Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 25
XXIV - Decisão final


Notas iniciais do capítulo

Oie, voltei! E primeiramente...

Mil desculpas!

Eu havia previsto que ia postar esse cap ainda na terça, aproveitando o feriadão...

Mas, a minha net e o meu pc não concordaram comigo e tramaram contra mim e por consequência, eu formatei meu pc 2 VEZES! e o técnico só arrumou minha net ontem, quando o cap ainda tava cru!

Mas enfim espero q curtam esse cap super romântico q eu dedico a mariajulia_09 q recomendou a música do lifehouse!
Muito obrigada mesmo!

Boa leitura!



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Capítulo XXIV – Decisão final

“Porque somos eu e você e todas as pessoas,

Com nada a fazer, nada a perder,

E somos eu e você, e todas as pessoas e

Eu não sei porque não consigo tirar meus olhos de você”.

(Lifehouse – You and Me)

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Os dias voaram depois de meu encontro pavoroso com os Devoradores de Alma. Na sexta-feira à noite, John apareceu em casa, completamente impecável, pronto para apanhar minha mãe.

Era impossível descrever a aura de felicidade e satisfação que a rodeava naquele momento. E uma certeza dominou-me, minha mãe havia encontrado a sua segunda chance de ser feliz na vida.

E depois quando ela voltara para casa radiante, cantarolando e rodopiando, eu tive que sorrir.

Claro que eu não cobraria respostas dela, eu sentia que ainda era um pouco cedo para pressioná-la, e eu não queria assustá-la de forma alguma. E o seu relacionamento com John ainda estava no começo.

Quem não gostava muito dessa idéia era Bill, que andava até mesmo distante da loja. Fico perguntando-me o que faria se conhecesse John. A diferença entre os dois era hilariante.

E a noite do baile de primavera finalmente chegou, para a alegria de Tamara e o meu completo desespero. Eu não tinha a mínima idéia de como agir em um.

Mas ela logo tratou de tranqüilizar-me, dizendo “acalme-se, tudo dará certo”, “não é um bicho de sete cabeças”, “pare com isso, até parece uma criança indo ao dentista”.

E enquanto eu tentava debilmente acalmar-me, Tamara tratava de procurar por tudo o que precisaria. Sim, eu havia aceitado aquela loucura: deixar que ela me arrumasse para o baile.

Onde eu estava com a cabeça?

É claro que ela havia insistido tanto naquilo que eu acabara por ceder, como sempre eu não tivera a menor chance. Era como tentar discutir com um graveto, você jamais venceria.

Tamara foi até o banheiro no fim do corredor, enquanto eu deixava meus olhos vagar por seu quarto. O que eu podia constatar? Ela ainda era uma menininha meiga, isso estava na cara devido aos vários bichinhos de pelúcia empoleirados em cima de sua cama.

O papel de parede que recobria a todo o quarto era de um tom de rosa claro, e as cortinas, brancas de babados pendiam da janela no lado oeste do cômodo.

Eu estava sentada em sua cama, em meio a todos aqueles bichinhos, senti uma brisa suave irromper por todo o quarto e chocar-se contra a minha pele.

No horizonte o sol já estava se pondo, e pequenas nuvens deslizavam pelo céu, evidenciando que seria uma noite sem precipitações, fresca, mas não exageradamente quente, como uma perfeita noite de primavera.

Meus pensamentos dispararam até Aidan, onde ele devia estar agora, se ele também estava pensando em mim.

Logo Tamara voltou, trazendo nas mãos uma toalha, um roupão branco e vários vidrinhos coloridos que eu não tinha a mínima noção do que eram ou poderiam ser.

Ela entregou-me tudo aquilo e apontou para a pequena porta de madeira nos fundos do quarto.

- Pronto, pode usar o meu banheiro. Use todos esses produtos. – murmurou ela, apressada.

- E para que são? – perguntei, arqueando minha sobrancelha.

Ela riu de leve.

- Sem perguntas, fofa, apenas faça o que estou dizendo.

- Sim, senhora. – retruquei, em um tom obediente e depois rumei na direção da pequena porta, trancando-a e deparando-me com a pequena banheira branca.

