Páginas Novas escrita por Napalm


Capítulo 16
Uma Intrigante Reunião Entre As Parafernálias




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–Mas...- Eu deixei escapar.

–Você conhecia esse cara, Seth? - Alice me perguntou.

Olhei para o cadáver mais uma vez. A franja longa cobria partes daquele rosto estranhamente juvenil, embora marcado por cicatrizes.

Era o assassino que não apareceu. Zero.

–De certa forma... - Respondi.

–Quem é? - Alice voltou a interrogar.

De repente, Zero se levantou.

Todos pularam para trás, Helena colocou a mão sobre o peito, se recompondo; um dos enfermeiros derrubou a tigela com ferramentas e alguém havia soltado um grito muito agudo, embora só houvesse Alice e Helena de mulheres no local, sendo que eu tinha certeza que não foram elas a dona de tal grito. Enfim, isso não vem ao caso.

Zero olhou ao redor, sentado na maca, parecia tenso. Provavelmente não tinha ideia de como havia chegado ali. Ele apontou a mão para o teto e uma bola de fogo começou a se formar na ponta de seus dedos.

Ele ia explodir tudo(de novo!)!

–ZERO, NÃO!

Ele olhou para a pessoa que havia gritado seu nome e interrompido sua conjuração. Estava espantado e ao mesmo tempo, contente.

–Helena?!

Alice olhou para a mãe, depois olhou para Zero, repetiu isso algumas vezes e depois olhou para mim:

–Que palhaçada é essa?!

–Você tinha me dito – Dizia Maguine, enfurecido, para um dos seus enfermeiros – que ele estava morto!

O pobre homem respondeu gaguejando:

–Mas, mas senhor, ele não estava respirando...

Zero se levantou da maca, se descobrindo dos lençóis. Estava com os mesmos trapos que eu o tinha visto vestir da última vez, só que agora estavam manchados de... sangue?

–Helena, como tem passado? - Zero disse tranquilamente.

–Bem e você?

–Ei, o que é isso?! - Alice interrompeu. -Pode me explicar o que está acontecendo? Não sei se ninguém mais percebeu, mas esse cara tava pegando fogo pelas mãos...

Um silêncio constrangedor pairou no ar por alguns segundos.

–Vamos para minha casa. - Disse Helena. - Vou lhes contar o que eu sei.

E Helena se retirou. Alice olhou para Zero de forma intimidadora e seguiu a mãe.

Estávamos todos novamente na sala de estar da casa de Helena. Zero estava sentado no tapete de uma forma bem “largada”, enquanto sentávamos no sofá. Mas precisamente eu, Helena, Alice, Fergo e...

–Por que você está aqui? - Perguntou Alice a Maguine.

–É de meu interesse tudo o que acontece de estranho e sobrenatural, você sabe?

–Mas você não é bem vindo dentro da minha casa. - Alice disse, rispidamente. Maguine a encarou enfurecido.

–Deixe-o, Alice. Afinal, ele salvou a vida de Zero...

Alice abriu a boca para falar , mas se calou. Com certeza ela iria dizer algo como “como se a morte dele me preocupasse”. Por algum motivo, apenas comentou:

–Comecem logo a explicação.

–Sim. - Disse Helena. - Mas Seth, quer compartilhar conosco o que você já sabe?

Todos olharam para mim. Desviei dos olhares pressionadores e pigarreei, antes de começar a contar:

–Bom, eu tive uma espécie de sonho. Mas parece que as coisas realmente aconteceram neste sonho, porque agora eu vejo que todas as teorias que me foram ditas, fazem sentido aqui no mundo real...

Contei-lhes tudo. Os acontecimentos na vila, o meteoro, a morte de Helena e sua decisão de enviar a Pedra dos Astros para Targo. Quando lhes contei sobre Targo, seus contrabandistas e o Coliseu de Quimeras, Alice me interrompeu:

–Mãe, você realmente conhece esse cara? Esse Targo?

–Sim. É incrível a verossimilidade do seu sonho, Seth. Targo foi um amigo de infância que nos ajudou de certa forma há 16 anos atrás... Mas por favor, Seth. Continue, será melhor que eu explique tudo depois.

Continuei a história, contando sobre Mortie e sua mansão, nossa visita a Corporação Celestia e então me lembrei que Maguine estava ali.

–Isso faz algum sentido para você, Maguine? - Eu perguntei.

–Perfeitamente. - Maguine parecia encantado. - É incrível. Você realmente não pode ter inventado essa história! Não com tantos fatos que se encaixam na realidade. Mortie foi um dos meus melhores agentes na Corporação Celestia. Mas tive que dispensá-lo...

