Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 9
VIII - Impasse


Notas iniciais do capítulo

hello!!!

voltei!!

bom, eu sei que demorei um tiquinho, mas aconteceram alguns imprevistos, embora minhas provas já tenham acabado, ontem eu não tive tempo para nada!! Acordei muito mal e eu mal suportava olhar para tela do pc!! sério!! eu nem fui a escola de manhã por causa disso!! e à noite eu fui pro técnico, um pokinhu tonta, mas fui!!

Mas hoje já estou melhor!! e terminei esse cap!! enfim...

Boa leitura!!



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Capítulo VIII – Impasse

 

“Você não pode ser cuidadoso demais

Quando tudo isso está esperando por você

Não chegará mais perto?

Você tem que chegar perto um pouco mais

Mais, mais, mais, mais”.

 

(Paramore – Careful)

 

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Um mês passou-se desde então. Tudo retornando exatamente ao que era antes daquele incidente. Exceto pela ausência de Max em todos os meus dias. É claro que o delegado Percy jamais cessou as buscas, espalhou cartazes de procura-se por toda South Hooksett, vasculhou cada centímetro, olhou debaixo de cada pedra, mas era como se ele tivesse simplesmente se esfumaçado e evaporado no ar.

 

E meu coração apertava-se a cada dia mais e mais, como se um cabo de aço o tivesse envolvido e o espremia em um aperto esmagador, tomando todo o meu fôlego e trazendo uma grossa camada de nuvens cinza-escuras até mim, onde elas logo trataram de ajeitar-se, bloqueando o pouco de raios luminosos que eu já tivera. Escurecendo meu céu, e tornando minha vida já atribulada em um temível e desagradável pesadelo.

 

Depois de meu ataque no hospital, na manhã seguinte - depois de passar uma madrugada inteira e parte da manhã completamente sedada – eu recebi alta. E no mesmo dia eu tive de ir até a delegacia e prestar um depoimento, onde claramente eu não pude esconder quase nada.

 

Minha mãe quase teve um ataque quando soube onde eu havia ido – na antiga e hoje abandonada casa dos Hamilton – onde eu lhe contara sobre a chegada de Roy e seus amigos, o assédio a que fui submetida, e a surra horrorosa que meu amigo tomou.

 

E depois eu tive de começar a mentir, foi algo instintivo, talvez porque no fundo eu soubesse que se contasse toda a verdade em todos os seus mínimos detalhes, minha mãe iria internar-me em hospital psiquiátrico.

 

Claro que eu contei sobre as estranhas coisas que nos atacaram, mas eu omiti a parte de que as “coisas” eram na verdade uma planta que parecia ter vida própria e sede por sangue e morte e duas criaturas com olhos negros como ônix que saltavam através dos galhos das árvores mais altas.

 

E então eu vi-me diante de um impasse, eu não sabia ao certo se deveria esconder a presença de Aidan naquela floresta naquela noite tumultuada.

 

Gaguejei, as palavras fugiram-me, a cor sumiu de meu rosto e minhas mãos soaram. E então... eu menti. Não contei a eles sobre Aidan, não havia como. Havia duas razões básicas para que eu não contasse nada às autoridades a despeito de sua presença lá.

 

A primeira e mais óbvia, ninguém iria acreditar em mim. Ninguém jamais iria conseguir imaginar um rapaz como ele, tranqüilo, silencioso, sereno, lutando da forma assustadora que eu vi; torcendo seus pescoços e tudo o mais. Eu sabia que havia algo de sobrenatural nele, aquilo irradiava de todo o seu corpo, e formava aquele grosso manto de segredos que sempre o envolvia.

 

A segunda e mais óbvia ainda era que ele era perigoso, eu vira isso na forma como ele agiu naquela floresta. Ele parecia mais um assassino frio e elegante a um estudante de intercâmbio oriundo da Itália que simplesmente viera estudar nessa cidadezinha hipócrita e parada.

 

Então o silêncio fora a minha melhor opção. Para o meu próprio bem e o bem daqueles próximos a mim, eu deveria permanecer calada e omitir a presença de Aidan naquela floresta. Também tive de acrescentar que eu não me lembrava de como desmaiara durante o ataque e muito menos quem afinal havia me trazido até o hospital.

 

Em parte porque realmente não havia muito a ser relembrado, e por outro lado porque tudo o que me vinha à mente era um forte e vergonhoso devaneio de que eu estava desacordada e alucinando sobre estar nos braços de um arcanjo celestial.