Suspirei e tratei imediatamente de fazer o que Tamara havia ordenado. Embora eu tivesse utilizado todos aqueles esfoliantes e sais que ela havia me dado e tivesse me sentido revigorada como nunca na vida, talvez não fosse algo que eu quisesse repetir sempre. Tamara aparentava levar tudo muito a sério.

Enrolei-me no roupão e sequei meus cabelos com a toalha que ela havia me dado. Saí para o quarto já me deparando com algo que eu pensei que jamais veria. Em cima de sua penteadeira havia tantos produtos, tantos estojos de maquiagens diferentes, que eu me senti quase em um verdadeiro salão de beleza.

- Tudo isso é seu? – perguntei, chocada.

Ela sorriu e deu de ombros.

- Sou uma menina muito precavida.

E logo eu já era a sua cobaia para testar diferentes tonalidades de maquiagem. Eu fazia careta em algumas, mas de outras até que eu gostava.

Terminei com algo não muito chamativo, mais suave e Tamara aprovou. Depois ela já secava meu cabelo com o secador, enquanto conversávamos sobre banalidades.

E então ela encheu-me de bobis, enquanto ela mesma tomava a liberdade de aprontar-se. Suas mãos ágeis logo transformaram o liso de meus cabelos em grossos cachos. E depois prendiam algumas mechas com presilhas decoradas com flores de strass.

E eu devo admitir que estava gostando daquela parte. Eu não parecia eu. De certa forma ela outra pessoa que me encarava no reflexo daquele espelho. Alguém feliz, alguém que nunca tivera um vazio dominando a sua vida. Alguém completamente normal.

Levantei-me satisfeita da pequena banquetinha de sua penteadeira e logo ela entregou-me o vestido que nós havíamos escolhido. Digo nós porque a opinião dela foi crucial. No final, eu e ela concordamos que o vestido marfim, com uma faixa negra abaixo do busto, caiu como uma luva em mim.

Eu o vesti com a ajuda dela e depois a ajudei a vestir o seu, um lilás de alças finas, justo até a cintura, onde depois ele abria em uma saia rodada belíssima. Também a ajudei a prender o arranjo de flores em seu coque elegante, onde várias mechas ruivas soltavam-se, como molinhas.

Eu não havia escolhido um sapato de salto agulha, mesmo porque eu jamais ia conseguir equilibrar-me em um. Mas já Tamara havia escolhido uma sandália prateada, com muitos strass nas tiras finas e delicadas e um salto que me dava medo só de olhar.

Ela entregou-me os adereços finais, nada mais do que um brinco discreto e uma pulseira. Depois nós duas estávamos prontas.

Minha mãe ia pegar-me em mais ou menos dez minutos, como havia sido combinado. Ela jamais ia ter tanta paciência e tanto pulso firme como Tamara tivera para me convencer a estar ali, arrumando-me para um baile.

Então ela puxou-me para fora do quarto, onde nós duas descemos as escadas como mísseis e então estacamos na sala, e o motivo eu já descobrira: Peter estava ali, vestido com seu terno elegante e o suéter por baixo.

Pelo menor dos segundos vi que seus olhos arregalaram-se, depois ele sacudiu a cabeça e disfarçou, eu apenas me senti envergonhada. Nunca havia aparecido tão produzida em público antes, muito menos diante de um garoto.

Tamara puxou-me para a sua frente, fazendo-me dar um pequeno giro.

- E então, eu fiz ou não fiz um bom trabalho? – perguntou ela, gabando-se.

Peter sorriu e eu fiquei completamente desconcertada.

- Você está... linda, Agatha. Realmente, você está... está incrível. – espere, ele estava corando?

- Obrigada. – agradeci, meio encabulada.

- Ei, não há porque agradecer, só estou dizendo a verdade. – retrucou ele.

Tamara colocou ambas as mãos em meus ombros, claramente me empurrando para fora da sala, e longe da vista de Peter.

- Isso é ótimo, só que ela não é para o seu bico, maninho. Agora, com licença, nós estamos partindo.

