Mistake - Baseado em Lua Nova escrita por Lolo Cristina


Capítulo 6
Confissão


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas,

O capítulo final da FIC acabou mais uma vez tendo que ser dividido em dois.
Na realidade ela já está pronta, mas como tive problemas para postar em outros sites um cap. tão grande, não me restou outra escolha além de corta-lo em duas partes.

Vou dar um prazo pequeno para a leirura *no máximo até sábado* antes de postar a PARTE II, assim fica mais organizado.
Espero que entendam.

OBS: Os diálogos inseridos entre Edward e Bella inseridos no texto não são de autoria minha, como todos sabem, e sim da Sra. Meyer.

Beijos e BOA LEITURA



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PARTE I

- Não saiam até que escureça. – Demitri nos alertou.

Bella estava tremendo ao meu lado. Sua pele levemente fria.

Esperei ele se afastar para falar em voz alta.

- Você está bem? – perguntei a ela. Sabia qual seria a resposta, mesmo se ela tivesse conseguido me responder.

- É melhor fazê-la sentar antes que caia. Ela vai desmoronar. – Alice anunciou.

Bella mal conseguia fazer suas pernas se moverem quando a puxei para o sofá. Não fazia idéia de como confortá-la. Se isso sequer fosse possível.

Agora que estávamos relativamente fora de perigo – ainda não completamente enquanto estivéssemos aqui – consegui realmente sentir seu desespero.

- Shhh, Bella, shhh.

Aquela foi a única coisa que consegui dizer. Minha patética tentativa de acalmá-la não funcionou.

Ela estava lutando por ar. Soluçando e chorando.

- Acho que ela está tendo uma crise histérica. Talvez você deva lhe dar um tapa. Quem sabe assim ela não se acalma.

Eu devia muito a Alice, mas se Bella não estive se desfazendo em meus braços...

A calei com um olhar. Não podia e nem deveria discutir com ela.

- Está tudo bem, você está segura, está tudo bem.

Continuei repetindo as palavras, querendo profundamente acreditar nelas. Mesmo se saíssemos dali com vida, mesmo se devolvesse Bella fisicamente ilesa para Charlie... eu não sabia por onde começar a reparar o que havia feito.

A coloquei em meu colo e enrolei o grosso manto ao redor de seu corpo, para que a proximidade com minha pele não a afetasse tanto.

Não era possível tirar meus olhos de seu rosto, de cada traço, cada linha.

Meu mundo havia dado uma volta de trezentos e sessenta graus em poucas horas, de completa desolação por sua morte a segura-la em meus braços.

As lágrimas ainda escorriam por seu rosto.

- Toda aquela gente. – ela mal conseguia falar. Desespero preenchendo sua voz.

- Eu sei. – sussurei passando meus dedos em sua bochecha, tentando conter algumas das lágrimas. Outras seguiam caindo.

- É tão horrível.

- Sim, é. Queria que não tivesse precisado ver isso.

Queria não ter a exposto a nada disso. Queria nunca tê-la deixado. Mas minha vontade não era nada. Não podia voltar ao tempo. Só poderia tentar consertar o que não podia ser consertado.

Ela descansou sua cabeça em meu peito. E a liberdade e naturalidade de seu toque fez com que uma onda de eletricidade corresse por meu corpo.

Bella respirou fundo – procurando por ar e tentando se acalmar – diversas vezes.

- Posso lhes trazer alguma coisa? – a humana que trabalhava na recepção ofereceu. Ela estava imaginando o que estávamos fazendo aqui e ligeiramente preocupada com o estado de Bella. Preocupada apenas porque foi treinada para oferecer aos convidados de Aro tudo o que precisassem. Absolutamente tudo.

Não me dei o trabalho de olhar para ela quando respondi.  Tirar meus olhos de Bella era inconcebível e impossível – como se eu não tivesse forças para isso.

- Ela sabe o que está acontecendo aqui? – Bella perguntou quando a humana se afastou. Sua voz era mais baixa, porém mais composta.

Gostaria de pensar que eu era o responsável por confortá-la, mas sabia que esse não era o caso.

- Sim. Ela sabe de tudo.

A humana – a qual o nome não me interessava nem um pouco – estava ali por vontade própria e esperava ficar ali para sempre.

- Ela sabe que um dia eles vão matá-la?

Minha primeira resposta cobria essa pergunta também, mas Bella parecia incrédula, incapaz de acreditar que alguém desejasse isso como um futuro. O que me fez imaginar que essa idéia deixou de ser considerada por ela.

- Ela sabe que existe essa possibilidade.

Eu não era tão diferente dos monstros daqui. Havia feito o mesmo com ela. Havia tirado todas suas escolhas quando nosso envolvimento se tornou real.

Surpresa a tomou.

Ela deve ter percebido o mesmo, percebido que arriscou sua vida para salvar um monstro que estava determinado a destruí-la. Que já havia o feito de alguma forma.

Porém, isso não era mais verdade. Se antes existia a possibilidade de acontecer, agora estava certo de que seria impossível. Bella nunca iria se machucar diretamente por minhas mãos.

Não diretamente, pensei com nojo de mim mesmo.

Ela ainda estava olhando para mim, esperando que eu continuasse com a explicação.

- Ela espera que eles decidam ficar com ela. – minha voz saiu morta.

Sua pele ficou branca. Preocupei-me momentaneamente, quando o sangue se recusou a retornar ao seu rosto.

Sim, a idéia causava repulsa a Bella. E deveria.

Ela tremeu.

- Como ela pode querer isso? Como pode ver as pessoas fazendo fila para entrar naquela sala horrenda e querer participar daquilo? – Bella falou em voz baixa, quase consigo mesma. Ela estava enojada com tudo aquilo.

Muita coisa havia mudado. Ela agora conseguia ver com mais clareza meu mundo. Um mundo que não a merecia. Um mundo de horrores o qual, agora, mesmo contra minha vontade, fazia parte de sua vida.

Muito pode ter mudado, no entanto, meu amor por ela continua sendo tão devastador quanto antes. Ou talvez eu esteja errado nisso também.

Era impossível descrever o que estava sentido. Não existiam palavras para expressar a intensidade do que sentia. Meu coração parecia querer explodir.

Não... meu amor por Bella havia sim mudado. De alguma forma ele cresceu durante o tempo que fiquei afastado. Se antes, ela era o centro de meu universo, agora, ela era todo o universo para mim.

Eu não me importava com mais nada. Estava destinado a amá-la, seja para bem ou para o mal. Ela me querendo ou não.

Meu coração doeu.

Não iria impor minha presença em sua vida, mas sempre estaria zelando por sua segurança, por sua felicidade.

Ela olhou em meus olhos por vários minutos – podia jurar que conseguia ver sua alma, a mais linda e mais pura das almas - e as lágrimas voltaram a cair.

- Ah, Edward.

O desespero em seus olhos me deixou louco de ansiedade. Queria conseguir confortá-la de alguma forma.

- Qual o problema?

Ela jogou os braços em meu pescoço, me abraçando com toda a sua força.

Não me movi inicialmente – ainda ansioso demais.

- É doentio de minha parte ficar feliz agora? – sua voz falhou duas vezes.

Quando escutei aquelas palavras, me permiti a ter esperanças.

A apertei contra meu corpo de boa vontade. Eu estava feliz também. Era uma felicidade sem precedentes. Nada podia se comparar com o fato dela estar aqui... comigo, viva. Mesmo se eu a perdesse depois.

- Sei exatamente o que quer dizer. Mas temos muitos motivos para ficar felizes. Primeiro, estamos vivos.

- Sim, esse é um bom motivo.

- E juntos. – mesmo que fosse apenas naquele instante...

Bella apenas assentiu. Talvez ela não quisesse me dar falsas esperanças. Talvez ela estivesse apenas esperando para que estivéssemos completamente seguros para pedir que eu me afastasse.

Não podia a deixar-la tomar nenhuma decisão antes de me desculpar. Antes de implorar por ser perdão.

- E com sorte ainda estaremos vivos amanhã. – completei.

- Espero que sim.

- A perspectiva é muito boa. Vou ver Jasper em menos de vinte e quatro horas.

As visões de Alice apontavam apenas a um único futuro, e até o momento, esse futuro estava cravado em pedra. Nós sairíamos dali com vida.

Claro, tudo podia mudar em um piscar de olhos.

Meus dedos contornavam os traços do rosto de Bella.

- Você parece tão cansada. – murmurei. As marcas embaixo de seus olhos eram escuras. Como se ela não tivesse uma boa noite de sono há muito tempo.

- E você parece estar com sede. – ela comentou ao perceber a cor de meus olhos. Havia muito tempo que não caçava. Mas a sede não era nada. Mal podia senti-la. Minha mente estava ocupada com apenas uma coisa – uma pessoa.

- Não é nada. – a assegurei.

- Tem certeza? Posso me sentar com Alice.

E eu não poderia permitir isso. Bella não podia se afastar de mim. Não agora. Iria doer demais. Mais do que havia doido no passado.

Gostei muito...  ela se preocupava comigo. E ainda se preocupava com as coisas erradas. Ela não tinha jeito.

Suspirei.

- Não seja ridícula. Nunca tive mais controle desse aspecto de minha natureza do que tenho agora.

A possibilidade que me assombrou no passado não existia mais.

Naquele momento – enquanto a observava - eu me sentia dividido.

Uma parte de mim conseguia ver em seus olhos relutantes que ela ainda me amava. Que ela me queria. A outra estava certa de que assim que estivéssemos seguros, ela iria correr para longe, ou talvez ela ficaria para jogar na minha cara o que eu havia feito.