 

Isso encerrou por hora, o meu depoimento, e cessaram, ainda que temporariamente, as desconfianças por parte do delegado e da minha mãe.

 

Embora ela começasse a me encarar de uma maneira estranha, os olhos negros e profundos sobre mim, fitando-me tão intensamente. Talvez porque no fundo ela soubesse que eu escondia algo, algo que não quisesse lhe contar.

 

Minha mãe odiava ver-me guardando segredos dela, e por várias vezes eu tive a estranha sensação de que ela sabia o que eu estava escondendo, mas quem sabe ela temesse que eu tivesse outro ataque como no hospital e então se limitava a tentar desvendar cada mistério que eu vinha guardando para mim mesma naquele último mês.

 

Talvez com um pouco de sorte ela jamais descobrisse o que de fato havia acontecido comigo naquela noite, e então eu poderia mantê-la afastada desse mundo tenebroso ao qual eu adentrei.

 

E eu fazia de tudo para fazê-la recuperar a confiança em mim, como encorajá-la a ir a uma exposição de flores exóticas em Suncook, algo que ela estivera ambicionando há muito tempo, e que por causa de meu mau comportamento quase fora cancelado.

 

Eu a instigava a comparecer, seriam no máximo sete dias, e eu garanti a ela que havia tido a minha cota de aventuras e que seria capaz de me manter a salvo e longe de confusões por uma semana.

 

Logo tudo estava resolvido. Minha mãe iria partir na terça-feira de manhã, mas não ia de carro. Claro que eu logo suspeitei que Bill – seu admirador fiel – estava envolvido nisso. Fato que se confirmou quando minha mãe pigarreou, quase sufocando com o café que ela bebericava e então desviou seus olhos dos meus, encerrando o assunto.

 

Mas tudo estava combinado, e eu senti que tranqüilizando minha mãe e incentivando-a a viajar para fazer algo do qual ela gostava, eu consegui por algum tempo afugentar as suas especulações acerca do que realmente havia acontecido naquela noite.

 

Claro que depois do que houve, no dia seguinte toda a cidade já estava sabendo do ocorrido, e agora eu virara o motivo das fofocas e o centro das atenções.

 

Na segunda-feira – depois de muito discutir com minha mãe, eu consegui convencê-la de que estava bem e de que seria mentalmente capaz de enfrentar uma multidão novamente e então eu fui à escola – embora tenha arrependido-me imediatamente de fazê-lo.

 

Assim que eu passei pela porta de vidro todos direcionaram seus olhares para mim, olhando-me estranhamente. Parecia até ironia que depois de tanto ser ignorada por todos eles, eu sentisse falta daquele manto de invisibilidade que sempre me cobriu e que sempre me fez passar despercebida por todos eles.

 

Aquilo logo se transformou em um falatório dos infernos, eu podia sentir que todos ao meu redor estavam falando de mim, apontando para mim e o pior, encarando-me estranhamente.

 

Mas a pior parte mesmo foi quando eu entrei na sala para a aula de inglês e então eu o vi... sentado em sua carteira, a mesma posição, o mesmo silêncio.

 

Sua expressão estava inflexível como sempre, mas pelo menor dos segundos ele deixou que seus olhos profundos caíssem sobre mim e eu estremeci debaixo da intensidade daquele olhar.

 

Na semana seguinte, na terça-feira eu entreguei meu trabalho e ele também. Surpreendeu-me quando levantamos nós dois ao mesmo tempo, dirigimo-nos até a mesa do professor e depositamos simultaneamente o bloco de folhas.

 

E então um calafrio atingiu-me, ao senti-lo tão próximo ao meu corpo, tão próximo de mim novamente.

 

A forma como o ar agitou-se ao meu redor, seu perfume vindo até minhas narinas, onde eu o sorvi com a maior intensidade que pude e por fim, os seus olhos novamente sobre o meu rosto.

 

Mas foi apenas isso. Eu não me atrevi a encará-lo nem mesmo uma vez sequer. Tinha medo de vê-lo daquela forma novamente, frio, calculista, elegante, veloz e poderoso, muito poderoso.

 

E enquanto as semanas avançavam, eu sentia todos os meus temores dissolverem-se em uma curiosidade mórbida.

