Páginas Novas escrita por Napalm


Capítulo 19
A História da Fuga Sem Fim


Notas iniciais do capítulo

Haha, tive que escrever este capítulo logo, já estava ficando doido! kkk Espero que curtam! =*



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Eu estava flutuando ao lado de Ayede – não estávamos mais no laboratório.

–Não se preocupe – Disse a garota – Eles não poderão nos ver ou ouvir.

O lugar era estranhamente familiar. Uma mulher vestida com uma longa túnica branca caminhava decididamente por uma sombria sala circular, rodeada por archotes de chamas azuis. Ela segurava um bebê no seu colo, totalmente coberto por lenços. Ela subiu por uma escada espiral até uma porta de madeira, onde empurrou a porta e adentrou no novo aposento...

A sala do Livro do Destino.

Havia dois Guardiões da Verdade no local, um de cada lado do Livro. A mulher os ignorou e bradou, aparentemente, para si mesma.

–Estou aqui, Lorde Athema. - Sua voz era firme e clara - O que desejas de mim?

A sinistra voz de Athema ecoou pelo local, me fazendo estremecer ligeiramente.

–De você? Nada, minha querida Regina. Exigirei algo apenas de sua cria. Raffesio, pegue-a para mim.

Um dos Guardiões se adiantou em direção a mulher. Ela deu um passo para trás, segurando firmemente o bebê contra si.

–O que você quer dela? - Ela perguntou.

–Entenda, minha cara. O sacrifício dela é necessário...

–S-Sacrifício?! - Regina exclamou, espantada – Não, por favor...

–Raffesio... - Ordenou a voz de Athema.

Regina se virou para sair do aposento, mas o segundo Guardião estava logo atrás dela, fazendo guarda na porta. Ela correu em direção à parede, desviando-se dos Guardiões e, para minha surpresa, ela simplesmente socou a parede, abrindo um enorme buraco nela. A luz solar iluminou a sala. Regina protegeu os olhos e pulou pelo buraco. O problema é que ela estava numa das torres do Santuário Selado, e pulando pelo buraco ela estaria despencando vários metros de altura em direção ao solo. Surpreendendo-me novamente, a mulher caiu de pé, flexionando normalmente os joelhos e endireitando-se. O chão abaixo dela rachou com o impacto, como se uma enorme bola de ferro tivesse caído ali.

Ela disparou a correr para dentro da floresta, com o bebê nos braços, quando repentinamente parou e caiu de joelhos, levando uma mão ao pescoço, ofegando anormalmente. Um dos Guardiões da Verdade estava diante dela, com um dos braços levantados – o que simbolizava que a falta de ar de Regina estava sendo causada por ele...

–Já chega, Dione. - Disse um segundo Guardião.

Regina voltou a respirar normalmente, mas agora estava deitada no chão da floresta, o bebê desprotegido, fora de seus braços...

O Guardião alcançou a criança no chão e tirou-lhe o lenço que cobria seu rosto. Sua expressão se tornou furiosa e ele bradou:

–Um boneco?!

Regina riu debochada no chão e olhou nos olhos do Guardião, dizendo:

–Nunca vão encontrá-la.

O Guardião jogou o boneco no chão furiosamente e apontou sua mão em direção a Regina.

Mas agora o cenário havia mudado. Aquilo me confundiu, olhei para Ayede procurando respostas, mas ela simplesmente olhava para o outro lado.

Eu não a questionei. Era óbvio o que tinha acontecido depois que aqueles caras tinham rendido Regina.

Flutuávamos agora por uma vila, que tinha um misterioso aspecto desértico. As desestruturadas cabanas eram amontoadas umas às outras e formavam ruas desconexas. As pessoas estavam num tráfego calmo, algumas paravam para comprar as variadas mercadorias das barraquinhas, espalhadas por todo local, aparentemente sem uma determinada estratégia de comércio. Eu não sabia se Ayede queria que eu olhasse para algum ponto específico – nem mesmo ela olhava, então fiquei procurando algo incomum ali, sem encontrar nada. Até que um dos comerciantes gritou:

–SUA PESTE! DEVOLVA JÁ ISSO!

Uma pequena figura encapuzada corria com duas maçãs nas mãos, que rapidamente enfiou nos seus bolsos. Ele se espremia entre as pessoas até que chegou num beco, onde subiu pelas paredes para alcançar a parte de cima de uma pequena construção.

O pequeno ladrão retirou seu capuz, revelando-se um menino de aparentes dez anos. Seus cabelos loiros estavam sujos e despenteados, ele sorria, sem dúvidas estava orgulhoso de si mesmo. Andou até a beirada da construção e sentou-se ao lado de uma garota, que mexia os pés para frente e para trás...

O garoto entregou uma das maçãs para aquela outra Ayede, que respondeu:

–Obrigada!