Isso não parecia algo que Bella faria, mas como iria saber o quanto ela havia mudado? Se ela tivesse mudado.

Assim que embarcarmos para casa ligo para Jasper, avisando que estamos bem.

Assenti. Seria mais sábio esperar.

Escondi nossos documentos – identidade e passaportes, inclusive os seus - fora dos limites da cidade. Temos que pega-los.

- Você está com algum carro? – perguntei. Era óbvio que elas precisaram de um para chegar aqui. Só não sabia se o mesmo estaria disponível.

Alice sorriu ao lembrar-se do Porche amarelo Turbo 911 que havia dirigido mais cedo. Seu sorriso desmoronou um pouco ao perceber que não poderia usar aquele mesmo carro.

- Vou ter que roubar outro. – ela disse – Mas Bella não foi contra isso, imagino que você também não será.

- Não.

- Temos que parar e comprar roupas para você. Não vão deixar você embarcar usando isso.

- Seja rápida.

- Claro.

Vamos ficar todos bem. Estou certa disso. Aro não mudou de idéia. Além do mais, ele cresceu os olhos em você, portanto não irá fazer nada que venha te prejudicar... – ela continuou se comunicando silenciosamente.

Será que Alice não notou que Aro também a queria?

Eu estava conversando com ela, mas meus olhos fixos em Bella. Não queria perder nem mesmo um segundo.

... o que me lembra uma coisa. – ela continuou em voz alta.

- O que foi toda aquela história de cantoras?

- La tua cantante? – me certifiquei do que ela falava.

- Sim, isso.

- Eles têm um nome para quem tem o cheiro que Bella tem para mim. Chamam de minha cantora... porque o sangue dela canta para mim.

Alice riu.

Muito apropriado e criativo. – ela pensou.

As horas se passaram, e o sol estava perto de se pôr. Não sabia quanto tempo mais teria assim tão perto de Bella. Talvez apenas o período de nosso vôo de volta para casa. Alice e eu continuamos conversando - ela estava me colocando a par dos últimos acontecimentos, sobre o que havia descoberto de seu passado. Ela também – ao mesmo tempo – estava tentando aliviar o clima de ansiedade e tensão que pairava sobre Bella e que aumentava à medida que as horas passavam.

Conversar sobre algo diferente ajudou um pouco, mas não completamente.

Gostaria muito de me interessar por sua história, mas naquele momento era impossível. Então a ouvi, fazendo perguntas desinteressadas – ela sabia que minha mente estava em outro lugar – para mantê-la falando. Não consegui resistir à proximidade. Meus lábios queimavam de desejo por Bella. Então antes mesmo de conseguir me conter, estava beijando seus cabelos, sua testa, seu nariz, saboreando cada segundo ao seu lado. Só não me atrevi a tocar seus lábios. Sentia como se tivesse perdido esse direito.

Bella parecia relutante e ao mesmo tempo disposta a receber meus carinhos.

Precisava ficar sozinho com ela. No momento, não conseguia desvendar nenhum de seus pensamentos.

O que ela estava pensando?

Ela estava claramente lutando contra o cansaço em meus braços e eu estava prestes a pedir para que ela tentasse dormir – não que fosse conseguir fazer isso aqui, no meio do inferno – quando reconheci o cheiro de Alec.

Meu corpo enrijeceu. Bella se encolheu contra meu peito, em resposta a minha súbita tensão física.

Alec se aproximou sua sede completamente saciada.

- Estão livres para partir agora. Pedimos que não demorem na cidade.

- Isso não será problema. – respondi rapidamente.

Ele apenas sorriu e se afastou, ansioso para retornar a pequena festa particular que estava acontecendo.

Coloquei Bella de pé, levantando-me junto com ela, mantendo-a enrolada em meu manto.

A humana da recepção, em mais uma tentativa de se mostrar útil, descreveu o como deveríamos fazer para sair do prédio.

Do lado de fora, a ridícula comemoração continuava. Alice rapidamente se afastou para pegar as bolsas e encontrar outro carro.

Bella se assustou por um momento quando percebeu que ela não estava conosco.

- Ela foi buscar as bolsas de vocês onde as escondeu essa manhã.

- Ela está roubando outro carro também, não está?

- Apenas quando estivermos lá fora.

Guiei Bella pela cidade, até a saída principal.

Alice nos aguardava em um carro escuro.

Abri a porta de trás e puxei Bella comigo. Agora ela poderia descansar.

- Sinto muito. Não consegui achar nada melhor do que isso. Não havia muitas opções. – Alice lamentou.

- Está tudo bem, Alice. – sorri carinhosamente para ela. Era mais fácil ser grato a ela agora que Bella estava em segurança – Não dava para todos ser um Turbo 911.

- Talvez eu possa adquirir um daquele legalmente. Era fabuloso. – ela suspirou. Era a primeira vez que ela mostrava algum interesse em carros.

- Vou lhe dar um de presente de natal. – prometi. Não que de alguma forma isso fosse pagar o que eu devia a ela.

- Amarelo. – ela demandou, acelerando o carro.

- Pode dormir agora, Bella. Acabou. – ela precisava descansar imediatamente.

- Não quero dormir. Não estou cansada.

Ela ainda estava com medo. E claramente exausta.

- Tente. – disse suavemente em seu ouvido tentando dissuadi-la. Ela sacudiu a cabeça lentamente, se negando a ceder.

Suspirei.

- Você ainda é a mesma teimosa.

Um pequeno sorriso cruzou seus lábios. Pequeno e rápido. Ele logo desapareceu.

Chegamos ao aeroporto com uma boa vantagem de tempo antes que o vôo partisse para Atlanta. Alice acompanhou Bella até o banheiro, passando seus braços por sua cintura – a deixei sair da segurança de meus braços com relutância. Queria carregá-la. Ela parecia não ter forças para andar.

Queria manter meus olhos em Bella o tempo todo – através dos olhos de Alice, mas ela estava segura e precisava de privacidade. Quando elas desapareceram de minha linha de visão, aproveitei o momento para colocar meus pensamentos em ordem.

Então... eu havia feito um estrago enorme. Nem sequer podia imaginar a extensão. Havia tanto no que pensar.

Minha primeira prioridade seria cuidar de Bella. Fazê-la descansar. E depois – se possível, se ela estiver disposta a me ouvir – conversar com ela. Estava ciente que talvez fosse necessário implorar por perdão e que poderia não funcionar, mas estava disposto a dizer as palavras. Disposto a me ajoelhar a seus pés.

Só que não podia planejar além disso. Não fazia idéia do tamanho da dor que causei a ela. Não sabia se Bella havia superado, se já havia alguém em sua vida.

Eu não sabia de nada e aquilo subitamente me deixou angustiado.

O que eu faria se ela realmente tivesse alguém?

Eu sei que não direito algum sobre ela, mas...

Respirei fundo diversas vezes tentando me acalmar. Devia estar parecendo um louco.

Quando elas voltaram, havia conseguido me recompor. Meus olhos travaram em Bella imediatamente – e os seus nos meus. Ela parecia mais alerta, como se uma pequena parte de toda exaustão tivesse sido retirada. Ela passou por mim – eu perdi momentaneamente o contato com seus olhos - e abriu a porta traseira do carro.

- Eu esqueci meu passaporte. – ela murmurou após pegar a sua bolsa.

- Temos tempo. – a assegurei.

- Aqui, vista isso. – Alice jogou uma camisa em minha direção.

Foi bom me livrar daquele manto. Agora, estávamos prontos para retornar para casa. E eu estava pronto para assumir toda a minha responsabilidade.

Ambos os vôos foram silenciosos. Os olhos de Bella pareciam cheio de perguntas, mas nenhum som saiu de seus lábios voluntariamente. Ela apenas justificou a necessidade de permanecer acordada quando protestei por ela estar tomando cafeína. Era fácil de entender porque ela não queria dormir. As imagens ainda estavam frescas em sua mente. Então eu aproveitei o tempo que tinha em mãos... em silêncio. Ela não havia se afastado – recusado – nenhum de meus carinhos até o momento, então não havia porque parar.

Meus dedos ainda acariciavam seu rosto, incansavelmente. Seu perfume era inebriante. Tão doce... era incrivelmente bom poder sentir seu aroma ao invés de apenas imaginá-lo.

Minha memória não havia feito jus a Bella.

Tudo nela era mais do que perfeito. Eu não mudaria nada.

Encostei meus lábios em seus cabelos – que caiam como uma cortina escura e pesada ao redor de sua face - para apreciar melhor o aroma. Não havia outro igual.  Bella levantou sua mão relutantemente e tocou minha face. Meus olhos se fecharam com o contato. Concentrei-me apenas em respirar, levando aos meus pulmões o cheiro mais delicioso desse mundo. Quando os abri novamente, estava lá, o olhar de meus pensamentos – de minha memória - o olhar que me fez ter absoluta certeza de que ela ainda me amava.

Precisei usar todas as forças que tinha para não tocar meus lábios com os seus.

Ela ainda me amava, mas isso não queria dizer que eu seria perdoado.

Quero dizer... eu me afastei de Bella amando-a intensamente, por acreditar ser o melhor, agora, ela poderia fazer o mesmo. Se afastar de mim, por acreditar – corretamente – que minha presença não era boa para ela.

Quebrei o contato com seus olhos e olhei para baixo – tentando esconder a dor em meu rosto - traçando com a ponta dos dedos o caminho feito por suas veias sob sua delicada pele.