- Tamara, eu... –tentei discutir, mas como em todas as outras vezes, fora inútil. E não houve mais discussão, ela levou-me para fora, onde já estava escurecendo.

Logo seria noite e lembrar-me desse fato agitou algo em meu estômago. Ah, era apenas aquelas coisinhas rodopiando nele. Minhas mãos suaram imediatamente e minhas pernas ficaram bambas. Tamara percebeu imediatamente o que estava havendo comigo e desaprovou meu nervosismo.

- Ah, não, Agatha, ficar nervosa agora não! Parece até uma noiva indo para o altar! – reclamou ela.

Lancei-lhe um olhar de desculpas.

- Se eu disser que for, você acreditará em mim?

- Não seja dramática! Agora se recomponha, você não pode estar assim quando o Aidan te ver!

Aidan...

Pensar nele só me fez ficar ainda mais nervosa. Afinal, não era qualquer baile, não para mim, e não que eu já tenha ido a muitos. Mas o fato é que todo o meu futuro seria decidido ali. Sim, estava na hora de comunicar-lhe a minha decisão.

A minha decisão... Não! Eu não podia fraquejar agora. Sacudi minha cabeça e espantei aqueles pensamentos. Foquei-me somente no que me interessava, no que eu desejava, no que eu necessitava mais do que ar, mais do que qualquer outra coisa: a presença dele na minha vida.

O som de pneus no asfalto alertou-me: minha mãe havia chegado. Despedi-me de Tamara, mas ela pegou-me de surpresa e apanhou-me em um abraço de urso que quase me sufocou.

- Er, Tamara, os vestidos... – alertei-a de que nosso abraço podia amassar ou amarrotar os tecidos leves, então ela separou-se de mim no mesmo instante.

- Opa!

Eu sorri e ela devolveu-me o sorriso, seus olhos verdes estavam empolgados, como sempre.

- Obrigada por tudo, eu lhe devo uma! – agradeci-lhe.

Ela deu de ombros, ainda sorrindo.

- Ei, amigas são para isso.

Despedi-me dela uma última vez e depois caminhei até o carro – era impossível correr para mim, mesmo com um salto médio. Acenei para ela e depois entrei no carro de minha mãe. Seus olhos, assim como os de Peter, esbugalharam no mesmo instante.

- Ah, meu amor, eu não acredito, você está... está tão linda!

- Tamara fez um bom trabalho. – admiti, mexendo de forma nervosa no tecido da saia.

Minha mãe lançou-me um olhar de descrença.

- Minha filha, você já é linda.

Evitei olhá-la, se fizesse isso, enrubesceria indubitavelmente e isso não seria nada bom, corar na frente da minha mãe, nunca, jamais, totalmente fora de cogitação.

Minha mãe tornou a sua atenção para a frente, sorrindo e então deu a partida no carro. A casa de Tamara ficava mais ou menos afastada do colégio, que seria o local do baile. Então, durante longos minutos o silêncio prevaleceu dentro do carro, sendo cortado apenas pela música de fundo, brega, tocando na rádio local. Cidades pequenas, eu tive de lembrar esse fato a mim mesma.

Revirei os olhos e tornei minha atenção para o nada, vendo enquanto as casas passavam pela janela, todas pareciam iguais a meus olhos, ou será que eu estava tão distraída que mal prestava atenção realmente no que via?

Finalmente o céu já estava negro, o manto escuro o havia recoberto. Milhares de pontinhos brilhantes sobrepunham-se a negridão, acompanhada do círculo prateado majestoso da lua cheia. Nuvens escuras deslizavam pelo céu, e um vento leve tratava de empurrá-las. E era exatamente como eu havia imaginado.

Na frente do colégio, vários arranjos de flores já haviam sido postos, decorando a entrada do imenso ginásio. Muitos alunos já estavam lá, rindo, divertindo-se.

Minha mãe estacionou o carro do outro lado da calçada e então seus dedos moveram-se até o botão do rádio, desligando a música brega de fundo. Meu coração acelerou, era algo totalmente diferente imaginar-me em um baile e depois realmente estar em um.