 

Eu tivera muitos impulsos durante esse tempo, fortes, muito fortes. Eu queria de alguma forma desvendar o que havia acontecido ali, uma vez que já havia caído nesse abismo mesmo, não faria muita diferença evitar o sobrenatural ou não.

 

E conforme os dias avançavam, eu sentia aquela chama por desejar saber a verdade crescer, crescer e inflamar em meu peito.

 

 Eu precisava descobrir a verdade, precisava saber o que estava havendo na pacífica e até mesmo tediosa South Hooksett. Porque de alguma forma o perigo havia chegado até ela, estendido suas garras sobre todos nós, e anunciado sua chegada através de sussurros apavorantes que se dissipavam ao sabor do vento.

 

Eu sentia que aquele dever era o meu fardo, aquela missão era minha; e ela incendiava em meu coração, vencendo todos os meus temores e empurrando-me para apenas uma direção, a direção de Aidan Satoya. Porque só havia uma única maneira de descobrir o que estava passando-se ali, e esta maneira era descobrindo quem realmente ele era.

 

Então, ainda naquela melancólica manhã de segunda-feira, eu me decidi. Ia de qualquer forma descobrir o que estava acontecendo a esta cidade e eu faria tudo para chegar até o fundo desse mistério, começando por descobrir quem realmente era Aidan.

 

Eu tinha consciência de que no dia seguinte minha mãe partiria para Suncook a fim de comparecer à exposição de flores, então eu tinha tempo, tinha liberdade para fazê-lo, só precisava saber usar esses dois quesitos ao meu favor.

 

O céu nublado talvez naquele momento pudesse representar o meu estado de espírito; melancólico, confuso, porém não havia sinais de qualquer precipitação, então eu soube que estava bem emocionalmente para fazer aquilo que estive ensaiando há pouco mais de uma semana – falar com Aidan e exigir dele uma explicação para o que tinha acontecido.

 

Eu pretendia pegá-lo com a guarda baixa, na saída da escola, com uma multidão ao nosso redor, apenas meras testemunhas para o caso de nosso conversa tornar-se hostil, e então eu despejaria todas as minhas perguntas, todas as minhas dúvidas sobre ele.

 

Talvez fosse mais difícil do que aparentava arrancar a verdade dele, mas caso isso acontecesse, eu teria o meu plano B, que seria posto em ação assim que minha mãe viajasse no dia seguinte.

 

Assim eu estaquei diante da soleira da porta da sala de aula, puxei o ar até que ele passasse por meus pulmões e então entrei...

 

Uma figura estranha aos meus olhos apareceu diante de mim, os imensos cachos ruivos e brilhantes, os olhinhos verdes como duas esmeraldas pequeninas e cintilantes, o rosto com traços delicados, lábios cor de cereja, e várias sardas espalhadas pelas maçãs do rosto.

 

Notei que ela estava distraída, andava olhando para baixo, os olhos tentando decifrar o conteúdo do que eu deduzi ser um horário; então ela era uma novata.

 

Ela só se deu conta de minha figura petrificada na porta quando trombou comigo, porém com sua estatura baixinha seu rosto atingiu apenas o meu pescoço. Seus cachos imensos fizeram cócegas no meu queixo.

 

Vi ela afastar-se desnorteada, os olhos suplicantes, os lábios entreabertos, as mãos espalmadas, claramente um pedido de desculpas.

 

- Ah, desculpe-me, por favor! Eu juro que não a vi!

 

Ajeitei a alça da pesada mochila em meus ombros.

 

- Está tudo bem. – eu a desculpei, mas notei que a menina batia com o punho na própria cabeça.

 

- Ah, que droga! Eu sou tão desastrada! Nem consigo ler essa maravilha de horário e ainda por cima esbarro nos outros! Argh!

 

- Está tudo bem, é sério, não foi nada.

 

- Não, você não está me entendendo, eu posso ter esbarrado na minha futura-melhor-amiga! Ah, que droga! Eu não faço nada certo!

 

Ri de leve de sua expressão engraçada, ela era uma figura e tanto.

 

- Bom, então por que não me deixa ajudá-la com seu horário? – ofereci-me para ajudá-la, na esperança de que ela cessasse aquele seu ataque.

 

- Tudo bem – ela passou-me a folha – é muito gentil da sua parte.

 

Analisei o papel por alguns segundos e depois o ofereci de volta a ela.

 

- Bom, pode ficar por aqui mesmo, sua primeira aula é inglês com o Senhor Johnson.

 

A menina irradiou felicidade, comprimindo o papel em seu peito.