Levei seu pulso até os meus lábios, mais uma vez saboreando o perfume, o calor.

O vôo até o aeroporto Sea-Tac não foi o suficiente. Eu precisava de mais tempo com ela. E isso teria que esperar.

Minha família estava lá, nos aguardando.

Jasper, ansioso para ter Alice de volta segura ao seu lado.

Deveria ser muito bom ter essa segurança. De que eles sempre estariam juntos.

Um pouco mais a frente estavam Carlisle e Esme.

Quando vi o rosto de minha mãe, me senti envergonhado. Ela sofreu tanto com minhas decisões.

Esme jogou seus braços ao redor de Bella com vontade. Sua gratidão era tão violenta que seus pensamentos se tornaram parcialmente incoerentes.

- Muito obrigada. – ela sussurrou para Bella. Sua voz parecia cansada.

Ela se prendeu a Bella por alguns segundos – meus braços ainda ao seu redor. Eu me recusava a me afastar. Depois, ela os atirou em minha direção. Seus pensamentos agora fazendo mais sentido.

- Nunca mais me faça passar por isso. – Esme me repreendeu.

- Desculpe, mãe.

Eu teria tempo para me desculpar melhor mais tarde.

Senti tanto a sua falta. Estou tão feliz que esteja bem... que vocês dois estejam bem. – Esme pensou antes de se afastar para me olhar melhor – seu rosto mais recomposto.

- Obrigado, Bella. Devemos a você. – murmurou Carlisle. A intensidade em sua voz queimava.

Você não tem idéia de como é bom tê-lo de volta, filho. A salvo. – ele pensou. Todos sabiam que ali, naquele momento a prioridade ela Bella. Então não houve nenhuma espécie de questionamento – que eu imaginava que estava por vim.

- De jeito nenhum. – Bella mal conseguiu falar.

- Ela está morta de cansaço – Esme chamou minha atenção – Vamos levá-la para casa. Charlie deve estar louco de preocupação.

Minha mãe passou seu braço pela cintura de Bella, sustentando-a do outro lado.

Eu tinha tanta coisa em minha mente que havia esquecido completamente de perguntar a Alice a respeito de Charlie.

Ele sabia onde e com quem a filha estava?

Eu não tinha me preocupado com Charlie em momento algum. Isso me fez sentir culpado. Ou devo dizer, ainda mais culpado? Ele quase perdeu a pessoa que mais ama nesse mundo por minha causa. Meus atos atingiram e prejudicaram mais pessoas do imaginei originalmente.

Assim como não havia pensado em Charlie, em momento algum havia pensado em Rosalie. Então, me surpreendi ao vê-la ao lado de Emmett, encostada na mercedez de Carlisle. Me surpreendi também com o que senti. Não queria lidar com ela agora.

Assim que meus olhos encontraram os seus, meu corpo se enrijeceu completamente.

Seu rosto não demonstrava nada, mas seus pensamentos transmitiam arrependimento. Arrependimento que não me afetava.

- Não. Ela está se sentindo péssima. – Esme se apressou em dizer, com medo de minha reação.

Será que alguém realmente acredita que ela agiu apenas em nome de sua consideração por mim?

Eu duvidava.

- Devia mesmo. – respondi friamente.

Se não fosse pela imprudência e ânsia de Rosalie em – de certa forma - destruir Bella – sim, porque ela desejava que Bella nunca tivesse cruzado meu caminho, não pelo meu bem, não pelo bem da família e muito menos pelo de Bella, mas sim para satisfazer o seu ego - muito poderia ter sido evitado. Aro não teria conhecimento de Bella ou Alice.

- Não é culpa dela.  – Bella a defendeu, tomada pela exaustão.

Ela era a pessoa mais altruísta que conhecia. Incapaz de apontar o dedo ou mesmo colocar a responsabilidade sobre qualquer pessoa.

- Deixe-a se desculpar – Esme implorou - Nós vamos com Alice e Jasper.

- Por favor, Edward. – Bella suplicou.

Não ajudaria a ninguém se eu deixasse minhas emoções tomarem conta – minha cabeça estava cheia delas – então, com um suspiro, forcei minhas pernas a se moverem.

Emmett estava sério - o que era incomum para ele.

Sabia que ele sentiu minha falta. Seus pensamentos entregavam isso. Eu teria sentido falta dele também, se não estivesse tão ocupado sendo torturado pela distância que havia colocado entre Bella e eu.

Entrei no banco de trás do sedã. Bella recostou sua cabeça em meu peito, deixando o sono a tomar.

Talvez ela só precisasse estar mais próxima de casa para que fosse possível se render o cançaso.

Assim que o motor ganhou vida, Rosalie reuniu coragem para expressar seus pensamentos.

- Edward... – ela começou.

- Eu sei. – disse mais bruscamente que o necessário. Sabia que ela se sentia mal, mas ainda não consegui ser generoso com seu arrependimento.

Eu realmente sinto muito. Você não faz idéia de como isso me consumiu.

A maior parte de minha mente já havia processado o fato de que Rosalie havia cometido um erro, um erro até certo ponto honesto. Mas também a conhecia bem demais para saber que seu envolvimento foi muito além do que ela provavelmente dizia ser.

De qualquer forma, se Bella era generosa o suficiente para redimi-la de qualquer culpa, eu também deveria ser.

- Bella? – Rosalie chamou. Ela estava se sentindo desconcertada.

Bella forçou seus olhos a se abrirem.

- Sim, Rosalie? – seu tom era hesitante, como se ela não entendesse o que Rosalie poderia querer com ela.

Estava certo de que aquela era a primeira vez que minha irmã se dirigia diretamente a Bella.

- Me desculpe, Bella. – honestidade clara em sua voz – Eu me senti péssima com relação a cada parte disso, e muito grata por você ter tido coragem de ir salvar meu irmão depois do que eu fiz. Por favor, diga que me perdoa.

O acanho de Rosalie era claro ao dizer as palavras.

Eu já sabia como Bella iria responder. De forma alguma ela iria responsabilizar Rose por qualquer coisa que tenha acontecido.

- Claro, Rosalie, não foi culpa sua. Fui eu que pulei da droga do penhasco. É claro que perdôo você.

Suas palavras saíram emboladas.

- Não vale enquanto ela não estiver consciente, Rose. – Emmett riu. No mais, não fez nenhum comentário. Nem mesmo em pensamento.

- Estou consciente. – Bella rebateu, mal conseguindo falar.

- Deixem que ela durma.

Ela claramente estava disposta a isso agora. Em poucos segundos, os batimentos do coração de Bella desaceleraram. Assim como sua respiração.

- Ela está bem?- Emmett perguntou assim que percebeu que ela havia dormido. Ele estava verdadeiramente preocupado.

- Fisicamente, sim. - não poderia responder por seu estado mental, não antes de falar com ela.

Retirei a mecha de cabelo que havia caido em seu rosto.

- Sua pequena é mais corajosa do que imaginei. Entrar naquele covil não é para qualquer um. – ele continuou – Ela se arriscou demais.

- Eu sei – disse, incapaz de continuar.

- O que pretende fazer agora?

- Bom... tentar corrigir parte do que fiz – meus olhos trocaram o rosto de Bella pelo de Emmett – com todos vocês...

- Não se preocupe com nós. Todos entenderam suas motivações.

Emmett me surpreendeu com sua afirmação. Sorri para ele.

- Ele está certo. Bella vai precisar de você mais do que nunca agora. – Rosalie completou.

Em pouco tempo estávamos em frente à casa de Bella.

Emmett e Rosalie deixaram o carro comigo e partiram antes que Charlie pudesse abrir a porta.

Bella ainda dormia quando a peguei em meus braços. Sua cabeça descansando em meu ombro.

Assim que Charlie ouviu o motor do carro, ele correu para ver quem era. Um misto de ansiedade, pavor e expectativa preenchiam sua mente.

- Bella! – ele gritou assim que a reconheceu. Alívio fresco em sua voz.

- Charlie. – Bella murmurou ao ouvir a voz do pai.

- Shhh. Está tudo bem; você está em casa e segura. Durma. – a assegurei. No momento ela só precisava de uma coisa. Descansar.

O alívio na voz de Charlie não demorou para se tornar em fúria quando ele me avistou.

- Não posso acreditar que tem a coragem de mostrar sua cara aqui. – ele gritou novamente, dessa vez bem a minha frente. Diversas formas de me infligir dor cruzaram por sua cabeça. O ódio evidente em cada um desses pensamentos.

Ódio que eu definitivamente merecia.

E naquele momento, me senti ainda mais envergonhado.

- Pare com isso, pai. – Bella disse baixinho, Charlie não a ouviu, subitamente preocupado com o estado de Bella.

- O que ela tem?

- Ela só está muito cansada, Charlie. Por favor, deixe-a dormir. – minha voz saiu baixa. Precisei usar toda a força que tinha para olhá-lo nos olhos. Queria abaixar minha cabeça – não somente por vergonha, mas em respeito a sua autoridade... em respeito ao que ele passou.

- Não me diga o que fazer! Me dê minha filha. Tire suas mãos dela!

Ele pensou em uma série de palavrões, mas não os disse.

Tentei entregá-la a ele, mas as mãos de Bella se prenderam ao meu pescoço. Charlie tentou solta-las sem sucesso.

- Pare com isso, pai. Fique chateado comigo.

Resisti à vontade de revirar os meus olhos. Claro que ela iria assumir a culpa.