Fitei o semblante de minha mãe, ela estava quieta demais e isso me alarmou. Ela suspirou, parecendo buscar forças para me falar algo. E então sua voz doce e suave permeou meus ouvidos.

- Querida, eu... – ela pausou, suspirando novamente – Agatha, eu... sei que sempre me mostrei muito protetora em relação a você. Sei que às vezes pude parecer meio severa, mas meu bem, eu quero que saiba que você é o bem mais valioso que eu possuo, você é tudo para mim, querida.

- Ah, mãe... – sussurrei. Depois eu não consegui conter meus atos, lancei-me em sua direção, abraçando-a, onde seus braços receberam-me de forma carinhosa e afetuosa. Ela fungou, então eu soube, ela estava chorando.

Afastei-me dela para fitar seus olhos negros e chorões, limpei suas lágrimas com meus dedos e sorri.

- Eu confiarei em você a partir de agora, meu bem. Sejam quais forem as suas decisões, eu a apoiarei. – murmurou ela e depois me abraçou novamente.

Era bom saber que eu tinha o apoio de minha mãe nesse momento, na verdade o fato dela confiar em mim, acreditar que eu posso escolher o que seja melhor para mim mesma, fortaleceu-me, deu-me mais coragem e eu tinha a certeza absoluta naquele momento de que estava tomando a decisão certa. Não havia erros, não havia enganação. Aquela era a minha decisão, a que definiria a minha vida, o meu destino para sempre.

Recompus-me e saí do carro, atravessando a rua agora deserta. Eu estava decidida, eu levaria aquilo até o final, até as últimas conseqüências. Eu não abriria mão de Aidan, não desistiria de nosso amor, eu ficaria ao lado dele pelo tempo que o destino permitisse, sabendo durante todo esse período que o dia da despedida chegaria, que nós seríamos separados a qualquer momento. Sim, havia o rompimento. Mas eu o protelaria até o último segundo.

Eu seguraria o adeus em meus lábios até que realmente chegasse o momento e então nós tivéssemos de nos separar, para sempre...

Adentrei ao ginásio da escola, todo decorado para parecer um salão de festas, repleto de guirlandas de flores, papéis crepons, fitas coloridas e um globo brilhante no meio do salão.

Assim que entrei, a música dançante cessou, todos direcionaram seus olhares para mim, seus olhos estavam arregalados e os lábios entreabertos. Ninguém realmente acreditava que eu estava ali, e o pior, de vestido.

Reprimi o riso e avancei rumo à multidão. Passei através de todos eles, enquanto seus olhares pareciam ter sido pregados em meu rosto. Alguns cochichavam, outros simplesmente não conseguiam e piscavam várias vezes para se certificar de que não estavam alucinando.

Depois de alguns segundos, uma música lenta recomeçou e logo todos já haviam se esquecido de minha presença ali. Devo ter percorrido todo aquele salão, mas não havia o menor sinal de Aidan ali.

Era impossível que ele estivesse escondido em meio à multidão, seu porte o denunciaria, e seu rosto não podia misturar-se junto dos outros meninos. Não, definitivamente não podia.

Estaquei em um dos cantos, estaria ele atrasado? Seria mania de um Mediador? Atrasar-se para um compromisso? Eu duvidava disso, mas estava louca para encontrar qualquer explicação para a sua ausência ali.

Meus olhos disparavam para a multidão, sempre esperançosos de encontrá-lo ali, de que ele chegaria ali a qualquer segundo. Mas eles sempre retornavam decepcionados, então ele não viria.

Suspirei, o que eu podia esperar? Ele não pertencia ao meu mundo. Jamais pertenceu. Pelo canto dos olhos vi Tamara acenar para mim do outro lado do salão, ela estava acompanhada por Bryan e Peter estava com uma menina que eu nunca havia notado antes.

Ela gesticulou para que eu fosse até ela, mas eu hesitei. O que seria melhor? Ficar de vela para dois casais, ou permanecer plantada ali sozinha?

Ouvir a palavra sozinha em minha mente fez com que algo brotasse algo dentro de mim, um sentimento esmagador, uma angústia. Não sei quando exatamente decidi deixar aquele salão, só tive consciência de dar meia-volta, virar-me abruptamente e então me chocar contra um corpo quente e forte. E braços fortes envolveram minha cintura. Toda a minha angústia esvaiu-se no mesmo instante.

