Capítulo 20 – Escolhas

- ... Já faz duas semanas e eu não consigo ver nada! – Alice exclamou frustrada.

- Não se preocupe, Jacob vai resolver dar o primeiro passo. – Leah disse a vampira vidente. – Ele é impulsivo e obcecado com toda essa história.

- Estou ficando com dor de cabeça. – Alice disse incomodada.

Esme estava no jardim, cuidando de suas flores, enquanto Rosalie e Tanya observavam Bella treinando alguns de seus novos poderes. Alguns objetos estavam suspensos no ar, girando em torno da garota prodígio. Edward, Emmett e Jasper estavam num riacho próximo, limpando-se, depois de uma briga que resultou em roupas sujas de lama. Esme ficara furiosa com os três.

Bella largou o que estava fazendo e soltou um longo assovio, que parecia ecoar pelos vales entre as montanhas da região. Minutos depois, um galopar baixo foi ouvido perto das propriedades e finalmente, a Égua Meara aparecia nos fundos da casa, pela mata. A crina branca reluziu com a luz fraca e ela trotou até onde Bella estava.

- Oh, que linda, Bella! – Esme tirou suas luvas de jardinagem e foi para perto da égua, que relinchou.

- Shii. – Bella afagou.

- Normalmente esses animais não gostam de vampiros. – Rosalie disse.

- Ela não é qualquer uma. – Bella riu. – Estel foi dada a mim por minha mãe, que sempre gostou de cavalos. Mearas é uma raça dócil e ágil. – Bella explicou. – Acham que... Eu poderia sair com ela um pouco?

- Não vejo problemas. Mas é bom que alguém vá com você. – Esme falou. – Acho que Edward pode ir com você, não é querido? – Esme disse brincalhona.

- Aonde?

- Bella quer sair com a Estel um pouco. – Tanya falou. – Você já está todo sujo mesmo...

- Correr um pouco não fará mal. – Rosalie sibilou.

- Se importa? – Bella perguntou.

- Não. Vamos por ali. – Ele indicou a direção.

Quando chegaram à borda do gramado, Bella apoiou-se no lombo da égua e subiu, galopando bem a frente de Edward, que no segundo seguinte, já estava correndo ao lado dela. Rosalie encarou Tanya por alguns instantes.

- Você é uma pessoa surpreendente. – Rosalie disse a vampira.

- Rose, não comece. – Esme sibilou, voltando a sua jardinagem.

- Só porque eu me juntei a vocês em você sabe o quê? – Tanya ergueu uma sobrancelha. – Eu gosto dele, ok? Mas não vou ficar insistindo em algo que não vai dar em nada.

- Desculpe, é que às vezes você não parece ser este tipo de pessoa. – Rosalie falou baixo.

- Não se preocupe. Agora vamos lá ver se Alice vê algo sobre esses dois. – Tanya riu e as duas entraram na casa.

(...)

- Não sei o que está esperando para atacar. Poderíamos invadir aquela mansão e massacrar aqueles sugadores de sangue de uma só vez. Seria um ataque e tanto. – Paul disse a Jacob.

- Não podemos! – Seth falou.

- Só porque a sua irmã está lá?

- Não, Paul. Não é só por ela. Mas Bella está lá também. Se agir assim, sabe o que vai acontecer. – Seth resmungou.

- Seth está certo. – Jacob disse. – Se agirmos assim, Bella é bem capaz de enfiar um punhal no peito ou pular de um penhasco.

- Jake, acabei de receber informações do Quill. – Embry entrou na casa as pressas. – Ele seguiu a égua, ela subiu para além dos limites ao norte.

- Então as duas estão nos domínios dos Cullen.

- Sim, mas ele deu a volta e os encontrou num descampado, perto do rio, depois da montanha. – Embry dizia, ofegando. – Isso quer dizer, que está fora de onde os limites deles abrangem, fora dos limites de Treesville.

- Seth, vamos! Paul e Quill, vasculhem a cidade e vigiem. – Jacob disse.

- Mas eu quero ir com você. – Paul rosnou.

- Paul, você e Quill irão vasculhar a cidade e ficar de guarda, não podemos deixar que nenhum deles nos peguem perto dos dois, entendeu? – Jacob disse usando sua voz de alfa.

Jacob e Seth correram e quando chegaram à trilha, explodiram em suas formas caninas. Os dois aceleraram o passo, passando pela encosta da montanha, numa área vazia da cidade. Cerca de dez minutos depois, já podiam rodear a montanha e se aproximar do descampado.