 

- Puxa, muito obrigada! Você acaba de me salvar de uma humilhante ida a secretaria!

 

- De nada. – murmurei.

 

Ela sorriu e em seguida estendeu-me sua mão, eu a peguei e nos cumprimentamos.

 

- Sou Tamara Sullivan.

 

- Agatha Bryce. – disse-lhe calmamente.

 

Ela sorriu radiante novamente e então sem mais cerimônias, enganchou seu braço no meu e conduziu-me até o fundo da sala, onde ela fez questão de sentar-se ao meu lado.

 

Até que o sinal tocasse, ela tratou de alimentar toda a nossa conversa, onde ela contou-me que viera de Asheville, uma cidade localizada no estado da Carolina do Norte, no condado de Buncombe.

 

Ela chegara ainda ontem, e a mãe já a havia matriculado na South Hooksett High School, e que o motivo de sua vinda para cá era que seu pai herdara uma propriedade nos arredores e decidira mudar-se, trazendo toda a família consigo.

 

Descobri que ela possuía um irmão gêmeo de nome Peter, que ela descrevera como sendo o seu fardo nesta terra.

 

Mas, então algo conseguiu desviar a minha atenção da menina novata que eu acabara de conhecer, era Aidan irrompendo pela sala, com seu rosto enigmático e seus olhos insondáveis.

 

E então como no último mês inteiro havia acontecido, seus olhos castanhos caíram sobre mim, fitando-me com aquela intensidade. Onde depois de apenas um segundo, eu tive de desviá-los, voltando meus olhos para o chão da sala. Não vi quando ele se sentou em seu lugar de sempre, do outro lado do meu.

 

Mordi meus lábios. Eu estivera tão determinada a confrontá-lo na saída da escola. Estive arquitetando cada detalhe, cada palavra que eu usaria. Mas, ao sentir ele olhar-me daquela maneira novamente, foi como se toda a minha coragem tivesse criado pernas e fugido de mim.

 

E então uma voz bem baixinha despertou-me de meu devaneio.

 

- Você gosta dele, não é?

 

Levantei meus olhos, aturdida, e vi que era Tamara a falar comigo.

 

- O que você disse? – eu a questionei.

 

- Até eu posso ver, Agatha. O modo como você olhou para aquele garoto agora a pouco...

 

Bufei, mudando minha posição na carteira.

 

- Isso não tem nada a ver com meus sentimentos, acredite em mim.

 

Ela lançou-me um olhar de zombaria e depois riu.

 

- Tudo bem, não irei perturbar mais a minha recente-melhor-amiga.

 

Arquei uma sobrancelha. Ela estava falando sério? Queria mesmo aproximar-se de alguém como eu? E então pensei em quão terrível haviam sido as minhas semanas sem a presença de Max para descontrair meus dias e alegrar minhas manhãs.

 

Tinha sido um fardo estar ali sem ele.

 

E então algo espremeu meu coração em meu peito, era apenas o cabo de aço que o envolvera nesse último mês, lembrando-me de que ele ainda estava ali, sufocando-me com aquela dor.

 

Bem, companhia era algo que eu realmente não podia dispensar agora. Com tantas coisas acontecendo simultaneamente, tantos pesos em cima de meu corpo, prendendo-me. Eu devia estar preparada para sofrer um lapso a qualquer momento, como no hospital.

 

E quando isso acontecesse seria melhor ter um ombro para poder desabafar e chorar. Exprimir todas as sensações negativas e sufocadoras.

 

 Logo o sinal tocou e Tamara voltou a sua atenção ao professor, eu também o fiz, embora em minha mente um turbilhão de confusão se manifestasse. O que eu deveria fazer? Estivera tão segura ainda pouco, o que havia de errado comigo? Eu devia mesmo temê-lo?

 

Olhei rapidamente para o meu lado esquerdo, vi Tamara observar minuciosamente enquanto o senhor Johnson explicava-nos um dos períodos mais marcantes da literatura inglesa, vi ela morder a tampa de sua caneta enquanto anotava aqui e acolá.

 

E então eu não contive o meu impulso de olhar para o meu outro lado, onde Aidan estava. Sim, eu o fiz. E arrependo-me amargamente de tê-lo feito, porque ele já me olhava, daquela maneira... novamente.

 

Suspirei derrotada, enquanto tornava meus olhos para meu caderno em branco em cima de minha mesa. Seria uma longa manhã.