- Pode apostar que ficarei. Trate de entrar. – ele gritou com ela. Ele estava tão nervoso que não consegui distinguir seus pensamentos.

- Tá bom – ela disse a ele e depois se virou para mim – Me ponha no chão.

Não achava a melhor das idéias. No aeroporto ela já não estava conseguindo andar sozinha... mas fiz o que pediu – colocando-a cuidadosamente sobre a varanda de sua casa.

Eu estava certo.

Ao tentar dar o primeiro passo, Bella foi de encontro ao chão – a peguei antes que ela o atingisse. As mãos de Charlie tentaram o mesmo por reflexo.

Ela não iria conseguir subir sozinha.

- Só me deixe colocá-la lá em cima.  – supliquei - Depois vou embora.

- Não! – Bella gritou, assustando Charlie.

Charlie assentiu de mau agrado e eu rapidamente assegurei Bella.

- Não estarei longe.

Ele não me acompanhou até o quarto. Postando-se de pé ao lado da escada.

A coloquei em sua cama, desatando as mãos gentilmente de meu pescoço.

Ela se acomodou em seus travesseiros. Naquele momento, era como se nada nunca tivesse acontecido.

Era como se eu nunca tivesse partido.

Respirei fundo, absorvendo todo o seu perfume.

Ainda era cedo, e eu não podia ficar aqui com ela. De qualquer forma, mais tarde eu voltaria. Charlie merecia um pouco de paz.

Ao descer as escadas, me deparei com ele me esperando ao lado da porta – que estava aberta ao máximo permitido pelas leis da física.

- Você já fez o suficiente por ela. Agora desapareça. – ele ordenou. Seu tom de voz mais moderado. Sua fúria por outro lado, permanecia a mesma.

Dirigi-me a porta, parando para falar com ele. Agora não era o melhor momento para conversar com Charlie – sim, eu teria que conversar com ele – mas não podia deixar de me desculpar.

- Sinto muito... por tudo. – disse honestamente.

- Não me importo se sente muito ou não. De agora em diante não quero mais vê-lo nessa casa. Se algum dia você já foi bem vindo aqui, agora não é mais. Você me entendeu?

Não respondi. Ele continuou.

- Você nunca mais irá passar por essas portas e nunca mais irá tocar em minha filha. Nunca mais!

Ele bateu a porta e eu fiquei parado ali me sentindo completamente desorientado.

O desejo de ver Bella novamente queimava. Eu não queria ter que voltar para casa. Queria muito pular a janela e retornar ao lugar que sempre foi meu paraíso particular, no entanto aquilo não era possível agora.

Não iria ajudar ficar parado aqui também. Então me movi. Estava andando como um homem morto. Cada passo que dava – a cada centímetro que me distanciava dela – me fazia sentir mais desespero.

Desespero que era irracional. Ela estava bem.

Entrei no carro e fiquei ali, sentado. Não sei ao certo por quanto tempo.

Quando cheguei fui recebido por Alice antes mesmo de desligar o carro na garagem.

- Vou manter meus olhos nela, até que você possa fazer isso pessoalmente. – ela me assegurou.

- Obrigado, Alice. – disse com fervor.

Ela apenas piscou para mim.

- O que aconteceu, exatamente? – perguntei saindo do carro. Ela ainda não havia tido a oportunidade de me explicar em detalhes.

Alice suspirou fundo e sentou-se na pequena escada que dava até a casa. Sentei ao seu lado.

- Só posso te contar um trecho da história. O que vem antes disso é com Bella. – assenti.

- Todo o mal entendido começou quando tive uma visão de Bella se jogando de um penhasco. Como não consegui vê-la saindo da água, então presumi o pior. Eu fiquei tão desesperada, Edward! Só consegui pensar em Charlie... bom, acontece que como já sabe, ela não se jogou e sim pulou. Bella só esqueceu de considerar as condições climáticas... e ela não estava sozinha – graças a Deus – seu amigo, Jacob – ela disse o nome com sarcasmo – estava por perto e a tirou da água. Ele a salvou. E quando cheguei aqui, dei de cara com ela... viva! Eu não entendi... e então nós seguimos conversando e ela acabou admitindo o que ele realmente era.

Alice passou a mão pelos cabelos. Agitada.

- Eu não consigo vê-los, Edward. Foi por isso que não a vi sendo tirada da água.

A escutei silenciosamente.

- E o amigo de Charlie, Harry – um dos Quileutes a propósito – faleceu naquele mesmo dia... e foi aí que o mal entendido quase se tornou uma tragédia....

- E o menino que atendeu o telefone... – murmurei.

- Foi Jacob. Ele estava na casa quando você ligou.

Ficamos em silêncio por uns minutos, contemplando aquela história absurda.

- Laurent e Victória? – quase rosnei seus nomes.

- Sim... ambos retornaram por Bella. Os lobos deram o jeito no vampiro francês, mas Victória é muito mais difícil de apanhar.

- Eu que o diga. – murmurei em voz baixa.

Victória estava com os dias contados. Perto de Bella ela nunca mais chegará.

- Bom... o pior já passou. Não acredito que Victória deva voltar, não com nossa presença aqui... e sim, nós decidimos ficar... por você. Como eu disse, vou manter meus olhos em Bella, estarei prestando atenção. Nós só iremos precisar lidar com o problema dos cachorros...

- Sim, é um grande problema. – minha testa enrugou a considerar isso. Quando vi Jacob pela última vez, ele não fazia idéia do fardo genético que carregava.

Também recordei de seus pensamentos com relação à Bella.

Meu corpo queimou de ciúmes.

Esse tempo todo... eu achei que estava fazendo bem a ela, quando na realidade a expus a perigos que nem sequer sabia que existiam mais.

Por que eles retornaram agora, após tantos anos?

- Bella realmente gosta de garoto, não vai ser fácil, mas com ele próximo... bom... você sabe.

Suspirei.

- Eu dou um jeito. Obrigado de novo, Alice. De verdade.

- Sem problemas. – ela se levantou e beijou meu rosto.

Eu realmente senti sua falta. Não é o mesmo sem você por perto.

Ela piscou novamente e correu graciosamente para fora da garagem.

Não consegui ver para onde ela iria. Será que algum dia iria conseguir agradecê-la por simplesmente ser Alice?

Entrei na casa.

- Hey! Seja bem vindo! – gritou Emmett quando entrei.

- É bom estar de volta. – só não era melhor porque Bella não estava aqui comigo. Sentei-me ao lado de Esme no sofá da sala. Ela passou os braços por minha cintura.

- Como está nossa Bella? – ela perguntou carinhosamente.

- Bem. Dormindo.

Ela tocou meu rosto.

- Vai estar com ela em breve.

Sorri sinceramente aos seus carinhos maternais.

Respirei fundo.

- Esme... eu sinto tanto...

- Não. Passado é passado.

- Não se torture, Edward, filho. – Carlisle falou sentando-se ao lado dela – Entenda, nós sofremos, claro, nenhum de nós queria perder você, mas todos compreendemos os motivos por trás de suas decisões e nenhum deles foi questionado em nenhum momento.

- Não sabemos como reagiríamos estando em sua situação – Esme continuou.

Era bom não ser julgado por eles. Ser recebido de braços abertos depois de tanta coisa e de tanto tempo.

Não consegui ver ou ouvir Jasper em lugar algum. Ele não estava nas proximidades.

Alice havia se arriscado por mim. Ele provavelmente não estava pronto para me perdoar.

Eu o entendia.

O dia passou lentamente. As horas se arrastaram, mas quando escureceu eu estava lá. Não foi possível entrar imediatamente. Charlie ainda estava acordado e constantemente checando Bella.

Ela estava em boas mãos com ele.

Então... eu sentei ali, na árvore mais próxima a sua janela, em meio a escuridão... só esperando.

Charlie estava exausto, ele não dormia bem há vários dias, então não demorou para o sono o atingir – agora que Bella estava sã e salva de baixo de seu teto, ele podia ir descansar.

Era difícil me manter tão próximo e ao mesmo tempo tão distante dela.

Passavam-se das dez da noite quando Charlie finalmente cedeu ao sono.

Rapidamente escalei sua janela, e então, pude respirar de novo.

O rosto de Bella estava levemente relaxado sobre o travesseiro.

O alívio era tão intenso que fiquei parado por um longo momento incapacitado de mover. Quando finalmente encontrei minhas forças, segui até a cama e me sentei na beirada – sem causar nenhum tipo de movimento no colchão.

Poderia ter procurado por mudanças significativas no quarto, qualquer coisa que me fizesse entender um pouquinho de como sua vida havia sido nos últimos meses, mas não consegui fazer nada além de olhar para ela.

Aqui, no conforto e na segurança de sua casa, Bella parecia tão diferente e ao mesmo tempo, a mesma. Identifiquei pequenas diferenças físicas. Ela estava ligeiramente mais magra, pouca coisa, seu cabelo mais longo e sua pele ligeiramente mais corada. Seus traços também se desenvolveram. Aprimoraram-se. Ela parecia mais... mais... madura.

Acho que isso era esperado.

Suspirei. Bella foi obrigada a se adaptar as minhas decisões e a viver com elas.  Não a dei nenhuma outra escolha.

Estava tão certo de que me afastar seria o melhor. Argh! Como fui estúpido.

Tanta dor infligida em tanta gente...

Agora, eu não era capaz de me afastar. Era fisicamente impossível. Não poderia deixá-la. Nunca.