–Por quê? - Intervi.

–Depois da morte de sua esposa, Mortie mudou completamente. Entrou em profunda depressão e já não conseguia fazer os serviços que lhe eram propostos. Ele mesmo pediu o afastamento, mas não vou negar que já não o conceituava da mesma maneira dentro da Corporação. Desde então, ele tem buscado um objeto que a Corporação Celestia buscou por anos, mas por falta de provas, acabou encerrando o projeto.

–E o que seria? - Perguntou Helena, docemente.

–A Pedra da Ressurreição.

–Sim... - Comecei – Faz sentido. Por isso que Mortie roubou a Pedra dos Astros. Ele pensou que ela fosse essa tal Pedra da Ressurreição.

Uma cena me veio à mente.

“-Aquela pedra tem um grande poder! - Disse Fergo, subitamente. Eu e Alice olhamos para ele, surpresos -O Crânio de Mafalda, vê? Você não consegue ver a ligação?

Eu não estava entendo a situação. Mas o indivíduo parecia conseguir entender.”

De alguma forma, Mortie havia ligado o Crânio de Mafalda com a Pedra da Ressurreição. Comentei a cena com eles e Maguine respondeu:

–A lenda de Mafalda. Dizem que Mafalda foi morta e ressuscitada posteriormente pela Pedra da Ressurreição, encontrada após vinte anos de procura pelo seu marido, Alastor. Mas ela não estava satisfeita em viver novamente... então, enfiou sua cabeça numa guilhotina e se matou. Alastor guardou seu crânio como prova de amor e jogou seu corpo no mar.

–Que história sinistra. - Comentei. Mas agora fazia sentido. Mortie pensou que Fergo sabia sobre a lenda e a pedra, embora ele estivesse blefando.

E a conclusão para a triste história de Mortie: o porta-retratos na mesa de seu quarto era de uma mulher... Uma jovem e bela mulher.

–Espero que tenhamos a chance de encontrá-lo novamente. - Eu disse. - Ele não era má pessoa.

Após alguns segundos de silêncio, tentei me lembrar de onde havia parado e voltei a contar os acontecimentos do 'sonho'.

–Tivemos que ir pegar a Pedra dos Astros na casa do prefeito de Adriel, Gregorith. Foi lá que encontramos o Zero pela primeira vez. - Decidi não contar que Zero havia colocado fogo numa pessoa ainda viva e a deixado morrer nas chamas. Isso certamente causaria um choque muito grande a todos na sala. E seja lá quais fossem suas intenções agora, eu ainda precisava que ele me explicasse o que havia acontecido antes de partir ou fugir.-Mas por alguma razão, ele foi embora sem levar a Pedra... - Virei-me para ele. -Por que você faria isso?

Zero abriu a boca para falar, mas Helena interrompeu:

–Ainda não, Zero. Ainda não. Por favor, Seth. Termine sua história. Tudo fará melhor sentido depois que a sua situação estiver clara para nós.

Aceitei, embora um pouco frustrado e continuei a história.

Contei que levamos a Pedra dos Astros até a Corporação, onde Maguine finalmente decifrara o enigma do Grande Arco e do Epitáfio, que conduziu nosso grupo até o Santuário.

–Então, é realmente... - Ele olhou a Pedra no pescoço de Helena. - Esta é a Pedra dos Astros... A chave para o Portal.

Helena levou a mão instintivamente até a pedra, como se quisesse protegê-la. Mas depois relaxou e comentou:

–Ela é mais do que uma simples chave, meu caro.

Ela lhe abriu um sorriso, mas Maguine ainda fitava, como um cão fita um osso, apenas o colar.

–O que me intriga – Disse Fergo – É; por que Helena não enviou a Pedra dos Astros para Targo desta vez?

–Eu disse para que não o fizesse, na noite em que assistimos o meteorito cair. - Respondi.

Por mais que havia sido uma decisão perigosa, eu confiava na minha capacidade de proteger Helena e a Pedra dos Astros caso fosse necessário. Embora eu não tenha me saído muito bem nisso e ter sido Alice quem, de fato, salvou a pátria.

–Quando chegamos no Santuário – Continuei – Um homem esquisito, chamado Sataro, veio nos receber. Ele nos levou até uma sala onde havia um livro no centro, sendo guardados por várias pessoas, vestidas como Sataro se vestia, com uma longa túnica branca e com uma Pedra dos Astros em seu pescoço...