Porque era Aidan, ele havia chegado, ele estava ali, abraçando-me no meio de toda aquela multidão. Sorri e depois repousei minha cabeça em seu ombro.

Depois de um tempo que ao meu ver parecer interminável, afastei-me para olhá-lo, ele não trajava mais do que uma camisa social branca, com alguns botões abertos, revelando um pouco de seu pescoço e de seu peitoral, bem informal.

Mas mesmo assim ele estava divino, absolutamente perfeito.

Seu semblante estava sereno, como sempre. E de repente, tudo o que eu tinha para lhe falar, fugiu de meus pensamentos. Eu não lembrava nem mesmo meu nome, não com seus olhos fitando-me daquela maneira. Nunca ele havia me olhado daquela forma, e eu via nas profundezas de seus orbes, eu via que aos seus olhos, eu estava linda, eu estava mais do que linda na verdade, seus olhos não mentiam.

Permaneci boquiaberta por um bom tempo, antes que seus lábios projetassem-se em um sorriso que eu jamais vira. Tão belo, tão terno, e esse sorriso arrancou todo o meu fôlego, ou talvez eu é que tivesse esquecido de respirar diante de seu olhar tão intenso.

Uma de suas mãos subiu até minha face, e seus dedos afagaram minha pele de forma tão suave, eu estava sonhando? Não, eu não estava sonhando.

Mesmo assim, eu não podia parar de acreditar que aquilo tudo era um sonho, do qual eu ia acabar despertando a qualquer momento. Seus dedos acompanhavam cada linha de meu rosto e por um instante eu não tive como resistir, cerrei meus olhos, não tendo consciência de mais nada ao meu redor.

- Agatha, você está tão bela, - ele riu baixo, interrompendo-se – eu nunca vi algo tão belo em toda a minha existência. Eu nem consigo encontrar palavras para descrevê-la.

Eu sorri e abri meus olhos a fim de encontrar sua face novamente. Ele parecia tão hipnotizado, ele não estava mentindo, não mesmo.

Minhas mãos subiram até seu pescoço, envolvendo-o. E seus braços estreitaram-se ao meu redor.

Escondi meu rosto em seu pescoço e ele suspirou.

- Eu fiz isso por você. – sussurrei e ele reclinou seu rosto, encaixando-o na base de meu pescoço, depositando um casto beijo em minha pele sensível. E eu mal acreditava no que estava havendo; nós estávamos dançando, movendo-nos sob o ritmo suave daquela música, deixando-nos embalar por aquele momento, como qualquer outro casal presente ali. O que não era bem uma verdade, pelo menos, Aidan não era como os outros garotos ali. Não, ele jamais fora como eles. Ele sempre carregara um fardo imenso. Tendo sido treinado desde menino para uma tarefa árdua e pesada: caçar e matar. Ele carregou esse jugo por tantos anos, foi vítima do destino implacável, e cometeu tantos erros. Mas isso não o impede de lutar por sua felicidade agora, embora seu passado esteja sempre presente em sua vida e jamais o deixe em paz, isso não interfere em sua luta desesperada por aquilo que ele deseja, aquilo que eu também desejo: a sua companhia, o seu amor.

- Aidan... – chamei-o e ele assentiu, monologo.

- Hmm...

- Tem algo que eu preciso lhe contar. – confessei-lhe e ele enrijeceu no mesmo instante. Claro que ele já havia captado o meu estado de espírito, ele já sabia, eu havia tomado minha decisão e ia lhe comunicar, naquele instante, naquele local, em seus braços.

Porém, antes mesmo que eu sequer tivesse alguma chance de afastar-me dele e fitá-lo, ele apertou-me mais contra o seu corpo e seus lábios encontraram minha orelha, sussurrando.

- Venha comigo antes.

Eu assenti, não podia recusar aquele seu pedido e então ele soltou-me, segurou em uma das minhas mãos e puxou-me, costuramos em meio aos casais que ainda se deixavam embalar pelo ritmo suave da música. E logo nós havíamos alcançado a porta de vidro do ginásio que estava sendo utilizado como salão.