Mesmo se Bella decidisse que não me queria mais, mesmo quando ela se mudar dessa pequena cidade, eu sempre estarei lá.

Respirei fundo. Minha garganta pegou fogo. Eu sorri. Aquela sensação de agora em diante seria prazerosa.

Me deitei ao seu lado, colocando meu rosto na beirada de seu travesseiro. Sua respiração acariciava minha face.

Não estava mais ansioso... poderia ficar ali para sempre.

Depois de algum tempo, ela se moveu, encostando sua cabeça em meu ombro e passando seu braço por minha cintura – como se nada tivesse acontecido.  Aproveitei o momento – passando meus braços sobre seu corpo também.

Apenas me movi quando o som da batida de seu coração se acelerou.

Ela moveu lentamente a cabeça no travesseiro, respirando fundo. O ar atingiu a minha face com força. O cheiro era tão concentrado, tão doce.

Toquei sua testa com meus lábios, era impossível resistir.

Ela apertou os olhos com força.

Meu toque havia se tornado desconfortável para ela?

Bella estava acordada, mas o estupor ainda era grande, então seus olhos demoraram a abrir e quando assim o fizeram eu me perdi neles.

Estava ficando sem palavras para descrever o que sentia, era uma mistura de medo, ânsia, desejo, paixão, culpa, vergonha...

O medo era de sua reação. Não sabia se era mais bem vindo por ela, não sabia se teria a oportunidade de me explicar. A ânsia era por saber o que ela pensava de mim, o quanto eu a havia machucado. O desejo era de poder tocá-la, livre de culpa e de temor. A paixão... bom, a paixão sempre esteve aqui - eu a amava tão desesperadamente que não sabia o que fazer com esse sentimento tão poderoso. A culpa e a vergonha eram conseqüências de tudo que havia feito. Não estava acostumado a me sentir dessa maneira.

- Oh! – ela ofegou, cobrindo os olhos com as mãos. Ela pareceu assustada. Esperei em silencio para que ela pudesse organizar seus pensamentos.

Bella abriu os olhos novamente - lentamente.

- Eu a assustei? – perguntei em voz baixa, preocupado.

Meus medos se tornariam realidade? Ela me daria ao menos tempo para me explicar?

Ela continuou a me olhar.

Nossas faces estavam muito próximas, ela não havia se afastado nenhum centímetro sequer.

O que isso queria dizer?

Eu não tinha o menor controle dos meus sentimentos. Eles iam e vinham me deixando – por muito pouco, sem ar.

Ela piscou duas vezes. Tentando clarear a mente?

Não ouvir seus pensamentos – nesse momento – era mais torturante do que sempre foi.

Algo ocorreu a Bella naquele momento. Seu rosto se contorceu.

- Ah, droga – ela murmurou.

Sua reação me assustou um pouco. Ela parecia infeliz.

- Qual o problema, Bella? – demandei sussurrando. Não havia outra forma de descobrir o que se passava por sua cabeça...

Ela franziu o cenho.

Sim... ela parecia infeliz... e confusa.

Eu teria que me preparar. Eu sabia que esse momento seria o mais difícil.

- Eu morri, não é? – ela gemeu – Eu me afoguei. Droga, droga, droga! Isso vai matar Charlie.

Suas palavras me pegaram de surpresa. Será que ela realmente tinha acordado?

- Você não está morta. – a garanti em uma voz gentil.

- Então por que não estou acordando?

- Você está acordada, Bella.

Ela balançou a cabeça.

O que estava acontecendo com ela?

- Ah, sim, claro. É o que você quer que eu pense. E depois vai ser pior quando eu acordar. Se eu acordar, o que não vai acontecer, porque estou morta. Isso é péssimo. Coitado do Charlie. E Renée e Jake...

Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu em pavor.

Eu ainda estava processando o que queria dizer o fato dela ter colocado o nome “Jake” ao lado do de Charlie e Renée. O que aquilo queria dizer?

O quão próxima dele ela havia ficado? Será que Bella não havia percebido o tamanho do perigo, expondo-se a lobisomens?

Claro que ela não havia percebido. Pensei com sarcasmo. Bella não tinha a menor noção do que era ou não perigoso.

Meu corpo queimou com ciúmes. Mas agora não era hora para isso. Eu dificilmente tinha algum direito sobre ela.

Tentei amenizar seu pavor.

- Eu entendo que possa me confundir com um pesadelo; mas não imagino o que pode ter feito para parar no inferno. Você cometeu muitos assassinatos enquanto estive fora?

Ela fez uma careta adorável, dispensando minha piada sombria.

- É claro que não. Se eu estivesse no inferno, você não estaria comigo.

Eu deveria saber... ela ainda me considerava. E eu não era digno de sua consideração.

Bella parecia ser incapaz de ver o lado ruim das pessoas.

Suspirei.

Ela olhou para a escuridão do lado de fora de sua janela. Compreensão aos poucos tomando o seu lugar. Seu rosto corou graciosamente.

Ela é tão linda.

- Então tudo aquilo aconteceu mesmo? – ela perguntou um pouco confusa, seus olhos retornando a minha face.

- Depende. – não sabia ao certo ao que ela se referia – Se estiver se referindo a nós quase sendo massacrados na Itália, então, sim.

- Que estranho. Eu fui mesmo à Itália. Sabia que eu nunca tinha ido mais longe do que Albuquerque?

Mais uma vez ela me surpreendeu. Bella nunca fazia ou falava o que eu esperava.

Revirei meus olhos para ela.

- Talvez deva voltar a dormir. Você está incoerente.

- Não estou mais cansada. – ela me garantiu. Ela realmente parecia melhor, não completamente descansada, mais muito melhor – Que horas são? Quanto tempo fiquei dormindo?

- Um pouco depois de uma da manhã. Então, umas catorze horas.

- Charlie?

Meu rosto se contorceu. Seria melhor dizer a ela que de acordo com seu pai – ela ainda não havia demonstrado que pensava da mesma forma, agora que sabia que seu susto original foi porque ela achou que estava sonhando – que eu não era mais bem vindo.

- Dormindo. Você deve saber que estou quebrando as regras agora. Bem, não tecnicamente, uma vez que Charlie disse que eu nunca voltaria a passar pela porta, e eu entrei pela janela... mas, ainda assim, a intenção foi clara.

- Charlie proibiu sua entrada na casa? – ela perguntou parecendo não acreditar na decisão do pai.

- Esperava outra reação? – tristeza preenchendo minha voz.

Não podia questioná-lo. Se estivesse em seu lugar teria feito pior, muito pior.

Minha resposta pareceu deixá-la zangada.

Não disse mais nada, parecia ser incapaz de achar minha voz.

- Qual a história? – ela perguntou depois de alguns minutos de silêncio.

- O que quer dizer?

- O que vou dizer a Charlie? Qual será a desculpa para ter desaparecido por... quanto tempo fiquei fora, aliás?

- Só três dias. E na verdade, eu estava esperando que você tivesse uma boa explicação. Não tenho nenhuma.

Na realidade, nem sequer havia pensado nisso.

Minha mente estava uma bagunça.

Ela gemeu.

- Ótimo.

- Bom, talvez Alice pense em algo. – me apressei em dizer. Ela parecia preocupada.

Mais uma vez, o silêncio predominou por vários minutos.

- Então – ela o quebrou – O que você andou fazendo até três dias atrás?

Eu estava esperando pela oportunidade de poder contar o meu lado da história, para poder pedir perdão. Não queria começar pelo que estava fazendo – especialmente porque fui extremamente incompetente nessa tarefa - e sim o que me levou a fazer o que fiz.

- Nada de terrivelmente emocionante.

- É claro que não.

Seu rosto de contorceu de forma estranha.

- Por que está fazendo essa cara? – perguntei de uma vez ao invés de tentar entender o que se passava por sua cabeça. Até o momento, ela havia me pegado completamente de surpresa quando expressou seus pensamentos.

- Bom... – ela pensou por um momento antes de continuar – Se no final das contas você fosse só um sonho, esse seria o tipo exato de resposta que você daria. Minha imaginação deve estar acostumada.

A forma como seu cérebro funcionava sempre seria um mistério para mim. Não poderia contar nada enquanto ela acreditasse que ainda estava dormindo.

- Se eu contar, você vai enfim acreditar que não está tendo um pesadelo? – propus.

- Pesadelo! – ela exclamou, desmerecendo a escolha da palavra.

Esperei pacientemente por sua resposta.

- Talvez... se me contar.

Bom.

- Eu estava... caçando.

- É o melhor que pode fazer? Isso definitivamente, não prova que estou acordada.

Eu teria que ser mais específico. Não queria ter que admitir esse fracasso... pelo menos não agora.

- Não estava caçando para me alimentar... estava me testando em... seguir rastros. Não sou muito bom nisso. – admiti.

Esperei pela pergunta que ela certamente faria.

- Que rastro você estava seguindo?

Eu definitivamente não entraria nesse assunto agora. Outras coisas tomavam precedente.

- Nada de importante.

Me senti subitamente nervoso. Como colocar as palavras para que ela pudesse entender?

- Não entendi. – ela disse.

Ela pareceu transtornada.

Nunca iria conseguiria fugir do passado, apagar o que havia acontecido, sempre teria impregnado em minha mente aquele período – não havia palavras para descrevê-lo, apenas havia a dor... a dor que sempre existiria e que nesse momento, ameaçava me consumir.

Levei um tempo para encontrar a minha voz e mesmo assim, não estava certo se conseguiria colocar algum volume.

