficiente para que só ele escutasse.

- Não. Nós vamos protegê-la. Você vai decidir sozinha. – Edward traçava o contorno da minha mão. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas o toque dos seus dedos, a textura da sua pele na minha era algo incrível e indescritível. – Não posso me dar a esse luxo, Bella. Por mais que sejamos cruéis por natureza, não posso ser um monstro. Eu sempre me abominei por ter que fazer isso e me abominaria mais se o fizesse com você.

Eu continuei sentada ao lado de Edward, com as mãos dele sobre as minhas, fazendo mais e mais perguntas. Durante aquele tempo, eu esqueci de todo o resto e percebi que eu não pensava em outra coisa, a não ser naquele momento. Percebi também que ele e Leah eram uma das únicas pessoas que conseguiam me controlar quando eu perdia a noção. Percebi... Que Edward se importava comigo... E que eu me importava com ele.

Nós ficamos rindo de bobagens da TV, quando mais ou menos lá pelas seis horas da tarde, os outros chegaram. Alice estava quicando, como sempre, e Emmett parecia ainda maior do que já era.

- Então... Bellinha. – Alice pulou para meu lado. E Edward se afastou um pouco. – Como foi seu dia?

- Alice... O que está escondendo?

- Eu, escondendo alguma coisa? Hum... Quem disse? – Ela assoviou e saiu da sala.

- Então panterinha, passeou muito? – Emmett riu e provocava Leah.

- Se eu fosse você não provocava muito. Ela é vingativa. – Eu levantei e fui para o lado da minha prima.

- Ah, que isso, logo eu que sou o vampiro mais legal dessa casa? Panterinha, não seja mal educada. – Emmett ria alto.

- Se eu fosse você eu tomava cuidado, Emmett. – Eu ri. – A Leah tem tendências competitivas.

- Vamos, B. Uma hora eu pego ele. – Leah riu marotamente e me puxou para o quarto.

Ela pegou um papel e começou a escrever: “Eu vi vocês dois juntos. Na sala. O que aconteceu?”

Eu li as letras rápidas e corridas dela. Ergui uma sobrancelha e escrevi: Tudo isso para não nos ouvirem? Ela deu de ombros. Conversamos. Só isso. Ele consegue me controlar, como você... Quando perco o controle... Só que dessa vez foi pior. Está ficando mais forte, muito mais forte.

Escorei-me na beirada da cama e fiquei encarando o vazio. Só percebi quando Esme estava parada a minha frente, sorrindo como uma mãe sorria. Eu podia sentir uma energia vibrante e tranqüila emanando dela. Como uma vampira podia ser tão... Maternal... Como ela era?

- Edward nos contou o que houve. – Sorriu e sentou-se na beirada da cama. Eu me ergui e sentei perto da cabeceira.

- Não posso perder o controle. – Falei. – Sinto como... Se eu fosse explodir.

- Você é exatamente igual a mim. – Ela disse sorrindo. – Eu também era assim. E você tem mesmo que se controlar. Seus poderes podem causar um dano que você nem imagina, e às vezes vai ser difícil, Bella. Não é como se existisse um treinamento específico, porque você vai descobrindo por si própria.

- Obrigada, Esme. – Eu murmurei. – De verdade.

“Não tem de que.” A voz dela soou na minha mente. Eu podia fazer aquilo? “Você pode. É só pensar, Bella. Tudo se baseia na força dos pensamentos.” Ela continuava me dizendo.

“Você me ouve?” Perguntei, como se eu estivesse testando o som de um microfone. Nesse instante, me lembrei de Edward e nossas mãos entrelaçadas. Esme riu.

“Eu sei que ele fará bem para você. Ele é poderoso Bella. E vocês dois ficam lindos juntos.” Esme piscou e levantou-se, saindo do quarto como o vento. Eu fiquei ali, meditando nas palavras dela.