E saímos para a noite fresca, o luar junto das estrelas era nossa única fonte de iluminação. Ao longe a música ainda podia ser ouvida e Aidan estacou diante de um pequeno palquinho de madeira que haviam montado, com várias flores incrustadas nos alicerces e que depois pendiam de suas extremidades, formando uma espécie de teto floral.

Eu não tinha mais nada contra as flores. Acho que compartilhávamos agora do mesmo estado de espírito: alegre e cheio de vida.

O perfume que elas exalavam era tão suave, que preenchia a todo aquele ambiente, concedendo-lhe vigor e vivacidade.

Aidan continuou puxando-me junto a ele, enquanto seus pés subiam os degraus de madeira do pequeno palco e conduzia-me até seu centro.

E então ele estacou, virou-se para mim novamente, e em seus lábios um sorriso formara-se. Como eu não podia acostumar-me a vê-lo tão feliz, tão espontâneo? Parecia que seus lábios haviam sido feitos para sorrir, seus olhos tinham de transbordar felicidade, e não permanecerem sombrios e vazios, sérios e vagos.

Ele suspendeu minha mão que estava presa a sua e então a moveu até seu ombro, repousando-a lá. Sua mão deslizou até minha cintura, trazendo-me para mais perto de si. Sua outra mão flutuou até a minha mão livre e a pegou, seus dedos entrelaçaram-se aos meus e eu sorri, sustentando meu olhar até o dele.

E eu acabei por me perder em seus olhos, todas as palavras que eu estivera segurando na ponta de minha língua, simplesmente sumiram. E ele moveu-se, levando-me consigo. Movemo-nos graciosamente por aquele pequeno palco de madeira. Eu ri um pouco, não estava acostumada a aquele seu lado tão romântico.

- Não pensei que dentro de suas extensa lista de habilidades, dançar seria um de seus atributos.

Ele rebateu meu comentário, ainda sorrindo.

- Você está se esquecendo da época em que eu nasci. Cavalheirismo era algo indispensável para qualquer homem que se prezasse.

- Eu sei disso. – sussurrei – Só nunca te imaginei em uma situação como essa.

Ele reclinou sua face até a minha, seus lábios roçaram no alto de minha cabeça.

- Eu lhe disse, você me mudou por inteiro. – sussurrou ele.

- Eu sei, isso também aconteceu comigo. – repliquei, e depois pousei minha face em seu ombro largo. E então eu deixei embalar-me por todas aquelas sensações de paz e tranqüilidade. Parecia que nada seria capaz de nos abalar naquele momento. Como em todas as vezes que estava em seus braços, eu sentia-me forte, corajosa, revigorada, renovada, como se nada pudesse atingir-me, como se nada fosse capaz de tal.

Eu sentia-me única...

Fechei meus olhos, inspirando seu cheiro maravilhoso. E nós continuávamos nos movendo de forma suave e graciosa, rodopiando vagarosamente, enquanto eu submergia naquele sonho de felicidade, embebedando-me completamente com seu néctar puro e irresistível.

- Agatha... – ele chamou-me, despertando-me de meu sonho, sua voz estava abafada.

Ele parou de mover-se, estacando. Afastei-me dele para fitá-lo, e lá estava aquela sombra obscura dominando seus olhos, corroendo toda a felicidade que ainda a pouco eu via transbordar deles como um recipiente completamente cheio que não mais continha o conteúdo em seu interior.

Eu não lhe disse absolutamente nada, apenas o encarei em silêncio, esperando que ele tomasse a iniciativa de falar-me, e assim foi, depois de longos segundos imerso em seus próprios pensamentos.

- Você sabe que isso não poderá durar para sempre. – sussurrou ele, a voz colérica.

- Sim, eu sei.

Ele soltou minha mão, usando-a para segurar em meu rosto e fazer-me encará-lo.

