POV Bela

Eu acordei e o sol já estava alto sobre a reserva. Sentia-me diferente sob diversos aspectos e ponderá-los ali, no quarto de Jake, onde seu cheiro impregnava tudo e se misturava ao meu era muito estranho.

Primeiro aspecto, toda essa estória de olfato super sensível. Ainda eram estranhos pra mim todos esses novos sentidos. Provar o ar e reconhecer cada componente da bandeja de café da manhã que Jacob preparava pra mim, a maresia que vinha da praia e o cheiro amadeirado e forte que exalava dele. Depois, podia ter certeza que enxergava mais claramente. Podia ver com detalhes um pássaro que fazia seu ninho no alto de grande abeto há pelo menos 1 km da casa de Billy. Meu corpo estava todo doido ainda, mas me sentia melhor que ontem. Algo havia mudado durante o sono e meus músculos haviam ganhado uma rigidez bonita. Eu não parecia um dos meninos quileutes. Sentia-me mais forte sem perder a feminilidade. Minha silueta s ganhou curvas que nunca existiram e eu estava mais saudável do que jamais fora.

Se meu corpo estava se adaptando a nova condição, meu interior estava em frangalhos. Sempre soube que haviam duas metades dentro em mim. Mas agora podia enxergar a paixão doentia e compulsiva por Edward rasgando feridas em meu ser. Aquilo não era natural, eu tinha certeza disso porque meus instintos faziam meu corpo tremer só com a lembrança daquele parasita. Eu nunca poderia odiar o Edward, ele estava marcado a fogo em meu passado, em contrapartida, a fera que eu tinha no meu peito me mostrava que ele era como um vicio e tal qual meu corpo, que se curava rápido, deveria expurgar esse amor doentio de mim e deixar que meus gens de loba juntassem os pedaços. Sim...essa era uma ótima explicação pro que eu sentia. Eu estava em cacos.

A porta do quarto se abriu e o cheiro da comida fez meu estomago roncar. Fiquei com vergonha porque eu nunca havia me sentindo tão faminta na vida.

- Acho que pelo menos o seu estomago está acordado. – ele disse rindo e colocando a mesa do café sobre minhas pernas. – como se sente?

- Fisicamente, nunca me senti melhor. – disse entre uma mordida e outra.

- Você parece bem, mas eu te conheço Bells. – Jake disse olhando através de mim.

- Eu preciso sentir-me inteira novamente. – eu disse esmorecendo – toda essa transformação me mostrou plenamente o amor errado e doentio que eu me impus pra estar ao lado de Edward e está doendo demais arrancar isso tudo agora. Meu corpo grita que é o certo a fazer, mas meu coração ainda está em frangalhos. Minha mente tem medo de mergulhar no vazio como daquela vez que me tornei um zumbi. Agora eu não posso me dar a esse luxo. Tenho uma missão a cumprir, mas tenho medo de não ser boa o bastante.

Eu havia aberto minha alma, como fizera diversas vezes pra ele, e podia ver em seus olhos que ele compartilhava de minha dor. Ele entendia que eu estava sofrendo e por mais que me desejasse longe do sugador de sangue, não gostava de me ver alquebrada desta forma.

- Dizem que o tempo cura essas feridas. Você tem todo o tempo do mundo agora e tenho certeza que seu corpo vai regenerar tudo isso mais rápido. – ele falava com sabedoria – nosso corpo se cura rapidamente, sabe como é, coisa de lobo. – o sorriso dele iluminou todo seu rosto e foi impossível não me sentir contagiada. Esperava que a minha alma também herdasse essa cura acelerada.

- Vou ficar mal acostumada assim. – eu já havia devorado toda a bandeja que ele trouxera – você não está com fome Jacob?

- Eu já tomei café com Billy antes de ele sair pra pescar com Charlie. Parece que seu pai tinha mais perguntas hoje. – ele trouxe a mente outro caco que eu precisaria juntar – Não se preocupe Bella. Seu pai tá aceitando bem tudo isso. – a sinceridade no sorriso dele me deixou tranqüila. Ele nem precisava ler minha mente pra saber o que pensava.

- Como é estar no bando? – estava curiosa com isso. – de certa forma, já me sentia parte como jamais havia me sentido em outro lugar.

- É uma grande família. Têm aquela implicância entre irmãos. Muitas estórias e eventualmente uma briga ou outra. Nada de novo. – Ele deu um sorriso como se lembrasse alguma história especial. Fiquei curiosa, mas resolvi não perguntar. Talvez fosse melhor não saber.

Jake já havia me contado sobre como era ser um protetor, mas entre alguém lhe contar e você vivenciar isso na pele há um grande abismo que eu tinha cruzado de catapulta, sem corda de proteção nem chance de retorno.

Ele levara a bandeja e eu podia ouvir-lhe lavando a louça na cozinha enquanto eu me vestia com uma bermuda jeans e uma regata vermelha, afinal o frio de Forks  jamais seria um problema novamente.

- Coloque isso no tornozelo – ele disse me passando um cordão de couro como o que ele usava pra amarrar sua própria roupa a perna.

- Nós vamos nos transformar?

- Pensei em irmos a pé mesmo. A casa da Emily não é longe e pegar um sol vai fazer bem a sua pele. – ele falou enquanto saiamos de braços dados pela reserva. Era flagrante o contraste da pele morena dele ante a minha palidez. Apesar de parecer que minha pele tinha uma cor mais saudável agora.