Não podia deixar minhas emoções me guiarem, mas era tão difícil controlá-las.

- Eu... – respirei fundo, puxando a maior quantidade possível de ar para meus pulmões. Minha garganta pareceu pegar fogo – Devo-lhe desculpas.

As palavras não expressavam exatamente o que queria dizer.

- Não, é claro que lhe devo muito, muito mais do que isso. Mas você precisa saber... precisa saber que eu não fazia a menor idéia. Não percebi toda a confusão que estava deixando para trás. Pensei que aqui fosse seguro para você. Muito seguro. Não fazia idéia de que Victória – foi difícil conter o rosnado ao dizer o nome – voltaria. Devo admitir que quando a vi daquela vez prestei muito mais atenção aos pensamentos de James. Mas não vi que ela pudesse ter esse tipo de reação. Tampouco que ela tivesse tamanho vínculo com ele...

Ainda não acreditava que isso tinha passado despercebido.

Cometi uma seqüência de erros que datavam muito além do dia que deixei Forks.

- Acho que percebo por quê... ela era tão confiante com relação a James que nunca lhe ocorreu a idéia dele falhar. Foi o excesso de confiança que encobriu os sentimentos dela por ele... isso me impediu de ver a intensidade entre os dois, o vínculo que existia ali.

Estava tentando me justificar, o que era impossível e inaceitável.

- Não que haja alguma desculpa para o que deixei para você enfrentar. – continuei, retornando ao tópico principal – Quando soube do que você contou a Alice... o que ela própria viu... quando percebi que colocara sua vida nas mãos de lobisomens, imaturos, voláteis, a pior coisa que há lá fora, além da própria Victória.

As imagens das lembranças de Alice me aterrorizaram. O garoto Quileute tremendo – em processo de mutação – ao lado Bella.

Naquele momento pensava que ela estivesse morta, e ela poderia estar... tão facilmente.

Tremi com a idéia. Eu já estava implorando por seu perdão. Era fácil de ouvir isso em minha voz.

- Por favor, entenda que eu não fazia idéia de nada disso. Sinto-me aflito, aflito em meu âmago, mesmo agora, quando posso ver e sentir você aqui, segura em meus braços. Eu sou o mais miserável pretexto para...

- Pare com isso. – ela disse. Seus olhos penetrando nos meus. Podia ver meu reflexo nos dela. Agonia havia tomado conta.

Percebi que não estava respirando – tenso demais para isso.

Ela segurou meu olhar enquanto organizava os pensamentos.

Esperei ansiosamente. Sentia que poderia morrer se ela me afastasse.

- Edward. – ela sussurrou meu nome e novamente, foi como se tivesse tomando uma dose de adrenalina. Meu corpo momentaneamente ganhou vida; porém, não durou muito. O que ela iria dizer?

- Isso tem que parar agora. Não pode pensar nos fatos desse jeito. Você não pode deixar que essa... essa culpa domine sua vida. Não pode assumir responsabilidade pelo que me acontece aqui. Nada disso é culpa sua, apenas faz parte de como a vida é para mim. Então, se eu tropeçar na frente de um ônibus ou o que quer seja da próxima vez precisa perceber que não cabe a você assumir a culpa. Não pode simplesmente correr para a Itália porque se sente mal por não ter me salvado. Mesmo que eu tivesse pulado daquele penhasco para morrer, isso teria sido opção minha, não culpa sua.

Ela sempre me surpreendia. Não aceitava ter minha culpa reduzida.

Ela me entendeu tão mal.

Bella continuou. Não fazia idéia como meu rosto estava e o que ele entregava.

- ... Pense em Esme, Carlisle e...

Ela parou subitamente e respirou fundo.

- Isabella Marie Swan. – não sei o que me fez dizer o seu nome daquela forma – Você acha que pedi os Volturi para me matarem porque me sentia culpado?

Se ela estava confusa antes...

Honestamente acreditava que ela havia entendido minhas motivações. Acreditei ter sido perfeitamente claro no passado.

- Não foi?

- Sentindo culpa? Intensamente. Mais do que pode compreender.

- Então... do que está falando? Não entendo.

- Bella, eu fui até os Volturi porque pensei que estivesse morta. Mesmo que eu não tivesse nada haver com sua morte – foi difícil dizer a última palavra – mesmo que não fosse minha culpa, eu teria ido à Itália. Claro que eu deveria ter sido mais cuidadoso... devia ter falado diretamente com Alice ao invés de aceitar o relato passado por Rosalie. Mas, na realidade, o que eu devia pensar quando o garoto – não queria pensar nas implicações da presença dessa pessoa na vida de Bella, não nesse segundo – disse que Charlie estava no enterro? Quais eram as chances? As chances... as chances sempre estiveram contra nós. Um erro depois do outro. Nunca mais vou criticar Romeo.

- Mas ainda não entendo. Essa é toda a questão para mim. E daí?

- Como? – agora eu quem não estava entendendo.

- E se eu estivesse mesmo morta?

A olhei sem conseguir ver aonde ela queria chegar. Será que Bella acreditava que sua morte não teria efeito sobre mim?

- Não se lembra de nada do que eu lhe disse antes? – a questionei. Só podia ser isso.

- Lembro-me de tudo o que me disse.

Ela enfatizou a palavra “tudo” o que facilitou meu entendimento.

Mesmo estando, aqui, ao seu lado, ela ainda dava valor a maior das mentiras. Ela ainda acreditava que eu não a queria.

Teria que ser claro nesse ponto.

Essa parte não seria difícil, muito pelo contrário, poder explicar a ela o quanto a amava era o que mais queria.

Toquei seu lábio inferior com a ponta de meus dedos.

Era quente e macio. Exatamente como recordava.

- Bella, parece que você é vítima de um mal-entendido.

Fechei meus olhos. Ela precisava entender. Ela precisava ouvir as palavras saindo de meus lábios. Ela precisava saber que as palavras em que ela decidiu acreditar – minhas últimas palavras a ela antes de partir – não passavam da mais absurda mentira.

- Pensei que já estivesse explicado com clareza. Bella, não posso viver em um mundo onde você não exista.

Era algo tão fácil para eu entender, mas aparentemente não fazia sentido para ela.

- Eu estou... confusa.  – Bella admitiu.

Olhei em seus olhos, em sua alma.

- Eu minto muito bem, Bella, tenho de ser assim.

Seu corpo se contraiu, paralisando-se. Minhas palavras foram recebidas como um choque.

Balancei seu ombro para que relaxasse, saísse daquela posição de estresse e me permitisse continuar.

Bella não se moveu.

- Deixe-me terminar! – implorei - Eu minto muito bem, mas, ainda assim, você acredita em mim com muita rapidez. Foi... doloroso.

Excruciante, descrevia melhor o que senti. O que sentia.

Não queria ter que recordar um dos momentos mais obscuros de minha vida, mas era necessário para fazê-la entender.

Ela esperou, ainda paralisada.

- Quando estávamos na floresta, quando eu lhe disse adeus... você não ia aceitar. Eu sabia. Não queria fazer aquilo... parecia que ia me matar... mas eu sabia que se não conseguisse convencê-la de que eu não a amava mais você levaria muito mais tempo para seguir com sua vida. Esperava que se você pensasse que eu estava em outra, também faria o mesmo.

Minhas intenções nunca foram tão puras. No entanto eu estava errado. Muito errado.

- Um rompimento sem dor. – ela sussurrou.

Ela me entendeu. Era um bom sinal. Comecei a me sentir com esperanças novamente.

- Exato. Mas nunca imaginei que seria tão fácil fazer voe acreditar! Pensei que seria praticamente impossível... que você teria tanta certeza da verdade que eu teria que mentir por horas para pelo menos plantar a semente da dúvida na sua mente. Eu menti, e lamento muito... lamento porque magoei você, lamento por ter sido um esforço inútil. Lamento por não tê-la protegido. Menti para salva-la, e não deu certo. Me perdoe.

Não era direito meu, mas não consegui deixar de questionar.

- Mas como pôde acreditar em mim? Depois de todas as milhares de vezes que disse que a amava, como pôde deixar que uma palavra anulasse sua fé em mim?

Sabia que ela me amou no passado, e estava tão certo de que ela entendia esse amor.

Tão certo, mas tão errado.

Bella não disse nada, ainda parada em completo estresse.

- Pude ver nos seus olhos, que você sinceramente acreditou que eu não a queria mais. A idéia mais absurda e mais ridícula... como se houvesse algum modo de eu existir sem precisar de você!

Precisava ouvir de sua boca...

- Bella – a sacudi, tentando tira-la de seu estado catatônico, talvez um pouco forte demais, ouvi seus dentes baterem – Francamente, o que você estava pensando?

As lágrimas começaram a descer descontroladamente por seu rosto. Ela parecia completamente desolada.

- Eu sabia. Sabia que estava sonhando. – ela soluçou.

O que eu teria que dizer para que ela acreditasse em mim?!

- Você é impossível. Como posso explicar de modo que acredite em mim? Você não está dormindo e não está morta. Estou aqui e eu amo você. Sempre amei você e sempre amarei. Fiquei pensando em você durante cada segundo que me ausentei. Quando lhe disse que não a queria, foi o tipo mais atroz de blasfêmia.

Era tão fácil dizer a ela que a amava. As palavras saiam de minha boca com a maior naturalidade, como se fossem impossíveis de se negar.

Bella balançou a cabeça.

Ela não pareceu ouvir a sinceridade em minhas palavras. Aquilo me entristeceu.