- Então, provavelmente, você também sabe que mais cedo ou mais tarde, eu terei de perdê-la. – ele trincou os dentes e semicerrou seus olhos castanhos – Eu não sei como poderei sobreviver a isso, nem ao menos se algum dia poderei curar as feridas que essa despedida inevitável causará a nós dois.

Ele pausou, buscando forças para prosseguir em seu discurso.

- O que eu devia fazer nesse exato momento, o que seria correto e melhor para nós dois, era deixá-la, enquanto ainda há tempo, enquanto nós não vivemos o suficiente desse amor para torná-lo eterno, pelo menos para você. Porque eu sei que jamais poderei amar outra como eu amo você. – confessou-me ele, sua voz ganhava cada vez mais um tom de seriedade e tristeza ao fundo – Agatha, eu... eu devia deixá-la, ainda nessa noite. Eu estive pensando muito nessa possibilidade, o que seria realmente melhor para você. – e então, seus olhos recaíram ainda mais calorosos e apaixonantes até meu rosto – Mas, eu simplesmente... não consigo, depois de vê-la essa noite, tão linda, tão especial, tão única, eu... – ele lutou com as palavras novamente - eu não consigo encontrar forças para deixá-la, não mais.

Toquei sua face e então o abracei, passando meus braços ao redor de seu corpo e enlaçando-o, trazendo-o para mais perto de mim. E perdemo-nos novamente um no outro, tanto tempo passou-se antes que ele afastasse-se de mim para me fitar.

E então chegou a minha vez de falar.

- Aidan, eu... – fechei meus olhos e inspirei fundo antes de prosseguir – eu também estive pensando no que seria melhor, não apenas para mim, mas para você também. Durante esses dias tive tanto medo de perdê-lo, estive pensando somente no momento em que teria de lhe dizer adeus. Mas então eu percebi algo... – interrompi-me, desviando-me de seus olhos e buscando forças novamente – Aidan, eu... eu já tomei a minha decisão. – murmurei, completamente segura do que estava falando.

- E o que você decidiu? – perguntou-me ele, e eu percebi a tensão em sua voz aveludada.

Ele estava apreensivo, eu podia captar seu estado de espírito. O silêncio instaurou-se entre nós dois, Aidan ainda aguardava por minha resposta, e eu, eu buscava forças suficientes para lhe comunicar minha decisão final.

Elevei meu olhar, encontrando o dele novamente. E lá estava aquela sombra maléfica em seus olhos, dominando todo o brilho, tornando-os opacos e mortos.

Segurei em seu rosto com minhas mãos e aproximei-me mais dele. Meu coração acelerou no mesmo instante, talvez porque eu soubesse que havia chegado o momento pelo qual eu estive esperando durante todas essas semanas. O momento que definiria meu destino havia chegado, e agora era a minha vez de controlar meu próprio caminho. Era a minha vez de decidir que rumo essas águas tão calmas e tão inóspitas, ao mesmo tempo, que eram a minha vida, iam tomar. Esse rio havia divido-se em dois, e eu estava diante daqueles dois caminhos, ciente de que minha decisão implicaria para todo o sempre, eu não poderia voltar atrás, uma vez que escolhesse um daqueles dois caminhos.

As conseqüências aguardavam-me posteriormente. Não havia saída, muito menos escapatória. Mas eu caminhei por entre aquelas águas, firme, decidida, não me deixando abalar por nenhum de meus temores, e foi assim, que o meu destino acabou por selar-se, e eu adentrei àquelas águas inóspitas e traiçoeiras, eu escolhi o meu caminho, eu tomei a minha decisão.

E ainda fitando nos olhos daquele que eu amaria até o findar de meus dias, meus lábios entreabriram-se, minha respiração fluiu de forma lenta através deles, e eu finalmente falei-lhe...

- Não me importa mais absolutamente nada. Não me importa os perigos que me aguardam, muito menos as conseqüências de meus atos. Eu não me importo com o seu passado obscuro, ou com todas as coisas que você diz ter feito nele. Também não me importo com os segredos que estão entre nós, e que eu sei que você jamais irá atrever-se a me contar. E não me importa o fato de que algum dia eu terei de me separar de você. Eu sei com o que posso conviver agora, mas também tenho consciência daquilo que jamais poderei. E a sua ausência em minha vida é uma delas. Aidan, eu já me decidi.