Foi uma caminhada silenciosa, mas não precisava ficar tagarelando com Jake. Tínhamos uma compreensão tão grande um do outro que só a companhia já era suficiente e não haveria palavras que descrevesse esse sentimento. Eu sabia que estava no caminho certo agora.

Não tardamos a chegar à casa de Emily e ainda do lado de fora eu podia ouvir a algazarra que faziam na sala. Jacob bateu na porta e entrou sem esperar convite, mas eu fiquei sem graça quando todos os olhares se voltaram em minha direção e um silêncio pesado se instaurou no recinto.

- Seja bem vinda novamente Bella. – Sam me saudou com gravidade e continuou – passei a noite ontem procurando nas lendas, algo que explicasse sua transformação. Não encontrando nas lendas, vasculhei os registros da reserva em busca de um parente Quileute em sua arvore genealógica, mas ainda não obtive sucesso. Sua entrada pro bando é uma realidade e queria que você entendesse que temos um orgulho enorme em lhe receber entre nós, mas deverás passar por um ritual pra ser aceita na tribo.

Eu olhava no rosto de cada um dos presentes e podia ver que todos estavam perplexos com a decisão de Sam. Não parecia ser algo corriqueiro o tal ritual e pelo semblante de Jacob, não deveria ser nada agradável. Meu sangue fervia ante as palavras do alfa e se fosse necessário cruzar o vazio de minh’alma novamente eu o faria. Porque não estaria só. Jacob e os meninos estariam comigo, nem que só em pensamento.

- Farei o que for necessário Sam. – estava me sentindo tranqüila com minha opção.

POV Jacob

Foi indescritível a minha felicidade de chegar a minha cama e vê-la repousando serenamente lá. Minha ronda me fez perder todo falatório que faz parte do começo do sono dela, mas ela estava sem pesadelos ali. Fiquei admirando-a até que os primeiros raios de sol penetrassem a janela quando achei melhor ir  fazer o café.

Billy acordou bem cedo e depois do café foi para casa do velho Ateara pra repassarem as lendas da tribo ou chegar a uma explicação pra mudança de Bella.

Já deviam ser por volta de dez horas quando finalmente ela acordou. Eu esquentei o café e o leite, arrumei os sanduiches e as frutas numa mesinha pra ela comer. Imaginava que estaria com fome e ela comeu tudo sozinha enquanto conversávamos sobre seus medos e angústias. Quem diria, há uma semana, que estaríamos tão próximos? Nem a vidente sanguessuga arriscaria tanto.

O assunto Edward ainda causava certo incomodo, mas sua nova natureza Lupina parecia estar ajudando a esclarecer alguns pontos importantes quanto a isso. Se eu pudesse acho que soltaria fogos de tanta alegria.

Enquanto eu cuidava da louça, Bella saiu arrumada do quarto com uma roupa que mostrava, com exatidão, como a mudança fizera bem pra bela. Ela estava ainda mais irresistível e tinha um ar de garota perigosa misturado com um corpo de curvas generosas. O que eu tava pensando? Ela tava gostosa! Eu ri do meu próprio pensamento. Essa mulher vai me tirar do sério desse jeito.

Quando chegamos à casa de Emily, estavam todos acabando o café. Foi hilário roubar um bolinho do prato do Quil. Acho que ele nem percebeu. Ficou olhando com cara feia pro Embry.

Sam inventou que Bella tinha que participar de um ritual Quileute pra fazer parte da tribo. Entrei em pânico. Meu corpo tremia fortemente e todo meu controle foi necessário pra que eu não pulasse nele. Ninguém nunca teve que passar por isso. Não entendi exatamente porque o Sam fez questão que fosse assim, mas ele teria que se explicar. Ah se teria!

POV Sam

Isabella era uma mulher guerreira. Quando se participa de um ritual nunca se sai incólume do mesmo. Algo muda em cada pessoa que dele participa, nem que seja apenas o conhecimento que advêm da participação. Todos sabiam que tomaríamos parte de uma celebração de purificação. Passar tanto tempo com os Cullen deve ter contaminado de alguma forma e afastar essa possibilidade era o deveria ser feito, mesmo que eu não soubesse o que poderia acontecer nesse procedimento. Era palpável a tensão, mas eu precisava fazer o que fosse melhor pra tribo e teria que ignorar, por hora, os olhares acusativos que Jacob me dirigia. 

O pai de Sue Clearwater era um grande curandeiro e durante minha infância lembro-me de ter o visitado algumas vezes com minha avó. Ele deixara registrado um livro com os rituais de cura e purificação de nossa tribo e Sue ainda os administra quando necessário. Pedi o tal livro emprestado e alguns conselhos quanto ao que fazer com Isabella Swan, uma loba de fora da aldeia dos quileutes.

Sue me falou sobre um poderoso ritual antigo que era usado nas futuras esposas dos guerreiros antigos quando estas não faziam parte da tribo. Esta cerimônia limpava o corpo e a alma de qualquer contaminação daninha que porventura estivesse naquele corpo. Mas uma vez começado o ritual, não era possível parar o encanto.

Bella não me perguntou os detalhes do que eu pedira a ela. Simplesmente entregou sua vida em nossas mãos.