- Não acredita em mim, não é? Por que pode acreditar na mentira, mas não na verdade. – demandei. Precisava saber o que estava fazendo de errado aqui... por que ela não me entendia? Por que não acreditava?

- Me amar nunca fez sentido para você.  Sempre soube disso.

Ela ainda soluçava.

Absurda.

- Vou provar que está acordada. – disse com determinação.

Ela teria que acreditar em mim. Se Bella não acreditava em minhas palavras, talvez ela acreditasse em minhas ações.

Coloque minhas mãos em seu rosto – deixando claro o que iria fazer.

- Não, por favor. – ela sussurrou em uma voz cheia de tristeza.

Parei.

A proximidade me afetou. Desejo queimando dentro de mim. Podia sentir o sabor de seu hálito em minha língua.

- Por que não? – questionei, esperando pela resposta que me destruiria ou me faria o homem mais feliz do mundo.

- Quando eu acordar... tudo bem, esqueça isso. – ela disse quando ia protestar – Quando você partir de novo, já será bem difícil sem isso.

Me afastei para olhá-la melhor.

Agora suas reações passaram a fazer um pouco mais de sentido.

Bella achava que eu iria deixá-la novamente.

Esse era o motivo de seu comportamento hesitante?

Expressei minhas dúvidas em voz alta.

- Ontem, quando eu tocava em você, você estava tão... hesitante, tão cautelosa, e ainda assim era a mesma. Eu preciso saber por quê. É porque cheguei tarde demais? Porque a magoei muito? Porque você realmente seguiu com a sua vida, como achei que faria? Isso seria... muito justo. Eu não vou contestar sua decisão. Então não tente poupar meus sentimentos, por favor... só me diga se você ainda pode me amar ou não, depois de tudo que eu te fiz. Pode?

- Que pergunta idiota é essa?

- Só responda, por favor.

O tempo que Bella levou para responder pareceu uma eternidade. Eu estava ficando a cada segundo mais ansioso e desesperado.

O que iria fazer se ela dissesse que não me amava mais?

Podia sentir meu coração ser dilacerado, porque sabia que não podia fazer nada se seu amor por mim não existisse mais. Estaria apenas colhendo o que plantei.

E então ela falou, acabando com qualquer dúvida que existia.

- O que sinto por você jamais vai mudar. É claro que amo você - e não há nada que você possa fazer com relação a isso!

- Era tudo o que precisava ouvir.

E então eu estava no paraíso. Seus lábios eram tão suaves contra os meus. O familiar desejo tornando difícil controlar meus impulsos. Ela retribuiu o beijo de boa vontade. Não conseguia me imaginar sem isso, não conseguia me imaginar sem Bella. Nenhuma força no mundo me faria correr em direção oposta a ela. Eu não poderia, eu não queria. Nos entregamos ao beijo como nunca antes e percebi que estava completamente preso a ela. Seu corpo frágil, macio e feminino, aquecendo o meu. Seu toque era delicado contra minha face. Minhas mãos também memorizavam a sua.

Não existia nada nesse mundo que eu queira mais – Bella é tudo que preciso para sobreviver e ser feliz.

- Bella. – sussurrei seu nome com adoração em seu ouvido.

O coração dela batia tão alto. Coloquei meu ouvido gentilmente sobre ele.

Aquele som era o mais importante de meu mundo. Poderia ficar deitado ali para sempre, somente ouvindo.

Sua respiração ainda era ofegante quando falei novamente.

- A propósito, não vou deixá-la.

Nunca, nunca!

Não iria cometer o mesmo erro.

Bella não disse nada. Olhei para ela e puder ver que ainda não acreditava totalmente em minhas palavras.

- Não vou a lugar algum. Não sem você. – tentei assegurá-la. Ela não pareceu convencida.

- Só a deixei antes porque queria que tivesse a oportunidade de ter uma vida humana feliz e normal. Podia ver o que estava fazendo com você... mantendo-a constantemente a beira do perigo, tirando-a do mundo a que pertencia, arriscando sua vida em cada momento que estava comigo – aquela era a mais pura verdade e a idéia de que algum dia minha presença poderia ser responsável por sua morte me atormentou no passado.

- Então eu precisava tentar – continuei - tinha que fazer alguma coisa, e parecia que o único caminho era deixá-la. Se eu não achasse que você ficaria melhor, jamais teria tido a coragem de partir. Sou egoísta demais. Só você poderia ser mais importante do que eu queria... do que precisava. E o que quero e preciso é ficar com você, e sei que nunca serei forte o bastante para partir de novo. Tenho desculpas demais para ficar... felizmente! Parece que você não consegue ficar segura, por maior que seja a distância que eu coloque entre nós.

Ela definitivamente estaria mais segura agora. Eu tinha completo controle sobre minha sede e o fogo em minha garganta era mais do que bem vindo – apenas me fazia lembrar de que Bella estava viva.

- Não me prometa nada. – ela sussurrou.

Minhas palavras pareciam não surtir efeito. Ela não conseguia ouvir a profunda honestidade nelas.

E então a raiva – pela primeira vez desde que passei pela janela de seu quarto – a raiva ameaçou me subjugar.

Não estava com raiva dela, nem de suas palavras. Estava com ódio de mim. Bella... Bella parecia me ver como um ser ardiloso.

- Acha que estou mentindo para você agora? – demandei, tentando controlar minha fúria, para que ela não a interpretasse mal. Foi difícil.

- Não... não acho que esteja mentindo. – ela disse balançando a cabeça – Você pode estar sendo sincero... agora. Mas e amanhã, quando pensar em todos os motivos da sua partida? Ou no mês que vem, quando Jasper me der uma dentada?

Aquilo era algo a se pensar, mas eu não podia deixá-la! Ela precisava ver isso.

- Você pensou bem na primeira decisão que tomou, não foi? Vai terminar fazendo o que acha que é certo.

- Não sou tão forte como você pensa. O certo e o errado deixaram de significar grande coisa para mim; ia voltar de qualquer forma. Antes de Rosalie me dar à notícia, eu já deixara de tentar viver uma semana de cada vez, ou mesmo um dia. Lutava para suportar uma única hora. Era só uma questão de tempo... e não muito... para eu aparecer em sua janela e implorar para que me recebesse de volta. Eu imploraria com prazer agora, se assim você quisesse.

Ela fez careta.

- Não brinque, por favor.

Suas palavras me fizeram entender que implorar seria desnecessário.

Eu gostei muito disso.

Meu humor melhorou instantaneamente.

- Ah, não estou brincando. Poderia, por favor, procurar ouvir o que estou lhe dizendo? Vai me deixar tentar explicar o que você significa para mim?

Esperei para ver se ela realmente iria me ouvir. Esperei para ter sua completa atenção.

Mais uma vez, era fácil demais ser honesto quando se tratava de revelar meus sentimentos por ela. Era muito fácil amá-la.

- Antes de você, Bella, minha vida era uma noite sem lua. Muito escura, mas havia estrelas... pontos de luz e razão... depois você atravessou meu céu como um meteoro. De repente tudo estava em chamas; havia brilho, havia beleza. Quando você se foi, quando o meteoro caiu no horizonte, tudo ficou negro. Nada mudou, mas meus olhos ficaram cegos pela luz. Não podia mais ver as estrelas. E não havia razão para nada.

Era extremamente bom poder dizer isso a ela.

- Seus olhos não se acostumar. – ela rebateu.

- Esse é o problema... eles não conseguem.

- E as suas distrações?

Eu ri sem a menor dose de humor. Ela estava se prendendo a pequenos detalhes. Ela estava receosa em aceitar minhas palavras, minhas promessas mesmo ainda me amando.

Teria que ter paciência. Ela tinha todo o direito de duvidar.

- Só fazem parte da mentira, meu amor. Não existem distrações para a agonia. Meu coração não batia havia quase noventa anos, mas isso era diferente. Era como se meu coração não estivesse ali... como se eu estivesse oco. Como seu tivesse deixado com você tudo o que havia aqui dentro.

Nesse exato momento, era como se meu coração tivesse voltado a bater. Como se eu estivesse vivo, mas não como humano. Porque o que sentia agora era tão devastadoramente poderoso que um humano não agüentaria.

- Engraçado. – ela murmurou.

- Engraçado?

- Eu quis dizer estranho... – ela se corrigiu – Pensei que fosse só comigo. Também faltaram muitos pedaços em mim. Não consegui respirar por muito tempo... – ela respirou fundo, mais composta - E meu coração. Esse estava definitivamente perdido.

Finalmente, minhas palavras pareceram fazer sentido para ela.

Como uma criatura essencialmente egoísta, senti uma estranha forma de satisfação ao saber que ela entendia.

Não estava feliz por ela ter sofrido, claro que não. Mas talvez porque, só talvez, ela fosse capaz de me amar da mesma forma que um dia já amou.

Coloquei meu ouvido em seu coração novamente – me deliciando com o som.

- Então rastrear não foi uma distração? – ela perguntou.

Suspirei.

Agora que já havia falado tudo o que queria, precisava confessar o que não queria.

Não iria mentir para Bella.

- Não. Nunca foi uma distração. Era uma obrigação.

- Como assim?

- Embora eu nunca tivesse esperado nenhum perigo de Victória, não ia deixar que ela se safasse... bem, como eu disse, fui péssimo nisso. – admiti e continuei, sabia que Bella iria querer detalhes. – Eu a rastreei até o Texas e depois segui uma pista falsa até o Brasil... quando ela na verdade tinha vindo para cá.