Ele sorriu, satisfeito.

Um romance juvenil?

Quando o garoto estava prestes a dar a primeira dentada na maça, ele foi levado pela mandíbula de um monstro. Eu fiquei apavorado com a cena, indubitavelmente eu não esperava aquilo. O Magarat mordeu impiedosamente o corpo do menino e o levantou pelos ares, enquanto Ayede gritava:

–ALEX!

O Magarat deixou o corpo sem vida de Alex cair dos ares e voltava em direção a menina. Ela, apavorada, correu até a outra extremidade da pequena construção e desceu pelo beco. Começou a correr em meio a multidão, que já estava eufórica e corria para todos os lados possíveis.

Ayede chegou até uma rua um pouco mais vazia do que as outras. Não estava vendo o Magarat por perto. Dava para ver o pavor na sua face e em cada gesto que fazia, sendo o de respirar o mais pesado. Ela empurrou um caixote de madeira com dificuldade, revelando um buraco no chão. Ela desceu pela escada no buraco e sentou-se no fundo do local escuro.

Segundos tensos... Olhei para a Ayede ao meu lado, ela tinha lágrimas nos olhos...

De repente o teto simplesmente explodiu pelo impacto com o monstro e o incansável Magarat se lançava para abocanhar a garota, que havia caído com as costas no chão pelo susto. Mas ela simplesmente desapareceu, antes que o monstro conseguisse pegá-la.

–O quê? - Eu perguntei, confuso – O que houve?

A Ayede ao meu lado não me respondeu. O lugar se distorceu e agora nos encontrávamos novamente no laboratório sob a casa abandonada. Ayede estava sentada no lugar onde eu havia a encontrado pela primeira vez. Mas eu ainda estava flutuando... Ainda não tínhamos voltado para o nosso tempo. Olhei para o meu lado, a outra Ayede continuava ali. Ela fitava o seu outro eu, que estava debruçada no canto, a face entra os joelhos, chorando.

Havia um homem de cabelos grisalhos sentado numa das mesas no laboratório. Parecia ignorar a presença da garota... ou talvez ainda não a tivesse notado. Apesar da cor branca dos seus fios capilares, era um rapaz jovem de prováveis vinte anos. Usava um colete branco e uma calça amarrotada. Ele tinha um ar engraçado, um carisma peculiar. Até que o pranto da menina desviou sua atenção dos papéis onde ele fazia anotações e ele se levantou para ver do que se tratava. Ajeitou seus óculos sobre seus olhos muito verdes e ajoelhou-se em frente Ayede.

–Está tudo bem?

A menina levantou sua cabeça para encarar o rapaz que a confortava. Ela começou a mover sua cabeça para os lados freneticamente. Parecia não saber onde estava ou como chegou ali...

–Acalme-se... - Disse o rapaz, colocando uma mão sobre o ombro de Ayede, gentilmente. - Como você se chama, meu bem?

Ayede estava se acalmando aos poucos e, gaguejando, respondeu:

–A-Ayede...

–Ayede? É um nome muito bonito. O meu é Teoremo. Um nome meio esquisito, não é? - Ele abriu um sorriso – Venha cá, Ayede.

Ele estendeu a mão para a menina que a segurou timidamente e se levantou. Ele a guiou até a mesa onde estava anteriormente e perguntou:

–Gosta de desenhar, Ayede?

Ela não respondeu, nem sequer balançou a cabeça.

Teoremo ergueu as sobrancelhas e esboçou um novo sorriso para a garota. Ele pegou um caderno dentro da gaveta da mesa e um lápis de colorir, e entregou-os para a garota:

–Tome.

Ayede pegou o caderno e o abriu. Olhou para o lápis como se tentasse descobrir o que ele era exatamente.

–Desenhe alguma coisa legal! - Pediu Teoremo, bondosamente.

A garota então começou a rabiscar no papel randomicamente.

Alguns segundos se passaram, enquanto Teoremo apenas observava Ayede preencher a folha.

–Como chamam seus pai, Ayede? - Ele perguntou finalmente.

–Eu não tenho pais. - Ayede respondeu, sílaba por sílaba, ainda rabiscando a folha.

Teoremo pareceu chocado.

–Alguém cuida de você?

Ayede balançou a cabeça.

–Alguém te fez mal, minha querida?

Ela balançou a cabeça positivamente.

–Então você se escondeu aqui, não foi?

Ela repetiu o gesto.

Os dois foram se distanciando de mim e a cena mudou novamente. Mas o cenário ainda era o mesmo. Ayede observava Teoremo fazer suas anotações, ele parecia concentrado num de seus trabalhos.

–Téo...

–Sim? - Ele parou suas anotações e se virou para ouvir Ayede.