O lugar era rodeado por uma cadeia de montanhas, o motivo da cidade de Treesville ser úmida e pouco ensolarada era esse. Mas quando se dava a volta na montanha e chegava do outro lado, um campo de grama fofa se estendia, ao lado de um rio largo e razoavelmente profundo. Aquelas terras não tinham dono e ali, foi palco de muitas batalhas.

Edward andava ao lado de Bella, ao longo da margem do rio. Os dois conversavam tranquilamente, quando Estel relinchou e Edward rosnou. Ele posicionou-se a frente de Bella, quando vislumbrou Jacob, com Seth ao seu encalço.

- Não se aproxime! – Edward rosnou.

- Aprendendo a se esconder, Bella? – Jacob perguntou. – Detesto pessoas desobedientes.

- Desde quando você manda em mim? – Ela disparou.

- Desde que eu sou seu tutor.

- Mentira!! – Ela exclamou. – Você nunca foi meu tutor. Meus pais nunca gostaram de você!! Minha tutora é a Esme!! – Uma agitação percorreu o ambiente.

- Andou falando mentiras para ela, Cullen?

- Só a verdade. – Edward rosnou. – Se der mais um passo, começaremos esta guerra agora e você não vai sobreviver para contar a história cachorro.

- Nós estamos em maior número e vocês só em dois. Mesmo com uma escolhida ao seu lado, não poderia fazer nada.  – Jacob resmungou. – Nem sua mãe pode impedir. Nem Edward poderá te salvar, pois eu vou levá-la comigo.

- Não comece esta guerra agora, Jacob. – Seth disse.

- Eu vou!

Em uma fração de segundo, Jacob correu e saltou, transformando num lobo imenso. Seth, ao mesmo tempo explodiu e ficou ao lado de Jacob, que rosnava para Edward, posicionado para atacar. Seus músculos rangiam, esperando o ataque; Edward forçava sua mente a trabalhar, a buscar respostas na complexidade de pensamentos entre o bando. Em menos de vinte minutos, Paul e Quill estariam ali e seriam mais dois lobos a favor. Bella e Edward estariam perdidos.

- Fuja Bella!! – Edward rosnou.

- Norolin asfaloth! – Bella sibilou para a égua, que tomou seu caminho de volta, deixando-a ali, com Edward.

- O que está fazendo?! Fuja, antes que seja tarde! – Edward sibilou entre dentes.

- Não vou deixar você ficar a mercê desse bando de cachorros! – Bella exclamou.

No instante seguinte, Jacob saltou para cima de Edward. Bella soltou um grito e todo o ar a sua volta se agitou. Edward colocou suas mãos nos ombros do lobo, segurando-o, enquanto rolavam e caiam próximo às margens do rio. Ao ver que Bella tentara correr para ajudar Edward, Seth saltou e parou a frente dela, impedindo-a.

Ao passo que Edward e Jacob saltavam e depois se chocavam no ar, na tentativa de acabar com aquilo, Alice vira a luta. Matt, Emmett e Jasper já estavam na cidade, quando perceberam que os limites estavam sendo vigiados. Carlisle e Esme, junto com Leah e Tanya, correram montanha à cima, até descer novamente e depois seguir o rio. Em cinco minutos os Paul e Quill estariam no campo, em sete minutos Alice chegaria com os outros. Emmett e Jasper não conseguiriam passar para dentro da cidade. Eles apenas vigiavam suas fronteiras.

Seth rosnava para Bella, quando Edward soltou um chiado profundo de dor. Os dentes de Jacob perfuravam todo o seu ombro, que estava para ser estraçalhado, se Bella não impedisse de alguma maneira.

- Não! – Ela gritou a plenos pulmões, qualquer um naquela região ouviria seu grito, incluindo os vampiros e lobos. Um vento fraco, que antes rodeava o descampado, agora se tornava mais forte, tomando a forma de um tornado. As águas do rio se agitavam formando ondas cada vez maiores; então, quando Jacob ia fechar sua mandíbula novamente no ombro de Edward, uma película transparente explodia para fora do corpo de Bella, empurrando o lobo castanho avermelhado e jogando-o dentro do rio, junto com Seth.

Dois rosnados vieram do outro lado do campo. Paul e Quill haviam chegado e estavam para atacar à humana e o vampiro, quando perceberam a presença de mais três membros do clã Cullen; Carlisle, Esme e Tanya, com Leah ao seu lado.

Bella correu para Edward, que estava caído.

- Eu disse que NÃO VOU!!! – Bella gritou novamente e mais uma vez, a película transparente empurrou os dois lobos para trás, jogando Jacob e Seth no rio novamente. A agitação do vento e a pequena revolução no leito do rio mexeram com o tempo, que agora se tornava fechado, encoberto pelas nuvens e com trovoadas.