Mal podia acreditar no tamanho de minha incompetência.

Dessa vez, Victória iria pagar um preço muito mais alto do que o inicial. Ela iria sofrer.

- Eu nem estava no continente certo! – como aquilo era frustrante. Não estava acostumado a falhar – E nesse meio tempo, pior do que meus piores temores...

Bella me interrompeu, horrorizada.

Por que?

- Você estava caçando Victória?

- Não me saí bem – respondi, tentando ver os motivos por trás do horror. Talvez ela estivesse surpresa com o tamanho de minha incompetência. Bella estava acostumada a pensar o melhor de mim... no passado.

- Mais me sairei melhor na próxima vez. Ela não vai poluir o ar perfeito respirando mais tempo. – prometi. Os dias de Victória estavam chegando ao fim.

- Isso está... fora de cogitação. – ela sussurrou dando ênfase a todas as palavras.

- É tarde demais para ela. Posso ter deixado escapar a outra oportunidade, mas agora não, não depois...

- Você não prometeu que não ia embora? – ela não me deixou terminar – Isso não é lá muito compatível com uma longa expedição de rastreamento, não é?

Franzi o cenho e um rosnado começou a se formar em meu peito.

Como caçá-la e ao mesmo tempo manter minha promessa a Bella?

Era impossível.

- Vou cumprir minha promessa, Bella. Mas Victória vai morrer. Logo.

Não conseguia pensar nela sem sentir o sabor metálico da vingança em minha boca.

- Não sejamos precipitados. Talvez ela não volte. O bando de Jake deve tê-la assustado. Não há motivo real para procurar por ela. Além disso, tenho problemas maiores do que Victória.

Não iria deixar minha responsabilidade ser transferida aos Quileutes – não mais, já que agora sabia exatamente o que estava fazendo - e o simples fato dela confiar neles me incomodou. E muito.

Ainda existia essa questão a se trabalhar. Uma questão tão importante quanto Victória, porque eles estavam aqui e Bella em sua completa inocência acreditava que podia estar segura próxima a um deles.

Não sabia ao certo se ela se referiu a eles como o “problema maior”. Mas eu definitivamente os via assim.

- É verdade. Os lobisomens são um problema. – concordei. Dessa forma ela iria saber o que eu pensava. Não que isso tenha feito muita diferença no passado.

Bella nunca teve o senso auto-preservação.

Ela bufou. Desprezando o perigo.

- Não estava falando de Jacob. Meus problemas são muito maiores do que alguns lobos adolescentes se metendo em problemas.

Estava prestes a protestar quando percebi que aquele momento não era o ideal. Precisava de tempo para pensar no que fazer.

Bella sempre foi muito teimosa. Além disso, curiosidade me tomou.

A que problema – que seria maior que Victória e os Lobos – ela poderia estar se referindo?

Aconteceram mais coisas que Alice não sabia?

Aquilo era muito possível

Trinquei meus dentes – era difícil deixar algo desse tipo para depois – não seria inteligente de minha parte discutir com ela agora e nós com toda a certeza discutiríamos. Bella havia fica muito próxima desse Jacob e isso me desagradava de diversas maneiras.

- Mesmo? Então qual seria seu maior problema? – demandei entre os dentes – O que em comparação, faria da volta de Victória uma questão menor?

- Que tal o segundo maior problema? – ela ofereceu, se recusando a responder minha pergunta diretamente.

Aquilo foi meio perturbador.

Por que ela não queria revelar seu maior problema? Eu não era digno o suficiente para saber? Ou ela acreditava que eu não poderia ajudá-la, da mesma forma que não a ajudei com relação à Victória?

- Tudo bem. – concordei.

Ela sussurrou as palavras como se alguém além de mim pudesse escutá-las.

- Existem outros que virão atrás de mim.

Suspirei.

- Os Volturi são o segundo maior problema? – isso era fácil o suficiente de lidar no momento.

- Você não parece se incomodar muito com isso.

- Bem, temos tempo para pensar no assunto. O tempo para eles significa algo muito diferente do que para você, ou até mesmo para mim. Eles contam os anos como você conta os dias – Bella não era prioridade para eles. Então essa parte não me preocupava tanto agora.

- Não me surpreenderia se você tivesse 30 anos antes de passar pela cabeça deles de novo.

O horror se tornou claro novamente em sua face. Seu corpo tensionou e as lágrimas começaram a se acumular.

- Não precisa ter medo. Não vou deixar que a machuquem. – prometi.

- Enquanto você estiver aqui. – ela rebateu.

Peguei seu rosto e olhei diretamente em sua alma.

- Nunca mais a deixarei.

- Mas você disse 30. O que? Você vai ficar, mas deixar que eu envelheça assim mesmo? Tudo bem.

Oh! Esse era o motivo do horror.

- É exatamente o que vou fazer. Que escolha tenho? Não posso viver sem você, mas não vou destruir sua alma.

Aquela possibilidade não existia em minha mente. Não mesmo.

- Isso é mesmo... – ela começou a dizer.

- Sim? – perguntei quando ela se calou.

- Mas quando eu ficar tão velha que as pessoas vão pensar que sou sua mãe? Sua avó?

As lágrimas escorriam impiedosamente.

Ela estava se preocupando com coisas que não tinham a menor importância. Toquei meus lábios em sua bochecha, aprisionando as lágrimas que escorriam por ali.

- Isso não significa nada para mim. Você sempre será a coisa mais linda de meu mundo. É claro que... se você ficar mais madura do que eu... se quiser algo mais... eu entenderei, Bella. Prometo que não vou atrapalhar se você quiser me deixar.

Eu tinha pensado nessa possibilidade a muito tempo. Seria doloroso, mas eu não poderia interferir nesse tipo de escolha.

- Entende que um dia vou morrer, não é?

Eu já havia pensado naquilo também.

- Vou logo depois de você, assim que puder.

Não havia motivos para viver se ela não estivesse aqui. Isso nunca mudaria.

- Isso é seriamente... doentio.

- Bella, é a única maneira certa...

- Vamos recapitular por um minuto – ela soou irritada – Lembra-se dos Volturi, não é? Não posso ficar humana para sempre. Eles vão me matar. Mesmo que só pensem em mim quando eu tiver 30 anos – ela fez careta – Acha mesmo que vão esquecer?

Bella parecia estar contando que eles não a esquecessem.

- Não, eles não vão esquecer. Mas...

- Mas? – ela me desafiou.

Eu sorri.

- Tenho alguns planos.

- E esses planos, esses planos estão baseados na minha permanência como humana. – ela supôs.

- Naturalmente. – disse com firmeza. Nada poderia me fazer mudar de idéia.

Nos encaramos por um longo minuto. Ambos irritados demais para falar. Depois, Bella afastou meus braços e colocou-se sentada na cama.

Aquilo me magoou profundamente. Meus termos pareciam ser inaceitáveis para ela.

- Quer que eu saia? – ofereci.

- Não. Eu estou saindo.

Também me sentei. Bella parecia procurar por seus sapatos. Ela ainda estava com as roupas que usou durante o vôo.

Estávamos no meio da madrugada, para onde ela iria agora?

- Posso perguntar onde você vai?

- Vou até sua casa.

Aquilo me surpreendeu e ao mesmo tempo apaziguou meu ânimo. Peguei seus sapatos – ela não estava procurando no lugar certo – e entreguei a ela.

- Tome seus sapatos. Como pretende chegar lá? – questionei.

- Na minha picape.

- Isso provavelmente vai acordar Charlie.

Ela suspirou enquanto passava os dedos pelos cabelos.

- Eu sei. Mas, sinceramente, do jeito que as coisas estão, vou ficar de castigo durante semanas mesmo. Que problemas mais posso ter?

- Nenhum. Ele vai me culpar, não a você.

Da mesma forma que já me culpava por tudo que havia acontecido. Ela iria fazer minha reparação com Charlie ainda mais difícil, senão impossível.

- Se tiver idéia melhor, sou toda ouvidos.

Fácil.

- Fique aqui.

- Nada feito. Mas você pode ficar, sinta-se em casa. – sua segurança me fez perceber que ela não iria mudar de idéia.

Bella seguiu até a porta. Aquilo fazia pouco sentido. Queria ela falar com Alice pessoalmente?

Bloqueie sua passagem. Ela olhou para a janela considerando usá-la.

Santo Deus! Era impossível fazê-la mudar de idéia com relação a qualquer coisa.

- Tudo bem. Vou lhe dar uma carona.

Ela deu de ombros. Para Bella a parte de como chegar a minha casa não era importante.

- Tanto faz. Mas acho que você deveria estar presente também.

- E por que isso?

- Porque você é muito apegado as suas opiniões, e tenho certeza que vai querer ter a oportunidade de expressa-las.

- Minhas opiniões sobre que assunto? – ela estava sendo vaga demais.

- Não se trata mais só de você. Você não é o centro do universo, sabe disso. Se você vai trazer os Volturi até nós por algo tão idiota como me manter humana, então sua família deve se pronunciar.

- Se. Pronunciar. Sobre. o que?

- Minha mortalidade. Vou colocá-la em votação.

Suas palavras me irritaram mais do que deveria. Não havia como impedi-la de ser absurda às vezes.

A única coisa que podia fazer no momento era sua vontade. A opinião de minha família não era importante nessa questão. Eles respeitavam qualquer decisão que eu tomava com relação a Bella, tenho certeza de que agora a respeitariam novamente.


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Notas finais do capítulo

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