Pausei novamente, buscando mais fôlego. Ele permaneceu imóvel como uma estátua, aguardando minha resposta.

- Aidan, eu quero viver cada momento que nos for permitido, cada segundo que o destino nos conceder ao seu lado. Eu quero desfrutar de cada um deles, não temendo mais nada. Porque não há mais nada obscuro para mim agora do que ficar sem você. Amo-te mais do que qualquer outra coisa, preciso de você mais do qualquer outra coisa. E eu quero levar isso até as suas últimas conseqüências. Eu quero permanecer junto a ti até o último instante, até que o destino resolva separar-nos, porque caso contrário, não haverá força suficiente na terra que consiga afastar-me de você.

Encerrei meu discurso e o silêncio mais uma vez prevaleceu entre nós dois. Sua mão subiu até meu rosto, em um trajeto lento e suave, senti-me como se estivesse sonhando naquele instante, completamente perdida na perfeição daquele nosso momento, e assim permaneci até que sua voz trouxe-me de volta a terra novamente.

- Então, você deve estar pronta para o que teremos de enfrentar. O destino e o tempo não serão os nossos únicos empecilhos, haverá perigos que tentarão separar-nos custe o que custar.

- Eu estou pronta para enfrentar tudo para ficar ao seu lado. – murmurei, decididamente.

Ele deu-me um meio-sorriso e seus olhos transbordaram felicidade novamente, enchendo-me de alegria e satisfação.

- Eu sei disso. – sussurrou ele e então seus lábios curvaram-se até os meus, buscando-me não apenas com necessidade, mas também com fervor. E eu senti que pela primeira vez podia viver nosso amor sem nada temer.

Ainda que as tempestades viessem, ainda que a névoa sombria ameaçasse cercar-nos, eu estava pronta. E ainda que eu tivesse de enfrentar a morte mais mil vezes para ficar ao lado dele, eu o faria de bom grado, com o maior prazer.

Porque não havia golpe mais doloroso para mim naquele momento, do que me separar dele.

Eu estava cem por cento certa disso, não havia dúvida, não havia negação.

Cada célula do meu corpo era capaz de sentir todo o meu amor por ele. E ainda que a hora do adeus estivesse a nossa espreita, apenas aguardando o momento certo para tragar-nos para suas entranhas e então nos consumir permanentemente.

E ainda sob aquela noite fresca de primavera, tendo a luz do luar e o brilho das estrelas como testemunhas, eu selei o meu próprio destino, nos braços de meu amado imortal, aquele quem seria o dono de meu coração, de minha alma e principalmente, de tudo o que eu sou, o detentor de meu passado, de meu presente, e indubitavelmente, de meu futuro também.

Aquele a quem eu amaria até o findar de meus dias, até que esse novo sol dourado e caloroso morresse no horizonte, pondo-se eternamente, e eu fosse condenada a conviver com a solidão e a escuridão para sempre.

Porque seria exatamente isso que eu teria de enfrentar assim que eu o perdesse, as minhas próprias trevas e a minha própria solidão, que estariam desejosas para tragar a minha alma tola e o meu coração. E quando isso enfim acontecesse seria o fim para mim, inevitavelmente.


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Notas finais do capítulo

ahhhhhhhhh q super fofo!!

Finalmente eles se acertaram! Mas agora a fic dará um salto no tempo e entrará na sua reta final! *xora*

Estou prevendo no máximo mais 3 caps e logo eu colocarei uma prévia da 2ª fase da fic no meu perfil, e depois... tcham, tcham, tcham... Rá! Eu posto o 1º cap. de "LÁGRIMAS DA ALMA"!

E o fim está próximo, junto da... Despedida! *xora mais ainda* Recomendo a todos q preparem as suas caixinhas de lenços pq será deprimente! e se virem no noticiário q alguma cidade foi vítima de enchente, não se surpreendam, fui eu! *xora rios de lágrimas*

Obrigada mesmo a todos... *limpa o olho com um lencinho*

Reviews??

Até a próxima e Beijos!!