Numa última tentativa, Jacob pulara e adentrara a área que Bella protegia. Edward estava parcialmente acordado, pois Jacob se aproveitou do momento em que lhe mordeu, para pegar um pouco do sangue imortal. Leah e os três vampiros se aproximavam cautelosamente, mas o escudo de Bella os empurrou para trás e jogou Jacob na outra margem do rio.

- Ela está causando isso? – Tanya perguntou.

- Sim, querida. – Esme respondeu.

- Nós precisamos acalmá-la, Esme. Vai piorar. – Carlisle disse baixo. Neste momento, os lobos deixavam o descampado, recuando.

Leah, em sua forma de lince, correu em direção ao escudo, antes que Tanya pudesse impedi-la. Ao tentar passar, chocou-se contra a parede invisível e emitiu um ganido de dor. Carlisle correu até ela e a socorreu.

- Ela não vai deixar ninguém entrar. Ela está fora de si, não está escutando. – Esme disse calmamente. – Edward, tente acordá-la!! – Esme exclamou ao filho.

Bella estava descontrolada. Estava inerte a qualquer coisa e seu escudo impedia que qualquer um deles entrasse ali. Bella estava assustada porque viu que Jacob era o oposto daquilo que ele dizia ser; ela percebeu que não importa onde estivesse ele estaria disposto a caçá-la e dar fim a toda essa guerra; ela viu que Jacob não era tão bom quanto dizia ser, quando ele se aproveitou do ferimento de Edward e sugou seu sangue imortal. Ele também era um sanguessuga.

 - Bella. – Edward abriu os olhos e vislumbrou a película que os protegia. – Você precisa deixar eles entrarem. – Ele dizia a ela. – Você perdeu o controle, Bella, vamos acorde.

O olhar escuro e sem foco de Bella mostrava que sua mente estava longe dali, em algum lugar, vagando, em busca de compreensão. Quando o braço bom de Edward se ergueu e sua mão tocou a bochecha dela, ela ofegou e fechou os olhos. Edward forçava sua mente a lutar contra o cansaço e penetrar na – agora – escura mente de Bella. Seus olhos nunca deixaram o rosto da jovem.

“Bella!” Ele a chamava. “Me escuta, Bella, você precisa acordar. Você vai causar um estrago. Vamos, Bella. Acorde.” Edward sibilava mentalmente.

O ferimento no ombro de Edward cicatrizava lentamente, pois a mordida de um lobisomem não era como uma mordida qualquer. Causava mais danos. Edward estava fraco, precisava de sangue e forçava sua mente a trabalhar para acordar Bella.

- Edward. – Ela disse de olhos fechados. Nesse instante, a ventania e a agitação da água cessaram, porém a película estava intacta.

- Os deixe entrar Bella. Os lobos já foram e você deu uma boa surra neles. – Edward sussurrou, com seus olhos quase se fechando.

- Oh não, o que foi que eu fiz. – Bella despertou, com seu escudo ainda intacto, e encarou a face pálida e arroxeada de Edward, com a mancha vermelha em todo o ombro de sua camisa. Novamente, o ar começou se agitar.

- Você não fez nada. Bella, eu preciso que os deixe entrar. – Edward sibilou baixo, enquanto se sentava na grama. Ele colocou uma de suas mãos na bochecha dela e inalou o ar. Sua garganta queimou com o aroma.

- Respira, B. – Bella dizia a si mesma.

- Bella, eu preciso sair daqui. – Edward disse num sussurro, abaixando a cabeça.

- Você precisa de sangue. – Ela disparou.

- Não pense nisso! – Ele rosnou e encarou Leah e Carlisle, que tentavam penetrar o escudo, mas não conseguiam.

- Faça, Edward. Faça! Eu não me importo se meu sangue é ou não o motivo dessa guerra, eu só quero que você fique bem. Faça! – Bella exclamava. – Eu já escolhi o meu lado e agora estou comprovando isso.

Edward olhou para cima, Leah em sua forma felina estreitava os olhos em sua direção, porém Carlisle e Esme assentiam. Se Edward bebesse de Bella, o escudo iria baixar, ele se tornaria mais forte e finalmente o tabuleiro estaria pronto para o jogo. Não há o que perder. Ela é a sua escolhida. Carlisle sibilou mentalmente. No segundo seguinte, ele deixou seus caninos aparecerem e os cravou sobre a jugular dela.

O sangue escorria doce e suave, acalmando a queimação e acelerando a cura em Edward. Quando a mão dela caiu sobre a sua, ele separou-se. O escudo havia baixado e os outros puderam se aproximar.

To be continued...