 

 

 

Na hora do almoço, Tamara fez questão de me acompanhar até o refeitório onde ela tratou de se acomodar ao meu lado na mesa, nunca deixando de falar, nem mesmo por um minuto.

 

Claro que eu prestava atenção na maior parte da conversa, só me perdia por alguns poucos segundos, quando minha mente disparava na direção de um certo moreno italiano, meus olhos automaticamente varriam a todo aquele ambiente. Mas era como no primeiro dia de aula, Aidan não estava ali, nunca estivera.

 

- Ei, amanhã temos educação física, não é? – ela perguntou-me, observando seu horário, o cenho franzido, tentando identificar o que as miúdas letrinhas significavam.

 

- Sim. – concordei e depois bebi mais um gole do refrigerante que eu tinha em mãos.

 

Tamara sorriu maliciosamente, e eu não compreendi. O que se passava na cabeça dela?

 

- O que foi? – eu perguntei curiosa.

 

Ela riu de mim. Não entendi absolutamente nada. Eu tinha dito alguma coisa engraçada?

 

- Você está brincando, não está, Agatha? – perguntou-me ela divertidamente.

 

- Não. – murmurei com a maior segurança possível. Tamara era realmente uma menina muito diferente.

 

- Ah, pare, Agatha! Vai me dizer que você nunca babou pelos meninos do time de futebol?

 

- Não? – devolvi sua pergunta com outra, esbugalhando meus olhos.

 

- Jura! Você nunca fez isso?

 

Ri de leve de sua expressão engraçada.

 

- Não mesmo. – garanti-lhe, totalmente segura.

 

- E por quê?

 

Fui categórica quando lhe respondi novamente.

 

- Porque são todos um bando de idiotas com falta de massa encefálica?

 

- Não, bobinha! Porque todos são altos, bronzeados, lindos e provavelmente amanhã... – ela lançou-me outro de seus olhares maliciosos – eles estarão lindos e suados! Isso não é maravilhoso?

 

- Não! É totalmente nojento! – eu rebati.

 

- Ah, Agatha! Vamos, onde está o seu senso de humor? Você está contrariando a natureza feminina! As meninas têm por obrigação vigiar os garotos treinando! Essas são as regras.

 

- Desculpe se estou quebrando as suas regras. – murmurei divertidamente.

 

Tamara revirou os olhos para mim. Depois seu tom de voz foi tão firme que eu não tive como contestá-la.

 

- Estou vendo que terei de introduzir você nesse mundo maravilhoso. Não se preocupe, amanhã nós iremos assistir aos treinos dos garotos!

 

- Puxa! – murmurei, irônica, – Garotos suados e fedidos! Que menina não gostaria de viver nesse mundo maravilhoso?

 

- Esse é o espírito! – ela cutucou-me no ombro e sorriu.

 

Foi a minha vez de revirar os olhos. Parecia que não haveria nenhuma maneira de escapar dessa “experiência” amanhã. Tamara parecia ser o tipo de garota que quando coloca algo na cabeça, nem os céus conseguem tirá-la.

 

Ri de leve novamente, imaginando-me já, na arquibancada da escola, vendo enquanto... os garotos exercitavam-se. Eu tinha de admitir que poderia ser ao menos engraçado.

 

De repente uma figura apareceu bem atrás de Tamara e gritou um Bu! Em sua orelha. Tamara pulou da cadeira, em seguida virou-se para dar um belo tapa na cabeça do individuo.

 

Só então reparei nas semelhanças entre ambos, então aquele era o irmão gêmeo de quem ela havia me falado. Notei os cabelos ondulados no mesmo tom de vermelho, porém, os do garoto eram mais puxados para o cobre, e também eram sedosos. Os olhos eram igualmente verdes e cintilavam de alegria, só dei por falta das leves manchinhas espalhadas por suas maçãs do rosto; ele não possuía nenhuma sarda e sua pele parecia muito macia. Os lábios estavam repuxados em um terno sorriso que ele dirigia à irmã emburrada.

 

- Ora, Peter! Por que você sempre tem que bancar o palhaço! – repreendeu ela.

 

- Desculpe, não consegui evitar. – disse ele em meio a pequenos risos.

 

Arquei uma sobrancelha, a relação dos dois devia ser no mínimo interessante, já que ela referia-se a ele como o seu fardo na terra.

 

De repente o menino notou a minha figura silenciosa na mesa e tornou os seus olhos para mim.