–Eu não gosto dos seus amigos.

Teoremo a olhou com um semblante triste.

–Mas eles são tão bonzinhos. Por que não, Ayede?

Ayede balançou a cabeça, os olhos bem fechados. Então correu para longe...

Tudo se distorceu novamente e senti meus pés tocarem o chão. Estávamos de volta. Lágrimas escorriam dos olhos de Ayede, que voltou a se sentar entre o vão dos tubos de ensaio.

Esperei até que ela se acalmasse antes de perguntar qualquer coisa. Mas ela mesma começou a falar:

–O incidente com minha mãe aconteceu há oitenta anos atrás... - Ela esperou alguns momentos e continuou – Eu nasci naturalmente com os poderes do Guia, além de outros dons indesejáveis. Era simples. Athema não podia permitir que eu vivesse.

Eu me sentei ao lado dela e comentei:

–Sua mãe foi muito corajosa te protegendo.

–Ela foi uma tola. - Ayede disse ríspida. - Depois que ela me escondeu, eu tive que viver sozinha, roubando nas ruas para sobreviver. Alex e eu éramos amigos inseparáveis, dependíamos um do outro e de certa forma, gostávamos daquela dependência.

“Mas Athema ainda não havia desistido. Eu representava um perigo de proporções imensas para que ele simplesmente me deixasse viver. Ele nunca cessou a procura por mim em nenhum momento durante esses oitenta anos. Eu conseguia escapar, mas as pessoas com quem eu criava laços eram castigadas no meu lugar... Alex, Téo... Decidi então viver isolada de tudo e de todos.”

Ela respirou fundo e expirou lentamente. Voltou a dizer:

–Eu posso voltar no tempo e viajar entre as dimensões, assim como o Guia. Isso me ajudou muito, principalmente a sobreviver até agora...

Uma pergunta surgiu na minha mente. Antes de pensar melhor em fazê-la, ela escapou:

–Por que você não volta no tempo e conserta as coisas?

Ela me olhou horrorizada. Lágrimas começaram a surgir novamente. Ela se levantou, pôs-se a minha frente e gritou:

–E você acha que eu não tentei?! Sim! Eu voltei no tempo e salvei Alex do Magarat... Mas isso não o salvaria de seu destino. Só porque um ataque tinha falhado, não queria dizer que Athema desistiria! Eu voltei no tempo para consertar as coisas várias vezes... E em cada tentativa... - Ela olhou para o chão, entristecida – ...Ele morria de uma forma diferente...

Ela deixou seu corpo cair e agarrou seus joelhos, colocando o rosto entre eles.

–Eu vi Alex morrer tantas vezes... Não adiantaria... Eu tive que deixá-lo para trás. Eu não posso salvar ninguém, Seth. Não posso salvar, porque sou eu quem os está matando.

–Isso não é verdade! - Ajoelhei-me de frente a ela, colocando as mãos sobre seus ombros – O grande vilão é Athema, não você. Só temos que liquidá-lo e este pesadelo vai acabar!

–Não, não vai...

Ela se acalmou. Passado alguns momentos, me olhou nos olhos, e disse, um pouco soluçante:

–Athema é imortal. Não pode ser vencido. Graças ao poder de transcender as dimensões, Athema só pode ser derrotado se nós o matarmos em todas as dimensões existentes, ao mesmo tempo...

Meu cérebro trabalhava insanamente em busca de uma resposta.

Eu precisava salvar Ayede daquela perseguição...

E eu sabia como.

–Ayede, existe um jeito...

–Você tem certeza? - Ela me interrompeu, como se já soubesse o que eu iria dizer – Tem certeza que faria isso? Nem eu tive essa coragem, Seth...

Eu tentei juntar as palavras dela na minha cabeça.

Ainda tinha alguma coisa que eu não sabia... alguma coisa que não me deixava entender aquelas palavras...

–Você não vai. - Ela sorriu, deixando uma lágrima escapar. -Eu vou terminar isso, pode deixar. Vou me entregar.

–Não! - Eu disse. -Não, Ayede. Eu sei que meu plano vai dar certo, confie em mim!

Abruptamente, Ayede entrou em estado de alerta – seu semblante mudara completamente de um momento para o outro.

–O que foi? - Perguntei.

–Não... - Ela disse baixinho, para si mesma.

O que...

Ela se levantou e correu para o corredor em direção à saída. Corri atrás dela e subimos pela escada de ferro. Ela se posicionou do lado de fora da casa e olhou para o céu.

–É tarde demais...

Eu olhei para cima e entendi o que ela estava dizendo. O céu estava sendo lentamente coberto por um enorme globo que se aproximava de pouco a pouco da superfície terrestre... E este enorme globo era o próprio planeta Terra, prestes a chocar com o seu outro eu desta dimensão.


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