No dia seguinte, o momento mais tenso foi o do café da manhã com os meus pais.

- Miley, o que está acontecendo? – Perguntou meu pai.

Ele sempre sabia o que se passava dentro da minha cabeça antes mesmo de olhar para mim. Bizarro.

 E como se as palavras dele tivessem um efeito mágico, minha mãe desviou a atenção das panquecas que estava fazendo, para ouvir minha resposta.

- Como assim, pai? Está tudo bem – falei com cara de paisagem. Minha mãe arqueou uma das sombrancelhas como se estivesse me obrigando a despejar tudo que estava preso na minha garganta. Suspirei.

Era de se esperar que eles percebessem meu – péssimo – estado de espírito depois das coisas que andaram acontecendo. Era de se saber também que eles me entenderiam. Eu acho.

- Vamos, nos conte. – Me encorajavam.

- Leslie e eu estamos brigadas.

Meu pai soltou um risinho e minha mãe voltou a olhar para suas – não tão mais – deliciosas panquecas.

- Isso é ruim, filha. Achei que você estivesse assim por causa do Nick.

Engoli meu pedaço de pão inteiro. Não falei nada por um momento esperando que um dos dois dissesse algo. Eu? Bem, não iria me prestar o papelão de ficar falando de garotos com o MEU PAI, então, sem dizer nada, me retirei da mesa, peguei minha mochila e sai para a escola.

Muitos pensam que a escola é um ótimo lugar para escapar de assuntos chatos com os pais.

Errado.

Leslie passou por mim, e eu jurei ter visto ela bater no meu caderno e derrubá-lo no chão de propósito. Eu, como toda boa atriz, dei um sorriso enorme e ainda acenei um tchauzinho.

Se é guerra que ela quer, é guerra que ela vai ter.

O meu único consolo seria a aula de história. Era com Nick do meu lado, me ajudando em qualquer coisa que eu precisasse. Finalmente um acontecimento não trágico.

O meu professor de história não era tão bonito quanto o de Biologia, mas irradiava simpatia.

- Boa tarde pessoal. Hoje nós vamos fazer uma prova surpresa que eu antecipadamente avisei.

Uma aluna que estava sentada atrás de mim, levantou o braço para falar, e com a permissão do professor disse, praticamente desesperada:

- Como assim avisou? Você não avisou nada, professor! – Bastou ela dizer isso para todos os alunos protestarem com gritos e acusações. O mais interessante é que, qualquer professor teria ficado furioso e mandado todos calarem a boca, mas a única coisa que ele fez foi sorrir e esperar que todos parassem para começar a se explicar.

- Claro que eu avisei antecipadamente. Queridos, eu entregarei a prova daqui a 3 minutos, de modo que avisei…. – Dizia ele checando seu relógio de pulso – 1 minuto e 39 segundos antes.

Suspirei.

Não, eu não havia estudado para a tal prova. Sim, eu estava completamente ferrada.

Ao término de toda a prova, fui até o birô do professor entregá-la e quando ia me dirigindo para a porta de saída senti alguém puxar-me pelo o braço.

Achei que fosse Leslie e já estava preparada para brigar, quando me surpreendi. Nick sorria e com a outra mão segurava diversas folhas rabiscadas.

Pude até perceber suas bochechas levemente coradas. Mas, tudo o que ele fez foi me entregar aquela papelada, apertar minha mão e sair rapidamente.

Sem querer que outras pessoas vissem o que ele havia me entregado, fui até o local mais desocupado do pátio e li as folhas com calma. Eram composições. E o nome de todas era Miley.

Meu coração se encheu de alegria e senti vontade de gritar histericamente, mas tive que manter o controle. Não podia pagar mico agora, com essas folhas nas mãos.

Dobrei e coloquei todas cuidadosamente na minha mochila, com os meus olhos encharcados de felicidade.