 

- Ah, maninha! Já está esgotando a paciência das outras meninas? – perguntou ele em um tom divertido.

 

Tamara mostrou-lhe a língua e depois tratou de nos apresentar.

 

- Peter, esta é a Agatha. E Agatha, este é o meu irmão.

 

Ele estendeu a mão automaticamente e pela segunda vez naquele dia estranho eu não hesitei quando a peguei e o cumprimentei.

 

- Prazer, Peter.

 

Ele riu novamente, dessa vez em tom debochado.

 

- Você deve estar tendo muita paciência com a minha irmã, estou enganado?

 

Antes que eu sequer pudesse lhe responder, Tamara interrompeu-nos.

 

- Na verdade, seu bobo, a Agatha foi muito gentil comigo, ela ajudou-me com meu horário. Ao contrário de você que deve ter ficado dando voltas pela escola inteira!

 

- Se é isso que você acha. – murmurou ele despreocupadamente. Depois seus olhos voltaram para a minha face, o tom despreocupado desaparecendo. – Ei, Agatha, soube que está havendo testes para o time de futebol? Os rumores são verdadeiros?

 

- São sim.

 

Peter sorriu-me e eu desviei meus olhos dos dele.

 

- Que ótimo! Mas o que houve? Alguém se machucou?

 

- Não... na verdade houve um pequeno... incidente. – quase engasguei ao lembrar do que verdadeiramente havia ocorrido com os três garotos que jogavam no time, Roy e seus dois amigos.

 

- Ah! – ele disse-me.

 

Assenti em silêncio. Depois Tamara estendeu a palma de sua mão, bloqueando a nós dois, sua expressão estava zangada.

 

- Tudo bem, Peter, agora pare de monopolizar a minha mais nova melhor amiga. Vamos, vá embora daqui! Chispa!

 

Peter riu dela novamente depois olhou para mim, um sorriso nos lábios.

 

- Foi um prazer conhecê-la, Agatha! Acho que nos vemos depois!

 

Assenti novamente sem dizer absolutamente nada. Depois Tamara suspirou, a cabeça quase tombando na mesa.

 

- Agora você sabe o que eu tenho de passar todos os dias!

 

- Você tem sorte por ter um irmão, ser filho único às vezes não é nada bom.

 

Ela olhou para mim, incrédula.

 

- Você diz isso só porque nunca teve um!

 

Eu ri novamente e depois o sinal tocou. Tamara ficou emburrada porque agora teríamos aulas diferentes e ela não teria com quem conversar. Tentei animá-la, dizendo que antes dela chegar ali nenhuma menina falava comigo de qualquer maneira, não importava a aula.

 

Então ela me disse que todas eram um bando de nojentas e patricinhas. Sorri para ela e depois segui para a aula de trigonometria.

 

Sem a presença de Tamara para distrair minha mente com assuntos supérfluos, aquela sensação voltou a me apanhar. Havia um frio no meu estômago, tanto que parecia estar até mesmo nevando lá dentro. Talvez houvesse até bonecos de neve.

 

Meu coração martelava em meu peito, minha respiração estava descompassada. E eu acabei descontando todo o meu nervosismo em uma folha de papel, torcendo-a, amassando-a, rasgando-a... quando dei por mim os pedacinhos de papel espalhavam-se por minha mesa.

 

Droga! Pensei comigo mesma. Por que eu estava tendo aquele ataque agora? Eu não estivera preparando-me para executá-lo durante todo o final de semana? Então por que eu estava com tanto medo agora?

 

Eu mal prestava atenção no que a Senhora Smith explicava. Minha mente estava a quilômetros de distância dali.

 

E então quando finalmente, finalmente o sinal tocou, meu coração quase parou de palpitar, eu devo ter me tornado tão branca quanto cera.

 

Hesitei em minha carteira, minhas mãos agarradas às laterais da mesa. E agora? Eu não sabia como fazê-lo?

 

Sacudi minha cabeça, o que eu estava fazendo? Eu não ia deixar-me abater por isso! Eu iria até Aidan e exigiria que ele me contasse a verdade. Bom, pelo menos com uma multidão como testemunhas ele não poderia torcer meu pescoço.

 

A coragem inflou meu peito, fez-me ter a absoluta certeza de que eu poderia fazer aquilo. Apanhei minha mochila e disparei na direção da saída da escola, com sorte eu o acharia caminhando por entre os alunos.