“Então Sataro começou a nos explicar que o destino final de cada pessoa estava escrito naquele livro, que ele chamava de “Livro do Destino”. Ele e aquelas outras pessoas que moravam no Santuário, eram chamadas de Guardiões da Verdade e eram capazes de fazer coisas sobrenaturais. Como eu e Zero fazemos.”

–Você e Zero então, também são Guardiões da Verdade? - Maguine perguntou interessado.

–Bom, na verdade, sou apenas um meio-Guardião, de acordo com Sataro. - Respondi - Ele disse que minha mãe foi uma humana e meu pai um Guardião. Mas...

Agora estava chegando a parte difícil.

–Continue, Seth. Não tenha medo. - Disse Helena, concisa. Seu olhar me deu coragem para falar, por mais que eu mesmo não aceitasse aquelas palavras:

“Ele disse que todo meio-Guardião não resiste o próprio poder dentro de si por causa de sua parte humana. Então, todos estão fadados a morrer na faixa dos 16 anos. Foi aí que minha mãe biológica se uniu a um grupo de rebeldes e alteraram o Livro do Destino... para me salvar. E de acordo com Sataro, qualquer alteração naquele livro, por menor que fosse, traria consequências catastróficas. E é esta a razão pelos meteoritos estarem atingindo a Terra. Com essa alteração, uma força gravitacional foi criada próxima à órbita da Terra, atraindo os cometas.”

–E por que esta força só começou a agir agora? - Perguntou Alice.

–Bom – Eu disse, certo de minha tese – Como a alteração do destino só se cumpriu agora, a força deve ter sido originada no momento em que atingi os 16 anos de vida.

E foi justamente isso o que aconteceu. No exato dia do meu aniversário, o primeiro meteorito caiu. Era minha culpa. E ninguém podia negar.

–Você não pode simplesmente alterar o livro para que o mundo não seja destruído? - Perguntou-me Maguine.

–De acordo com a voz misteriosa que havia no Santuário, chamada O Guia, alterar o livro agora não faria diferença...

–Como não? Disse Maguine, revoltado – Por que raios não faria?

Eu não soube dizer. Mas seria então esta a minha única chance de tirar essa carga de culpa das minhas costas - alterando novamente o Livro? E se trouxesse outras consequências ainda piores?

–O que aconteceu depois, Seth? - Perguntou Helena.

Respirei fundo. O clima na sala parecia estar mais tenso. Meu maior medo era que meus amigos estivessem me culpando agora pela destruição do mundo. Continuei:

–Então Zero chegou no local.

Todos olharam para ele, que levantou as sobrancelhas, demonstrando interesse.

–Disse que os Guardiões era um bando de inúteis e pois fogo em tudo. Inclusive no Livro do Destino. Nessa hora eu apaguei...

Lembrei-me das estranhas cenas e das vozes durante aquele desmaio. Resolvi não comentar sobre aquilo.

–... Então, acordei na minha casa com minha mãe me chamando, dizendo que Alice estava me esperando para organizar a festa do Erico, exatamente como da outra vez. Ninguém parecia saber de nada do que eu havia passado, então, imaginei que tinha visto o futuro num sonho. Decidi primeiramente, salvar a vida de Helena, o que eu e Alice fizemos com sucesso. Mas algumas coisas haviam sido trocadas, devido a algumas coisinhas que não haviam acontecido no sonho...

–Alguma coisa em especial? - Helena perguntou.

Pensei. O que havia mudado sem que eu intervisse? Das poucas coisas que eu me lembrava agora, a mais intrigante, sem dúvidas, era da existência ou não de Dona Esmeralda.

–Havia uma senhora que morava na casa perto da minha, chamada Dona Esmeralda. E de acordo, com Jessica, ninguém, de fato, nunca viveu naquela casa. No meu sonho, ela sempre me dizia que a morte estava próxima e no dia do meu aniversário, ela disse que eu não deveria estar vivo. Quando eu decidi ir atrás de Alice, havia uma inscrição na grama que ela estava capinando no dia anterior, de forma a mostrar a expressão “não vá”.

Helena olhou para Zero, que olhou para ela de volta. Os dois pareciam confusos.

–Isso é estranho, Seth. Muito estranho. - Comentou Helena, demonstrando-se desentendida pela primeira vez. -Você sabe de alguma coisa sobre isso, Zero?

–Não estou lembrado... - Ele respondeu, com um semblante tão confuso quanto o de Helena.

–Vocês dois são estranhos. - Disse Maguine.

–Bom – Helena se recompôs – Acho que agora é nossa vez de contar nossa história, certo, Zero?

Zero assentiu.


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