 

Passei como uma louca pela porta de vidro, empurrando muitos alunos, espremendo-me no meio deles e então eu o achei.

 

Ele caminhava devagar, deixando a frente do colégio. Obriguei meus pés a correrem, ignorando a apunhalada de medo que tentara esmigalhar e moer toda a minha coragem.

 

- Aidan! – gritei aos quatro ventos, torcendo para que ele me ouvisse. – Aidan, espere!

 

Depois de alguns segundos, ele virou-se para mim, a expressão despreocupada. Parei diante dele, ofegante por minha corrida.

 

E então as palavras fugiram...

 

Ao olhar em seus olhos foi como se algo tivesse aberto minha cabeça e retirado tudo de lá de dentro, minha mente ficou completamente vazia e a única coisa que eu fazia era permanecer boquiaberta diante dele.

 

Tentei encontrar minha voz, mas foi em vão, eu parecia estar toda oca por dentro, debaixo daquele olhar tão, tão... intenso.

 

Eu parecia estar derretendo sob seus olhos, eles mais pareciam chamas vivas, consumindo-me por inteira. Mas, se seus olhos tão belos e profundos eram chamas, então que eu queimasse até a morte.

 

Pigarreei, tentando endireitar a minha postura diante dele. Olhei para meus próprios pés na esperança de conseguir raciocinar e então a coragem infamou em meu peito novamente.

 

- O que foi, Agatha? – ele perguntou-me calmamente, o tom de voz tranqüilo. Então percebi o quão boba eu tinha sido em temê-lo, eu tinha associado o Aidan que eu conheci, o Aidan que vira todo o meu sofrimento, toda a minha tristeza, a aquele assassino elegante e veloz naquela noite na floresta.

 

Tornei a fitá-lo, e então reconheci de imediato aquele seu olhar estranho que parecia penetrar em minha carne e enxergar todo o meu interior.

 

Tentei forçar minha voz, pigarreei novamente, mas tudo o que obtive foi um fraco sussurro.

 

- Diga-me a verdade...

 

Aidan franziu seu cenho, mas não estava zangado comigo, estava apenas confuso.

 

- Que verdade, Agatha? – ele perguntou-me.

 

A chama em meu peito explodiu e eu finalmente consegui coragem suficiente para peitá-lo.

 

- O que aconteceu naquela noite, na floresta. – minha voz reassumiu seu tom firme, então eu soube que finalmente havia deixado que minha chama falasse por mim.

 

- Eu não sei do que você está falando. – murmurou ele, sua voz um tanto fria.

 

Mas aquilo não foi suficiente para apaziguar a chama de minha coragem, ela me impulsionava, dava-me forças, como um combustível de um foguete.

 

- Não me diga que eu não sei o que estou dizendo! Eu não fiquei louca, Aidan! Eu sei o que vi lá e você estava...

 

Aidan interrompeu-me, sua voz cortando-me, fria, severa. Mas eu em nenhum momento recuei ou me demovi de minha decisão.

 

- Você não estava vendo claramente, Agatha! Pode ter alucinado, pense bem.

 

Dei um passo em sua direção, invadindo seu espaço, meu rosto ficou a centímetros do seu.

 

- Eu já disse que sei exatamente o que vi! Não tente me dizer que não foi verdade!

 

- Agatha... – ele suspirou. Minha coragem pareceu intimidá-lo.

 

Ele baixou seus olhos tristonhos até o chão, mas eu não movi os meus de seu rosto, ainda esperava que ele contasse toda a verdade.

 

De repente, ele ergueu seus olhos novamente, e eu queimei sob a intensidade de seus olhos, como se a fogueira agora se tornasse em um fogaréu sem controle.

 

- Não! – ele disse – Fique longe de mim, Agatha. Afaste-se enquanto ainda tem tempo.

 

Suas palavras foram como chicotes, rasgando e dilacerando a minha carne. Ele queria que eu desistisse daquilo e ficasse longe dele. Mas por quê?

 

- Não... – sussurrei. – conte-me a verdade, Aidan, eu preciso saber!

 

- Não, Agatha! – ele insistiu.

 

A umidade ardeu em meus olhos, eu estava ficando desesperada, ele não parecia ceder a minha coragem e determinação, pelo contrário, parecia querer combater a minha chama com a sua, ainda maior e mais escaldante.

 

- Por favor,... – eu lhe supliquei – meu amigo estava lá... – pensei em Max e no que poderia ter acontecido com ele e a umidade intensificou-se em meus olhos – meu amigo foi atacado... e eu preciso... preciso saber o que houve com ele!

 

Seu tom de voz continuou firme, e não amoleceu como eu teria previsto.

 

- Sinto muito por seu amigo, mas você jamais o verá novamente, Agatha. Conforme-se, aceite isso e fique bem longe de mim.

 

Eu o encarei, aturdida. Como assim eu jamais veria Max outra vez? A umidade em meus olhos ardeu mais e eu senti quando ela escorreu de meus olhos, percorrendo o meu rosto.

 

Fiquei encarando o nada, completamente chocada. Parecia que eu virara uma estátua de pedra ou de mármore, eu mal me mexia.

 

E então eu vi a figura de Aidan afastar-se de mim, dando-me as costas e partindo rumo ao seu lar.

 

A chama em meu peito pareceu reagir uma última vez, dando seu último suspiro e eu só me dei conta de que o havia impedido quando senti seu pulso quente e forte ao redor de meus dedos. Eu o havia segurado, eu o havia detido.

 

- Aidan, por favor... – tentei uma última vez convencê-lo a me dizer a verdade.

 

Seus olhos detiveram-se na lágrima que ainda escorria vagarosamente por meu rosto, seus olhos amoleceram, pareceram encher-se de compaixão. Mas eu ainda via aquele fogo queimar dentro deles, então eu soube que não havia como vencer essa batalha.

 

- Eu sinto muito, Agatha, mas eu realmente não posso fazer isso. Por favor, aceite isso e pare de perseguir a verdade. Você viu o que aconteceu aos outros, você testemunhou isso, então faça algo sensato e fique longe de mim. Para a sua própria segurança você não deve mais me procurar, muito menos falar comigo.

 

Ele puxou seu pulso delicadamente do meio de meus dedos e não houve resistência por parte deles. A dor da derrota deixou-me completamente desolada. Eu mal tinha consciência dos alunos ao meu redor, encarando-me estranhamente.

 

Com as costas da mão, limpei os vestígios que a lágrima deixara em meu rosto. Respirei fundo e dei meia-volta, partindo também.

 

Aidan estava disposto a fazer-me esquecer daquele ocorrido, ele queria que eu fizesse algo sensato, que eu esquecesse absolutamente tudo. Mas eu não podia. Eu não conseguia.

 

Havia algo dentro de mim que me impelia a chegar até o fundo daquele mistério. Algo que me dizia para não desistir. E era exatamente o que eu faria, eu não iria desistir, não importa o que Aidan dissesse-me.

 

Não importava mesmo...

 

Virei-me para trás, observando sua figura partindo, caminhando tranqüilamente pela calçada.

 

Virei-me para a frente novamente, e então tomei a minha decisão. Eu iria descobrir de qualquer maneira, não me importavam as conseqüências, não me importava mais nada. Tudo o que eu queria era desvendar os segredos dele e eu faria qualquer coisa para conseguir tal proeza.

 

No dia seguinte, com a viagem de minha mãe para Suncook, eu iniciaria o meu plano B para descobrir tudo sobre Aidan. Sim, eu o faria, estava decidida e nada iria me demover de minha decisão. Os segredos de Aidan Satoya estavam com os dias contados. Sim, definitivamente eles estavam.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

hahaha!! essa Agatha hein!! o q será q ela vai aprontar??
alguma aposta??

bom, eu decidi introduzir mais personagens a história, pq sem o Max ela iria ficar muito só e praticamente não iria interagir com outra pessoa que não fosse o Aidan!! então ela acaba de ganhar oficialmente mais dois amigos!! rsrsrsrs

e sério, qm nunca teve uma amiga doidinha feito a Tamara? eu já tive tantas!!

ahhhh eu não resisti em usar a música do Paramore!! sou louca por ela!! eu conheci a banda através de Pressure...
*tudo bem qm nunca jogou THE SIMS na vida??*
mas foi com Decode mesmo q a banda me conquistou e hoje eu adoruu as músicas deles!!

Ainnn obrigada a Sonhadora Girl por recomendar a minha fic!!
Obrigada flor!! vcs me fazem muito feliz!!

e no próximo capítulo, preparem os babadores, pq um certo moreno-lindo-italiano irá tirar a camisa por aqui! ops sem mais spoiler!!

Até a próxima!!

Beijoss